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CONSIDERAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS

3. CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS

3.3. CONSIDERAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS

Tendo em consideração os resultados dos trabalhos de prospecção geológico-geotécnica atrás descritos, tecem- -se, de seguida, algumas considerações geotécnicas relativas às formações em causa. Os cortes geológico- -geotécnicos ao longo dos quatro alinhamentos da parede moldada auto-endurecedora são apresentados nos Desenhos 2 a 5.

Formação actual

C1 - Superficialmente ocorrem depósitos de aterros antigos, arenosos a argilosos, com pedras e fragmentos de cerâmica, castanhos a amarelados, por vezes com intercalação de lodo cinzento, com espessura variável entre 1 a 10 m. Esta formação é caracterizada por resistência variável, tendo-se obtido valores de 2 a 20 pancadas nos ensaios SPT, sendo mais frequentemente, inferiores a 10. Em termos de permeabilidade, nos ensaios Lefranc obtiveram-se valores variáveis de 1,2 x 10-4 m/s a 3 x 10-6 m/s, existindo um caso de absorção nula. Os materiais de aterro são bastante heterogéneos, com percentagens de finos muito variáveis, de 20% a 83%. No que se refere à plasticidade, obtiveram-se valores entre 23% e 43% para o limite de liquidez (wL) e entre 5 e 17% para o índice de plasticidade (IP). A classificação unificada destes materiais denota a sua heterogeneidade, variando de CL, ML, SM a SC-SM.

Formações do Quaternário

C2A - Na zona mais próxima do rio, interessando parte do Alinhamento Norte da parede e a extremidade Norte do Alinhamento Nascente, atingindo uma espessura máxima de 6 m que diminui progressivamente em direcção a Poente, ocorrem lodos siltosos a arenosos cinzentos escuros. Os

ensaios SPT efectuados nesta formação, conduziram a valores entre 0 e 9, sendo em média de 5

pancadas, revelando a reduzida resistência dos materiais. No que se refere à permeabilidade, o único ensaio Lefranc efectuado nesta formação, conduziu a um valor de 2,6 x 10-6 m/s. Os solos constituintes da camada são essencialmente do tipo ML e CL, com percentagens passadas no

peneiro n.º 200 (ASTM) muito elevadas, entre 80 e 95%, mas com baixa plasticidade – limite de

liquidez entre não plástico e 33% e índice de plasticidade entre não plástico e 9%.

C2B - Nesta formação ocorrem areias médias a grosseiras, mais ou menos argilosas, por vezes com seixos, medianamente a muito compactas, terminando em bisel no canto Norte-Poente. Trata-se de uma camada com espessura variável, atingindo um máximo de 9 m no Alinhamento Poente da parede moldada. Os materiais são caracterizados por resistência variável, apresentando predomínio de valores de NSPT inferiores a 20 pancadas, até aos 5 m de profundidade e, inferiormente, valores de NSPT entre 30 e 60 pancadas, sendo que os valores mais elevados se verificam frequentemente no contacto com a camada inferior de cascalheiras. Quanto à permeabilidade deste nível, os resultados dos ensaios Lefranc revelaram valores da ordem de 2 x 10-5 m/s a 1,3 x 10-6 m/s. Os solos desta camada apresentam uma percentagem de finos

(passados no peneiro n.º 200 da série ASTM) compreendida entre 11 e 27% e plasticidade baixa,

conforme se comprova pelos valores do wL, de 21% a 30%, e do IP, de 4% a 10%. A classificação unificada destes materiais traduz a sua natureza granular, tratando-se, no essencial, de solos do tipo SM, GW-GC e SC.

C2C - Subjacente à camada de areias ocorrem depósitos grosseiros constituídos por areias e cascalheiras, mais ou menos argilosas, geralmente muito compactas, em camada extensa e contínua, interessando a zona inferior da parede moldada. Esta camada apresenta uma espessura

que atinge os 14 m, nos Alinhamentos Poente e Nascente, sendo da ordem de 6 a 10 m nos restantes dois alinhamentos. Trata-se de uma formação muito resistente, com predomínio de valores de NSPT de 60 pancadas e quase sempre superior a 30 (salvo raras excepções). No que se refere à permeabilidade, os ensaios Lefranc conduziram a um intervalo de valores bastante

alargado, desde 1,9 x 10-4 m/s a 1,2 x 10-6 m/s. Os solos desta formação apresentam

percentagens passadas no peneiro n.º 200 (ASTM) variáveis entre 9% e 12% para limites de liquidez entre não plástico e 22% e IP entre não plástico e 5%, tendo sido classificados como SW-SM, GW-GC, GW-GM e GC-GM.

