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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.6. Considerações gerais sobre óleos essenciais

Os óleos essenciais (OEs), também conhecidos como óleos voláteis ou óleos éteros, são extraídos de plantas aromáticas geralmente encontradas em países de clima temperado e tropical (BAKKALI et al., 2008). São produtos de origem natural, com misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas, com aroma acentuado e líquido, podendo ser obtidos de todas as partes das plantas, como botões, flores, folhas, caules, ramos, sementes, frutos, raízes ou cascas (REGNAULT-ROGER; VINCENT; ARNASON, 2012; BAKKALI et al., 2008).

Em temperatura ambiente apresentam-se como substância líquida oleosa e bastante volátil, sendo esta última, a particularidade que o diferencia de óleos fixos, mistura de substâncias lipídicas obtidos geralmente de sementes (SIMÕES; SPITZER, 2004).

Os OEs são produtos naturais produzidos como metabólitos secundários de plantas aromáticas. São constituídos, principalmente, por compostos terpênicos, cuja origem biossintética ocorre a partir de unidades do isopreno que, por sua vez, origina-se a partir do ácido mevalônico (BAKKALI et al., 2008).

Estes óleos são misturas complexas naturais que podem conter de 20 a 60 componentes diferentes e normalmente, ocorre a predominância de dois ou três componentes em maiores concentrações (BAKKALI et al., 2008). Os compostos terpênicos majoritários nos OEs são os monoterpenos (cerca de 90% dos OEs) (DE SOUSA, 2011; MACHADO; FERNANDES JUNIOR, 2011). Apresentam duas unidades isoprênicas e 10 átomos de carbono, e os sesquiterpenos, com três unidades isoprênicas e 15 átomos de carbono (SIANI et al., 2000; BAKKALI et al., 2008).

Dentre estes, os monoterpenos ainda podem ser divididos em três subgrupos (SIMÕES; SPITZER, 2004): acíclicos (mirceno, linalol e geraniol); monocíclicos (α-terpineol, terpinoleno, mirtenol); e, bicíclicos (α-pineno, tujona, cânfora e fenchona). Em cada um desses subgrupos, há ainda outras classificações: hidrocarbonetos insaturados (limoneno), álcoois (mentol, linalol), aldeídos ou cetonas (mentona e carvona), lactonas (nepelactona) e tropolonas ( -tujaplicina).

Até o momento, são conhecidos aproximadamente 3000 OEs, 300 dos quais são amplamente empregados pela indústria farmacêutica, de saneantes, de cosméticos, de produtos agrícolas e indústria alimentícia, com diversos propósitos,

como o medicinal, bactericida, fungicida, antiparasitário, antiviral, inseticida, e condimentar (BAKKALI et al., 2008).

Os OEs são conhecidos por apresentarem diversas atividades no SNC, como a analgésica (ALMEIDA; NAVARRO; BARBOSA-FILHO, 2001; BAKKALI et al., 2008), ansiolítica (ALMEIDA et al., 2004), antidepressiva (VICTORY; BRAHM; SAVEGNAGO, 2013), anticonvulsivante (NÓBREGA, 2012; DE SOUSA et al., 2006a), e também por serem utilizados na aromaterapia, para induzir tranquilidade mental ou relaxamento, e para induzir o sono em humanos (DE SOUSA et al., 2006b).

2.6.1. (-)- Mirtenol

O (-)- mirtenol é um monoterpeno álcool cíclico (FIG. 9), de aroma agradável, que se apresenta como um líquido quase incolor, com fórmula molecular C10H16O e peso molecular 152,24 g/mol (BHATIA et al., 2008).

Figura 9 - Estrutura química do (-)- mirtenol.

O (-)- mirtenol é encontrado em diversas espécies de plantas aromáticas em diferentes proporções. Listamos abaixo algumas das famílias e espécies que este monoterpeno pode ser encontrado:

 Asteraceae: Achillea ligustica All., (MAGGI et al., 2009)

Tanacetum vulgare L., (KESKITALO; PEHU; SIMON, 2001;

 Cyperaceae: Cyperus articulatus L., (COUCHMAN; PINDER; BROMHAM, 1964).

 Lamiaceae: Rosmarinus officinalis L. (USAI, et al., 2011)

Salvia hydrangea (KOTAN et al., 2008)

Salvia hypoleuca Benth (NICKAVAR; MOJAB; ASGARPANAH, 2005)

Salvia lanigera (TENORE et al., 2011)

Salvia microstegia (SENATORE et al., 2006)

Salvia multicaulis Vahl. var. simplicifolia Boiss (SENATORE; ARNOLD; PIOZZI, 2004).

 Myrtaceae: Myrtus communis L., (GUARRERA; LEPORATTI, 2007),  Paeoniaceae: Paeonia lactiflora (NGAN et al., 2012)

 Rosaceae: Strawberry Fragaria spp (AHARONI et. al., 2004).

