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CAPÍTULO 2 – IMPLICAÇÕES DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NAS

2.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DA FORMAÇÃO URBANA E DINÂMICA

Para compreender como se configura o sistema urbano do Ceará, é necessário retomar as categorias de formação econômica, bem como os desdobramentos do sistema canavieiro e outros sistemas como a pecuária. “Diferentemente do Nordeste açucareiro, a criação de gado foi responsável pela ocupação inicial do espaço cearense (ELIAS, 2007, p. 431)”.

A integração do Ceará ou forma de ocupação no circuito de formação brasileira tem sua incorporação territorial tardia se comparado aos demais estados nordestinos, (LIMA, 2014; SOUZA, 2007).

Segundo Souza (2007, p. 37) o gado, a agricultura do algodão e o “extrativismo vegetal dos carnaubais dos vales foram dando as bases para a formação de um conjunto de

cidades que se interligavam” intensificando os fluxos de mercadorias, pessoas e, formando a

rede urbana cearense.

A pecuária se desenvolveu no sertão, de forma extensiva, seguindo os cursos dos principais rios, dando origem a vários núcleos de povoamento. Predominava a pecuária extensiva, o que exigia extensas glebas de terra, desenvolvendo-se em grandes propriedades, explicando, em parte, a forte presença de latifúndios no estado. [...] (ELIAS, 2007, p. 431).

Outros elementos responsáveis pela organização do espaço cearense referem-se ao cultivo do algodão e o extrativismo vegetal de espécies nativas. “Incrementada pela Guerra de Secessão norte-americana (1861-1865), o cultivo de algodão representou prosperidade para o Ceará, formando o binômio gado-algodão” o qual compôs um elemento fundamental para a organização do espaço cearense e contribuiu para a economia do estado até a década de 1970. O desenvolvimento do extrativismo vegetal refere-se às variadas plantas xerófilas relacionadas à biodiversidade do semiárido cearense (ELIAS, 2007, p. 431).

Nesse contexto, outras características são marcantes na ocupação cearense, como bem destaca Lima (2014, p. 14). O segundo elemento característico desse processo refere-se ao

“maior movimento a partir dos limites interioranos com o estado do Pernambuco, ao invés de provir do litoral” contribuindo para a formação de uma rede urbana interiorana, o que

diferencia da maioria dos estados nordestinos. O terceiro elemento característico emerge da

comercialização do excedente a partir da pecuária, e está relacionado com “o processo de

conexão que vai criando pela necessidade de escoamento para a comercialização que se dava nas feiras dos polos da zona açucareira, principalmente Goiana, Olinda e Recife, no Pernambuco” (LIMA, 2014, p. 16).

Os rebanhos, em função dos longos deslocamentos, perdiam peso e valor. Segundo

Souza (2007, p. 16) “face aos prejuízos os fazendeiros cearenses, já a partir da primeira

metade do século XVIII, começaram a vender o gado abatido, transformando em carne

salgada “as charqueadas””.

Essas conexões integram os núcleos e fazendas nas distintas áreas do estado e este aos seus vizinhos (LIMA, 2014, p. 16), facilitando o escoamento da produção e desarticulando o isolamento prevalecente nas fases iniciais de sua história. Embora precária, a articulação feita

“fixa uma malha de estradas e caminhos vicinais” que colaborou para a maior interação do

estado.

2.2.1 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO CEARENSE: PRIMAZIA

METROPOLITANA

Um elemento fundamental no processo de crescimento dos centros urbanos no Ceará foi o desenvolvimento da agricultura comercial. A implantação das vias de comunicações (primeiro a ferrovia e posteriormente a rodovia) veio facilitar o contato entre as regiões, facilitando o escoamento da produção agrícola além de intensificar as migrações rural-urbana. Fortaleza desempenhava a função essencialmente militar e administrativa, enquanto as outras cidades, como Aracati, Icó, Sobral, Acaraú, por exemplo, mais favorecidas pela localização, situadas próximas a áreas produtivas (as margens dos rios, em portos naturais), exerciam relevância maior, comparadas à Fortaleza (SOUSA, 2007).

