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O sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras segue uma metodologia desenvolvida com o propósito de atender as diversas regiões brasileiras e se baseia em critérios previamente estabelecidos, a maior parte deles já amplamente conhecidos e embasados cientificamente. Entretanto alguns pontos e/ou situações têm determinadas peculiaridades, muitas vezes de caráter regional, que levam o julgamento a ficar sujeito a interpretações distintas por parte dos diferentes autores.

Muitas diferenças verificadas na presente avaliação da aptidão agrícola em relação às anteriores, certamente podem ser creditadas também ao desenvolvimento científico e tecnológico, o que está previsto no próprio sistema. Fatos como a introdução da brachiária como forrageira e o melhoramento de espécies vegetais como a soja, o milho e o trigo, entre outras, alteraram certamente alguns conceitos.

O conhecimento maior da realidade da região Centro-Oeste, permitiu nesta oportunidade elaborar um julgamento mais realístico e atualizado. Dentre muitas situações, merecem serem destacados os casos dos Latossolos argilosos dos Chapadões e o dos Neossolos Quartzarênicos Órticos. Os primeiros, particularmente os sob Cerrado e diferentemente de alguns julgamentos anteriores, foram julgados bons para lavouras (classe 1bC). O uso com lavouras cíclicas comerciais é uma realidade sobre os mesmos e estes sustentam quase toda a produção de grãos do Estado e Distrito Federal, fato que pode ser creditado ao grande desenvolvimento tecnológico associado à agropecuária na região dos Cerrados nas últimas três décadas. Por outro lado, o relativamente alto déficit hídrico é limitante para algumas lavouras perenes e mesmo pastagens.

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Outro caso que merece destaque é o dos Neossolos Quartzarênicos Órticos (antigas Areias Quartzosas) que anteriormente eram considerados inaptos para uso agrícola, mas no presente trabalho foram julgados ora como regulares e ora como restritos para pastagens plantadas, graças à rusticidade de algumas forrageiras como a Brachiária.

O caso das regiões baixas e inundáveis (Planície do Araguaia), com condições de relevo bastante favoráveis à agricultura, são severamente limitadas pela dinâmica hídrica regional e foram julgadas nesta oportunidade como regulares para pastagem natural (5n), em razão da possibilidade de aproveitamento da vegetação nativa como pasto natural em uma época do ano, empregando-se forrageiras adaptadas ao excesso de umidade. Entretanto, com emprego de irrigação (não previsto neste sistema de Avaliação), a utilização com lavouras irrigadas há muito é uma realidade sobre os mesmos.

O quadro abaixo mostra o quantitativo de terras do estado, distribuído por categorias de aptidão agrícola (sem uso de irrigação), considerando os solos dominantes:

Quadro 05 – Quantificação das terras de Goiás e DF, com base na potencialidade

agrícola.

Características

das terras Mecanização Adubação e calagem Classes Área (ha) Área (%)

Aptas para lavouras Mecanizáveis Necessitam correção química considerável 1bC, 1Bc, 2bc 16.425.170,94 47,48 Necessitam pequenas correções químicas (supletivas) 1ABC, 1Abc, 90.788,93 0,26 Não mecanizáveis ou mecanizáveis apenas localmente e/ou totalmente Necessitam correção química considerável 1B, 3(c), 1B(c), 3(bc), 2b(c) 2.561.539,71 7,40

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Características

das terras Mecanização Adubação e calagem Classes Área (ha) Área (%)

mas com muito

baixo rendimento Necessitam apenas pequenas correções químicas (supletivas) 1aB, 1Ab, 1AB(c) 1aB(c) 1.542.438,13 4,46 Aptas para pastagens plantadas e silvicultura - Necessitam correção química considerável 4p, 4p/5s, 4(p) 6.998.191,26 20,23 Praticamente não necessitam correções químicas 4P 98.371,26 0,28 Aptas para pastagens nativas - - 5n, 5(n) 2.612.664,75 7,55 Áreas para preservação - - 6 519.427,31 1,50

No balanço de terras agricultáveis X não agricultáveis, há um claro predomínio das primeiras, que representam 56,61% das terras do estado.

Dentre estas 47,74% (16.515.958,00 ha) são terras mecanizáveis enquanto 4,72% (1.633.226,00 ha) são terras de boa fertilidade natural não necessitando ou necessitando poucas correções de ordem química.

A classe 1ABC que ocupa uma superfície de 38.028,46 ha no estado de Goiás, representa a melhor das terras de Goiás considerando os critérios deste sistema de avaliação. Estas terras são relativamente poucas (0,11% da área total) e são representadas por solos do tipo Argissolos e Nitossolos Eutróficos ocorrendo em relevo com declives inferiores a 8%. Tem ocorrência mais significativa na região central do estado de Goiás, mais especificamente na microrregião do Mato Grosso Goiano.

