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Ao refletir sobre os achados relacionados ao problema central desta dissertação e ás questões à ele relacionadas, com ênfase ao Programa Cheque Cidadão, no que tange às responsabilidades de análise do Tribunal de Contas, descritos e discutidos no capítulo anterior, apresentamos nossas considerações finais.

No contexto atual em que a sociedade exige desempenho e responsabilização dos gestores de programas, consideramos que as EFS brasileiras devem mudar o foco da atividade de fiscalização, passando da simples análise da legitimidade e conformidade de atos e da ação governamental, para a análise de resultados e do juízo de mérito e do valor da ação pública, enfatizada através do exame da eficiência, da eficácia, da efetividade, da eqüidade e da economicidade das ações e programas públicos.

Nesse sentido, as EFS podem e têm o dever de, no seu papel institucional, contribuir para a responsabilização dos agentes públicos e de disponibilizar para a sociedade informações sobre o desempenho das ações de governo.

Como contribuição, elencamos alguns procedimentos para que o TCE-RJ aperfeiçoe o seu papel institucional de guardião da res publica e sua responsabilidade social perante os cidadãos, a exemplo de outras EFS brasileiras, em especial o Tribunal de Contas da União, bem como outras estrangeiras como o General Accounting Office (GAO), nos Estados Unidos, e o Office of the Auditor-General (OAG), no Canadá, citadas no referencial teórico, que utilizam em seus trabalhos a avaliação de desempenho de programas.

Com esse objetivo sugerimos:

• A criação de um grupo de trabalho ou Coordenadoria específica para fiscalização e avaliação de Programas de Governo, com funcionários de carreira especializados em avaliação de Programas;

• Estabelecer convênios com outras EFS, que tenham experiência em avaliação de desempenho;

• Formar grupos multidiciplinares para especialização em cursos sobre o tema avaliação de programas;

• Realizar fóruns sobre o tema, convidando estudiosos e expertises em avaliação de programas; e

• Formar parcerias com universidades e Prefeituras para administrar cursos e passar conhecimento; e outras.

Ainda como forma de contribuição da inserção do TCE-RJ no campo da auditoria de desempenho, apresentamos mais algumas sugestões, as quais foram elaborados no formato de uma tabela, com indicadores de desempenho, específicos para programas do tipo de Programa de Garantia de Renda Mínima, à exemplo do Programa Cheque Cidadão, que podem ser verificados e monitorados em uma avaliação formativa de programa.

A tabela abaixo, não tem a pretensão de ser exaustiva e completa, entretanto, entendemos que ela é uma sugestão, uma consideração final mais estruturada e exemplificativa que encerra, em seu arcabouço, uma direção que sintetiza, tanto no caso deste estudo, quanto de novos estudos similares, um esboço do que é possível ser realizado pelo TCE-RJ em seus desafios avaliativos de PGRM.

Tabela 7-1 Indicadores de desempenho propostos para uso do TCE-RJ em avaliações de PGRM

Indicador Peridiocidade Fórmula de Cálculo Análise do Indicador

Percentual de gasto

Administrativo anual

Custo administrativo direto/valor total dos benefícios transferidos por ano x 100.

Reflete a parcela, com relação ao total de recursos do programa, que é gasta com atividades

administrativas. A superação de um parâmetro preestabelecido ensejaria a adoção de medidas de contenção de gastos para evitar que recursos do programa fossem desviados da área finalística. Percentual de acesso ao programa por município mensal (Nº famílias recebendo transferência financeira/ Nº estimado de famílias pobres) x 100.

Indica o acesso das famílias pobres ao programa no município. Se o indicador muito distante de 100%, significa que pode estar havendo problema no cadastramento e será necessário busca ativa das famílias pobres. Percentual de cumprimento da condicionalidade educação por município mensal (Nº de crianças com freqüência escolar igual ou superior a 85%/(Nº de crianças atendidas) x 100, por município.

Indica o grau de cumprimento da condicionalidade na área da educação. Se o valor do indicador for muito menor que 100% o gestor municipal deveria ser alertado para que atuasse junto à família e as escolas. Percentual das condicionalidades de saúde por município. mensal (Nº de famílias cumprindo a agenda de saúde ou nutrição/Nº de famílias atendidas) x 100, por município.

Indica o grau de cumprimento da condicionalidade na área da saúde. Se o valor do indicador for muito menor que 100% o gestor municipal deveria ser alertado para que atuasse junto à família e as unidades de saúde. Percentual de municípios que realizam monitoramento das condicionalidades Semestral (Nº de municípios que realizam o monitoramento das condicionalidades/Nº total de municípios atendidos) x 100

Reflete as execuções das atividades municipais com relação ao monitoramento das condicionalidades. Se o indicador for muito menor que 100%. Os gestores estaduais devem atuar junto aos gestores municipais.

Percentual de famílias que não sacaram o benefício, por município.

mensal

(Nº de benefícios não sacados/Nº total dos benifícios disponibilizados) x 100, por município.

Percentual de benefícios que estão à disposição do beneficiário e não foram sacados. O valor ideal do indicador é zero. O aumento no valor do indicador deve alertar o gestor para a realização de busca ativa dos beneficiários que não sacaram os recursos. Percentual de famílias atendidas que ultrapassaram a linha da pobreza, por município. anual (Nº de famílias cuja RFPC após o recebimento do benefício ultrapassa a linha da pobreza/Nº de famílias atendidas) x 100, por município

Permite mensurar o percentual de famílias que, em razão de transferências financeiras do programa, passaram a ter renda familiar acima da linha de pobreza.

Percentual de famílias mais pobres atendidas por município. mensal (Nº de famílias com RFPC<R$ atendidas/Nº de famílias atendidas)/(Nº estimado de famílias com RFPC<R$XX,00/Nº estimado de famílias pobres), por município

Este indicador está definido para assumir valor maior do que 1 caso haja favorecimento do critério estudado ( renda), por exemplo proporção de famílias atendidas com (*)RFPC<R$ XX,00 atendidas maior do que a proporção do número estimado de famílias com (*)RFPC<R$XX,00 na população de famílias pobre estimada do

município. Menor que 1 no caso contrário e igual a 1 quando não há favorecimento. Um valor de 1,10 indica que o segmento está recebendo recursos 10% superiores comparado com uma situação de neutralidade (1,00).

A metodologia empregada no presente estudo favoreceu a obtenção de dados e possibilitou uma leitura ampla dos resultados, revelando por outro lado, que muito ainda merece ser investigado, diante da complexidade do tema e das questões críticas que giram em torno de qualquer programa de políticas sociais, devido à significância de seu papel para a sociedade e dos riscos de clientelismo e outros males anti-sociais que destroem a nobreza dos objetivos pretendidos.