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Os resultados apresentados neste trabalho permitem que se faça uma descrição da variação no uso das formas do subjuntivo e do indicativo no dialeto das comunidades analisadas.

Constatou-se inicialmente, que a alternância entre as formas desses dois modos não se processa aleatoriamente existindo uma correlação entre as formas variantes, ou seja, o presente e o futuro do subjuntivo alternam com o presente do indicativo, e o imperfeito do subjuntivo alterna com o imperfeito do indicativo. Essa situação vai de encontro às prescrições das gramáticas tradicionais que apresentam os modos indicativo e subjuntivo em distribuição complementar.

A utilização da metodologia da sociolingüística variacionista permite que este fenômeno não seja considerado uma variação livre, mas condicionado por fatores de ordem interna e externa à língua. Desse modo, após a análise dos grupos de fatores condicionadores escolhidos para o estudo da variação das formas do subjuntivo versus indicativo constatou-se que o seu encaixamento lingüístico na comunidade de fala é determinado sobretudo por fatores lingüísticos, já que o programa estatístico selecionou como significativas quatro variáveis lingüísticas e nenhuma social.

No que concerne à variável forma verbal prevista pelo padrão normativo, observou-se que, dentre os contextos previstos pelas gramáticas tradicionais, o contexto da forma do presente do subjuntivo é o que mais favorece o uso das formas do indicativo (que chegam a 80% do total), e o contexto do futuro do subjuntivo é aquele em que se observa a maior resistência às formas do indicativo (com nível de variação de apenas 26%). Já no contexto do imperfeito do subjuntivo, observa-se um comportamento instável, com uma maior alternância entre as formas dos dois

modos. Esses dados indicam que a intervenção do indicativo é mais significativa entre as formas que apresentam menor saliência fônica; no caso, o presente do subjuntivo é aquele que possui a marcação morfológica mais frágil.

Comparando-se esses resultados com os de outros estudos, nota-se que o funcionamento dessa variável é bastante diverso. Pimpão (2002, p.257) no seu estudo sobre a variação presente do subjuntivo versus presente do indicativo encontrou um índice de 41% de intervenção do presente do indicativo nesse contexto. Já na pesquisa de Costa (1990a, p. 185) sobre o dialeto rural da colônia Santo Antônio são as formas do futuro do subjuntivo que mais permitem a intervenção do indicativo (60.4%), e o presente do subjuntivo (23.4%) e o imperfeito do subjuntivo (14.8%) são os contextos mais resistentes à alternância com o indicativo.

Em relação à variável regularidade da flexão verbal ficou evidente que os verbos regulares favorecem o uso das formas do subjuntivo, com peso relativo .58, já quando o falante utiliza verbos irregulares há uma maior atuação das formas do indicativo, como se comprova pelo peso relativo .46. Estes resultados coincidem com os apresentados por Pereira (1995) que também comprovou em sua pesquisa sobre o uso do subjuntivo na fala de jovens da cidade de Juiz de Fora-MG, que os verbos regulares favorecem o emprego das formas do subjuntivo.

A variável tempo do evento (real ou referido) em relação ao momento do enunciado indicou que o uso do subjuntivo é mais favorecido em quando o falante se reporta a dois contextos temporais, quais sejam, o passado, com peso relativo .57, e atemporalidade com peso relativo .56. Os contextos temporais de futuro, com peso relativo .45, e principalmente, de presente, com peso relativo .26 permitem uma maior atuação das formas do indicativo.

Estes resultados diferenciam-se dos encontrados por Pimpão (1999), em cuja pesquisa o fator é conjugado com a modalidade. Ficou comprovado que o uso da forma do presente do subjuntivo é favorecido pelo tempo futuro com, peso relativo .76, enquanto os traços de atemporalidade/incerteza/pressuposição favorecem a penetração do presente do indicativo, com peso relativo .31.

Quanto à variável contexto sintático, primeiramente, convém salientar que houve variação entre as formas do subjuntivo e do indicativo em todos os contextos prescritos pelas gramáticas normativas como de uso do modo subjuntivo, e que foram analisados nesta pesquisa. Dentre estes contextos, as orações adverbiais concessivas, finais e comparativas, com peso relativo .64; as orações completivas verbais, com peso relativo .61 e as condicionais com “se” , com peso relativo .53 são as estruturas sintáticas que mais favorecem o uso das formas do subjuntivo. As orações relativas com peso relativo de .40; as adverbiais temporais, com peso relativo .37, e as dubitativas com advérbio talvez, com peso relativo .31, se constituem em contexto inibidor para o uso das formas do subjuntivo, favorecendo, conseqüentemente, uma maior atuação do indicativo.