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Foto 1 – Perfil de Argissolo Vermelho -Amarelo Eutrófico chernossólico, textura media/argilosa, relevo suave ondulado.

Bacia do rio João Leite, próximo a Anápolis. Classe 1 ABC.

Foto 2 – Foto 2 – Exploração de solos da classe 1aBc, com plantio de hortículas e olerícolas, próximo à Anápolis.

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Foto 3 – Perfil de Nitossolo Vermelho Eutrófico chernossólico, textura argilosa, relevo suave ondulado. Região de Caçu. Classe 1ABC.

Várias classes de terras do Grupo 1 de Aptidão, dentre elas 1Ab, 1aB, 1B, 1AB(c), 1aB(c), entre outras, são terras de boa fertilidade natural principalmente em razão de se originares de rochas ricas em elementos nutrientes e têm boas características físicas, entretanto, ocorrem em relevos de topografia acidentada que limita ou impede a mecanização agrícola e por tal razão são terras boas para agricultura, mas sem uso de mecanização, ou seja agricultura com emprego de sistema de manejo semidesenvolvido (B) ou mesmo sem primitivo (A).

Tratam-se em geral de Argissolos ou Nitossolos, que ocorrem em regiões de morrarias, particularmente na microrregião do Mato Grosso Goiano e nas regiões serranas do Complexo Básico - Ultrabásico de Ceres, Barro Alto e Niquelândia. Sobre estas classes de terras em razão da fertilidade natural elevada, agricultura com baixo emprego de capital, com poucos corretivos de solo e sem uso sistemático de tração motorizada, pode ser empregada com sucesso. Entretanto, o uso com pastagens plantadas tanto com forrageiras do gênero brachiaria, quanto com outras mais

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exigentes, é a atividade mais disseminada, salvo nos arredores dos maiores aglomerados urbanos.

Foto 4 – Utilização com pastagem em terras da classe 1aBc, na bacia do rio João Leite, próximo a Anápolis.

Terras do Grupo 1, ou seja, terras aptas para agricultura, mas com solos de baixa ou nenhuma fertilidade natural são as mais abundantes no estado e DF. Cabe destacar a classe 1bC, que é a mais abundante, contemplando 13.223.297,55 ha de terras.

Na realidade são as terras mais comuns e representativas de Goiás e Centro- Oeste do Brasil, que são os Latossolos de Cerrado e dos chapadões. Tratam-se de Latossolos Vermelhos Ácricos de textura argilosa, ocorrendo em relevo plano e suave ondulado. Tais solos sustentam toda a agricultura comercial tecnificada da região Centro-Oeste. São inaptas quando se trata de manejo sem emprego de insumos e capital (manejo A), mas quando corrigidas as suas deficiências químicas (adubação e calagem) e com emprego de mecanização, têm se mostrado altamente produtivas, principalmente para cultivos de ciclo curto.

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Quase todos os cultivos adaptados climaticamente se adaptam bem sobre estes solos, sendo verificados desde a exploração com lavouras cíclicas (ciclo curto), lavouras perenes, silvicultura, até pastagens as mais diversas.

Foto 5 – Foto 5 – Utilização com lavoura de algodão em chapadão próximo a Mineiros. Terras da classe 1bC.

Foto 6 Foto 6– Utilização com pecuária intensiva (confinamento) próximo a Goiânia. Terras da classe 1bC.

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Foto 7 – Utilização com cultivo de cana-de-açúcar próximo a Goianésia. Terras da classe 1bC.

Sobre Latossolos Vermelhos de textura média, muito comuns na região sudoeste de Goiás, o uso com pastagens para a atividade de pecuária extensiva é a principal atividade desenvolvida. Em razão do menos teor de argila destes solos, problemas como menor retenção hídrica, condicionando maior sensibilidade aos períodos de estiagem e menor capacidade de retenção de elementos químicos nutrientes e corretivos aplicados, têm sido preferidos para uso com pastagens, mas podem se prestar para cultivos com lavouras em sistemas de manejo desenvolvidos (classe 2bc), principalmente nos casos onde os teores de argila são tendentes para a classe argilosa.

A existência de um período seco rigoroso na região é determinante para a aptidão agrícola dos Latossolos do estado, tanto os de textura argilosa quanto os de textura média. Nos argilosos o cultivo de espécies de ciclo curto tem resolvido o problema em parte, observando-se bem as épocas de plantio, enquanto nos de textura muito leve, em razão de sua mais baixa capacidade de retenção de umidade, a preferência se volta para a pastagem e a criação de gado.