Na indústria de cosméticos, o (-)- mirtenol é usado como componente de cosméticos, xampus, sabonetes, detergentes, entre outros (BHATIA et al., 2008). Na literatura, existem diversos estudos de toxicidade que asseguram o uso do (-)- mirtenol nessas formulações. Em relação à toxicidade aguda, a DL50 (dose letal que

mata 50% dos animais) do (-)- mirtenol foi determinada em ratos, por via oral, machos 2,45 g/kg e em fêmeas 0,63 g/kg e 1,4 g/kg (machos e fêmeas juntos) (RIFM, 2001; BHATIA et al., 2008). No entanto, não foi relatada a DL50 em

camundongos por nenhuma via de administração.

Quanto as suas atividades biológicas, até o presente momento, foi descrito na literatura, que possuí propriedade biocida (LEPOITTEVIN et al., 2011) e bactericida (NGAN et al., 2012; OKOH; SADIMENKO; AFOLAYAN, 2010).

O óleo essencial de Salvia hydrangea, é rico em (-)- mirtenol e diversas propriedades biológicas têm sido relatadas em relação ao mesmo, como: atividade antimicrobiana e inseticida (KOTAN et al., 2008). Além disso, a espécie Myrtus

communis L, contém quantidades variadas de terpenos, destacando-se como

majoritário o (-)- mirtenol, e a planta apresentou atividade antinociceptiva e anti- inflamatória (HOSSEINZADEH; KHOSHDE; GHORBANI, 2011).

A espécie Tanacetum vulgare L. var. vulgare (tansy) é popularmente conhecida como catinga-da-mulata (DICKEL; RATES; RITTER, 2007), seu óleo essencial é rico em (-)- mirtenol (JUDZENTIENÉ; MOCKUTÉ, 2005; MOCKUTÉ; JUSZENTIENÉ, 2008). Foram descritos diversos efeitos biológicos da planta, tais como: antihelmintico (DUKE, 1985); tratamento da dermatite (DUKE, 1985),

atividade antiulcerogênica em camundongos (TOURNIER et al.,1999); atividade anti- inflamatória in vivo (SCHINELLA et al., 1998 ) e atividade bactericida in vitro (HOLETZ et al., 2002 ). Além disso, altas doses causam intoxicação, vômito, dor abdominal, gastroenterite, perda da consciência, arritmia cardíaca e hemorragia uterina (ROBBERS; TYLER, 1999).

Franco e colaboradores (2011) verificaram que o α-pineno, um terpenóide álcool cíclico, apresentou atividade antinociceptiva com participação do sistema opióide.

Outro terpenóide álcool cíclico, o (S)-(-)- álcool perílico inibiu o crescimento de células de câncer de mama em humanos em modelos in vitro e in

3. OBJETIVOS

3.1. Geral

 Avaliar a atividade antinociceptiva e anti-inflamatória do (-) - mirtenol em modelos experimentais e os possíveis mecanismos de ação relacionados.

3.2. Específicos

 Determinar a DL50 do (-) - mirtenol em camundongos por via intraperitoneal;

 Investigar os efeitos comportamentais decorrentes do tratamento com (-) - mirtenol em modelos animais;

 Verificar o efeito antinociceptivo do (-) - mirtenol em modelos de nocicepção química e térmica em camundongos;

 Avaliar os mecanismos de ação da atividade antinociceptiva do (-) - mirtenol com o uso de antagonistas dos receptores opióides, do subtipo µ1 dos receptores opióides, dos canais de potássio sensíveis à ATP, do óxido nítrico e do adrenorreceptor α2;

 Pesquisar a atividade anti-inflamatória do (-) - mirtenol no edema de pata induzido pelo agente flogístico carragenina;

 Investigar a atividade anti-inflamatória do (-) - mirtenol no edema de pata induzido pelos mediadores inflamatórios prostaglandina E2 e bradicinina;

 Avaliar a atividade anti-inflamatória do (-) - mirtenol na migração de células no modelo de peritonite induzida pela carragenina;

 Quantificar os níveis de citocinas pró-inflamatórias TNF-α e IL-1 no lavado peritoneal de animais tratados com (-) - mirtenol.

4. MATERIAL

4.1. Animais

Para a realização da triagem farmacológica comportamental e DL50 do

presente estudo, foram utilizados camundongos (Mus Musculus) albinos da linhagem suíça, machos e fêmeas, com 2 a 3 meses de idade, pesando entre 25 a 35 g, provenientes do biotério Prof. Dr. George Thomas do Centro de Biotecnologia da Universidade Federal da Paraíba.

No entanto, para o desenvolvimento dos demais testes, foram utilizados camundongos (Mus Musculus) machos albinos da linhagem suíça, com 2 a 3 meses de idade, pesando entre 25 a 35 g (FIG. 10).

