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Neste capítulo, apresentamos as considerações finais com comentários sobre as discussões que nortearam essa dissertação. Ademais, esboçamos as possibilidades para trabalhos futuros a partir deste.

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Como considerações finais, julgamos necessário recordar a trajetória percorrida nesta dissertação.

As razões que nos impeliram a estudar o léxico erótico-obsceno foram a intensidade de uso presente na sociedade atual e a abundância de unidades lexicais existentes, referentes a essa linguagem especial, a qual é mutante e passa por contínua evolução. Pudemos reconhecer que tal léxico é definido por seu uso e conteúdo, já que oferece uma duplicidade de sentidos, explicitado por meio das metáforas. Assim, para entendê-lo, não pudemos nos abster de partir sempre de uma pressuposição erótica.

O capítulo I versou sobre as duas principais ciências voltadas ao léxico, a Lexicologia e a Lexicografia. Vimos que a primeira é direcionada ao estudo das unidades léxicas (as palavras), abordando as relações entre seus significantes e significados. A Lexicografia, por sua vez, ocupa-se da descrição do léxico e fornece as bases para a compilação de vocabulários. Conforme esta última, estruturamos nossa recolha vocabular segundo os preceitos da onomasiologia – o enfoque que parte do conceito e de certas matérias ou assuntos e aponta os significantes correspondentes, dos quais selecionamos aqueles que abarcam os campos semânticos da vulva e do pênis.

Desta feita, foi mister abordarmos nesse mesmo capítulo os conceitos relativos à tradução e à equivalência, perpassando as vertentes da modernidade e da pós-modernidade. De ambas preferimos fazer um equilíbrio e absorver o que de relevante cada uma apontou aos nossos estudos. Assim, apesar de a segunda corrente negar a possibilidade de equivalência, nós a adotamos de maneira ponderada dentro dos verbetes do vocabulário aqui proposto. Isto porque, ao descrever uma unidade lexical em um vocabulário, almeja-se uma pretensa estabilidade e fixidez de significado, agindo como se as traduções sugeridas fossem equivalentes do original e pudessem substituí-lo. Entretanto, quando tratamos de “produção de dicionários bilíngües” devemos, impreterivelmente, levar em consideração tanto a noção

de equivalência, já que esse tipo de obra pressupõe a presença de unidades estrangeiras pela sua própria natureza, como considerarmos a possibilidade de estaticidade de significados, uma vez que os mesmos serão delimitados em uma certa data, de uma certa época, em certa obra impressa.

Ainda no primeiro capítulo, refletimos sobre o léxico e expusemos que se define por ser um conjunto de unidades lexicais disponíveis na língua aos falantes, passível de sofrer expansões decorrentes de mudanças sócio-culturais. Dentro dele, elegemos a linguagem especial que nos atraía: o léxico erótico-obsceno, constituinte da Linguagem Proibida. Nele agem os tabus lingüísticos – proibições morais de se dizer certo nome ou certa palavra –que atuam ainda hoje em nossa sociedade, haja vista a repulsa por enunciar determinada unidade lexical, como por exemplo, referente aos nomes dos órgãos sexuais. Nesse capítulo destacamos alguns dos usos dos palavrões, empregados em situações de insulto, vingança, sigilo e inclusive em manifestações de afetividade e sentimentos, motivo pelo qual defendemos que eles ultrapassam os limites das classes sociais, ou seja, não são exclusivos de uma única estratificação sócio-econômica e de uma única raça. Confirmando-se, assim, nossa hipótese de uso indistinto por diferentes classes e níveis sociais.

No capítulo II discorremos sobre a semântica e a metáfora e sua atuação dentro da linguagem erótico-obscena. A respeito da primeira, a ciência do significado, almejamos ter esclarecido que na busca pelo significado nota-se com muita relevância o contexto, responsável por ajudar a definir se alguma palavra deve ou não ser rotulada como chula, indecente, ou como um palavrão. Em nosso trabalho o contexto foi de extrema importância, já que para algumas unidades lexicais que passaram pelo processo de metáfora, outras acepções são também possíveis, servindo como garantia de que a unidade com a qual nos deparávamos era verdadeiramente erótico-obscena.

Sobre as metáforas, enfatizamos sua possibilidade de enriquecimento dos significados. Inferimos, outrossim, que a freqüência do uso de metáforas na construção dos palavrões erótico-obscenos é exacerbada, intensificando ou exagerando as unidades mínimas de significação, os semas. Separamos em língua portuguesa e italiana as tipologias metafóricas mais recorrentes dentro do léxico erótico-obsceno, e pudemos perceber que os semas motivadores se mantêm similares em ambas as línguas.

Já no capítulo III, para descrever o corpus recolhido e fornecer a estruturação lexicográfica da nomenclatura do vocabulário, fez-se necessário o exame de teorias acerca da homonímia, da polissemia e da sinonímia, isto é, explicitar a metalinguagem empregada em textos de dicionário. Adotamos a homonímia como sendo a igualdade de significantes de duas ou mais palavras, que dispõem de significados divergentes. Pensamos a polissemia como um feixe de vários significados aparentados com um único significante. Já a sinonímia acontece com palavras distintas dentro de uma língua, cujo significado é o mesmo.

Por fim, apresentamos os verbetes do vocabulário erótico-obsceno dos órgãos sexuais masculino e feminino em português-italiano e italiano-português. Incluímos neles a unidade lexical vislumbrada como entrada, a informação morfossintática com a classe gramatical referente, o equivalente, a contextualização em língua italiana e em língua portuguesa, e a definição associada à metáfora.

Esforçamo-nos para que o vocabulário e nossas reflexões se adequassem não só a um nosso interesse particular, como também a um interesse social coletivo, da comunidade e da academia, visando à possibilidade de preenchimento da lacuna existente no mercado lexicográfico de confecção de obras bilíngües especiais e trazendo contribuições aos estudos lingüísticos ao abordar um tipo de linguagem especial pouco estudada – mas de acentuada riqueza vocabular e cultural – e versar sobre seu processo de criação, seu uso e suas traduções em duas importantes línguas.

Justamente por ser uma linguagem à qual ainda se dedicam poucos estudiosos, entusiasmamo-nos com as possibilidades de trabalhos futuros. Poderia ser pesquisada ainda, por exemplo, a atualização dos semas por meio do contexto, isto é, poderia ser verificado se os semas indicados para cada unidade lexical podem ser percebidos dentro dos exemplos que os contextualizam.37

Também caberia uma outra perspectiva seria estudar outros campos semânticos aqui declinados pelo curto espaço de tempo, como o ânus, os testículos, os seios etc., sobre os quais entrevemos a possibilidade de se pensar na relação entre a quantidade de unidades lexicais existentes, relativas a cada um desses campos e sua valorização nas sociedades brasileira e italiana e a posição do homem e da mulher dentro delas. Seria igualmente interessante e inédito o estudo da influência da criação e educação familiar na transmissão e na perpetuação dos tabus lingüísticos referentes aos palavrões.

Em suma, pretendemos dar continuidade a esse empreendimento que nos fez adotar uma postura ao mesmo tempo ousada e não preconceituosa para estudar algo sobre o que até mesmo muitos lingüistas se calam.

37Apresentamos esse argumento no projeto de pesquisa em nível de Doutorado junto ao Programa de Pós-

Graduação em Estudos Lingüísticos do IBILCE, UNESP, campus de São José do Rio Preto, na área de Descrição e Análise do Léxico Geral e Especializado.