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A alternativa de técnica de irrigação tem se mostrado a melhor opção para a exploração de mais de uma safra anual sobre os Latossolos argilosos, enquanto práticas como a silagem são empregadas em todos os casos, como estratégia de manejo para as dificuldades impostas pela falta de chuva no caso da atividade pecuária.

Foto 8 Foto 8– Pastagem plantada sobre Latossolos de textura média (classe 2bc) na região sudoeste. Próximo a Caçu.

Foto 9 – Silo “trincheira” construído sobre Latossolo na região de Goianésia, como prática complementar na pecuária bovina regional.

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Cabe ainda mencionar como de grande importância para o estado, em razão da grande extensão de terras ocupadas, as áreas de solos não indicados para agricultura ocorrentes em maior concentração nas regiões norte, centro-oeste e sudeste. Tratam-se das terras das classes 5n ou 5(n) ou ainda 4(p). Ocorrem principalmente Cambissolos, Neossolos Litólicos, e Plintossolos Pétricos, nesta situação.

Os Cambissolos se distribuem por todas as regiões do estado e se tratam em maioria de solos de pequena espessura, cascalhentos e/ou pedregosos, o que faz que sejam indicados com restrições para pastagem plantada - classe 4(p) – ou para preservação – classe 6.

Foto 10 – Perfil de Cambissolo cascalhento. Região Norte de Goiás. Niquelândia.

Os Plintossolos Pétricos, apesar de se encontrarem distribuídos por todo o estado e Distrito Federal, têm maior concentração na região Norte. Também apresentam limitações sérias por impedimentos físicos ao desenvolvimento de raízes por presença excessiva de concreções ferruginosas no perfil. Foram julgados também para aproveitamento com pastagens nativas – classe 5(n) -, em sua maioria. Na região norte de Goiás, quando do Grande Grupo dos Concrecionários, são

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utilizados com pastagens plantadas empregando-se o capim andropogon como forrageira e, ainda assim, ocorre ressecamento acentuado no período seco.

Foto 11 – Perfil de Plintossolo Pétrico Concrecionário típico. Região Norte. São Miguel do Araguaia.

Foto 12 Foto 12 – Aspecto de pastagem de capim andropogon sobre Plintossolo Pétrico Concrecionário típico. São Miguel do Araguaia.

Por fim, uma última área expressiva que deve ser mencionada, é a planície do rio Araguaia, situada a noroestes do estado de Goiás. Trata-se de ampla superfície

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aplanada e baixa, com regime especial de inundação, que permanece com lençol freático elevado por considerável parte do ano. Os solos são predominantemente do tipo Plintossolo Argilúvico Distrófico típico.

Como o sistema de avaliação não prevê práticas de irrigação, as terras desta área são julgadas como regulares para pastagem nativa (5n). Entretanto, em algumas regiões o emprego de técnicas de irrigação e drenagem tem propiciado a sua utilização com lavouras adaptadas, como arroz de inundação e mesmo cultivo de outros grãos, como milho e soja.

Foto 13 – Perfil de Plintossolo Argilúvico Distrófico típico. Classe 5n. Planície do Araguaia.

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5. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

1 - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro de Pesquisas Pedológicas. Mapa Esquemático dos Solos das regiões Norte, Meio-Norte e Centro-Oeste do Brasil; texto explicativo; Rio de Janeiro, 1975, 553 p. Mapa.

(Boletim Técnico, 17).

2 - _________________. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos.

Aptidão Agrícola das Terras do Estado de Goiás. Rio de Janeiro, 1989. 40 p.

Boletim de Pesquisa nº 39.

3 - ESTADOS UNIDOS. Department of Agriculture. Soil Conservation Service. Soil Survey Staff.Soil Survey Manual. Washington, D.C. 1951. 503p. (USDA. Agriculture

Handbook, 18).

4 – MANZATTO, C. V. (Org.). Zoneamento Agroecológico da cana-de-açúcar. Rio

de Janeiro. EMBRAPA SOLOS CPAC, 2009. 55p.

5 – FAO (Roma, Itália). A framework for land evaluation.Rome, 1976.72p. (FAO Soil

Bulletin, 42).

6 - RAMALHO FILHO, A. & BEEK, K. J. Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. 3ª ed. rev. Rio de Janeiro. EMBRAPA - CNPS, 1995. 65 p.

7 – REATTO, A. ET AL. Mapa de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. Projeto

Zoneamento Ecológico-Econômico da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno. EMBRAPA - CPAC, 2002.

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8 – MANZATTO, C. V., ET AL. (Org.). Zoneamento Agroecológico da cana-de- açúcar. Rio de Janeiro. EMBRAPA SOLOS, 2009. 55p. (Documentos/Embrapa Solos,

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