No biotério, os animais foram alojados em gaiolas de polietileno, contendo 20 camundongos, mantidos sob condições monitoradas de temperatura de 21 ± 1º C, com livre acesso a uma dieta controlada a base de ração tipo pellets (Purina®) e água. Os animais foram mantidos em ciclo claro/escuro de 12 horas, sendo a fase clara das 6:00 às 18:00 horas.

4.2. Condições experimentais

O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Psicofarmacologia e os testes foram realizados no biotério Prof. Dr. Thomas George.

Os camundongos eram previamente alojados em gaiolas de polietileno, contendo 4 animais cada, com pelo menos 120 minutos de antecedência à execução dos testes, visando minimizar as possíveis alterações comportamentais dos animais decorrentes da mudança de ambiente, bem como permitir uma adaptação à sala de experimentação. Os camundongos foram mantidos a temperatura de 21 ± 1º C e privados de água e ração 60 min antes dos testes.

Antes de cada procedimento, a bancada foi limpa com etanol 70%, e durante os procedimentos foi utilizado etanol de baixa graduação (10%). Todos os experimentos foram executados no período compreendido das 12h00 às 17h00 horas, e os animais eram utilizados uma única vez e, em seguida eutanasiados.

Todos os procedimentos experimentais foram analisados e previamente aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal (CEPA) do LTF/UFPB, sob a certidão nº 0104/2010.

4.3. Substâncias utilizadas

 (-)- Mirtenol (Sigma – EUA)

 Ácido acético glacial (Synth – E.U.A.)  Água destilada (UFPB – Brasil)  Bradicinina (Sigma – E.U.A.)  Carragenina (Sigma – E.U.A.)

 Cloridrato de morfina (Merck – EUA)  Dexametasona (Sigma – E.U.A)

 Dicloridrato de Naloxonazine (Sigma – E.U.A.)  Etanol (Vetec – Brasil)

 Formaldeído 37% (Vetec – Brasil)  Glibenclamida (Sigma – EUA)

 Glutamato (Sigma – E.U.A.)

 Hidrocloridrato de naloxona (Sigma – E.U.A)  Indometacina (Sigma – EUA)

 Ioimbina (Sigma – E.U.A)

Kits TNF-α e IL-1 (Bioscience)®  L-arginina (Sigma – E.U.A.)  L-NMa (Sigma – E.U.A.)  L-NOARG (Sigma – E.U.A.)  MK-801 (Sigma – E.U.A.)

 May-Grunwald Giemsa (Sigma – E.U.A.)  Prostaglandina E2 (Sigma – E.U.A.)

 Solução fosfato tamponado (PBS) (Laboratório de Psicofarmacologia)  Tween 80 (polioxetileno sorbitano monoleato) (Sigma – E.U.A.)

4.4. Especificações do (-) - Mirtenol

A substância pura é constituída de uma mistura de isômeros, de anéis furano, tendo como sinônimo: (1R)-2-Pinen-10-ol, (1R)-6,6-Dimetilbiciclo[3.1.1]hept- 2-en-2-metanol. Apresenta grau de pureza de ≥98.5% em cromatografia gasosa. Está registrada no CAS sob o número 19894-97-4, com fórmula C10H16O e peso

molecular 152.24 g/mol.

O (-)- mirtenol utilizado em todos os experimentos foi obtido da empresa Sigma Aldrich Chemical Co. (U.S.A).

O (-)- mirtenol e o α-pineno apresentam o mesmo esqueleto pineno entre si com uma diferença estrutural no grupamento R do carbono 10, (FIG. 11) (LEE, 2002). Assim, o (-)- mirtenol pode ser oxidado apartir do α-pineno pelo citocromo P- 450 através das enzimas mono-oxigenases (AHARONI et al., 2004).

4.4.1. Preparação do (-) - Mirtenol e demais substâncias

Imediatamente antes da realização dos testes, o (-)- mirtenol foi dissolvido em Tween 80 (Polissorbato 80) 0,2% e em água destilada, utilizando-se concentrações decimais de forma a possibilitar a injeção de 0,1 mL/10g de peso do animal.

Foram preparadas as doses de 25, 50 e 100, 150, 200 e 300 mg/kg de (-)- mirtenol, para a administração pela via intraperitoneal (i.p.). Como controle negativo, foi utilizado Tween 80 a 0,2% em água destilada (i.p.).

A preparação das demais substâncias, em suas respectivas doses, foi realizada alguns minutos antes de sua utilização sendo dissolvidas em água destilada ou solução salina 0,9%. Todas as doses das substâncias, que foram administradas por via i.p. ou s.c., foram calculadas de forma a possibilitar a injeção de 0,1 mL/10 g de peso do camundongo. A única exceção ocorreu com a formalina, carragenina, prostaglandina E2 e bradicinina que foram injetadas, por via

intraplantar.

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