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Mudanças no processo produtivo capitalista e a dinâmica do setor de serviços: repercussões nas cidades médias cearenses no período de 1990 a 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

MARILIA DE SOUZA CASTRO

Mudanças no processo produtivo capitalista e a dinâmica do setor de

serviços: Repercussões nas cidades médias cearenses no período de 1990 a 2010

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MARILIA DE SOUZA CASTRO

Mudanças no processo produtivo capitalista e a dinâmica do setor de

serviços:

Repercussões nas cidades médias cearenses no período de 1990 a 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Economia.

Área de Concentração: Economia Regional Orientador: Prof. Dr. Willian Eufrásio Nunes Pereira

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Zila Mamede (BCZM) – UFRN, Natal - RN

CASTRO, Marilia de Souza, 2015 -

Mudanças no processo produtivo capitalista e a dinâmica do setor de serviços: Repercussões nas cidades médias cearenses no período de 1990 a 2010 / Marilia de Souza Castro. – Natal, 2015.

123 f.: il.

Dissertação (Mestrado em Economia) Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Economia, 2015.

1. O macro contexto da reestruturação produtiva. 2. Implicações da reestruturação produtiva nas escalas urbano-regionais e dinâmica econômica cearense. 3. Mudanças no processo produtivo capitalista e suas repercussões nas cidades médias cearenses. I. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Departamento de Economia. Programa de Pós-Graduação em Economia

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MARILIA DE SOUZA CASTRO

MUDANÇAS NO PROCESSO PRODUTIVO CAPITALISTA E A DINÂMICA DO SETOR DE SERVIÇOS: REPERCUSSÕES NAS CIDADES MÉDIAS CEARENSES NO

PERÍODO DE 1990 A 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Economia.

COMISSÃO JULGADORA

______________________________ Prof. Dr. Willian Eufrásio Nunes Pereira Orientador PPECO - UFRN

______________________________ Prof. Dr. Denílson da Silva Araújo Membro Interno – PPECO/UFRN

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AGRADECIMENTOS

A tarefa de agradecer é sempre um desafio, pois não é possível contemplar em um espaço tão restrito todas as pessoas que contribuíram para uma trajetória tão imensa. Primeiramente, quero agradecer a Deus, pela existência e maestria em nos permitir a superação dos obstáculos.

A Mainha, Maria Pas de Castro, pelo esforço e empenho em proporcionar a realização de mais uma conquista. E por me conceder a maior e melhor herança que se pode deixar um filho – o conhecimento. E por ter me direcionado na busca da educação, e me ensinado que é através dessa ferramenta (educação) a maneira mais fácil e digna de pessoas humildes ascenderem socialmente e economicamente. Ah se eu pudesse em palavras demonstrar a minha gratidão pela sua dedicação e comprometimento ao longo desse percurso. A painho, Luis Alves de Souza (in memória) mesmo não estando fisicamente entre nós, e não participando do processo de formação acadêmica diretamente me inspirava pela sua boa conduta para continuar seguindo.

Aos meus Avós, Maria Geruzina Carvalho Castro e Luís Pas de Castro (in memória) – meus segundos pais – que sempre se dedicaram a minha educação, sem medir esforços, iluminando meu caminho com afeto e dedicação.

Aos meus irmãos, Mariza de Souza Castro e Jáder de Souza Castro pelo apoio e incentivo nessa nova etapa da minha vida. Por se orgulharem das minhas batalhas e me transmitirem energias positivas para enfrentar os desafios diários e me encherem de esperança para continuar.

Ao meu amor Raimundo Neto, pelo companheirismo e por ser o combustível necessário que me fortaleceu e concedeu coragem para enfrentar uma empreitada dessa natureza. Agradeço ainda pelo respeito que sempre me foi dado em relação as minhas escolhas, pelo apoio e pelas palavras recheadas de esperança que me transmitiu quando tudo parecia tão difícil de ser superado.

Agradeço ainda, aos companheiros das mulheres da minha vida, Antônio Valter e Handerson, por sempre estarem presentes nas nossas labutas e nos ajudarem a conduzir os obstáculos com maior segurança.

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A Patieene Passoni, pela amizade construída e a experiência dividida durante essa jornada. Foi um privilégio divino ter conhecido uma pessoa tão incrível, inteligente e de um coração tão doce. Aprendi alguns métodos e ferramentas básicas durante o nosso convívio que nenhum curso ensina, mas que são de grande valia para um profissional da nossa área. Além do conhecimento adquirido, a dedicação e disciplina que ela possui são contagiantes. Agradeço de coração a paciência que teve comigo e os ensinamentos compartilhados.

A Aline, pela acolhida e pela consolidação de uma amizade antiga. A Isabel, Jessé, Valéria e Carol, pelo companherismo e bons momentos vivenciados e por terem tornado a trajetória menos traumática e cansativa.

Aos meus colegas de turma: Patieene, Calisto, Severino e Bruno pelas as alegrias e dificuldades compartilhadas.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGECO) em especial, André, Willian, Janaína e João Matos.

Ao professor Lima Jr, do departamento de Economia da URCA, pela brilhante atuação nessa instituição e servir de fonte inspiradora para os seus seguidores. O ponto de partida para esse momento partiu do Grupo de Pesquisa conduzido por ele, e os estímulos para seguir a carreira acadêmica se tornaram diários.

Ao NEMEC, pela forma de condução do Grupo, pelo profissionalismo, ética e dedicação dos participantes. A interação com estudantes da graduação, professores e mestrandos, é fundamental para um maior aprofundamento das questões econômicas conjunturais e estruturais. Quero demonstrar o meu reconhecimento pelos trabalhos desempenhados nesse Núcleo, e falar da importância, desses debates para a nossa formação como profissionais. O maior ganho permitido pelo NEMEC refere-se ao aprofundado conhecimento não somente em termos de base teórica da economia regional mas de interpretação prática dos seus determinantes, bem como da capacidade de formular instrumentos de pesquisa, de aplicar estes instrumentos, tabular, interpretar dados levantados e trabalhar em grupo, através da prática da pesquisa. À André, Fabrício, Marconi, Márcia, Alessandra, Pati, Valéria, Aline e Ian, a minha gratidão pelas discussões e trabalhos desenvolvidos. O NEMEC me proporcionou o convívio maior com o professo Marconi, e os ensinamentos para além da economia, também foi enriquecedor. A sua originalidade e a sua fascinante cultura nordestina me proporcionou conhecer o quanto somos plurais.

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Mudanças no processo produtivo capitalista e a dinâmica do setor de

serviços: Repercussões nas cidades médias cearenses no período de 1990 a 2010

RESUMO

A atual fase do desenvolvimento capitalista induz cada vez mais o processo de urbanização que tem sua articulação estimulada pela expansão dos centros médios urbanos. Seu crescimento não está vinculado a uma área específica, mas segue uma lógica abrangente atrelada às tendências da sociedade capitalista contemporânea e suas espacializações. Em face das substanciais mudanças no processo produtivo capitalista, a divisão social do trabalho nas cidades médias não metropolitanas cearenses passa a ter novos enfoques acerca de sua natureza. Dado o fato que o setor de serviços é responsável por grande parte do emprego gerado revela sua importância significativa na dinâmica econômica dessas cidades. Nesse contexto, sua importância, tamanho e produtividade passaram por reformulações quanto ao seu papel no sistema capitalista de produção. A predominância das atividades terciárias que engloba o setor de serviços e comércio nas cidades médias e suas relações com o processo de acumulação do capital deve ser compreendida frente ao aumento da velocidade das

