CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude do crescente desenvolvimento as relações de trabalho foram se modificando. A produção em série ou em larga escala surge originada pelo progresso da tecnologia. Mas mesmo com tanto avanço fica evidenciado que os fatores humanos são extremamente relevantes.

Diante da incompatibilidade oriunda do progresso humano e técnico surge a ergonomia como um estudo para se adaptar o trabalho às características mentais e fisiológicas do homem. Neste contexto ela é importante porque abre espaço para se discutir o que sejam boas e más condições de trabalho.

O modelo tradicional defensor da racionalização estrita utilizando métodos que comparavam o indivíduo trabalhador a um ser-mecânico dá lugar, atualmente, à uma visão holística do homem abordando entre outras disciplinas aspectos da fisiologia, psicologia, antropometria e trabalhando, para tanto, com uma gama de profissionais com o objetivo hegemônico de elaborar projetos multidisciplinares que levem à satisfação do trabalhador no seu ambiente de trabalho.

Um instrumento importante para que o trabalho se adapte às características psico- fisiológicas humanas, fazendo com que aquele deixe de ser algo sacrificante e passe a ser uma fonte de realização, é a organização do trabalho. Ela origina um melhor entendimento entre empregado e empregador definindo, na prática, um roteiro de trabalho que leva à produtividade mas avaliando o indivíduo como um ser único e integrado com múltiplos fatores. Ela considera as condições pessoais de cada ser que inserido na relação laborai recebe a denominação de trabalhador.

A organização do trabalho foi legalmente implantada no Brasil por meio de uma Norma Regulamentadora - de número 17, instituída pela Portaria 3214/78 cuja força legal impõe o seu cumprimento por toda a sociedade civil.

No tocante a organização do trabalho o que se pode verificar é que o grande avanço dessa NR reside no fato dela poder ser estendida à qualquer tipo de atividade, ,em qualquer empresa e explorar outros tipos de problemas laborais como o caso do "stress".

Isto propicia uma maior fiscalização tanto por parte do Ministério do Trabalho na figura de seus inspetores, médicos e engenheiros do trabalho, como também por parte dos sindicatos de todas as categorias. Qualquer tipo de atividade contida no taylorismo pode usufruir desta norma regulamentadora.

O reconhecimento do nexo causai da Lesão por Esforços Repetitivos (LER) como doença do trabalho foi um outro fator de extrema relevância para eficácia da NR. Até o início de 1987 a doença era marginalizada tanto pelos médicos, que condicionados pelo próprio meio acadêmico negavam-na, como pelos próprios companheiros de trabalho. O médico passava o conceito negativo e os trabalhadores da área de processamento de dados aceitavam.

Com o reconhecimento desta doença um outro procedimento importante se originou: aceitação da Comunicação de Acidentes do Trabalho (CAT), que passou a ser emitida pelas próprias empresas ou pelo sindicato da categoria do empregado.

A expedição deste documento favoreceu a inúmeros trabalhadores que por estarem antigamente, perante o INSS em condições de lesionamento passam atualmente, a ser remanejados para outro tipo de atividade, em decorrência do surgimento da norma.

Um dos fatores desagradáveis na versão atual dessa NR-17 é a pouca coercitividade obtida em função da retirada do termo "deve”. Embora a NR-17 seja uma norma que é fruto de negociação a imperatividade dela em relação a sociedade deixa a desejar a partir do momento em que o poder empresarial ainda é extremamente forte.

Tanto é assim que a retirada da obrigatoriedade na realização do laudo ergonômico nas empresas foi um fator bastante relevante. A feitura deste laudo é importante para poder determinar um referente mínimo a ser cumprido pelas empresas no que se relaciona a condições de trabalho. Se a própria palavra ergonomia já é desconhecida da população em geral que dirá o próprio laudo que visa tais melhoramentos.

O importante de todo o exposto e o que difere a NR-17 das demais é o fato de ter sido ela originada de uma demanda social e não de uma avaliação individual. Ela é oriunda da necessidade do trabalhador e da atuação do sindicato em virtude da precariedade das condições existentes na realidade laborai. É fruto de reivindicação social e não só da vontade técnica embora tenha ela tido toda a fundamentação respaldada na literatura mundial.

O que efetivamente se comprovou foi que sob o ponto de vista do funcionamento real a eficácia da NR-17 está subordinada a prática que os sindicatos exerçam. Quanto mais forte for a representação do trabalhador maior eficiência ela terá. Não poderá ser eficaz a partir do momento em que os sindicatos de categorias profissionais não sejam atuantes.

Esta conscientização é de grande relevância pois depende do conhecimento do empregado que atuando junto à seus sindicatos o transformarão em instrumentos para uma melhoria nas condições de trabalho.

Esta tomada de consciência passa também pelo impedimento de situações onde o vinculo laborai das atividades consideradas de risco estão acabando em virtude da tercerização destas atividades, entre elas a digitação.

Esta burla à lei, não mantendo vínculo empregatício para se proteger sob a falsa prestação de serviços impede uma efetiva fiscalização por parte dos responsáveis e interessados propiciando a proliferação dc doenças profissionais.

Desta maneira a consciência do trabalhador ctn ensejar mslhores GQüdiçõss d? trabalho utilizando os sindicatos como instrumentos dessas reivindicações originam a satisfação do empregado, que vê sua saúde protegida e em contrapartida favorece também ao empregador que verá em todo o processo a conseqüente produtividade.