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Diante esta discussão, questiona-se o futuro dos jovens e o futuro da agricultura sobre a hipótese de que, embora morando em meio rural, possam optar por outras atividades e outra perspectiva de vida ao invés daquelas ligadas à ruralidade no espaço; e o inverso, aqueles que vivendo em um ambiente urbano, possam optar por atividades ou modo de vida diferentes do que vivenciam na cidade.

Para compreendermos as razões dos jovens migrarem ou permaneceram no campo, faz- se necessário investigar o que podem mantê-los em tal lugar. Segundo Abramo (2007), quanto menos conforto e acesso às novas tecnologias, a meio de transporte e diversão, menos interessado o jovem ficará em permanecer. Portanto, antes de saber se o jovem gosta de viver no campo e a opção futura, cabe destacar o que este goza em termos de conforto em suas moradias, além do acesso a redes sociais, internet etc., se a comunidade onde mora promove festas culturais; pois, até para os que gostariam de migrar ou permanecer no meio rural, ter acesso ao melhor dos dois mundos tem surgido como um desejo e uma demanda.

Historicamente, pode-se afirmar que a migração no Brasil ocorreu devido à expulsão da terra pela falta de condições de sobrevivência, muito mais do que pela atração pelas cidades. Neste caso, o fato de os campesinos irem embora não significa desagrado com o local de origem, porém a busca por um melhor modo de vida. Por esse motivo, diante da ideia da inexorável saída dos jovens do campo, o interesse maior deve fundamentar-se no que os motiva a ficar do que naquilo que os impele a sair. É fundamental analisar se os jovens rurais querem ir embora e, ao mesmo tempo, descobrir se gostam de viver no campo a fim de que a migração não perpetue a imagem equivocada de rejeição do campo (MENEZES, 2012). Assim, segundo Menezes (2012), perpetua a relação entre “gostar do campo” e “não ter vontade de morar na cidade” e, por outro lado, entre “não gostar do campo” e “ter vontade de morar na cidade”.

Gráfico 5 - Imaginário dos jovens rurais sobre a migração para cidade

(Fonte: Pesquisa de campo, 2018)

Neste gráfico 7 está sendo representando o desejo e o imaginário dos jovens rurais de se estabelecerem definitivamente na cidade. Para a maioria, 65%, migrar para cidade não é algo inimaginável. Porém, em 35% dos jovens do campo ainda persiste o desejo de permanecer no campo. Podem ser múltiplos os fatores que estimulam esse desejo, os “fatores de expulsão” e os “fatores de atração” que influenciam diretamente a realidade e, consequentemente, o imaginário de cada um deles. Assim como sugere Brumer (2007)

apesar do peso dos fatores estruturais, as decisões sobre a migração são tomadas por indivíduos, que variam na avaliação de fatores de atração

35% 65%

ou de expulsão. Ademais, na decisão de migrar, provavelmente os fatores de expulsão são anteriores aos de atração, na medida em que os indivíduos fazem um balanço entre a situação vivida e a expectativa sobre a nova situação. Dependendo de como se examina a questão, os estudos sobre a migração de jovens focalizam ora os atrativos no novo ambiente ora os aspectos vistos como negativos no local de origem. Entre os ‘ruralistas’ predominam as análises que apontam antes os fatores de expulsão do que os de atração, como causas da migração (BRUMER, 2007, p. 3)

No entanto, é importante estabelecermos que estes representados pela maioria, provocam a ameaça à sucessão familiar, o que implica questionar-se sobre um provável esvaziamento do rural num futuro próximo. Ao examinar este processo no qual a juventude rural assume a perspectiva de não permanecer no campo, devemos apontar diversas motivações para este comportamento, como a baixa expectativa de renda na agricultura camponesa, a busca por melhor infraestrutura, serviços e opções de lazer. (REDIN; SILVEIRA, 2012).

Para Matos (2002) uma das razões para a saída dos jovens do campo para a cidade se deve também à busca pelo “moderno”, o que de acordo com o autor caracteriza a visão sobre o rural como atrasado ou primitivo, fazendo o jovem deste meio querer entrar nos “moldes” da juventude urbana (“moderna”) para não ser visto ou não se ver como atrasado ou “inferior”. Para isso, muitas vezes o jovem camponês busca se apropriar de novas tecnologias e do conhecimento acadêmico. Para Renk (1999), a migração entre os jovens “pode ser avaliada como negação do projeto camponês” (p. 43).

(Fonte: Pesquisa de campo, 2018) 66% 34%

Não migrariam para o campo Migrariam para o campo

A informação do gráfico 8 corresponde ao imaginário dos jovens da cidade sobre a possível probabilidade de algum dia migrarem para a cidade. É visível que para maioria, 66%, essa possibilidade está longe de ocorrer, pois declaram não ter o desejo de algum dia morar nos espaços rurais. Porém, em 34% existe a vontade de algum dia morar no campo. Questões como essa abrem questionamentos sobre os aspectos “atrativos” e “não atrativos” apontados por Brumer (2007) do campo, aspectos estes que, por vezes, influenciam o imaginário dos jovens de outra realidade sobre a situação de algum dia viver ou não longe da cidade.

Além disso, o histórico de ausência de políticas públicas no Brasil, a dificuldade e insuficiência dos serviços de saúde e de educação de boa qualidade, bem como o acesso ao lazer tem reduzido a vontade dos jovens permanecerem vivendo na zona rural. A falta de apoio para a criação de alternativas de trabalho e meios diversificados para a composição de renda aumenta mais ainda a tendência dos jovens deixarem o campo, que muitas vezes são incentivados pelos próprios pais por acreditarem que na cidade terão todas as oportunidades para a concretização dos seus sonhos (SILVA, 2006). Soma-se a isso, o ideário de que a cidade é “moderna” e o lugar da “civilização”, e o campo, o lugar do “atraso” e dos “roceiros”, “caipiras”.