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Não é tarefa fácil escrever as considerações finais de uma dissertação, reunir as particularidades evidenciadas na reflexão, com o envolvimento de subjetividades, sujeitos sociais distintos, teorias e reflexões.

Desde o início, para compreender a realidade dos jovens estudantes do município de Bela Vista de Goiás em seus contextos rurais, lançamos mão de discussões que permeiam a compreensão desta categoria que ainda é muito discutida e sinônimo de controvérsias. As abordagens do capítulo 1 levaram-nos à compreensão de que “ser jovem” vai além de pertencer a determinada faixa etária, é estar inserido num processo cultural dinâmico que diz respeito ao “tempo” em que estão situados. Por isso devem ser compreendidos como uma geração que compartilha experiências e que são diferentes das gerações anteriores e têm valores pautados em suas situações sociais. Dessa forma, os jovens de uma geração têm comportamentos, pensamentos e ações semelhantes, pois estão num mesmo processo histórico. Assim, concebemos que estes dinamizam a cultura. Pessoa (2007) observa que são os jovens os responsáveis por traçar o movimento no mundo, com suas representações e relações culturais, sociais e políticas.

Nesses termos, a identidade cultural foi associada como parte dos processos culturais. Ou seja, foi entendida como esse conjunto de significados compartilhados por esses jovens e que geram nestes um sentimento de pertencimento. A partir disso, trouxemos a ideia dos jovens rurais e urbanos como “sujeitos pós-modernos”, em referência Hall (1996), que não têm uma identidade fixa, são sujeitos com identidades contraditórias e não resolvidas. Desse modo, levamos a discussão no sentido de compreender a hibridização cultural, a inter-relação entre os jovens urbanos e rurais a partir de práticas culturais, onde as formas de ser, o estilo de vida é homogeneizado.

A partir do hibridismo cultural entre o urbano e o rural, buscamos uma caracterização sobre a ruralidade contemporânea. Através da dicotomia rural-urbano compreendemos como os jovens de nossa pesquisa podem ser classificados como rurbanos, que para Bortoni (2004), refere-se aos grupos que mesclam aspectos do rural e do urbano, mas que estão sobre forte influência urbana, especialmente, devido à mídia, à absorção da tecnologia.

Considerando que são sujeitos híbridos e sujeitos rurbanos, a discussão do capítulo 1 ainda nos aponta para a persistência preconceitos e estigmas no que se refere a categoria dos rurais no contexto contemporâneo. Usualmente não rotulados de “caipiras” e “roceiros”, um atributo negativo dado aos rurais como se não tivessem cultura e fossem “atrasados”, “não civilizados” e “primitivos”. Essa construção de sentidos é fruto preconceito contra a origem e o modo de vida de alguns jovens do meio rural. A partir das leituras de Goffman (2013), compreendemos que os estigmas aos jovens rurais se deram em oposição ao urbano. Os indivíduos do meio rural são vistos (ainda) como exilados da cidade e são desqualificados simbolicamente pela ideia de atraso, especialmente, quando estão embutidos no processo da agricultura familiar.

Através dessa configuração, no último tópico do primeiro capítulo é apresentada as práticas culturais resignificadas pelos jovens contemporâneos. Nesse momento, o caipira sai de cena e entra o “agroboy”. Este último é a representação social dos jovens “modernos” que, numa ótica capitalista e urbanizada, reconfigura o que é ser do campo. São influenciados diretamente pela indústria da cultura e por padrões estrangeiros, como o country. De fato, compreendemos que esse “novo caipira” é um padrão de sociabilidade ao qual a atual geração de jovens compartilha. Concluímos que essa “roupagem” do novo caipira é uma negação aos estereótipos e estigmas do sujeito arcaico do campo e uma nova sociabilidade calcada nos moldes capitalistas e industriais.

No capítulo 2, tendo por base as dinâmicas econômicas e culturais de Goiás pautada no universo rural, percebemos que, desde sempre a estado manteve um projeto de modernização. A partir da construção de Goiânia, em 1935, a região deixou de ser vista como “decadente” ou “atrasada”, mas ainda é discutida por suas tradições culturais que lhe remete às concepções de ruralidade. De fato, mesmo passando por um grande processo de urbanização, especialmente no período entre 1940 e 2010, os modos de vida e representações são fundamentados na tradição e na modernidade. Assim, compreendemos também que Goiás dicotomiza o rural e o urbano. Neste capitulo também apresentamos os apontamentos sobre agricultura familiar e o agronegócio em no estado, deixando evidente que em Goiás o agronegócio se faz mais presente. No capítulo 3 estão sistematizados os dados da pesquisa de campo realizada no CEPI Pedro Vieira Januário, em Bela Vista de Goiás. Antes da análise dos dados, concluímos que este município tem bases econômicas alicerçadas nas atividades rurais, assim como muitos municípios goianos. Entretanto, uma figura ímpar dessa região é “Geraldinho” Nogueira, um

caipira goiano que ficou conhecido pelos seus causos contados. Compreendemos que este, embora seja uma representação da cultura goiana e dos belavistenses, é uma referência ao caipira tradicional que, por vezes, também é vítima dos estigmas caracterizações negativas por sua origem, linguagem e comportamento.

A partir dessas constatações, os gráficos da pesquisa de campo nos apontam para interpretação das dinâmicas culturais dos jovens rurais e jovens urbanos que, em situações semelhantes, “reproduzem” as mesmas condições de existência. De modo geral, tanto um grupo como o outro, vivem a lógica da modernidade contemporânea. Como podemos visualizar, há a predominância de uma “negação” do projeto de camponês, pois este é atrelado as representações de caipiras. Assim, a pesquisa aponta para a crescente migração dos jovens rurais para a cidade e para a permanência dos urbanos na cidade. Logo, concluímos que os jovens de Bela Vista de Goiás em seu contexto de ruralidade, vivem o ideal do mundo globalizado, influenciado pela música sertaneja da cidade o habita o “agroboy” e pelo ideal do agronegócio, onde a agricultura e a pecuária estão imbricadas os capitais financeiro, comercial e industrial.