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O objetivo geral deste trabalho é analisar, após a decisão do Supremo Tribunal Federal, que consolidou o direito dos trangêneros de alterarem o prenome e o gênero nos registros públicos sem condicioná-los à realização de cirurgia de redesignação sexual ou autorização judicial, as implicações fáticas e jurídicas decorrentes da nova realidade social.

Para esclarecer o assunto, foram utilizados objetivos específicos, que se direcionam ao tema principal deste estudo e buscam solucionar o problema de pesquisa, conforme descritos a seguir.

No primeiro capítulo, foram abordados os direitos da personalidade da pessoa humana, com enfoque no direito ao nome e à autodeterminação social, bem como versado sobre os princípios que regulam a importância do alcance desses direitos, todos assegurados pela Constituição Federal.

Tratam-se de direitos inerentes a cada indivíduo, identificando-o e individualizando-o na sociedade, além de serem atribuições essenciais para a satisfação plena de uma vida com dignidade e liberdade para escolher a forma como se identifica, independentemente de seu gênero biológico ou aquilo que lhe foi imposto no momento do nascimento.

No capítulo que segue, foi discorrido sobre a Lei de Registros Públicos, mais especificamente no que tange ao registro das pessoas naturais.

Vislumbrou-se que a referida lei é norteada pelo princípio da imutabilidade, que, visando garantir a segurança pública das relações interpessoais, impede a alteração no nome por mero capricho, sendo relativizada apenas em casos excepcionais, também abordados no capítulo em questão.

Ainda, versou-se sobre a Ação de Retificação do Prenome que, anteriormente à decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 4.275, era a única forma de alcançar a averbação do prenome ou gênero nos registros públicos pelos transgêneros, uma vez que a lei nada regula sobre o assunto, tendo sua procedência, muitas vezes, condicionada à realização de cirurgia de redesignação sexual.

Por fim, no último capítulo, foi analisada a Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.275, ajuizada pela Procuradoria Geral da República, concretizando, após seu julgamento favorável, a possibilidade de alteração do prenome e gênero nos registros públicos pelos transgêneros sem a necessidade de se submeter a cirurgia de mudança de sexo ou a autorização judicial para tanto.

A referida ação visou dar nova interpretação ao artigo 58 da Lei 6.015/73, Lei dos Registros Públicos, sob a ótica da Constituição Federal.

Também foram analisadas situações fáticas e jurídicas decorrentes da efetivação desse novo direito na sociedade, tendo em vista que nada foi especificamente regulamentado quanto aos direcionamentos que devem ser tomados em caso de antinomias que possam vir a surgir.

O presente trabalho ainda utilizou como embasamento teórico legislações pertinentes ao assunto, provimentos e ensinamentos doutrinários de autores como Elimar Szaniawski e Maria Helena Diniz, além de peças e votos da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.275.

Dessa forma, com essas considerações finais, constata-se que a concretização dos direitos dos transgêneros em alterarem seu prenome e gênero sem precisar submeter-se a procedimentos cirúrgicos ou a decisões judiciais favoráveis é um importante passo para a sociedade no combate à discriminação e ao preconceito de gênero.

Todavia, há necessidade de algumas situações serem direcionadas e alguns esclarecimentos serem ponderados, uma vez que a efetivação desse direito acarreta divergência em situações cotidianas vivenciadas anteriormente.

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