• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I – A RELAÇÃO TRABALHO E EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação teve como propósito contribuir para a compreensão da relação trabalho e educação, tomando como base a análise da proposta de atividades educacional, profissionalizante e científico-tecnológica dos Centros Vocacionais Tecnológicos – CVT.

O CVT configura-se política pública de CT&I, a qual se sustenta sob o discurso do desenvolvimento econômico e da inclusão social, tendo como base a concepção burguesa de educação tecnológica e a ideologia da empregabilidade, e volta-se para o modelo de qualificação profissional adaptado às demandas momentâneas do mercado e ajustado ao capital que, no Brasil, destaca-se pela relação entre associação e dependência (FERNANDES, 1973).

Desse modo, no primeiro capítulo destacamos o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, em específico na sua fase neoliberal, a partir de 1990. Evidenciamos que tanto o ideário neoliberal quanto a reestruturação produtiva, denominada acumulação flexível, implicam a consolidação da lógica que atribui a questão do desenvolvimento econômico e social ao indivíduo, sendo a educação profissional e tecnológica mediação no sentido de promoção de trabalhadores qualificados e empregáveis. É nesse contexto que o CVT se constitui política de CT&I articulada à política de educação profissional.

No segundo capítulo, analisamos a convergência de tais políticas no Brasil e a constituição da concepção de educação tecnológica, que tem se caracterizado pela relação entre educação e desenvolvimento científico-tecnológico, associada aos três setores da economia, a qual se materializa na política de formação profissional nos três níveis de ensino. Desse modo, procuramos apreender como tem se constituído a educação profissional e tecnológica que forma o corpo do trabalhador coletivo, no geral, e a que se volta à formação para o trabalho simples, em particular, as quais se manifestam no CVT.

Na busca por apreender o processo de implantação e implementação dos CVT como política pública federal, no período de 2003 a 2013, e, mais especificamente, o seu modelo de atividade educacional, profissionalizante e científico-tecnológica destinado à classe trabalhadora, mostramos, no terceiro capítulo, que as concepções político-ideológicas presentes no discurso em torno do CVT se voltam para quatro eixos

de atuação (econômico, educacional, CT&I e trabalho), tendo como foco o desenvolvimento econômico e a inclusão social.

A análise documental permite evidenciar que o CVT assume importante papel no qual a CT&I, em sua articulação com a extensão tecnológica, a formação profissional e a produção econômica local, é condição fundamental de desenvolvimento nacional pela via da superação das desigualdades regionais e sociais. Contudo, esse discurso, ao pautar-se na crença de que o desenvolvimento local é capaz de superar problemas que são de ordem estrutural e inerentes ao processo de desenvolvimento do capitalismo, escamoteia interesses que excedem o limite da localidade.

Sobre o eixo educacional, a análise evidenciou que o CVT volta-se prioritariamente à oferta de cursos de qualificação aligeirados e fragmentados, segundo a concepção burguesa de educação tecnológica. E que, apesar de trazer em sua concepção o desenvolvimento da CT&I, o CVT, ao se caracterizar como um espaço de oferta, em sua grande maioria, de cursos FIC de baixa carga horária, sendo esses cursos destinados ao ensino de saberes práticos utilitaristas de conhecimentos científicos e tecnológicos de baixa complexidade, indica a articulação da política de CT&I com a educação profissional, porém sob a necessidade de formação de trabalhadores para o trabalho simples. Mais do que isso, no âmbito do MCTI, o qual também está direcionado à formação para o trabalho complexo, o CVT constitui-se como política pública em que trata de formar trabalhadores para o trabalho de cunho prático sem articulação ou precariamente articulado com a formação geral, mantendo a limitação da classe trabalhadora ao acesso desigual para o conhecimento historicamente construído.

Em outro aspecto analisado, o eixo trabalho, revelamos que o CVT tem como característica a promoção da formação profissional e tecnológica com foco na ideologia da empregabilidade e empreendedorismo. A adoção do ideário neoliberal no Brasil, a partir da década de 1990, bem como as metamorfoses no mundo do trabalho (ANTUNES, 2006) em virtude da reestruturação produtiva, tem gerado consequências que atribuem ao trabalhador as causas do desemprego. Nesse sentido, o discurso da empregabilidade e do empreendedorismo visa conformar a classe trabalhadora num contexto de flexibilização e precarização do trabalho, afirmando que cada indivíduo é “empresário de si mesmo” e que, assim, basta investir constantemente em qualificação/requalificação que reúnam as competências necessárias para buscar novas fontes de trabalho e renda e manter-se empregável.

Buscou-se, então, incorporar elementos de forma a contribuir e enriquecer o debate em torno da relação entre o trabalho, a educação profissional e científico- tecnológica e a produção de CT&I, a partir do que se manifesta no discurso dos police

makers do CVT. Contudo, enfatizamos os limites dessa pesquisa no sentido de capturar

como esse discurso tem se manifestado na prática, no âmbito da unidade escolar. Em outras palavras, ficam algumas questões prospectivas: qual o resultado da política pública de formação profissional, de nível básico, para a classe trabalhadora a partir da implantação e implementação do CVT?; quais mudanças significativas nas condições materiais de vida dos trabalhadores, que frequentaram os cursos oferecidos pelos CVTs, trouxeram as políticas de inclusão e de redução das desigualdades sociais e educacionais por mediação do CVT?; qual o modelo de extensão tecnológica, a qual busca a popularização da CT&I, tem se manifestado na prática do CVT?

Outra questão que merece análises mais específicas é a relação do CVT, oriundo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, com os programas correlatos do Ministério do Trabalho e Emprego e do Ministério da Educação.

Por fim, concluímos este trabalho de dissertação dizendo que, tendo em vista as evidências apontadas, podemos admitir que o CVT apresenta dificuldades em orientar, para além da formação em habilidades e competências, na direção à emancipação efetiva por meio da formação ominilateral dos homens.

Apesar de compreender que a formação ominilateral só se dará quando a classe trabalhadora alcançar o poder político, entendemos, como Marx (1985), que a tomada de consciência nasce no bojo das contradições da sociedade burguesa e a partir da luta de classes que se manifesta, também, na escola. Assim, pensando adiante, faz-se necessário apreender quais as possibilidades de mudanças e resistência à alienação capitalista pela classe trabalhadora tem se manifestado no CVT.