O grupo de fatores contexto sintático também se mostrou relevante nos estudos realizados por Costa (1990) e Pimpão (1999), observando-se apenas uma diferenciação em termos de resultados numéricos quanto ao tipo de oração que mais favorece a variação no uso das formas do subjuntivo e do indicativo nos três dialetos. (cf. capítulo IV desta dissertação).

Em um estudo de cunho sociolingüístico, como o aqui realizado, a análise dos fatores sociais é importante para se compreender o processo de variação e/ou mudança do fenômeno estudado. Mesmo não sendo selecionados estatisticamente os resultados das variáveis sociais não deixam de ser reveladores do quadro de

variação das formas do subjuntivo versus indicativo no dialeto das comunidades analisadas.

Os resultados da variável faixa etária apontaram para uma flutuação entre as quatro faixas de idade consideradas. Esperava-se que os informantes mais novos da faixa I (21 a 40 anos) utilizassem mais as formas do subjuntivo principalmente em relação aos informantes mais velhos da faixa IV (mais de 80 anos). Os estudos indicam que geralmente há tendência de mudança quando os mais jovens utilizam mais as formas mais inovadoras, o que não foi confirmado nesta pesquisa.

Na variável sexo a diferença entre os resultados dos informantes do sexo feminino (69%) e do sexo masculino (67%) foi mínima, em relação ao uso das formas do subjuntivo. A expectativa era a de que as formas do subjuntivo fossem mais utilizadas pelos homens, visto que são estes últimos que ficam mais responsáveis pelas atividades econômicas da pequena propriedade rural, viajam mais para trabalhar fora, etc, o que lhes possibilita um maior contato com outros padrões lingüísticos diferenciadores do utilizado na comunidade de fala.

Os resultados apresentados pelas pesquisas de Costa (1990) e Pimpão (1999) demonstram que a variável sexo tem um comportamento bastante diferenciado. Na primeira são as mulheres que usam mais as formas do subjuntivo; na segunda esta variável foi selecionada no contexto sintático das cláusulas substantivas e indicou que os homens utilizam mais as formas do subjuntivo.

Quanto à variável nível de escolaridade os resultados dos informantes analfabetos e semi-alfabetizados foram praticamente os mesmos (68%). A expectativa que se tinha era a de que o uso das formas do subjuntivo fosse maior entre os informantes mais escolarizados, por terem um mínimo de acesso aos padrões normativos divulgados pela escola.

Nas outras pesquisas (Costa, 1990a; Pereira 1995; e Pimpão 1999) ficou comprovado que os informantes com maior nível de escolarização usam mais as formas do subjuntivo.

Em relação à variável estada fora da comunidade os resultados não foram muito diferentes, inclusive apontaram para uma diferença pequena em favor dos informantes que não se ausentaram por algum tempo da comunidade (70%), em relação aos que viajaram (64%). Mais uma vez, os resultados contrariaram o pressuposto de que os informantes que viajaram e tiveram algum contato com padrões lingüísticos diferentes do adquirido em sua comunidade de fala empregassem mais as formas do subjuntivo.

Diante do quadro aqui esboçado percebe-se que as condições envolvidas no processo de variação do uso das formas do subjuntivo versus indicativo são bastante complexas. Ao se correlacionar os resultados dos fatores lingüísticos com os dos fatores sociais, principalmente, faixa etária pode-se inferir que a variação observada no dialeto das comunidades afro-brasileiras configura-se como um processo de variação estável. Assim sendo, os dados encontrados não foram suficientes para comprovar a hipótese de trabalho inicialmente aventada, ou seja, a influência do contato entre línguas no dialeto das comunidades.

Ao lado disso, deve-se considerar que evidências históricas já sinalizavam para uma variação no uso das formas do subjuntivo versus indicativo em textos escritos do português arcaico (cf. Mattos e Silva, 1985; Said Ali, 1964). Fato este, que mereceria uma investigação mais acurada no sentido de se observar em que sentido tal processo se diferencia, ou não, do fenômeno que se constituiu em objeto de análise deste estudo.

Por fim, vale ressaltar que os objetivos desta pesquisa, de certa forma, foram alcançados, pois os fatos aqui apresentados trazem contribuições que ajudam a compreender um pouco mais os diversos matizes que constituem a realidade sociolingüística brasileira.

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