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Diante das reflexões que foram desenvolvidas nos capítulos do presente trabalho – o qual não tem, nem de longe, a pretensão de exaurir os múltiplos aspectos que permeiam o assunto -, sob os enfoques criminológico e jurídico, com certa preponderância conferida ao primeiro, somos pela experimentação de um sistema de responsabilidade penal da pessoa jurídica, ao qual opomos, todavia, muitas reservas.

Com efeito, a aplicação irrestrita do fenômeno afigura-se um tanto perigosa, dada a ainda incipiência de um sistema de Direito Penal voltado aos entes coletivos. Em oposição a ele tem-se um robusto edifício teórico construído e solidificado ao longo de muitos anos, com referência completa à pessoa física.

Contudo, é certo que o sistema tradicional é ainda ineficaz frente à criminalidade corporativa de grandes proporções, que atravessa muitas fronteiras. Pensamos, assim, que a responsabilidade penal da pessoa jurídica pode ser uma alternativa, mas é apenas um dos instrumentos de combate a esse quadro diferenciado de criminalidade, constituindo um instrumento – reconheçamos – que merece ser levado em conta com atenção.

Os sucessos identificados em alguns países dão crédito a essa ponderação. Agora, se considerarmos – como fazem alguns – que mesmo o sistema francês, por exemplo, não é um sistema de responsabilidade penal da pessoa jurídica (cuja existência seria cientificamente impossível), muito bem, não precisamos dar um nome às coisas para que elas sejam o que são. O efeito prático não vai variar. O que propomos é um sistema diferenciado, que leve em conta nossa atual realidade criminológica, e que erga maior energia à altura do potencial da criminalidade corporativa. Considere-se ou não esse sistema como sendo de responsabilidade criminal da pessoa jurídica.

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