transformações tecnológicas e das novas demandas por “funções-serviços”, como assistência técnica, P&D, entre outras. A intenção desse trabalho é verificar qual é o papel do setor de serviços na dinâmica econômica das cidades médias não metropolitanas cearenses no período de 1990 a 2010. Será ressaltado os elementos responsáveis pelas mudanças da estrutura produtiva, apresentando a realidade da dinâmica produtiva do estado, a partir de indicadores setoriais e sua influência na definição de políticas de desenvolvimento regional e urbano. Além disso, será analisado se o setor de serviços é capaz de dinamizar a economia estadual. O recorte temporal escolhido (1990 a 2010) é marcado por grandes transformações como o abandono das políticas desenvolvimentistas em âmbito nacional. Para alcançar os objetivos propostos, a metodologia utilizada seguiu o método dedutivo-histórico a partir de duas linhas de ação: a primeira teve um caráter exclusivamente teórico descritivo, concentrando esforços na pesquisa das literaturas ligadas ao papel do setor de serviços num contexto de reestruturação produtiva, financeirização e globalização neoliberal. A outra linha referiu-se à fase de interpretação de uma base de informações estatísticas de caráter secundário, coletados em bancos de dados de organismos oficiais. O crescimento do setor de serviços e o seu papel complementar nas gradativas etapas de formação e organização do sistema urbano cearense possuem uma ligação intrínseca com o fato urbano, bem como a característica estrutural de atividade induzida e não indutora desse movimento. Reconhece o importante papel exercido pelo setor de serviços, notadamente o poder de diversificação conduzida pelo segmento comércio, no processo de desenvolvimento das cidades médias não metropolitanas cearenses, expressa pela ótica da produção e do emprego.

Palavras-chave: Reestruturação Produtiva. Serviços. Cidades Médias Não Metropolitanas,

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Capitalist production process changes and the service sector dynamics: repercussions in

Ceará medium-sized cities in 1990-2010

ABSTRACT

The capitalist development current phase increasingly induces the urbanization process that has its articulation stimulated by the expansion of medium-sized urban centers. Its growth is not associated to a specific area, but follows a comprehensive logic linked to trends in contemporary capitalist society and its spatializations. Given the substantial changes in the capitalist production process, the social division of labor in Ceará non-metropolitan medium-sized cities is replaced by new approaches regarding its nature. The fact that service sector is responsible for much of the employment generated reveals its significant importance in these cities economic dynamics. In this context, its importance, size and productivity underwent reformulations inside the capitalist system of production. The predominance of tertiary activities which includes the services and trade sector in the medium-sized cities and their relationship with the capital accumulation process must be understood against the increasing speed of technological change and new demands for "jobs-services", such as assistance technique, R & D, among others. The intention of this work is to check what is the role of the services sector in the economic dynamics of Ceará non-metropolitan medium-sized cities from 1990to 2010.It will be highlighted the elements responsible for the changes in the productiv estructure, presents the productive dynamics state’s reality, through sector indicators and their influence in the definition of regional and urban development policies. In addition, it will be examined whether the service sector is able to boost the state economy. The time frame chosen (1990-2010) is marked by major changes as the abandonment of development policies at the national level. To achieve the proposed objectives, the methodology followed the deductive-historical method from two lines of action. The first has a descriptive theoretical nature, focusing on the literature search regarding the role of the service sector in productive restructuring context, financialization and neoliberal globalization. The other line referred to the interpretation of a secondary character statistical information base, collected in databases of official organizations. The service sector growth and its complementary role during the Ceará urban system formation and organization gradual stages have an intrinsic link with the urban apparel, being a structural induced activity and not inducing this movement. It recognizes the important role played by the services sector, notably the power of diversification led by trade segment in the process of developing Ceará non-metropolitan medium-sized cities expressed from the perspective of production and employment.

Keywords: Productive Restructuring. Services. Non-metropolitan medium-sized cities,

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - PIB Total e setorial: Taxas Médias anuais de crescimento - Brasil (%) ... 29

Tabela 2 - Número de Estabelecimento e Empregos na Indústria de Transformação e no Setor de Serviços no Brasil - 1989/1999 ... 33

Tabela 3 - Estoque de Vínculo1 Formal por faixa de salários mínimos - 1994/2012 ... 43

Tabela 4 - Estoque de Vínculo Formal por grau de instrução - 1994/2012... 44

Tabela 5 - Distribuição da população por Mesorregião - Ceará (%) - 1991/2010 ... 63

Tabela 6 - Quantidade Produzida (t) e Área Colhida (ha): Variações das principais culturas temporárias e permanentes no Ceará - 1990/2001/2010 ... 69

Tabela 7 - Número de Empresas1 na Indústria de Transformação no Ceará - 1992/2002/201271 Tabela 8 - Número de Emprego na Indústria de Transformação no Ceará - 1992/2002/2012 71 Tabela 9 - População residente, Área Total e Densidade demográfica nos municípios cearenses em 2010 ... 78

Tabela 10 - % de empregados com e sem carteira (18 anos ou mais) - 2000/2010 - nas cidades médias cearenses... 80

Tabela 11 - Proporção de pobres nas cidades médias cearenses – 1991/2000/2010 ... 87

Tabela 12 - Taxa de analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais ... 87

Tabela 13 - Expectativa de anos de estudo - 1991/2000/2010 ... 87

Tabela 14 - Proporção de domicílios particulares permanentes, por tipo de saneamento - 2000/2010 ... 88

Tabela 15 - Evolução do emprego formal por subsetores - Brasil - 1990/2010 ... 98

Tabela 16 - Emprego Formal por setores (%) nas cidades médias cearenses - 1992/2002/2012105 Tabela 17 - Estoque vínculo de emprego formal por subsetores nas cidades médias cearenses - 1992/2002/2012 ... 106

Tabela 18 - Estabelecimento por subsetores 1992/2002/2012 - cidades médias cearenses ... 107

Tabela 19 – Estoque vínculo 31/12 por escolaridade - 1992/2002/2012 das cidades médias cearenses ... 109

Tabela 20 – Estoque vínculo 31/12 por escolaridade - 2002 ... 110

Tabela 21 – Estoque vínculo 31/12 por escolaridade - 1992/2002/2012 das cidades médias cearenses ... 111

Tabela 22 - Vínculo subsetor por faixa de remuneração média 1992 nas cidades médias cearenses ... 112

Tabela 23 - Vínculo subsetor por faixa de remuneração média 1992 nas cidades médias cearenses ... 113

Tabela 24 - Vínculo subsetor por faixa de remuneração média 2002 nas cidades médias cearenses ... 114

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Tabela 26 - Vínculo subsetor por faixa de remuneração média 2012 nas cidades médias

cearenses ... 116

Tabela 27 - Vínculo subsetor por faixa de remuneração média 2012 nas cidades médias cearenses ... 117

Tabela 28 - Vínculo por faixa etária por setor nas cidades médias cearenses 1992 ... 118

Tabela 29 - Vínculo por faixa etária por setor nas cidades médias cearenses - 2002 ... 119

Tabela 30 - Vínculo por faixa etária por setor nas cidades médias cearenses - 2012 ... 120

Tabela 31 - Índice de Desenvolvimento Municipal e seus componentes Crato-CE 1991/2000/2010 ... 121

Tabela 32 - Índice de Desenvolvimento Municipal e seus componentes Itapipoca-CE 1991/2000/2010 ... 121

Tabela 33 - Índice de Desenvolvimento Municipal e seus componentes Juazeiro do Norte 1991/2000/2010 ... 122

Tabela 34 - Índice de Desenvolvimento Municipal e seus componentes Sobral 1991/2000/2010 ... 122

Tabela 35 -Índice de Desenvolvimento Municipal e seus componentes Crateús 1991/2000/2010 ... 122

Tabela 36 - Índice de Desenvolvimento Municipal e seus componentes Barbalha 1991/2000/2010 ... 123

Tabela 37 - Índice de Desenvolvimento Municipal e seus componentes Iguatu 1991/2000/2010 ... 123

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Taxas de crescimento do PIB real (%) - Média das décadas ... 26

Gráfico 2 - Trajetória inflacionária brasileira antes do Plano Real (1983-1994) ... 27

Gráfico 3 - Trajetória da Taxa de juros real e Taxa de câmbio real brasileira depois do Plano Real (1995-2012) ... 31

