As cidades ocidentais são cada vez mais pólos de atração das populações, o que gera grande pressão ambiental sobre estas urbes, mercê do risco de esgotamento dos recursos naturais, da poluição e degradação ambiental crescente. A resposta que os governos locais têm de dar para fazer face a estes problemas constitui, hoje em dia, um dos mais sérios desafios com que se deparam estes decisores políticos. Garantir que grandes cidades se mantenham simultaneamente sustentáveis e capazes de dar resposta a todas as necessidades de consumo da sua população são os compromissos que têm assumido muitos governantes locais. Pelos motivos expostos, as preocupações ambientais, que até há pouco tempo se tinham mantido à margem das prioridades nacionais e locais, têm assumido mais recentemente um papel de destaque nos órgãos decisores nacionais, supranacionais e locais.
A política ambiental, não pode, no entanto, estar dissociada da lógica económica dominante! É por esse motivo, que os níveis de eficácia e de eficiência destas políticas dependem da hábil escolha dos instrumentos económicos de política ambiental vigentes em cada Estado e dos efeitos causados por essas mesma políticas.
No contexto português, atendendo aos princípios da autonomia e da subsidiariedade, muitas das políticas ambientais são decididas e/ou concretizadas ao nível local, num plano de maior proximidade das populações que se pretende sensibilizar. O bom desempenho ambiental das políticas ambientais nacionais e locais está, portanto, dependente dos instrumentos económicos exclusivos dos municípios.
Tomando como exemplo nacional o município da Porto (pela boa imagem ambiental que lhe está associada) e após o levantamento dos instrumentos económicos de política ambiental da competência dos municípios e analisando o seu quadro normativo (Código Regulamentar), pudemos apurar que, apesar da autonomia que lhes é reconhecida, os municípios nacionais têm ainda competência muito limitadas na escolha dos instrumentos económicos. Além deste fator, existe ainda por parte do nosso poder local alguma
relutância (ou dificuldade financeiras que o justifiquem) recorrer mais vezes à concessão de subsídios (por exemplo, isenções fiscais), manifestando-se ainda uma clara preferência pelos instrumentos sancionatórios e tributários.
Da comparação efetuada com o município de Curitiba, verificamos que existem algumas diferenças nas opções de política ambiental e respetivos instrumentos destes municípios. Curitiba tem apostado mais no estabelecimento de parcerias com outras organizações e no envolvimento da comunidade para o alcance dos objetivos ambientais por si traçados. O recurso a instrumentos económicos de política ambiental tem cariz esporádico na condução da sua política e apenas se verifica em relação à preservação de espaços verdes e promoção da qualidade do ar.
Recorrendo à distinção apresentada por Sartor (2010), o poder local nacional ainda se encontra na “primeira geração” dos instrumentos de política ambiental, o que significa que ainda manifesta uma preferência pelos instrumentos tradicionais, também designados por “sticks” por Vedung (1998). Efetivamente, as proibições e as sanções ainda têm sido prevalecentes na nossa política ambiental.
No entanto, quer no caso do Município do Porto, quer no caso do município de Curitiba, a utilização de medidas persuasoras “carrots” (Vedung, 1998) poderia ser mais prevalecente na estratégia ambiental de ambos os municípios. Poderá isto significar que os órgãos decisores temem o efeito da persistência, ou seja, a continuidade das consequências ambientais negativas após a concessão deste tipo de benefícios.
Do estudo realizado, podemos ainda pressupor que, mais do que o recurso a instrumentos de comando e controlo, reforçados por instrumentos económicos sancionatórios, os bons resultados de Curitiba poderão ser sobretudo fruto das parcerias que têm sido estabelecidas. Transpondo esta ilação para a realidade nacional, permitimo-nos apontar um outro caminho para a política ambiental local: o estabelecimento de sinergias com outras organizações e o envolvimento da comunidade na consciencialização ambiental.
Espera-se termos dado um contributo para futuras investigações que poderão incidir na criação de um instrumento económico que permita apurar se a aplicação de instrumentos sancionatórios (coimas) ou tributários municipais têm contribuído (e em que medida) pela diminuição de comportamentos ambientais ilícitos. Este instrumento poderia passar, designadamente, pela avaliação estatística, ao longo de vários anos, do número de autos de notícia levantados pelos agentes fiscalizadores por matéria e do apuramento do número de reincidências.
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ANEXO I
FIGURA 6 – Balanço da Reciclagem Multimaterial por Município, 2011 vs 2010. FONTE: LIPOR, Relatório de Análise Estatística Lipor – 2011.
FIGURA 7. Entradas de resíduos provenientes da recolha seletiva da LIPOR, por município. FONTE: LIPOR, Relatório de Análise Estatística Lipor – 2011