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Considerações finais

No documento Resumo. José Fialho Luciano Lourenço (páginas 43-47)

A presença de uma morfologia movimentada como a que ocorre nas montanhas do centro de Portugal proporciona aos processos erosivos um papel de enorme importância na modelação da paisagem. Por vezes, os incêndios florestais, que progressivamente têm vindo a alterar a vegetação que cobre estas serras, têm, igualmente, vindo a potenciar episódios impressionantes de erosão hídrica acelerada.

Fot. 34 – Rede viária parcialmente

destruída e intransitável devido ao entulhamento da manilha que canalizava o curso de água por debaixo da estrada Chãs de Égua - Piódão.

Fot. 35 – Vista do viveiro das trutas, no

leito da barroca dos prados, a montante da estrada totalmente destruída. Comparar com a fot.18, que apresenta um pormenor 4 meses antes.

Ao compararmos em condições físicas idênticas, o comportamento da erosão em socalcos e em vertentes, comprovamos que os socalcos agrícolas são efectivamente eficazes no combate à erosão hídrica. Os socalcos e concomitantemente, os muros de pedra solta que os suportam, são uma peça chave para a preservação das áreas montanhosas, funcionando por um lado como estruturas anti-erosão e, por outro, como estruturas capazes de reduzir o risco de propagação do fogo, razão pela qual devem ser mantidos e preservados, o que implicará um grande esforço para levar a cabo esta tarefa, que tem tanto de difícil como de audaciosa.

Por outro lado, não podemos concluir sem deixar uma recomendação no que concerne ao uso de manilhas nas linhas de água, para facilitar o seu atravessamento por estradas e caminhos florestais.

Se as manilhas constituem um processo expedito, porque é pouco dispendioso e de fácil aplicação, para resolver o problema, não devem, por outro lado, vir elas próprias a constituírem problemas no futuro, o que será facilmente evitável se forem aplicadas as seguintes três medidas:

1. Dimensionar o diâmetro das manilhas de modo a que possas escoar pontas de cheia produzidas por aguaceiros intensos, sobre vertentes declivosas e desprovidas de vegetação, provenientes da área de recepção situada a montante das mesmas.

2. Colocação das manilhas de modo a respeitar o normal declive da linha de água, ou seja, de modo a facilitar o escoamento da carga sólida, evitando a sua deposição no interior das manilhas e sem criar rupturas de declive, sobretudo a montante, a qual facilita a obstrução da entrada das manilhas.

3. Afeiçoar em forma cónica o espaço envolvente da entrada das manilhas, como se de um funil se tratasse, de modo a facilitar a canalizações da água e outros materiais – ramos, troncos, pedras e lixo diverso para o interior das manilhas.

A aplicação da primeira destas medidas e eventualmente também da terceira, poderá onerar um pouco o custo da obra mas, se o compararmos com os ganhos que se podem acautelar em termos futuros, certamente não será um custo supérfluo, mas sim um investimento irrisório face aos lucros que pode permitir, não só em termos da não destruição da paisagem, mas também dos custos que a recuperação de alguns dos danos provocados acarreta, já que outros, como as vidas humanas, nem sequer são quantificáveis.

Que estes exemplos levem os gestores do território a reflectirem, a extrair as devidas conclusões e, mais importante, que levem os decisores políticos à aplicação das medidas propostas pelos técnicos.

No entanto, convém nunca esquecer, que todos os episódios pluviosos mencionados só tiveram as consequências apresentadas porque ocorreram sempre depois de incêndios florestais. Com efeito, estes ao destruírem a cobertura vegetal e, por conseguinte, ao retirarem o papel de protecção que esta oferece ao solo, contra o poder erosivo das gotas de água da chuva e do escoamento superficial que se segue, contribuem decisivamente para a aceleração dos processos erosivos. Deste modo, os efeitos dos incêndios florestais não terminam com a extinção das chamas, pois perduram e continuam a manifestar-se de forma negativa, por vezes, durante muito tempo, pelo que prevenir os incêndios também significa travar a erosão e combater a desertificação.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Eng.ª Cristina Almeida Melo a cedência das fotografias e ao Sr. Francisco Lopes Fontinha a visita guiada que nos proporcionou à barroca dos Prados e, a ambos, a pronta disponibilidade que sempre apresentaram para connosco colaborarem nas explicações dos factos ocorridos.

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No documento Resumo. José Fialho Luciano Lourenço (páginas 43-47)

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