Gráfico 4 - Taxa média de desemprego (%) - Brasil - 1989/2012 ... 39

Gráfico 5 - Grau de Informalidade - Brasil - (1992/2012) ... 41

Gráfico 6 - Salário Mínimo Real - 2003/2013 - Índice base (2010=100) ... 42

Gráfico 7 - Estoque de vínculo formal - Brasil - 1989/2012 ... 42

Gráfico 8 - Participação do PIB setorial no PIB do Nordeste - 1960/1992 ... 50

Gráfico 9 - Índice de Desenvolvimento Municipal 1991/2000/2010 das cidades médias cearenses ... 85

Gráfico 10 - Índice de Gini nas cidades médias cearenses - 1991/2000/2010 ... 85

Gráfico 11 - Proporção da renda apropriada pelos 10% mais ricos nas cidades médias cearenses - 1991/2000/2010 ... 86

Gráfico 12 - Indicadores Socioeconômicos do Brasil, Nordeste, Ceará e RMF 1992/2002/2012 ... 100

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LISTA DE FIGURAS

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 16

CAPÍTULO 1 – O MACRO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA .. 20

1.1 MOVIMENTOS CONTEMPORÂNEOS E AS TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS NA ECONOMIA URBANA MUNDIAL ... 20

1.2 DESDOBRAMENTOS: IMPLICAÇÕES SOBRE A ECONOMIA NACIONAL ... 25

1.3 CONJUNTURA NACIONAL RECENTE: DINÂMICA DE AJUSTES A PARTIR DE 1990 ... 38

1.4 MUDANÇAS NO PARADIGMA DE REGULAÇÃO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS ... 45

CAPÍTULO 2 – IMPLICAÇÕES DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NAS ESCALAS URBANO-REGIONAIS E DINÂMICA ECONÔMICA CEARENSE ... 47

2.1 TRANSBORDAMENTO DAS MUDANÇAS, CRISE E IMPASSES EM ÂMBITO REGIONAL ... 47

2.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DA FORMAÇÃO URBANA E DINÂMICA ECONÔMICA ESPACIAL DO CEARÁ ... 55

2.2.1 Organização do espaço urbano cearense: primazia metropolitana ... 56

2.3 ASPECTOS GERAIS DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NO TERRITÓRIO CEARENSE ... 59

2.4 TRANSFORMAÇÕES ESTRUTURAIS DOS SETORES ECONÔMICOS E REDEFINIÇÕES REGIONAIS ... 66

2.4.1 Agropecuária ... 66

2.4.2 Indústria de Transformação ... 70

2.4.3 Serviços ... 72

2.4.4 Redefinições Regionais ... 73

CAPÍTULO 3 – MUDANÇAS NO PROCESSO PRODUTIVO CAPITALISTA E SUAS REPERCUSSÕES NAS CIDADES MÉDIAS CEARENSES ... 76

3.1 ARRANJOS ESTRUTURAIS DA ECONOMIA URBANA DAS CIDADES MÉDIAS CEARENSES ... 76

3.2 SERVIÇOS: PERFIL DOS VÍNCULOS FORMAIS ... 81

3.2.1 ANÁLISE DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS PREDOMINANTES NAS CIDADES MÉDIAS CEARENSES ... 81

3.3 INDICADORES SOCIOECONÔMICOS NOS ANOS 1991/2000/2010 DAS CIDADES MÉDIAS CEARENSES ... 84

3.3.1 Desigualdade de Renda ... 84

3.3.2 Educação ... 87

3.3.3 Situação de domicílio ... 88

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 90

(15)

6 ANEXO ... 98

6.1 Anexo I ... 98

6.2 Anexo II ... 99

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INTRODUÇÃO

A disposição das atividades no espaço, bem como sua formação, agentes e elementos fundantes estimularam correntes do pensamento científico de natureza interdisciplinar, com o interesse de investigar as consequentes disparidades e estrangulamentos gerados ao longo do tempo nesse referido espaço. A ciência econômica, por sua vez, mesmo obedecendo ao escopo teórico específico de suas análises, foi estabelecendo interfaces com outros campos do conhecimento acadêmico, como a História, a Demografia e a Geografia e suas respectivas subáreas, por tratarem de problemáticas afins.

O surgimento de espaços mais dinâmicos esteve durante muitos anos associado ao desempenho das atividades industriais ou baseado nos fatores de localização industrial. O setor secundário da economia, sendo caracterizado pelas atividades industriais, tem sido reconhecido como o principal motivador do crescimento e desenvolvimento urbano. Autores como Perroux (1977), Hirschman (1961) entre outros, descreveram a sua importância, relegando aos demais setores papel subordinado e complementar nas forças propulsoras do crescimento/desenvolvimento das regiões. Porém, teorias dos autores mencionados remontam o período desenvolvimentista (1930-1989) cujo capital industrial dominava a escala produtiva. Em função disso, o presente trabalho busca mostrar que nessa nova fase de acumulação capitalista neoliberal, essas teorias tradicionais não são suficientes para explicar as transformações ocorridas pós década de 1980 sob o impacto da globalização e da reestruturação produtiva.

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década de 1990, que promoveu abertura comercial e financeira, além de outras reformas institucionais, o capital financeiro ganhou espaço em relação à esfera produtiva. Essas reformas, somadas a outros fatores, tal como a transferência de responsabilidades do desenvolvimento econômico para os estados, traz consigo mudanças na estrutura produtiva dos mesmos.

De modo específico, no Ceará, no período de 1987 a 1991, na gestão de Tasso Jereissati, é implantado um plano que ficou conhecido como “Plano de Mudanças”. O objetivo principal do Governo mencionado era “inserir no Estado o modelo de mundialização da produção” (ARAÚJO, 2007, p. 103), visando aumentar a eficiência produtiva e rentabilidade do capital. Nesse sentido, “[o] governo assume os princípios do neoliberalismo ao tornar o papel do Estado cada vez menos voltado para o social e ao possibilitar a fluidez do capital no território cearense” (ARAÚJO, 2007, p. 103).

A intenção desse trabalho, considerado seu objetivo geral de verificar qual é o papel do setor de serviços na dinâmica econômica das cidades médias não metropolitanas cearenses no período de 1990 a 2010, é ressaltar os elementos responsáveis pelas mudanças da estrutura produtiva, apresentando a realidade da dinâmica produtiva do estado, a partir de indicadores setoriais e sua influência na definição de políticas de desenvolvimento regional e urbano. Além de analisar se o setor de serviços é capaz de dinamizar a economia estadual. O recorte temporal escolhido (1990 a 2010) é marcado por grandes transformações como o abandono das políticas desenvolvimentistas. Estas transformações demandam a construção de novos enfoques metodológicos que contribuam para explicar a problemática engendrada pelas disposições das atividades e consequentes disparidades regionais sob a mudança de regime de acumulação frente às reformas econômicas, políticas e institucionais em curso.

Como as consequências do processo de reestruturação são múltiplas e consoantes com a idiossincrasia do espaço em análise, a pesquisa procura entender como a reestruturação produtiva incidiu sobre o território cearense. E, dadas as transformações em curso decorrente desse processo, qual é a importância econômica do setor de serviço para o desenvolvimento das cidades médias não metropolitanas no período de 1990 a 2010? E nesse contexto, quais seriam as políticas públicas mais adequadas para tratar dessas novas dinâmicas e impulsionar o desenvolvimento econômico nos anos recentes? Pretende-se verificar também se a evolução do setor de serviços pós década de 1990 indica hegemonia na dinâmica econômica e qual a sua relação com o setor industrial.

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período de 1990 a 2010, apesar da predominância do mesmo nas cidades médias cearenses não metropolitanas ser de baixo valor agregado e dispor de baixa intensidade tecnológica.

Além desta parte introdutória, o trabalho possui como proposta de estrutura uma divisão em três capítulos, seguidos das considerações finais.

O primeiro capítulo do trabalho examina os condicionantes da reestruturação produtiva mundial e os seus desdobramentos na economia nacional, observando os movimentos contemporâneos que afetaram a dinâmica da economia a partir de meados de 1980. Analisa as transformações na forma da reestruturação, decorrente da modernização tecnológica e a repercussão no setor de serviços.