As mudanças na organização urbano espacial do Ceará a partir de 1950 são definidas basicamente pelas transformações de cunho econômico, político e social que contribuíram para a hegemonia de Fortaleza no contexto cearense. De acordo com Costa (2007), a organização do espaço urbano de Fortaleza, é fruto da ação de diversos agentes que

“produzem” a cidade, especialmente: o poder público, por possui capacidade de mobilizar

grandes recursos, e influir diretamente, mediante construção de edificações, obras públicas e concessão a empresas privadas para exploração de serviços urbanos; O setor privado, também

desempenha papel fundamental, no que tange a produção de “mercadorias espaço urbano”

para atender as necessidades do setor público e da população; concomitantemente, a população também participa da produção coletiva, e segundo a autora, a ação resultante dessas três esferas em momentos históricos diferentes, é o que contribui para a cidade apresentar formas e funções diversas.

O crescimento urbano que ganha força durante os anos 1950 acompanhado pela ampliação da mobilidade da população, através de intensas migrações do campo para as cidades, está relacionado principalmente com as questões fundiárias (onde predomina as grandes propriedades agrícola e pecuária, cuja absorção de mão de obra é relativamente pequena) e a incidência de secas que assolam o Estado periodicamente. Esse crescimento da população urbana no Estado do Ceará pode ser evidenciado também pelo aumento da pobreza urbana, especialmente na capital. A esse fator vêm se juntar os problemas decorrentes da falta de moradia, insuficiência dos serviços básicos, infraestrutura e equipamento de consumo coletivo, como transportes, educação e saúde (SOUSA, 2007, p. 25).

A expansão urbana e seu adensamento é um atributo do complexo de relações sociais e econômicas, predominante do sistema capitalista. A progressiva interdependência entre as nações, as mudanças técnicas e econômicas em escala mundial e a inserção do Ceará na divisão internacional do trabalho, com a produção do algodão e posteriormente de outros produtos para exportação, alteraram a economia local, transformando o modo de vida e reestruturando o espaço cearense. As migrações rurais-urbanas foram fruto da crise da

agricultura cearense, da concentração fundiária e dos longos períodos de estiagem. “Além

destes fatores que expulsam o homem do campo, a cidade passa a ser atraente para diferentes grupos sociais, em virtude do desenvolvimento do comércio, da indústria, da implantação de

infraestrutura e da oferta de empregos” (COSTA, 2007, p.52).

Os fatores que tornaram a capital um centro de atração para migrante, consistem na concentração de atividades desempenhadas, como por exemplo, as atividades políticas- administrativas, comerciais, financeiras, portuárias, culturais e de turismo, além de ser detentora dos maiores investimentos nos setores de saúde, educação e infraestrutura. O crescimento populacional provocou adensamento no núcleo central, obrigando os seus habitantes a deslocarem gradativamente para áreas mais distantes. A população de baixa renda buscou bairros periféricos, onde os preços dos terrenos são mais acessíveis, porém são áreas não urbanizadas e sem infraestruturas (COSTA, 2007, p.79).

De acordo com dados do IBGE para o ano de 2010, dos 184 municípios cearenses, apenas 26 possuíam mais de 25 mil habitantes vivendo em áreas urbanas. Dentro os centros urbanos de mais de 25 mil habitantes, fora da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), estão as seguintes cidades: Juazeiro do Norte (240.128 hab.), Sobral (166.310 hab.), Crato (100.916 hab.), Iguatu (74.627 hab.), Quixadá (57.485 hab.), Crateús (52.644), Camocim (44.657 hab.), Itapipoca (66.909 hab.), Canindé (46.875 hab.), Aracati (44.035 hab.), Tianguá (45.819 hab.), Barbalha (38.022 hab.), Russas (44.952 hab.), Limoeiro do Norte (32.483

hab.), Morada Nova (35.401 hab.) e, Quixeramobim (43.424 hab.). Essas cidades supracitadas representam importância expressiva para o Estado, diante do crescimento populacional e das funções que desempenham. De acordo com Sousa (2007, p. 27), essas cidades “são os principais centros de redistribuição dos produtos manufaturados e de coleta da região. Com um comércio atacadista importante estas cidades formam cabeças de redes comerciais, com algumas agências bancárias e firmas extra-regionais”.