Formações do Jurássico

C3A - Nesta camada, de desenvolvimento descontínuo, com espessura média de 2 m, localizada na transição para o maciço margo-calcário, ocorrem argilas amarelas a cinzentas escuras, folhetadas, ligeiramente margosas, por vezes moles a muito moles, como atestam alguns valores de NSPT

obtidos, da ordem de 8 a 12 pancadas. Esta camada não foi abrangida por ensaios de permeabilidade, nem foi caracterizada do ponto de vista da granulometria e da plasticidade. C3B - Ao longo da fundação da parede ocorrem margas amareladas a acastanhadas com intercalações

de calcários margosos pulverulentos, por vezes dolomíticas, apresentando-se como um nível contínuo, com espessura variável entre 2 e 10 m. Apresenta uma intercalação de argilas moles na parte Norte do Alinhamento Nascente da parede, assumindo nesta zona e ao longo do Alinhamento Sul, a sua menor espessura. Em termos de resistência, foram registados valores de

NSPT elevados, da ordem de 40 a 60 pancadas. No que se refere à permeabilidade, a partir dos

resultados dos ensaios Lugeon obtêm-se valores de coeficiente de permeabilidade da ordem de 6,1 x 10-6 m/s a 2,6 x 10-6 m/s, traduzindo a significativa densidade da sua fracturação, que permite a comunicação hidráulica franca entre as aluviões e o maciço calcário do Jurássico.

C3C - No seio das margas do complexo C3B, ocorre, por vezes, uma camada individualizada de argilas

moles, cinzenta escura, com superfícies espelhadas. Este nível apresenta espessura média de 3 m e muito baixa resistência, cerca de 0 a 5 pancadas para NSPT. A reduzida expressão desta camada justifica a inexistência de resultados de ensaios de permeabilidade e de ensaios de laboratório sobre amostras representativas da mesma.

C3D - A maior profundidade, ocorrem calcários margosos, cinzentos a amarelados, por vezes pulverulentos a detríticos, muito fracturados e carsificados, tendo mesmo sido intersectada uma

caverna, com 1 m de altura, na sondagem S3,97. Os valores de RQD registados nas sondagens

são, geralmente, muito baixos, inferiores a 20%, enquanto que os ensaios Lugeon apontam para

valores da ordem dos 50 a 70 Lugeon, com dois casos de absorções mais baixas, de 21 e 13 Lugeon. Os valores obtidos nestes ensaios correspondem a coeficientes de permeabilidade entre 6,4 x 10-6 m/s a 1,2 x 10-6 m/s.

A significativa permeabilidade do maciço margo-calcário foi ainda confirmada através da análise do comportamento dos piezómetros após esgotamento dos furos. Efectivamente, e conforme se constata pela análise do Quadro 13, sempre que foi possível esgotar a água, o nível no interior do furo recuperou para valores próximos dos iniciais. Nos casos em que não foi possível realizar o esgotamento dos furos, concluiu-se que o maciço deveria apresentar fracturas abertas, ou que teriam sido interceptadas diversas fracturas produtivas. No que diz respeito à posição dos níveis freáticos na zona, os dados disponíveis (leituras de piézometros instalados nas diversas sondagens, ensaios de bombagem e ensaios de variação do nível da albufeira do Açude-Ponte de Coimbra) permitiram concluir que existiria coincidência aparente entre a posição dos níveis de água das aluviões e do maciço margo-calcário, confirmando a comunicação hidráulica entre as duas formações, situando-se estes níveis entre as cotas 14,0 m e 16,0 m.

Tendo em consideração que o nível mínimo de exploração (Nme) da albufeira do Açude-Ponte de Coimbra é 17,3 m e que nos piezómetros foram registados valores inferiores a este nível, em cerca de 2 a 3 m, conclui-se que a influência da bombagem se estende até uma distância muito significativa dos poços.

É de referir que as diferenças de cotas detectadas nos diversos piezómetros instalados na campanha de 1997 foram atribuídas à maior ou menor influência, em cada furo, das bombagens permanentes no local.

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