O segundo capítulo mostra os impactos da dinâmica da reestruturação produtiva sobre a distribuição espacial das atividades no Ceará que determina as mudanças na estrutura do território, como por exemplo, a expansão das cidades médias e a proeminência das atividades de serviços no estado, frente ao declínio das atividades agropecuárias tradicionais.

O terceiro capítulo, como um aprofundamento do capítulo anterior e em consonância com a hipótese norteadora do trabalho, busca entender a inserção das cidades médias cearenses face às mudanças no processo produtivo capitalista bem como a importância do setor de serviços para as mesmas.

NOTAS METODOLÓGICAS

Para alcançar os objetivos propostos, a metodologia utilizada seguiu o procedimento de caráter dedutivo histórico que, segundo Gil (1990), permite descrever as características do fenômeno fazendo relações entre as variáveis a ele pertinentes. Indo mais além, categorizando a natureza destas relações, seguindo duas linhas de ação: a primeira com um caráter exclusivamente teórico descritivo, concentrando esforços na pesquisa das literaturas ligadas ao papel do setor de serviços num contexto de reestruturação produtiva, financeirização e globalização neoliberal. Além de recorrer a autores clássicos da Economia Regional, Desenvolvimento Territorial e da Geografia Espacial e Econômica, serão também explorados estudos das Ciências Sociais que tratam de diferentes concepções acerca da transição e das mudanças que ocorreram no período analisado bem como da evolução do setor de serviços no território.

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CAPÍTULO 1 – O MACRO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA

O objetivo desse capítulo é fazer uma revisão bibliográfica acerca das transformações decorrente da reestruturação produtiva mostrando algumas abordagens referentes a esse processo na economia brasileira, bem como suas respectivas consequências no setor de serviços. O impacto da reestruturação produtiva com difusão tecnológica e mudanças no padrão organizacional industrial que ocorreu recentemente provocaram inúmeras alterações na dinâmica territorial e no desenvolvimento regional, incitando e dividindo opiniões entre os especialistas sobre o tema.

Logo, faz-se necessário a construção de um panorama geral acerca dos elementos responsáveis pela reestruturação produtiva e, em seguida verificar como ocorreu no contexto nacional para, posteriormente, discutir os seus impactos no desenvolvimento econômico e o aumento da relevância dos serviços, diante de tais modificações estruturais. Em seguida, os impactos dessas mudanças são observados em seus efeitos regionais e particularmente pela hierarquia regionais, com a expansão das cidades médias, assumindo um novo padrão na organização espacial, pelas quais as atividades de serviços, exercem função predominante no processo de mudança e de desenvolvimento regional. Para além da análise aludida, faz-se uma reflexão acerca da perda de capacidade estatal de planejamento e a adoção de políticas endógenas como estratégia de reorientação do processo de desenvolvimento.

1.1 MOVIMENTOS CONTEMPORÂNEOS E AS TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS NA ECONOMIA URBANA MUNDIAL

Nas últimas décadas do século XX a economia mundial se viu marcados por movimentos e tendências que se apresentam cada vez mais hegemônicos e transformam o seu funcionamento e sua dinâmica produtiva. Araújo (1999) destaca pelo menos três movimentos que afetaram o ambiente mundial nesse período. O primeiro corresponde ao processo de globalização, com a internacionalização dos mercados e a participação ascendente dos

“conglomerados transnacionais” nos fluxos econômicos e nas decisões de mercado.

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Quando se fala em reestruturação produtiva, está-se querendo referir ao conjunto de importantes transformações, também em curso, que definem um novo “padrão produtivo”. São mudanças das quais emergem novos setores dinâmicos na economia mundial (informática, telecomunicações, robótica, produção de novos materiais, entre outros); mudanças no como se produz e que resultam, sobretudo, da revolução científico- tecnológica produzida pela crescente hegemonia do paradigma microeletrônico, que quebra a cadeia fordista e cria as condições para a produção flexível; mudanças nas formas de organizar e gerir a produção, organizar os meios que a geram e os homens que a realizam; mudanças nas formas de organizar os mercados, com a tendência à formação de grandes blocos econômicos, entre outras (ARAÚJO, 1999, p. 10)

E terceiro, a financeirização da riqueza marcada pela busca contínua dos agentes econômicos em ampliar a reprodução do capital na esfera financeira da economia. Para a autora, a financeirização da riqueza está associada a

[...] possibilidade atual de criar riqueza, ampliar patrimônio, acumular capitais na esfera financeira, operando no mercado cambial, nas bolsas de valores, no mercado de títulos públicos, no mercado de derivativos, entre outros. É um movimento que marca a fase de hegemonia da acumulação rentista em que a economia mundial mergulha, sobretudo após os anos 70 (ARAÚJO, 1999,p. 10).

Esses três movimentos mencionados somados a outros de ordem político-institucional como o avanço de ideias liberais, marcado pelo regime neoliberal, estão interligados e reforçam as forças hegemônicas concentradoras bem como acentuam as diferenças entre centros dinâmicos e periféricos.

Partindo da reflexão de Araújo (1999, p. 11), sobre esse cenário econômico contemporâneo, pode-se elencar algumas consequências advindas do processo de reestruturação produtiva: a) Competição desordenada, que comprime a distância entre os espaços econômicos, ameaçando os menos competitivos; b) Expansão do comércio com facilidade de circulação e intermediação de mercadorias viabilizada pelos avanços tecnológicos com custos de fatores decrescentes; c) Presença ascendente da “produção

flexível” induzida pelo uso de instrumento com conteúdo tecnológico avançado; d)

Redefinição da demanda por trabalho, “requerendo-se menos mão de obra” (ampliando o desemprego) e; e) “Homogeneização” das relações produtivas, de gerenciamento e consumo, derivados de país desenvolvidos.

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contra rigidez”, como sintetizou Benko (1999, p. 21), como estratégia de reestruturação, seria de fato, uma resposta pelos dirigentes capitalistas para impedir o agravamento dos problemas estruturais de lucratividade,

[...] de um lado, trata-se de desvalorizar a força de trabalho, reduzindo todos os componentes de custos de sua reprodução (desindexação e regulação concorrencial da formação dos salários, revisão em baixa do salário indireto, supressão das garantias de emprego e de tudo que é considerado “entrave” à liberdade do trabalho etc...). E de outro lado, trata-se de utilizar as virtualidades tecnológicas da automação como suporte material afim de remodelar a organização do trabalho, os processos de produção, os sistemas de gestão e a qualidade dos produtos ou mesmo a norma social de consumo (BENKO, 1999, p. 21-22).

A produção em massa prevalecente no regime de acumulação fordista que assegurava estabilidade e previsibilidade tende a ser substituída pela linha de produção flexível, predominando a polivalência e a mobilidade. É nesse contexto, que as novas formas de inovar se conjugam com a tecnologia, na busca de produtividade e vantagens competitivas (KON, 2004).

Esse novo modelo de acumulação capitalista provocou mudanças tanto nas relações sociais quanto no espaço e não é fruto de causa única. Esse fenômeno induziu a: uma reestruturação espacial da sociedade; fragmentação das estruturas sociais; nova configuração na divisão social e espacial do trabalho; recomposição intersetorial de acumulação; criação de novos espaços para produção (deslocamento de unidades produtivas para algumas áreas de baixos salários e onde o processo de trabalho seja mais flexível) e consumo. Descarta-se a ideia de que o desmonte do regime de acumulação fordista tenha causa única. Os encadeamentos desestabilizadores resultaram de causas internas, principalmente do lado da oferta, e por outro lado, de causas externas - “a internacionalização econômica que compromete a gestão nacional da demanda” (BENKO, 1999, p.29).

