• Nenhum resultado encontrado

A Sociologia Clássica de Durkheim, Marx e Weber, caracterizou-se por abordar em mais de um sentido, uma preocupação com a emergência dos elementos específicos da modernidade ocidental. A saber, as transformações do mundo do trabalho e suas conseqüências para as relações sociais e os fundamentos da ordem moral, antes ancorados na religião cristã e, que se transformaram radicalmente sob a influência do pensamento laico. O percurso dessa investigação foi traçado considerando a força da palavra para produzir e

alterar comportamentos e a força das imagens para criar novas ações e compromissos.

A partir dos anos 70, as teorias da modernização retomam aspectos abordados pela Sociologia Clássica, a emergência da civilização ocidental e sua difusão pelo mundo. O modelo adotado pelo Ocidente consolidou um estilo de vida perdulário e predador com os recursos naturais e com os outros habitantes do planeta. O padrão de produção e consumo dos países capitalistas avançados não é possível de ser adotado pelos três quartos da humanidade que não se beneficiam desse padrão de desenvolvimento. E a razão é simples, não há recursos renováveis disponíveis.

As transformações estruturais que ocorreram nas décadas finais do século XX estabeleceram dinâmicas inéditas nas formações sociais, ora em curso e implementação. O avanço sem precedentes da revolução tecnológica, interferindo nos processos organizativos da economia, da estrutura política e da dinâmica social, assinalou, para o campo da investigação científica, a necessidade de contribuirmos para a construção de um novo arranjo social. Nessa perspectiva, o processo de globalização é apreendido como uma multifacetada e contraditória realidade mundial, produzindo estudos que buscam esclarecer às condições e os significados desse fenômeno, visando estabelecer a conexão entre esse e a emergência de novos canais de participação da sociedade civil, representados pelas ONGs ambientalistas.

As ONGs pesquisadas nesse trabalho, representam uma amostra das formas de agir e organizar os atores sociais de maior expressão na sociedade contemporânea. Esses expressam valores, expectativas e ações, que orientam suas atuações, podendo ser comparados, ampliados e circunscreverem as demais experiências das ONGs ambientalistas.

A partir do quadro conceitual utilizado e da prática e vivência do campo, podemos perceber que uma nova forma de atuação e comprometimento está em

curso. Os responsáveis pelas ONGs sentem-se comprometidos com a causa, mas reconhecem os limites de suas ações. A partir dessa constatação, procuram estabelecer formas estratégicas de intervenção social: de um lado, agir sempre que possível em rede, contando com a colaboração de uma ou mais ONGs, estabelecendo um pool delas; de outro, buscam estabelecer suas ações tendo como suporte uma argumentação menos filosófica e mais política, impulsionados pela necessidade de mostrar resultados, quer para a mídia, quer para os parceiros dos projetos, quer para si mesmos, atribuindo às práticas executadas o sentido de ‘dever cumprido’.

Há uma concepção utilitário-pagmática envolvendo a ação dos ativistas e ‘funcionários’ ambientais. Há uma percepção que a burocracia pública, representada pelos diversos níveis do poder de Estado é lento e perversamente inoperante. Esse estado de coisas os obriga a buscar e exercitar uma maior autonomia frente ao aparelho estatal, que não atende de maneira satisfatória as inúmeras demandas sociais.

Desse modo, as ONGs tornam-se poderosos canais de interlocução entre a sociedade e o Estado, impulsionadas pelas inúmeras causas que defendem, pela capacidade de implementar projetos e pelo monitoramento que exercem sobre os governos, no que diz respeito aos compromissos que esses assumem na consecução das políticas públicas. Constantemente, as ações das ONGs supre a inoperância do Estado ou complementa sua atuação. Em outras palavras, participa da interação entre organizações públicas e privadas, onde os papéis de cada uma são definidos pelas circunstâncias e, muitas vezes estão sobrepostos. Assim, os três setores e seus respectivos papéis não são estanques, interagindo dinamicamente, operacionalizando, a acelerada e hiper interdependência social, que caracteriza nossa época.

O surgimento de novas formas de participação política, o reconhecimento de movimentos de solidariedade, a filantropia das elites e o provimento de serviços públicos por organizações que atuam fora do âmbito do Estado, refletem

uma nova reconfiguração, que nos parece, cada vez mais consolidada em sociedades democráticas. Assim, podemos identificar que o funcionamento das ONGs têm contribuído na difusão de conhecimentos técnico-científicos aos segmentos sociais que encontravam-se alijados da possibilidade de usá-los em seus benefício.

A participação do setor produtivo privado, ‘obrigados’ a adotar uma posição responsável, subvencionando a prestação privada de serviços públicos e do Estado, que por meios de canais e instrumentos efetivos de participação admitem a inclusão dos movimentos sociais organizados na formulação de políticas públicas são reconfigurações decorrentes, principalmente, pela capacidade de organização, pressão e mobilização da sociedade civil, por meio das ONGs.

A profissionalização dos quadros funcionais e a instituição de diretrizes, garantem maior agilidade na articulação de parcerias que geram recursos, impulsionando as ONGs para o desafio de construir novos espaços e canais de interlocução com as agências governamentais e a os diversos segmentos da sociedade civil. Os aportes financeiros representam para elas um meio e não um fim, diferenciando-as dos demais setores sociais. Sua razão de ser está circunscrita pelas atividades que desenvolve, como: a otimização das organizações, a captação de recursos para a execução de projetos, a interação com o grupo beneficiado, o que determina que a avaliação de desempenho difira radicalmente daqueles critérios que regulamentam o setor privado. Quanto às especificidades do setor público, remete ao poder coercitivo que este detém, tanto para arrecadar fundos (impostos) quanto para baixar normas, poder conferido pela premissa da representação política.

Constatamos que a contribuição das ONGs é necessária, porém não pode nem pretende substituir o Estado. Suas ações buscam otimizar o funcionamento dos demais setores sociais. Sua capacidade de prover bens de valor efetivo à sociedade, de conciliar mobilização com autonomia e de pautar a agenda das políticas públicas é que estabelece seu papel social.

A questão prática, ainda em curso, trata da construção das condições mais adequadas para o fortalecimento das parcerias entre o Estado, o setor privado e os setores mais organizados da sociedade, representados pelas ONGs. Pressupõe-se um esforço conceitual das ‘vantagens comparativas’ entre os órgãos governamentais e organizações da sociedade civil e, posteriormente, na criação de canais de participação que possibilitem a interação entre lógicas e perspectivas diferenciadas, inerentes a diversidade dos interesses dos grupos sociais.