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4 O SETOR INFORMAL EM SALVADOR: EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações ocorridas no mundo do trabalho, a partir da década de 1970 nos países centrais e, no Brasil, a partir da década de 1990 alteraram a organização da produção na economia. São fenômenos como a crise do Fordismo e do Estado de Bem-Estar, Globalização e Reestruturação Produtiva impactaram no aumento do desemprego e recrudescimento do mercado de trabalho. O desemprego atual é estrutural – caracterizado pelo desemprego de longa duração – e atinge diferentes grupos de trabalhadores com características distintas como sexo, cor idade e escolaridade.

A informalidade está associada ao modelo de desenvolvimento adotado pelo país e é ampliada devido às crises. Com o aumento do desemprego e a dificuldade em retornar para o setor formal da economia, os trabalhadores buscam alternativas de obtenção de renda e parte desses indivíduos adentra na informalidade (seja através de pequenos negócios, prestação de serviço autônomo ou como empregado sem carteira de trabalho assinada). Este fenômeno – informalidade – é visto por muitos autores como transitório na economia e que funcionaria como um “colchão amortecedor, ao absorver a mão de obra desempregada pela economia informal nas fases recessivas” (MELO; TELES, 1999). Porém pesquisas recentes mostram que a informalidade é um fenômeno permanente na economia e estas atividades têm importante papel na geração de ocupação e renda.

O presente trabalho teve como escopo determinar o perfil socioeconômico dos empreendedores informais de rua na cidade de Salvador no ano de 2009, pressupondo a heterogeneidade do setor, segundo as características dos indivíduos e de suas atividades. Discutiu-se também as principais transformações ocorridas no mundo do trabalho, as diferentes abordagens conceituais sobre informalidade e foi definido o conceito mais apropriado para a presente análise.

O setor informal aqui foi definido como unidades produtivas de pequeno porte que atuam a margem dos segmentos modernos da economia urbana, em que não há separação entre o proprietário e quem realiza a produção e o objetivo não é o lucro, mas sim o sustendo dos envolvidos na atividade. A análise dos dados primários permitiu definir, segundo características pessoais, o trabalhador médio ocupado na atividade informal, assim como caracterizar as atividades informais e os rendimentos obtidos.

Quanto ao perfil do trabalhador, este é, em maioria, homem, negro, com idade superior a 25 anos e com escolaridade até o primeiro grau completo (apesar do setor não representar uma alternativa apenas para os menos escolarizados). Ressalta-se a importância da atividade informal na geração de renda das famílias soteropolitanas, visto a presença significativa de chefes de família. A maior parte dos ocupados iniciou a atividade devido ao desemprego e quando se observa o tempo de ocupação, percebe-se que a atividade desenvolvida é permanente, pois mais da metade dos trabalhadores exercem a atividade informal por mais de cinco anos.

Observando o perfil do empreendedor sob a ótica das atividades e rendimentos, constatou-se que a principal fonte de recurso é própria, muitas vezes advinda de seguro desemprego ou fundo de garantia. O rendimento médio obtido situa-se acima da média obtida no setor formal da economia, porém à custa de uma carga horária de trabalho acima de 50 horas semanais, o que demonstra a precarização da atividade.

Diferente do que se esperava, a pesquisa revelou que assim como no setor formal, há no setor informal diferenciação de rendimento segundo atributos pessoais: homens recebem mais que mulheres; não negros mais que negros; e quanto maior a escolaridade, maior o rendimento (apesar que os indivíduos com baixa escolaridade, os analfabetos, por exemplo, auferem rendimentos superiores ao salário mínimo do ano de 2009. A idade também apresentou diferenciação, já que os mais novos auferem rendimentos maiores que os mais velhos. A localização mostrou gerar efeitos sobre o rendimento, pois os microempreendimentos localizados na região do Centro (em comparação com o Comércio) apresentaram maiores rendimentos – possivelmente porque esta região apresenta maior fluxo de pessoas.

Constata-se que existe atratividade em ser empreendedor informal de rua, seja pela autonomia e independência ou pela possibilidade de melhoria de vida, pois as atividades mostraram gerar boas oportunidades econômicas, principalmente quanto aos rendimentos. Ressalta-se aqui que as políticas públicas devem ser criadas visando restaurar a dignidade das pessoas envolvidas no setor informal, seja incentivando o microcrédito e a qualificação para gestão de negócios, seja através da formalização dos registros e garantias de seguridade trabalhista.

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