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2. COMPLEXOS DE RE(I) E 99M TC(I) ESTABILIZADOS COM LIGANDOS BIFUNCIONAIS

2.4. Compostos Multifuncionais Osteotrópicos para Aplicação Terapêutica:

2.4.1. Considerações gerais

De acordo com o que foi referido no capítulo introdutório, os BFs têm sido utilizados não só como fármacos para terapia mas também têm sido considerados úteis como veículo de transporte para o osso de moléculas citotóxicas e de radiação γ ou partículas β (e.g. 188

Re-HEDP). Este conceito aplicado através da ligação de unidades BF a diferentes tipos de fármacos e a radionuclídeos tem sido referido em vários artigos de revisão [12, 26, 27, 137-142]. Esta aproximação tem como principal vantagem promover uma elevada concentração local de fármaco ou de radionuclídeo, minimizando os efeitos adversos em tecidos não alvo e podendo por vezes minimizar problemas de resistência aos fármacos, observados após longos períodos de tratamento.

Na tabela 2.15 encontram-se exemplos de moléculas com acção terapêutica ligadas a um BF, avaliadas para o tratamento específico de diversas patologias osteo- articulares. As patologias consideradas foram a osteoporose, por conjugação à prostaglandina E2 ou ao estradiol, a osteoartrite conjugando o diclofnac [143-146], a

infecção crónica conjugando a fluoroquinolona [147] e o tumor ósseo por conjugação à gemcitabina [148-150] ou ao 5-fluoruraracilo [151]. De um modo geral confirmou-se que todos os compostos conjugados possuíam um carácter osteotrópico, atribuído à presença da unidade BF. À excepção do conjugado 5-fluorouracilo demonstrou-se também que a actividade biológica continuava a observar-se após a conjugação ao BF. No caso do derivado Fluoroquinolona/BF demonstrou-se que o ligeiro decréscimo da actividade bactericida era compensado pela sua capacidade para ligação ao osso.

O sucesso deste conceito poderia ser previsível, uma vez que o efeito sinérgico resultante da combinação de BFs e vários fármacos, utilizando protocolos terapêuticos onde estes são administrados alternadamente já é bem conhecido [152].

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O sinergismo entre o tratamento com BFs e radioterapia externa, quando utilizados alternadamente, foi igualmente confirmado [109]. No caso de pacientes com metástases ósseas múltiplas, resistentes ao tratamento convencional, foi também reconhecida a vantagem da utilização BFs e radioterapia sistémica, por exemplo através de protocolos terapêuticos utilizando alternadamente o pamidronato e o

188

Re-HEDP ou o zolendronato com o estrôncio-89 [153-155].

Assim, seria de esperar que os complexos [188Re]-gemcitabina/BF [149] e [188Re]-5-Fluoruracilo/BP [151] tivessem capacidades terapêuticas acrescidas devido à Tabela 2.15 – Fármacos conjugados a uma unidade bisfosfonato e correspondente

indicação terapêutica.

Fármaco/Bisfosfonato (BF) Indicação Prostaglandina E2/BF Estradiol/BF

Osteoporose

Diclofnac/BF

Anti-Inflamatório Não Esteróide

Osteoartrite

Fluoroquinolonas/BF

Infecção Crónica

Gemcitabine/BF 5-Fluoruracil/BF

107 emissão de radiação β, com capacidade de destruir células cancerígenas. No entanto, não existe na literatura qualquer referência relativamente à eficácia terapêutica destes complexos. Os complexos [188Re]-gemcitabina/BF e [188Re]-5-Fluoruracilo/BP não foram caracterizados estruturalmente, pois muito provavelmente é a unidade BF que se coordena ao metal. Como já foi referido, a estabilização do metal 188Re por grupos BF (e.g. 188Re-HEDP) não proporciona complexos com uma estrutura bem definida. Nesta aproximação a dupla função do BF de coordenação ao metal e ligação ao Ca2+ da HA vai certamente comprometer a ligação ao osso.

Nunca foi sintetizado um composto com uma estrutura bem definida, contendo um grupo bisfosfonato, uma molécula citotóxica e um elemento radioactivo emissor de radiação ionizante (β). O trabalho proposto nesta tese visava também preparar e avaliar compostos deste tipo. Devido às limitações de tempo e às dificuldades de síntese química encontradas, só parcialmente avançámos neste domínio. De qualquer modo, nesta secção descrevemos os avanços conseguidos e que obviamente tiveram como base os resultados obtidos nas secções anteriores.

Para a síntese do composto trifuncional considerou-se o docetaxel cujas propriedades citotóxicas são conhecidas e utilizadas na clínica. O docetaxel é um dos fármacos anticancerígenos mais potentes utilizado para o tratamento de tumores, especialmente para pacientes com metástases ósseas provocadas pelo cancro da mama, ovários, pulmões, cabeça e pescoço [156]. A estrutura química do docetaxel é semelhante à do fármaco anticancerígeno placlitaxel (figura 2.34), sendo o docetaxcel é mais potente como citostático [157].

108

O modo de acção destes fármacos baseia-se principalmente na formação de um heterodímero de α - e β - tubulina [158]. Na figura 2.35 (A) apresenta-se a estrutura desse heterodímero com a molécula de placlitaxel, determinada por cristalografia de raios-X.

Figura 2.35 - (A) Estrutura de raios-X do heterodímero de tubulina com um molécula de

placlitaxel; (B) interacções determinadas por modelação molecular entre resíduos da unidade β-tubulina do cérebro (B-brain) e uma molécula de placlitaxel ou docetaxel [159-161].

Através da figura 2.35 (B) podem visualizar-se interacções identificadas, com base em estudos de modelação molecular, entre resíduos da unidade β-tubulina e uma molécula de placlitaxel ou docetaxel. Algumas regiões activas das moléculas citotóxicas estão identificadas nessa figura como, por exemplo, a 3’-benzamidofenil (a) do placlitaxel, 3’-fenil (b), e o anel 2-benzoil fenil (c) que apresentaram interacções hidrofóbicas com as hélices H1 e H7 (roxo), as folhas β B8 e B10 (amarelo) e loop entre as hélices H6 e H7 (azul claro).

A formação deste heterodímero leva à estabilização de microtúbulos impedindo a sua desagregação. A inibição da desagregação dos microtúbulos impede o processo de divisão celular (actividade anti-mitótica) e consequentemente, a

(Os resíduos a preto pertencem à molécula de placlitaxel sobreposta à molécula de docetaxel, a verde).

109 multiplicação das células tumorais. Além disso, este mecanismo leva à acumulação de microtúbulos na célula promovendo a apoptose celular [162].

Esta acção citostática dos taxanos, por estabilização dos microtúbulos, é o principal mecanismo de acção destes fármacos. No entanto, existem na literatura estudos in vitro indicativos da sua acção como inibidor da reabsorção óssea [163]. O efeito sinérgico resultante da administração, em separado, de um BFs e do docetaxel também já foi demonstrado [164].

2.4.2 Síntese e Caracterização de Compostos Trifuncionais Contendo

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