Para Kon (2004) esse novo paradigma baseia-se em um processo contínuo de avanços tecnológicos no processo produtivo que tende a substituir a operação de plantas totalmente automatizadas. O elemento central dessa reestruturação é a flexibilidade para produzir um número elevado de produtos com o uso do mesmo equipamento, sendo este reprogramável, associado à adoção de novos métodos e formas de organização e gestão de trabalho. A finalidade desses equipamentos reprogramáveis seria evitar o desperdício e atender uma demanda flutuante e incerta.

(23)

objetivo geral dessa nova fase é a produção sem estoques, com o número mínimo de perdas possíveis. Adoção de um novo método denominado na filosofia japonesa de kanban, baseado apenas na reposição do que foi consumido é consideravelmente mais avançado que o método

just-in-time (KON, 2004).

Nesse novo momento, denominado de “mundialização do capital”, a precarização do trabalho e o desemprego estrutural decorrentes das novas formas organizacionais ou da

“produção enxuta” não podem ser considerados deterministas como resultado do progresso

tecnológico apenas, mas de uma lógica mais abrangente, “vinculados a um regime de acumulação predominantemente financeira, na qual o capital busca sua valorização através de papéis, sem passar pela órbita produtiva” (BORGES, 2011, p. 24).

Segundo Chesnais (1996) a mundialização é decorrente de dois movimentos conjuntos distintos, intrinsecamente interligados. O primeiro, refere-se a acumulação contínua do capital desde 1914. E o outro, diz respeito às políticas específicas, que foram aplicadas desde o início de 1980, tendo como marcos os governos de Thatcher e Reagan. Esses governos adotaram uma agenda agressiva de reformas de ordem liberal, sintetizadas pelo autor de: privatizações e desregulamentação e desmantelo de conquistas sociais e democráticas.

Ainda de acordo com Chesnais (1996), o capital internacional e os grandes grupos multinacionais não teriam encontrado espaço para destruir tão rápido e de forma radical os entraves e freios à liberdade de expansão e explorarem os recursos econômicas e naturais conforme a sua vontade, onde lhes fossem convenientes, caso não houvesse a intervenção ativa e política dos conjuntos dos governos sob influência direta dos governos Thatcher e Reagan.

A introdução da automatização contemporânea nos processos produtivos impactaram negativamente as relações de trabalho, conforme atesta Chenais (1996, p.35):

Cada passo dado na introdução da automatização contemporânea, baseada nos microprocessadores, foi uma oportunidade para destruir as formas anteriores de relações contratuais, e também os meios inventados pelos operários, com base em técnicas de produção estabilizadas, para resistir à exploração no local de trabalho.

(24)

O ajuste estrutural e os impactos da mundialização do capital não se restringiram ao modo predominante da organização do trabalho, apesar das transformações consideráveis que sofreu e do efeito nefasto que se consolidou. O papel desempenhado pelo Estado e o investimento produtivo, mecanismos essenciais e articuladores do processo de desenvolvimento também foram passíveis de alterações na sua composição.

[...] influi no comportamento do investimento, ou acentua suas características, da seguinte forma: forte propensão às aquisições/fusões; prioridade dos investimentos de reestruturação e racionalização; e, sobretudo, fortíssima seletividade na localização e escolha dos locais de produção (CHESNAIS,1996, p. 308)

Outro aspecto fundamental desta discussão está relacionado ao papel exercido pelo Estado. A função desempenhada pelo Estado, de equacionar os problemas relacionados a emprego e renda também, foi comprometida com redução significativa na participação das decisões de investimentos.

Brandão (2007) precisa que a análise crítica do movimento desigual de acumulação do capital envolve a caracterização dos processos de homogeneização, integração, polarização e de hegemonia. Porém, exigem reatualização, pois a sua utilização foi realizada em contextos históricos distintos da apresentada pelo novo momento da mundialização do capital.

O processo homogeneizador apresentado e discutido pelo autor deve ser entendido como a valorização unificada e universalização da mercadoria e não pode ser confundido ou associado à ideia de solidariedade de uma “comunidade” particular. “Na verdade, esse processo homogeneizador (de relações mercantis) cria e recria estruturas heterogêneas e

desigualdades em seu movimento” (BRANDÃO, 2007, p. 73). A lógica que rege as relações de produção requerida pelo capital é a busca desenfreada pela reprodução ampliada.

Nesse sentido, Brandão (2007) explicita os pressupostos imanentes desse processo homogeneizador imposto pelo capital:

[...] à capacidade do capital em incorporar massas humanas à sua dinâmica, à atração de todos os entes à órbita de seu mercado; à subordinação a si de todas as unidades societárias; à busca de construção de um espaço uno de acumulação e à destruição de quaisquer barreiras espaciais e temporais que possam gerar atritos e fricções a seu movimento geral (BRANDÃO, 2007, p. 73).

(25)

No entanto, foram definidos os traços do modelo de reprodução do capital que até hoje norteia parte das discussões acerca da influência que o contínuo avanço tecnológico teve ao longo do processo e as consequências que trouxe para os países em desenvolvimento. Os aspectos de transformação estrutural não se limitaram aos problemas intersetoriais do nível de emprego e da produção, e os seus impactos não são objetos de consenso entre os especialistas. É comum e aceitável na literatura econômica a ideia que o progresso tecnológico determinou o peso crescente dos serviços no nível de emprego e do produto, o que representou para muitos especialistas como Kon (2004) uma nova fase no processo de desenvolvimento. Para outros, o aumento vertiginoso do setor, traria consequências indesejadas para o dinamismo econômico, representando um claro sintoma de tendência à estagnação.

Nos países avançados, os serviços com intensidade tecnológica elevada ganharam espaço com grandes proporções durante a passagem de um regime de acumulação para outro, haja vista que essas fases foram bem definidas nesses países. Isso fazia parte da busca de maior produtividade, eficiência e lucratividade no processo produtivo. Para Dedecca e

Montagner (1992, p. 03) “esse padrão vem sendo alterado não apenas devido a dimensão da crise econômica, mas em grande medida pela difusão das novas tecnologias”.

Dedecca e Montagner (1992, p. 05), sintetizaram as principais transformações e as novas características que marcaram o cenário produtivo setorial pós década de 1970 com a introdução do novo padrão organizacional e tecnológico.

- esta mudança afeta de modo particularmente intenso as atividades da indústria, pela maior incorporação de inovações aos produtos, o que amplia o conjunto de serviços complementares envolvidos nas novas metas de produtividade exigidas; - a indústria continua exercendo o papel de centro dinâmico da economia, realizando uma integração com outros ramos de atividades do mercado nacional, bem como ampliando seus vínculos com o setor externo;

- o crescimento do papel dos serviços ocorre menos por um processo de externalização de atividades que eram executadas no interior das grandes empresas, e mais por um processo de complementaridade crescente criada pelas necessidades industriais por uma ampla gama de serviços; [...].

1.2 DESDOBRAMENTOS: IMPLICAÇÕES SOBRE A ECONOMIA NACIONAL

(26)

dos principais determinantes para a reorientação do processo de desenvolvimento e a mudança na política econômica que vinha sendo adotada. De acordo com Carneiro e Modiano

(1990) “[...] em meados de 1980 foram sentidos os primeiros sinais de escassez de

financiamento externo”, forçando o país a rever as políticas de desenvolvimento adotadas e a necessidade de ajuste macroeconômico, dado que a sustentação de déficit em transações correntes e financiamento do setor público com contração de dívidas no exterior não eram mais viáveis (BORGES, 2011).

A forte recessão em meados de 1980, fruto de inúmeras tentativas de controle da inflação com a implantação e fracasso de planos1 de cunho ortodoxo justificou o pífio crescimento acumulado do PIB brasileiro nesse período conforme indica o Gráfico 1. Desde o pós-guerra, a maior retração do PIB foi verificada entre 1981 a 1983, seguida de breve recuperação graças ao setor exportador e a maturação dos investimentos do II PND (CAIADO, 2002, CANO, 2008).

Gráfico 1 - Taxas de crescimento do PIB real (%) - Média das décadas Fonte: IBGE - Período de 1992-1995, Sistema de Contas Nacionais;

Para 2010: resultados preliminares estimados a partir das Contas Nacionais Trimestrais Referência 2000.

