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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS, A PESQUISA DE CAMPO E A ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

4.1 – Cenário do Estudo

Esta pesquisa tem como tema e objeto de estudo as práticas e a capacidade de intervenção das ONGs ambientalistas. O objetivo é contribuir por meio de uma investigação atenta de suas ações e organização, identificando suas potencialidades e limitações no que concerne ao seu do campo de atuação e da eficácia de suas proposições.

O perfil das ONGs ambientalistas suscitam algumas observações sobre sua atuação. Procuramos estabelecer uma discussão mais geral enfocando, o conteúdo argumentativo dos primeiros capítulos desse trabalho, inter-relacionando com a experiência prática das ONGs, especialmente, sua organização e

operacionalização, tendo como elemento constitutivo, a Lei das OSCIPs, que possibilitou as ONGs estabelecer e otimizar parcerias, tanto com o setor público quanto com o privado. A crescente evolução das ONGs, na busca de um modelo mais ‘profissional’ de atuação, altera seus valores e práticas? Em caso afirmativo, de que modo isso ocorre? Essas e outras indagações, originadas durante o trabalho de campo, complementam e ampliam parte da investigação proposta.

As ONGs ambientalistas, entendidas como representantes dos setores mais organizados da sociedade civil estão conseguindo sensibilizar os governos e à sociedade no que diz respeito a uma nova prática de produção e consumo? Há efetivamente, uma mudança de comportamentos, influenciados pela ação e as práticas das ONGs ambientalistas? E como estas pressionam e mobilizam em prol da adoção de medidas legislativas e de políticas públicas que visem a recuperação e preservação do meio ambiente. Como estão realizando seus programas? Quais os instrumentos mais utilizados em suas ações? Como as ONGs interagem com os demais atores sociais? Como se percebem e quais as perspectivas que têm frente às atividades que desenvolvem?

Buscamos responder essas questões e verificar até que ponto estão avançando e, dentro de que parâmetros, as ações das ONGs ambientalistas. Procuramos também identificar como está ocorrendo a defesa e implementação de uma agenda ambiental. Nossa pesquisa se concentrou em verificar se e como as ONGs são (ou não) instrumentos efetivos de transformação das mentalidades e geradoras de mobilização por uma agenda em prol de políticas públicas que protejam, recuperem e possibilitem uma nova interação entre homem e meio ambiente, da forma como nos organizamos e nos comportamos socialmente, das atitudes tomadas e nas decisões coletivas.

Trata-se da aplicação de dois mecanismos de investigação metodológica. Na primeira etapa da pesquisa desenvolvemos três primeiros capítulos que procuram fundamentar teoricamente aspectos das formações sociais contemporâneas. Por meio de uma extensa pesquisa bibliográfica, foram

elaborados os capítulos que pretendem subsidiar e esclarecer o leitor sobre as finalidades da pesquisa de campo, procurando orientá-lo sobre os conteúdos investigados. O fenômeno da globalização, os porquês que possibilitaram a emergência da questão ambiental e por fim, ainda em processo de construção, um chamado terceiro setor e, como uma parte dele, as ONGs ambientalistas.

Num segundo momento, a pesquisa se concentra no trabalho de campo. A amostra foi estabelecida tendo por base o Programa de Apoio às ONGs, da Secretaria do Estado do Meio Ambiente (PROAONG/SMA). As entidades ambientalistas cadastradas no departamento responsável da Secretaria do Estado de Meio Ambiente, o PROAONG, registra um total de 494 entidades ambientalistas no Estado de São Paulo, sendo que na cidade de São Paulo estão cadastradas 144 entidades (ano 2004). No filtro utilizado para estabelecer a amostra, observamos que ONGs ambientalistas são uma denominação muito ampla, e por isso insuficientes como categoria, para que o campo de pesquisa fosse estabelecido. Frente a impossibilidade de trabalhar com a categoria ‘ONGs ambientalistas’, criamos um novo padrão de acordo com a variável, área de atuação, que resultou em quatro grandes áreas principais de atuação:

ONGs ambientalistas (OSCIP/tradicionais): funções: Assessoria, elaboração e implementação de projetos de preservação e recuperação do meio ambiente, via de em parceria com agências governamentais, Lobbies junto ao governo (Assembléias Legislativas e à mídia);

ONGs ambientalistas (OSCIP/assessoria): funções: realizam assessorias e/ou consultorias em projetos ambientais com as comunidades locais (urbanas ou rurais), manejo dos recursos naturais em integração com as comunidades locais; promovem cursos de educação ambiental e fomento à autonomia de comunidades na área rural, implementação de projetos de

reciclagem e resíduos sólidos, questões associadas ao lixo, financiados por governos e/ou empresas privadas;

ONGs ambientalistas (OSCIP/direito ambiental): funções: realizam consultoria/assessoria em direito ambiental;

ONGs ambientalistas de proteção e defesa dos animais: funções: acolhimento, castração, busca de lares, reencaminhamento ao habitat natural (animais domésticos/urbanos e da fauna nativa).

Ao tentar estabelecer uma ‘tipologia’ ideal de ONGs, identificamos quatro sub-grupos estabelecidos por área de atuação, decidindo por investigar os dois primeiros grupos selecionados, a saber: ONGs ambientalistas precursoras (tradicionais) e as ONGs ambientalistas mais alinhadas com o chamado ‘capitalismo verde’. Cumpre observar que, no decorrer da pesquisa de campo, essa ‘tipologia’ inicial foi desconsiderada, pois as práticas das ONGs (tradicionais e de tipo assessoria) atuam de forma semelhante – não raro, em alianças estratégicas, cooperando, umas com as outras –, tendo em comum um conjunto de valores que orientam suas práticas. Em outras palavras, é um traço característico das ONGs estarem divididas em diversas frentes de atuação e, normalmente dedicarem-se a uma área específica. Assim é um fato que há uma distinção entre elas dado pelo campo de atuação e que a categoria ‘ONGs ambientalistas” é por demais ampla, invalidando seu uso. Por outro lado, conforme aferimos na pesquisa de campo, muito embora atuem em distintas áreas, isso não as opõe, ao contrário tendem a cooperar sempre que necessário.

Esta pesquisa trata de identificar e analisar a atuação das ONGs e, para tanto faz uso de um roteiro de entrevistas que contempla questões específicas às áreas de atuação de cada uma delas, bem como sua interação com os demais atores sociais. Ocupa-se também de elucidar como as ONGs, por meio de seus representantes pensa seu papel social e, qual o significado de sua atuação.

A opção por entrevistas qualitativas com os representantes qualificados – todos têm sólida experiência na sua área de atuação – buscou captar informações, conceitos e variações sobre o tema, verificar e refletir sobre como cada um desses representantes do movimento, experimentam, concretamente, sua experiência nas organizações e as interações dessas com os demais atores sociais. A pesquisa qualitativa é, nesse sentido, ideal para confrontar as variáveis contidas nas distintas narrativas, ações e práticas do objeto investigado.

ROTEIRO DAS ENTREVISTAS