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O Poder Judiciário está se revelando um campo promissor para a Ciência Política, carecendo, portanto, ser fomentadas as pesquisas nessa área, em especial as que abordem o Conselho Nacional de Justiça, que é um órgão novo no cenário de poder brasileiro.

O CNJ foi o vértice de desenvolvimento de toda a pesquisa, que, por sua vez, se estruturou em três capítulos e esta conclusão.

No primeiro capítulo, delimitou-se o marco teórico da pesquisa, descrevendo algumas possibilidades que poderiam ser adotadas para desenvolvê-la, definindo-se o método posicional de Wright Mill, como o caminho mais promissor para atender ao objetivo proposto. Assim, foram aplicados os quatro passos metodológicos defendidos por Mills para identificação das elites.

O segundo capítulo se desenvolveu com o fito de atender o passo metodológico 2º de Mills, qual seja estudar o CNJ como órgão influente no cenário de poder, resultando, por consequência, na descrição cuidadosa da instituição de interesse.

Nesse capítulo, a instituição do CNJ foi colocada em evidência, demonstrando- se todo o aspecto da criação, atribuição e o arranjo institucional democrático desse órgão. O estudo acerca da instituição do CNJ pautou-se no âmbito interno da demanda nacional, com foco especial na cultura social e jurídica local.

Nesse enfoque, explicou-se como a crise do judiciário brasileiro, que se traduziu na E.C. 45/2004, culminou na criação e instituição do órgão de controle do judiciário brasileiro. Ademais, esse importante órgão está servindo, conforme previsto por Garoupa e Ginsburg (2009, p. 21), como um calibrador entre o judiciário independente e o necessário exercício da accountability pela sociedade.

Ao fim desse capítulo foi desenvolvido um estudo comparativo para demonstrar em que posição se encontra o Conselho de Justiça brasileiro frente a conselhos de outros países, nas mesmas premissas utilizadas por Carvalho (2006) em “O controle externo do Poder Judiciário: o Brasil e as experiências”.

O terceiro capítulo se impõe como o cerne da presente pesquisa. Procurou-se apresentar semelhanças e dissemelhanças no perfil dos conselheiros do CNJ, mediante a exposição de 03 (três) fatores, quais sejam: origem social/geográfica; escolaridade; carreira. Para tanto, quando possível, procurou-se refinar a qualidade do presente trabalho, tal qual realizado por Paladino (2007); através do dialogo com autores que

realizaram suas pesquisas sobre o Judiciário utilizando-se de métodos quantitativos e qualitativos. Pretendeu-se que a convergência dessas abordagens levasse a um melhor conhecimento sobre o Poder Judiciário e o CNJ.

Acerca do fator “origem social/geográfica” os dados colhidos sobre os conselheiros do CNJ mostraram que a representação feminina nesse órgão ainda é muito tímida, inferior, inclusive, que a representação feminina no primeiro e segundo grau da magistratura brasileira. Além disso, observou-se, também, a inexistência de mulheres designadas pela OAB, Câmara de Deputados e Senado para compor o CNJ, ou seja, as instituições que deveriam zelar pela representação social no citado órgão estão deixando de respeitar um equilíbrio mínimo dos gêneros em suas indicações.

Verificou-se, igualmente, que o perfil etário dos conselheiros do CNJ varia de 30 a 69 anos e que a maior parcela dos conselheiros possui idade entre 40 a 50 anos.

No que tange a origem geográfica, constatou-se que a maior parte dos conselheiros é natural do Estado de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, respectivamente. Logo, os Estados que mais foram representados no CNJ são os que possuem maiores indicadores de riqueza. Quando se distribui essa variável por região, observou-se que a maior parte dos conselheiros nasceu na região Sudeste, seguida pela à região Nordeste, e, em terceiro a região Sul.

Os dados apontaram, ainda, que os conselheiros se formaram principalmente nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Ceará, respectivamente. Já o estudo da mobilidade espacial apontou que, aproximadamente, 1/3 dos conselheiros residiram em mais de um Estado em suas trajetórias de vida.

Quanto ao fator “escolaridade” notou-se uma grande pulverização das faculdades em que se graduaram os conselheiros, ou seja, não foi encontrada nenhuma faculdade que apresentasse uma grande ocorrência nos casos analisados. Por outro lado, averiguou-se que a maioria dos conselheiros se graduou em instituições públicas de ensino.

A grande maioria dos conselheiros se preocupou em lapidar o seu nível de aperfeiçoamento, indicando uma forte tendência da elite judicial do CNJ em buscar elevar seu conhecimento intelectual, mediante a obtenção de título de pós-graduação.

O último fator tratou sobre a carreira (origem profissional) dos conselheiros. Dessa forma, buscou-se detalhar o primeiro vínculo profissional dos conselheiros do CNJ, assim, observou-se que uma grande proporção dos elementos estudados iniciou sua vida produtiva na docência. A segunda profissão primária mais recorrente foi a

advocacia, e a terceira profissão mais citada, neste quesito, foi a magistratura.

Outra questão analisada foi o primeiro vínculo jurídico da carreira do conjunto estudado. Nesse ínterim, a maioria dos elementos seguiu o caminho natural de um graduando em direito e iniciou sua vida profissional como advogado. A magistratura revelou-se como a segunda profissão que mais obteve registros de ocorrência. Já a Assessoria Jurídica revela-se como a terceira mais citada porta de entrada para o universo jurídico, pelos conselheiros.