Segundo Cano (2008) as tentativas de estabilização sucederam em diferentes planos

em intervalos curtos de tempo, prevalecendo “acelerada deterioração da economia, numa

conjuntura de baixa taxa de inversão, deterioração das contas públicas, aceleração da inflação

1 Os planos de estabilização adotados durante o período que compreende 1986 a 1994 foram os seguintes:

Cruzado I (1986), Cruzado II (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990), Collor II (1991) e Real (1994).

0,0% 1,0% 2,0% 3,0% 4,0% 5,0% 6,0% 7,0% 8,0% 9,0%

1961-1970 1971-1980 1981-1990 1991-2000 2001-2010 6,2

8,6

1,6

2,5

(27)

e desequilíbrio externo” (CANO, 2008, p.63). Porém, conforme mostra o Gráfico 2 , os planos foram incapazes de estabilizar a economia no período que antecede a implantação do Plano Real.

Gráfico 2 - Trajetória inflacionária brasileira antes do Plano Real (1983-1994) Fonte: Elaboração própria a partir de dados FGV/Conj. Econ. – IGP.

A crise da dívida dos países periféricos e o esgotamento do modelo de substituição de importação (PSI) somado a conjuntura externa desfavorável agravou ainda mais o Estado brasileiro nesse período. Brandão (2007, p. 151) enumera uma série de fatores que

possibilitaram a exaustão do crescimento e o “desmonte dos mecanismos articuladores do processo de desenvolvimento”,destacando-se as:

[...] transferências de recursos ao exterior durante os anos 1983-1989; inúmeras imposições ao crescimento por parte do FMI; pressões hiperinflacionárias; desenvolvimento indexada; profunda crise fiscal-financeira do Estado; “atrofia da

base produtiva doméstica”; vulnerabilidades e condicionantes estruturais aos raios

de manobra de autonomia na condução da política econômica nacional”

(BRANDÃO, 2007, p. 151).

A década de 1990 é marcada pela hegemonia neoliberal e o pressuposto que conduzia essa “nova” ordem era a inserção do país na lógica de acumulação capitalista com um viés competitivo. Esse discurso difunde a ideia que era necessário especializar-se naquilo que o país possuía vantagens comparativas, no caso brasileiro, produzir produtos primários, culminando no que ficou conhecido como reprimarização2. Para alguns especialistas, isso só traria mais problemas para as contas externas, uma vez, que os produtos exportados são

2 Conforme será discutido posteriormente. 164,0 215,2

242,2 79,6

363,4 980,2

1.972,9

1.620,97

472,7

1.119,1 2.477,1

916,4

50,00 550,00 1.050,00 1.550,00 2.050,00 2.550,00 3.050,00

1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

(28)

inelásticos e de baixo valor agregado, diferindo dos produtos importados, o que levaria a uma deterioração dos termos de troca.

Esse período despertou interpretações distintas entre os especialistas de duas grandes correntes. De um lado, se alinham aqueles que consideram que as reformas de cunho liberal, e as políticas macroeconômicas restritivas, tem capacidade de reduzir a distância que separa o Brasil dos demais países desenvolvidos. Essa corrente, conhecida na literatura por ortodoxa neoliberal, considera que as reformas e políticas neoliberais foram fundamentais para a retomada do crescimento em governos posteriores. De forma mais específica, os ortodoxos neoliberais defendem a ideia que a abertura comercial e financeira responsável pela reestruturação produtiva, elevou a produtividade da economia brasileira concedendo maior grau de competitividade internacional às empresas instaladas no país.

Por outro lado, está a corrente de posições teóricas pós-keynesiana/neoestruturalistas. As concepções que permeiam tal debate centram na ideia de que o padrão de desenvolvimento vigente está redefinindo o perfil da estrutura produtiva distanciando-a da fronteira de produção tecnológica e em constante movimento. A especialização produtiva/comercial decorrente desse novo padrão que segue o país aumenta a sua vulnerabilidade externa estrutural que leva a especialização regressiva e à desindustrialização, fruto de uma inserção de natureza passiva.

No Brasil, as transformações econômicas, sociais e políticas que têm sido observadas desde os anos 1980, possibilitadas pela aceleração das mudanças tecnológicas num quadro de crescente globalização, resultou em alterações consideráveis no modo de produção capitalista. Essas por sua vez, conduziram a reestruturação produtiva, com crescente participação do setor de terciário nesse processo.

As mudanças pelas quais passaram as economias constituem-se basicamente: a internacionalização das atividades econômicas; a reorganização das empresas dominantes; da integração crescente da indústria manufatureira com a de serviços; introjeção do progresso técnico, microeletrônica; demanda crescente na indústria por uma força de trabalho qualificada; crescente complexidade e volatilidade do consumo e; uma mudança no papel da intervenção governamental, conforme atesta Kon (2004).

(29)

redução da indústria e da agropecuária. O setor de serviços amortece as perdas dos outros dois setores, ou seja, o papel desempenhado especialmente nos anos de crise estrutural é de suavizar ou arrefecer as perdas geradas.

Tabela 1 - PIB Total e setorial: Taxas Médias anuais de crescimento - Brasil (%)

1989-2001 2001-2006 2006-2010

Agrícola 3,8 3,9 3,5

Industrial 1,4 3,2 3,4

Ind. da Transformação 1,4 2,8 2,3

Serviços 2,4 3,2 4,6

PIB Total 2,2 3,0 4,6

Fonte: Elaboração a partir de CANO (2012, p. 7).

O bom desempenho da agricultura nos últimos anos deve-se ao aumento da demanda externa – principalmente do “efeito China” - por produtos primários, não sendo proveniente de mecanismos endógenos. O comportamento do setor de serviços, não é um fenômeno recente. Tavares (2011), ao analisar o problema do emprego no período do Processo de Substituição das Importações da América Latina, em contexto histórico diferente destaca a permanência, e até o aumento do desemprego estrutural de mão de obra desqualificada e o

papel amortecedor do setor de serviços na absorção do “exercito de reserva”. Para a autora,

As únicas possibilidades de contrabalançar esta tendência (dentro do modelo de substituição de importações, e na ausência de modificações profundas no setor primário) residiram pois, basicamente, em absorver os excedentes populacionais no setor de serviços ou nos programas de obras públicas. Isso se fez em certa medida,

sobretudo, no primeiro, onde o “empreguismo” e o desemprego disfarçado são

manifestações inequívocas da escassez de oportunidades em outras áreas. [...] (TAVARES, 2011, p.85).

A autora enfatiza ainda que essa tendência conjuntural tende a sofrer alterações no futuro com possibilidades factíveis de agravar tanto o setor industrial, como o de serviços, com a introdução e expansão de novas técnicas do processo capitalista. O setor de construções

governamentais também tem sido poupador de mão de obra, e isso decorre “tanto de uma

dependência tecnológica quanto da impossibilidade do próprio governo de se guiar pelos custos de oportunidade, desprezando os custos monetários em que incorre, sem um adequado

mecanismo de financiamento” (TAVARES, 2011, p.85).

(30)

passa a redesenhar as relações entre Estado, sociedade e mercado, trazendo implicações diretas para todas as esferas da sociedade”.

A política macroeconômica vigente do Governo FHC visava romper com o período de intensa intervenção estatal na economia, e fazê-la transitar para um novo modelo, no qual o Estado seria contido para realizar apenas funções básicas (saúde, educação e segurança).

[...] Nas décadas de 1980 e 1990, acirrou-se uma crise múltipla, em várias dimensões: econômica (sem crescimento), social (esgarçamento e sem direção de propósitos coletivos) e política (sem soberania). Consolida-se a total desarticulação do Estado, impotente para organizar, coordenar e regular ações construtivas e romper a inércia, aprisionado na armadilha financeira (BRANDÃO, 2007, p. 149).