Entre os centros regionais mais importantes, destacam-se as seguintes cidades: Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte (situadas na Mesorregião Sul Cearense, municípios polos da recém-criada Região Metropolitana do Cariri), Sobral (na Mesorregião Noroeste Cearense), Iguatu (Centro Sul Cearense) e Crateús (Sertões Cearense - Região dos Inhamuns).

Os três municípios conhecidos como triangulo CRAJUBAR (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha) são considerados os mais importantes da Região Metropolitana do Cariri e constituem o segundo maior polo urbano do Estado do Ceará. O Crato é um dos polos de cultura popular e artesanal. No que diz respeito aos serviços educacionais, destaca-se a importância da Universidade Regional do Cariri (URCA) que atende a ampla extensão de atuação regional.

Em Barbalha, o setor industrial vem se destacando nos ramos calçadistas, cimento, química e farmacêutico (principalmente a produção de soro) devido a especialização de uma grande empresa localizada nesse município a FARMACE, e no setor de serviços, além do comércio, os serviços médicos que atende aos municípios e estados circunvizinhos, e o turismo, pois Barbalha também é conhecida pela arquitetura colonial, clubes e balneários ao sopé da Chapada Nacional do Araripe (IBGE, 2010).

Juazeiro do Norte possui um diversificado parque industrial, que se destaca o ramo calçadista. O dinamismo desse município se justifica também pela presença de Instituições Educacionais públicas e privadas como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Universidade Federal do Cariri (UFCA), Centro de Ensino Tecnológico (CENTEC), Faculdade Leão Sampaio, Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) e, Faculdade de Medicina de Juazeiro (FMJ). Seu comércio é dinâmico e impulsionado pelo turismo religioso (as romarias do Padre Cícero) que trazem para o município um elevado número de pessoas (CASTRO et. all 2014).

Sobral, atualmente vem concentrando um número expressivo de indústria de diversos setores, destaca-se a indústria calçadista com a produção de calçados de plásticos. É também um importante centro de serviços educacionais e de saúde. No setor educacional, a

Universidade Vale do Acaraú (UVA) atende aos municípios da região, inclusive de estados vizinhos.

Iguatu é outro município de grande importância em âmbito estadual. Sendo o principal centro na região do médio e alto Jaguaribe, com intensa rede comercial e de serviços nos municípios da área. Mantém relações comerciais com as cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha na Região Metropolitana do Cariri, e com Fortaleza, além de ligações urbanas de Cajazeiras e Campina Grande, na Paraíba (SOUSA, 2007).

Além das cidades, acima citadas, outras desempenham papel de centros sub-regionais, desenvolvendo atividades econômicas, distribuição de produtos industrializados de atuação local e regional, como por exemplo: Quixadá, Limoeiro do Norte, Crateús, Russas, Tianguá, Aracati, Itapipoca dentre outras (SOUSA, 2007).

Contudo, conforme atesta Lima (2007), o sistema capitalista não se desenvolve uniformemente em todos os espaços, deixando muitos lugares sem utilização, ou seja, sem forma ou função de reprodução específica, desvinculados do processo global, forçando-os a

um sistema produtivo informal, e tendo que se integrar pelas margens. “Numa época de

reestruturação sistêmica, muitos desses lugares são chamados a compor o quadro das relações

produtivas, dentro de suas respectivas condições” (LIMA, 2007, p.40). Porém, é necessário “revesti-los na modelagem” que segue as exigências modernas e, é nesse caso, que a atuação

do estado, surge como elemento fundamental.

2.3 ASPECTOS GERAIS DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NO TERRITÓRIO