Os conselheiros magistrados e membros do Parquet apresentaram pouca variância do tempo médio de carreira, com as médias compreendida entre 4,75 à 7,67 anos. Ressalva se faz para os casos dos presidentes do STF, dos Ministros do STJ e do Juiz do TRT, que exibiram elevado tempo de carreira. As categorias de advogados e cidadão de notável saber jurídico apresentaram, também, pouca variância no tempo médio de carreira, com médias de anos compreendidas entre 0 e 0,2.

Os dados sistematizados exibiram, também, qual a unidade originária de lotação institucional do conselheiro, respeitando a peculiaridade de cada caso. Assim, a OAB foi a instituição mais citada pelos conselheiros como instituição de origem; em seguida, a segunda instituição com maior número de ocorrência foi o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região; e, compartilhando a terceira posição de instituição mais citada, temos o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região e o Tribunal de Justiça de São Paulo.

A tabela n.° 14 apresentou o padrão de recrutamento dos conselheiros. A grande maioria dos conselheiros exibiu como padrão de recrutamento a “magistratura de carreira” via concurso público, mais especificamente 46,3%, ou seja, esse dado demonstra uma forte presença de membros internos (magistrados) do Judiciário.

Apesar dessa forte presença da magistratura no CNJ, restou aventado, através de uma construção interpretativa, que uma quantidade considerável desses profissionais pode representar, idealmente e teoricamente, um controle externo do Judiciário; pois, a quantidades somadas das categorias “Advocacia” e “Membros do STF que não pertencia à magistratura antes de tomar posse como Ministro” se perfaz em 37% do total. Considerando, ainda, a categoria dos “Membros do Ministério Público”, que possui 11,1% dos conselheiros, profissionais esses que são reconhecidos e imbuídos legalmente por uma postura de independência frente ao sistema posto, temos um conjunto aproximado de 48,1% que pode representar um controle externo ao Judiciário.

controle externo” não está tão desiquilibrada quanto a regra do art. 103-B da CF/88 quer fazer parecer, pois, na construção interpretativa que se fez, o quantitativo de membros representantes do controle externo é 1,8% maior que a porcentagem dos representantes do controle interno (magistrados).

É certo, no entanto, que toda a construção apresentada nos três últimos parágrafos não passa de uma hipótese, portanto, não é uma verdade comprovada, necessitando para tal desiderato um estudo mais aprofundado, especialmente acerca do conteúdo das decisões desses conselheiros.

Observou-se também que: a docência é a profissão secundária da grande maioria dos elementos estudados; ainda é baixa a quantidade média de livros publicados; e as principais áreas de atuação jurídica dos conselheiros reside na seara constitucional, trabalhista e civil, respectivamente.

Os dados demonstraram, ainda, que 33% dos conselheiros já figuraram como lideranças corporativas (Presidentes, Vice-Presidentes, Conselheiros, etc) dos grupos de profissionais do direito atuantes na administração da justiça brasileira, sendo que se percebeu uma grande ocorrência de líderes corporativos nos conselheiros: advogados indicados pela OAB, nos juízes do trabalho indicado pelo TST, e nos juízes Federais indicados pelo STJ.

Diante de todos os pontos trabalhados nesta dissertação e considerando os três tipos de elites (institucional, profissional e intelectual) estudados por Almeida (2010, p. 13) em sua tese, não é difícil reconhecer a existência representativa desses grupos no CNJ, pois: a) o processo de criação forjou um órgão de controle sob a sombra dos Tribunais Superiores, conforme discutido no segundo capítulo, resultado, portanto, na alta representação de membros de cúpulas das instituições da administração da justiça estatal (o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os tribunais de justiça estaduais e federais, etc), ou seja, temos consolidada a elite institucional no CNJ; b) a tabela 25 aponta para existência de lideranças corporativas dos grupos de profissionais do direito atuantes na administração da justiça estatal (entidades de classe como a Associação de Magistrados, a Confederação Nacional do Ministério Público, Ordem dos Advogados, etc), apresentando uma maior incidência nos conselheiros advogados indicados pela OAB, configurando, portanto, uma elite profissional no citado Conselho; c) a tabela 6 não deixou dúvidas quanto a ocorrência de uma forte tendência dos conselheiros em buscar elevar seu conhecimento intelectual, demonstrando, ainda, grupos com alto grau de especialização, em especial os cidadãos de notável saber

jurídico (indicados pela Câmara dos Deputados e Senado), caracterizando, dessa forma, uma elite intelectual atuante no órgão de controle do judiciário.

Assim, o presente estudo sugere a existência dos três tipos de elites apontadas anteriormente no interior do CNJ, sendo que a elite institucional se estrutura como reflexo do desenho institucional desse órgão. Por sua vez, a elite profissional encontra sua representação mais marcante nos membros do conselho advindos da OAB, e, em seguida, observa-se a elite intelectual representada especialmente, contudo não exclusivamente, pelo grupo de conselheiros indicado pelo Congresso Nacional (cidadão de notável saber jurídico).

Por fim, assevera-se que não se pretende, através desta dissertação, esgotar o assunto sobre o perfil dos conselheiros do CNJ. Aliás, o presente estudo deve ser tratado como uma contribuição para o fomento das pesquisas com o enfoque nas relações de poder no judiciário brasileiro.