“Assim, o governo FHC consolidou a opção por uma inserção subordinada do país à

nova (des) ordem internacional, pondo fim ao modelo desenvolvimentista” (CAIADO, 2002, p. 93). O autor segue mostrando ainda que, a busca da equidade deu lugar ao conceito de eficiência e a competitividade passou a ser mais importante que o nível de emprego, e como o Estado foi retirado de áreas estratégicas ampliaram as bases para retomada e expansão dos fluxos de investimentos externos.

Os problemas conjunturais somados aos oriundos desse novo modelo organizacional e produtivo trouxeram consequências consideráveis para o mercado de trabalho nacional. Alguns autores, como Kon (2004), Pochmann (2011) e Ribeiro (1999) retratam a eliminação crescente de postos de trabalhos nas empresas e a sua precarização, bem como o crescimento das atividades no setor terciário pós década de 1990. Para Pochmann (2011, p. 01), “a terceirização do trabalho ganhou importância a partir dos anos 1990, coincidindo com o movimento de abertura comercial e de desregulação dos contratos de trabalho”.

Como consequência dos problemas conjunturais de estabilização e da intensificação da modernização organizacional e produtiva, observou-se a eliminação crescente de postos de trabalho nas empresas e da elevação das situações de contratação sem vínculo empregatício legalizado, por outro lado, concomitantemente ao crescimento de ocupações autônomas a partir da terceirização dos serviços das empresas (KON, 2004, p. 99).

Nesse período, a abertura às importações de insumos e bens de capital, levou as empresas brasileiras a se modernizarem, porém expostas à concorrência internacional.

(31)

Com o intuito de controlar a inflação, o câmbio foi valorizado produzindo efeito perverso para a indústria nacional. Alguns blocos industriais perderam competitividade frente à concorrência externa, prejudicando o setor como um todo diante da avalanche de produtos externos no mercado nacional. A valorização do câmbio associado à redução do protecionismo à indústria nacional reforçou a degradação da balança comercial.

Gráfico 3 - Trajetória da Taxa de juros real e Taxa de câmbio real brasileira depois do Plano Real (1995-2012)

Fonte: Elaboração a partir de dados FED.

A estabilidade verificada a partir de meados dos anos 2000 se justifica em parte pelo acúmulo de reservas no período de 2002 a 2006 evitando uma pressão cambial em anos recentes (BRESSER PEREIRA, 2012).

O Plano Real, que ancorou a política de estabilização na valorização do câmbio, na abertura abrupta da economia e no colossal avanço da dívida pública interna, criou a ilusão de que assim poderíamos retomar um crescimento elevado (CANO, 2007).

Os impactos no mercado de trabalho das transformações econômicas ocorridas durante o final de 1980 e meados de 1990, podem ser traduzidos nos seguintes movimentos: Retração da força de trabalho formal, crescimento do número de trabalhadores por conta própria, reconfiguração das profissões típicas das “classes médias”, surgimento de novas profissões ligadas a funções de gestão, terceirização, informalidade, precarização, redução do trabalho regular e industrial, alta rotatividade, baixos salários, declínio da criação de emprego na indústria e flexibilidade das leis trabalhistas (POCHMANN; 2011, RIBEIRO; 1999).

-7,78% 24,80% 53,53% 104,76% -20% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% Ta x a d e cr esc im e n to (% a .a )

(32)

As mudanças não afetaram apenas um setor específico, todos sofreram alterações consideráveis. A desregulamentação do trabalho no setor primário teve influência na introdução da mecanização no processo produtivo, com a modernização técnico-produtivo da agricultura. Isso repercutiu no crescimento das Ocupações Rurais Não-Agrícolas –Orna’s3 – como forma de sobrevivência no meio rural.

No setor secundário, em alguns segmentos, especificamente na Indústria de Transformação, houve uma retração no nível de emprego, e um declínio nas taxas de crescimento. Houve também uma expansão das atividades financeiras e dos serviços, ao mesmo tempo em que se observou, em virtude da terceirização e da flexibilização dos contratos trabalhistas, empregos precarizados, com extensas jornadas de trabalho, perdas salariais e desmonte dos sindicatos (POCHMANN, 2011).

De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), verificou-se uma redução significativa no nível de emprego na Indústria de Transformação. Esse declínio foi resultado da instabilidade macroeconômica e da combinação de medidas agressivas de reformas econômicas de ordem liberal, como abertura comercial e financeira, privatizações, valorização cambial, altas taxas de juros e desregulamentações. Os dados da Tabela 2 mostram que em dezembro de 1989 a Indústria de Transformação era responsável por 26% do nível de emprego gerado, essa participação foi reduzida para 19% em 1999.

Para Lima (2014, p. 68) esse fenômeno se manifesta de duas formas “tanto pela redução da indústria no Valor Adicionado a preços constantes, através do gap entre as taxas de crescimento da indústria e do PIB, quanto pela redução da participação do número de postos ocupados pelo emprego industrial no emprego total”.

Diferentemente da Indústria de Transformação, o número de emprego gerado no setor de Serviços expandiu-se. Em termos percentuais o crescimento foi de apenas 2% no período de 1989 a 1999, indicando as alterações na divisão social e espacial do trabalho. Diante desse contexto, e em consonância com essa conjuntura, reforçam-se as interrogativas sobre a atividade industrial como força motriz do dinamismo econômico, como afirmava as teorias de desenvolvimento tradicionais de Perroux (1977) e Hirschman (1961) entre outras. Essas teorias relegavam a papel secundário e subordinado os demais setores.

Para Lima (2014, p. 62) “emerge uma fase abalizada pela dominância financeira”

expressa pelo crescimento de riqueza abstrata, mas não estaria dissociada da órbita produtiva,

(33)

sendo de fato, “um caráter próprio da lógica de acumulação tendo raízes históricas concretas culminando com a financeirização” (LIMA, 2014, p. 63).

Tabela 2 - Número de Estabelecimento e Empregos na Indústria de Transformação e no Setor de Serviços no Brasil - 1989/1999

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da RAIS.

1 Refere-se a quantidade de emprego gerado nos setores de Extrativa Mineral, Indústria de Transformação,

Serviços Industriais de Utilidade Pública, Construção Civil, Comércio, Serviços, Administração Pública e Agropecuária.

O autor segue mostrando que a predominância da financeirização tanto no centro como na periferia é tida como ininterrupto avanço do capitalismo na sua fase de acumulação financeira providenciada pelo progresso das telecomunicações, pelas inovações nas finanças com crescente integração dos mercados financeiros, pelas desregulamentações e aberturas econômicas, dentre outras (LIMA, 2014).

Portanto, essas teorias tradicionais de desenvolvimento revelam-se insuficientes para explicar essas transformações ocorridas a partir da década de 1980 sob o impacto da globalização, reestruturação produtiva e financeirização da economia. Dessa forma, para compreender essas mudanças na economia e, mais especificamente, na esfera produtiva, é necessário distinguir o uso de abordagens que partem de matrizes teóricas diferentes: de um lado, a Globalização Financeira versus Globalização Produtiva e de outro, Pós-Fordismo

versus Pós-Industrialismo (RIBEIRO, 1999).

Algumas explicações partem do surgimento e da disseminação de uma economia de serviços cuja “produtividade pressupõe o uso econômico do saber e da informação”, no intuito de ampliar a acumulação do capital, e é considerada na literatura como resultado da globalização financeira. O pós-fordismo indica a redefinição da indústria fordista, cuja produtividade fundamenta-se principalmente na “flexibilização das relações de trabalho e na desverticalização da indústria” (RIBEIRO, 1999).

Ano Estab. Ind.

de Transf.

(%) Emprego - Ind.

de Transf.

(%) Emprego -

Serviços

(%) Estab.

