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A Ciência e Tecnologia é um espaço que apresenta maioria masculina devido a uma formação cultural reforçada através da construção de discursos que limitam os lugares por gênero. Tida por muito tempo como frágil e rainha do lar, a conquista do espaço público para o feminino demorou a se consolidar, o que só foi possível diante das reivindicações efetuadas pelas mesmas, essas que no século XX iriam se consolidar até gerar o Movimento Feminista.

Dentre tantas abordagens, os direitos iguais para as mulheres foi o maior clamor nos anos de atuação em todos os países que a luta feminista afetou. Nos Estados Unidos, as tendências geradas pelo movimento fez a mulher aparecer na mídia, nas ruas, no trabalho e para a família, aos poucos as questões que tocavam o feminino passou a ser debatida por instituições governamentais e a causa foi ganhando espaço.

Já no Brasil a configuração foi semelhante, uma vez que os caminhos utilizados no exterior serviram de exemplo. Aos poucos a mulher estava aderindo ao espaço público, tomando o meio social, desconstruindo alguns discursos e formulando novos. É fato que essa empreitada gerou discordâncias sociais, polêmicas, debates, perseguições e até morte de alguns grupos femininos, mas novos caminhos estavam sendo reinventados. A causa feminina se tornou tão expressiva que alguns lugares tidos como culturalmente masculinos se tornaram aos poucos um campo que deveria ser colonizado, nesse caso falamos da Ciência e Tecnologia, área de conhecimento reconhecida pela atuação masculina devido ao ofício que representa.

Inicialmente, percebemos que a inserção feminina foi difícil, mas que algumas mulheres foram reconhecidas mundialmente por descobertas que modificaram o conhecimento mundial e foram necessárias para a execução de novas pesquisas que envolvem desde a engenharia, a física, astronomia, medicina e biologia. Muitas vezes sob supervisão, o reconhecimento dessas mulheres foi reduzido e/ou escondido dos holofotes populares.

Aos poucos a trilha para a participação feminina na referida área de conhecimento foi sendo galgada, os exemplos das conquistas científicas por mulheres, os direitos femininos garantidos pela constituinte e as gerações sendo transformadas por novas tendências socioculturais fizeram o diferencial. A mulher

estava no meio público, usou a militância para seguir carreira na Ciência e Tecnologia, percorreu caminhos diferentes dos usuais e tornou-se uma transgressão, porém, apesar de existir um esforço admirável por elas, vimos que a participação feminina no espaço da Ciência e Tecnologia não ultrapassou os dez e/ou quinze por cento. Inicialmente nas décadas de 1950, 1960 e 1970 devido ainda a formação cultural discursiva que avaliava que tal meio social era de prioridade masculina, pois se tratava de uma área afim aos dotes masculinos.

Passados os anos percebemos o quanto a participação feminina era ainda motivo de estranhamento as pessoas inclusive do mesmo setor, analisamos então que ter uma mulher exercendo funções em que as pessoas comumente viam homens fazerem ocasionou um estranhamento causado pela transgressão. Por alguns isso foi visto como uma violação, outros como um ganho e para terceiros como novo e por isso duvidoso. A junção de sentimentos explica o motivo pelo qual nas estradas profissionais da área algumas mulheres colheram mais dificuldades e competitividade, vivenciando assim, momentos de tensão.

Qual a importância da ocupação feminina na Ciência e Tecnologia? Pode-se analisar que seja romper limites, quebrar discursos, reinventar lugares. Qual a dificuldade enfrentada para isso? Percebemos a partir das entrevistas realizadas que há um estranhamento no meio acadêmico e profissional que gera competitividade, limitações ao conhecimento feminino e a atuação no mesmo. Vimos que existe uma diferenciação de tratamento que se mostra sutil, que há maior dificuldade feminina em conciliar o pessoal com o profissional, que o meio público testa, supervisiona e por vezes limita a atuação das mulheres.

A forma como esse processo lida é por muitas vezes silencioso, se modificou com a mudança das gerações, mas não deixou de existir, talvez por isso o número de mulheres na área ainda seja pequeno. Avalia-se que corriqueiramente o meio ofereça um lugar especifico para a mulher que não está no referido campo de pesquisa e que para que as mesmas possam atuar entre as dificuldades pessoais e profissionais, elas usam de táticas para burlar as estratégias que a insistência do lugar impõem, mesmo que indiretamente. Aos poucos, as mulheres tentam trilhar o não lugar para poderem atuar expressivamente na profissão, “se impor” como elas comentaram.

Vimos ainda que a forma como o feminino encara esse paradigma é distinta, muitas não enxergam as limitações que o meio oferece, outras se mostram

acostumadas a lidar com os empecilhos, algumas criaram as táticas de sobrevivência profissional. Há ainda as que se sintam prejudicadas e que acham que sofreram modos de preconceito, porém elas sentem-se guerreiras por participar da Ciência e Tecnologia, apresentam um orgulho da “força” que obtém para lidar com o esse meio público que ainda é reconhecido como masculino.

Há um distanciamento da questão cultural que diz que a Ciência e Tecnologia é um espaço culturalmente masculino quando avaliamos que algumas graduações em engenharia, como a Engenharia Civil e Engenharia de Produção, apresentam um percentual de mulheres considerável que já chega a 40% buscando tal formação profissional, quando usamos descobertas cientificas galgadas por mulheres de gerações anteriores como Ada Byron, ou ainda quando lemos os relatos de algumas de nossas entrevistadas e percebemos que elas se sentem guerreiras, mas não vitimadas/excluídas e não enxergam alguns posicionamentos do meio público como preconceito. São nesses momentos que percebemos um distanciamento a ideia cultural que fixou a área de pesquisa como masculina.

Por outro lado, percebemos uma aproximação ainda a essa construção discursiva cultural quando analisamos os números de graduandas desistentes, a baixa atuação feminina em pós-graduações no setor, a restrição da participação e aprovação de mulheres em seleções de emprego em empresas, bem como as situações vivenciadas pelas entrevistadas durante a graduação com colegas de curso e professores, a dificuldade conjugal que algumas tiveram pelo ofício que exerciam e ainda nas eventualidades enfrentadas no cotidiano. Assim, analisamos que as mulheres na Ciência e Tecnologia são a transgressão que comumente faz do estranhamento ao atípico ter a oportunidade de se modificar.

FONTES

Adailton Monteiro

Engenheiro Mecânico. Entrevista realizada dia 30/06/2015, às 08:00hs, na sala do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia de Campina Grande na UFCG.

Ana Maria Costa:

Engenheira Civil. Entrevista realizada dia 06/05/2013 às 19,00 hs, na sala do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia de Campina Grande na UFCG.

José Rocha:

Engenheiro Elétrico. Entrevista realizada dia 21/05/2013, às 11:00hs, na sala do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia de Campina Grande na UFCG.

Helena Pereira

Engenheira Mecânica. Entrevista realizada dia 03/09/2015 às 19:40hs, na sala do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia de Campina Grande na UFCG.

Eduarda Silva:

Engenheira Elétrica. Entrevista realizada em 11/03/2016, às 09:00hs, na sala do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia de Campina Grande na UFCG.

Rafaela Duarte

Ciências da Computação. Entrevista realizada em 10/03/2016, às 16:00hs, na sala do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia de Campina Grande na UFCG.