Serviços

(%) Total1

Emprego

1989 180.798 0,78 6.151.654 26,51 6.996.365 30,16 404.885 1,75 23.201.082

1990 191.306 0,89 5.464.436 25,47 6.447.949 30,06 406.930 1,90 21.451.545

1991 193.395 0,93 5.106.018 24,61 6.370.318 30,71 418.801 2,02 20.746.571

1992 184.990 0,93 4.713.109 23,68 6.142.626 30,86 426.090 2,14 19.903.479

1993 183.472 0,92 4.770.989 23,86 6.127.876 30,65 423.932 2,12 19.996.135

1994 188.610 0,85 5.053.656 22,64 6.418.652 28,76 480.124 2,15 22.317.734

1995 208.745 0,89 4.897.402 20,84 7.229.060 30,77 568.781 2,42 23.494.612

1996 211.738 0,89 4.797.283 20,21 7.422.161 31,27 629.523 2,65 23.735.771

1997 224.641 0,93 4.703.654 19,54 7.661.598 31,83 682.864 2,84 24.072.933

1998 229.850 0,94 4.476.967 18,29 7.930.315 32,39 716.240 2,93 24.482.427

(34)

Por outro lado, alguns estudos procuram examinar “os efeitos sobre a estrutura social das mudanças operadas no mercado de trabalho pela hegemonização da estrutura produtiva

pelo circuito financeiro” enquanto outros procuram entender a mesma relação em espaços “onde o circuito produtivo continua sendo hegemônico” (RIBEIRO, 1999, p. 05).

Segundo Dedecca e Montagner (1992, p. 04) “as formulações da teoria do desenvolvimento sobre o papel do terciário na sociedade de consumo”, definida por Fisher -Clark foram denominadas de Pós-industrialistas. Essa vertente baseava suas concepções a partir das mudanças ocupacionais e do PIB, partindo da suposição de que as atividades

industriais haviam perdido importância na dinâmica econômica e “correlacionavam o grau de

desenvolvimento de cada economia ao crescimento do terciário”. As principais críticas a essa corrente, referem-se “à impossibilidade de compreender o crescimento do terciário desconectado das transformações industriais promovidas pela incorporação de novas

tecnologias”. O crescimento do setor referido não está dissociado do setor industrial, em grande parte a sua ascensão explica-se pela crescente demanda da indústria.

A globalização financeira está relacionada com o lado monetário-financeiro da economia, enquanto o pós-fordismo está associado à esfera técnico-produtivo. E ambos estão interligados produzindo as mudanças na economia como um todo e instigando investigações acerca dos processos. Muito embora, os métodos utilizados pelos especialistas que explicam os efeitos desses processos sejam diferentes e partem de ângulos diversos, a grande maioria busca mostrar a trajetória instável da economia capitalista e as repercussões para o desenvolvimento do espaço investigado bem como os efeitos para a sociedade imersa no sistema, sobretudo, através do mercado de trabalho.

Como essas transformações não ocorreram de forma simétrica em todos os espaços é necessário levar em consideração os condicionantes históricos inerentes ao espaço investigado como, por exemplo, a sua inserção na divisão internacional do trabalho. É fundamental respeitar as especificidades de cada espaço bem como os aspectos históricos, culturais, sociais, políticos e econômicos que influenciaram ao longo do processo de formação e desenvolvimento do espaço.

(35)

A difusão das inovações tecnológicas, com a crescente informatização das atividades industriais, liberou mão de obra que não possuíam habilidades requeridas que pudessem ser absorvidas pelos novos processos produtivos. Segundo Kon (2004) nos períodos recessivos, a capacidade de ampliação dos serviços representou uma “válvula de escape” para parte da população liberada de outros setores, que mesmo permanecendo subempregados, em alguns casos, contribui para a geração do produto.

Nesse contexto, verifica-se uma série de estudos realizados bem como uma preocupação crescente entre os especialistas, especificamente os economistas, acerca de um possível processo de desindustrialização na economia nacional. Constata-se que existem duas posições bem definidas a respeito desse processo. De um lado, os chamados “novo

-desenvolvimentistas” defendem a ideia de que esse processo de desindustrialização vem

atingindo a economia nacional nos últimos 20 anos, viabilizada “pela combinação perversa entre abertura financeira, valorização dos termos de troca e câmbio apreciado” (LOURES, OREIRO E PASSOS, 2006; BRESSER-PEREIRA E MARCONI, 2009; apud OREIRO E FEIJÓ, 2010, p. 220).

Do outro lado, estão os “economistas ortodoxos” que defendem a tese de que,

[...] as transformações pelas quais a economia brasileira passou nas últimas décadas não tiveram um efeito negativo sobre a indústria e que a apreciação do câmbio real resultante dessas reformas favoreceu a indústria ao permitir a importação de máquinas e equipamentos tecnologicamente mais avançados, o que permitiu a modernização do parque industrial brasileiro e, consequentemente, a expansão da própria produção industrial (Schwartsman, 2009 apud Oreiro e Feijó, 2010, p. 220).

Como forma de esclarecer o conceito e explicar as causas e consequências do processo

de desindustrialização os autores apresentam a definição “clássica” do mesmo, e

posteriormente a mais recente. Segundo Oreiro e Feijó (2010, p. 220) “o conceito “clássico”

de “desindustrialização” foi definido por Rowthorn e Ramaswany (1999) como sendo uma redução persistente da participação do emprego industrial no emprego total de um país ou

região”.

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A confusão no conceito ainda persiste em não distinguir a influência do preço no valor adicionado e o crescimento em termos físicos (quantidades) na produção. Para tanto, se faz necessário o isolamento do efeito preço, para não incorrer em equívocos nas avaliações. “Uma economia não se desindustrializa quando a produção industrial está estagnada ou em queda, mas quando o setor industrial perde importância como fonte geradora de empregos e/ou de valor adicionado para uma determinada economia” na expressão de Oreiro e Feijó (2010, p.221).

Outra questão que é produto de interpretações equivocadas e que merece esclarecimentos consiste na relação que o processo de desindustrialização estabelece com a

“re-primarização” da pauta exportadora, que os autores também enfatizaram. “A desindustrialização não está necessariamente associada a uma re-primarização da pauta

exportadora”. As atividades manufatureiras de baixo valor agregado e mais intensiva em mão de obra podem ser transferidas para o exterior diminuindo a participação e o valor adicionado da indústria. Caso isso ocorra, e seja acompanhado pelo crescimento de produtos com conteúdo tecnológico elevado e alto valor agregado na pauta de exportações, a desindustrialização decorrente dessa transição é classificada como “positiva” conforme atesta Oreiro e Feijó (2010).

se a desindustrialização vier acompanhada de uma “re-primarização” da pauta de exportações,ou seja, por um processo de reversão da pauta exportadora na direção de commodities, produtos primários ou manufaturas com baixo valor adicionado e/ou baixo conteúdo tecnológico; então isso pode ser sintoma da ocorrência de “doença

holandesa”, ou seja, a desindustrialização causada pela apreciação da taxa real de câmbio resultante da descoberta de recursos naturais escassos num determinado país ou região (OREIRO e FEIJÓ, 2010, p. 222).

Se assim for, a desindustrialização é considerada “negativa” viabilizada por uma

“falha de mercado”.

Outros autores, como Cano (2012) também procuraram explicar esse processo que vem acontecendo na economia brasileira nesses últimos anos. Depois de atingir um padrão elevado, a estrutura produtiva e o emprego se expandem, modernizando e diversificando o setor de serviços em níveis superiores aos observados pela Agricultura e Indústria de Transformação. Este, por sua vez, perde posição para o setor de serviços, frente ao declínio do peso relativo do mesmo, manifestando dessa forma a desindustrialização (CANO, 2012).

Imagem

Gráfico 1 - Taxas de crescimento do PIB real (%) - Média das décadas  Fonte: IBGE - Período de 1992-1995, Sistema de Contas Nacionais;
Gráfico 3 - Trajetória da Taxa de juros real e Taxa de câmbio real brasileira depois do Plano  Real (1995-2012)
Tabela 2 - Número de Estabelecimento e Empregos na Indústria de Transformação e no Setor de Serviços no  Brasil - 1989/1999
Gráfico 4 - Taxa média de desemprego 4   (%) - Brasil - 1989/2012  Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE
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Referências

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