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ANÁLISE DA PEÇA A EMPRESA

3.2 Considerações iniciais para a análise

7) América não é uma postulante, mas uma aluna desse internato. Portanto sua roupa deve diferir das Postulantes.

8) A modificação do vestuário no decorrer da peça deve ser feita de modo a deixar clara a transformação no caráter dos personagens.

9) A única indicação de tempo é na primeira cena. Passado bastante recuado.

3.2 Considerações iniciais para a análise

A análise da peça A Empresa terá como base as teorias literárias comentadas no capítulo anteriore: a tragédia moderna, o cômico e o recurso linguístico mise en abyme. A partir de um diálogo com a tessitura da peça faremos a análise. A estrutura textual da obra tem a ver com os gêneros, então descreveremos a forma para acompanharmos as ações de América nas seis cenas.

Para o contraponto da reflexão sobre o mundo que o texto aborda, focalizamos a “transformação de América” e apresentamos a visão de mundo da heroína esvaziada. Apontamos seu estado de resignação e de libertação em sua relação com o colégio, com o Monsenhor, com a Superintendente, com as Postulantes e consigo mesma; também passamos pelas cenas para identificarmos o cômico, a ironia entre América e os membros do colégio que é gerada também pelo “jogo” de zombaria entre as personagens. Expomos, então, os momentos em que esses jogos cômicos acontecem nas cenas.

3.3- O texto como objeto material

Para Ryngaert (1996), ao observarmos a descrição de um texto como objeto material, conseguimos perceber como o texto fala, ou seja, na investigação das categorias: título, gênero, ações, o enredo, as didascálias, a personagem, espaço, tempo e partes, temos contato com a estrutura da obra o que serve como base para iniciar a compreensão do que o texto fala.

Ainda para o autor, é importante que ocorra num primeiro momento a descrição do texto como objeto material para vermos o que o texto apresenta como hipóteses através da representação/interpretação do título, da definição do seu gênero, das partes do texto e das indicações cênicas. Assim, é possível ver as marcas concretas, com os encadeamentos das ações e com a organização do discurso.

De acordo com Ryngaert (1996), o título serve como uma primeira pista do mundo da obra, então, podemos dizer que, com o título A Empresa, o espectador aguarda um enredo que fale de uma indústria, ou de uma casa comercial. Mas ao associarmos a personagem América com o título, é impossível deixar de entender América como metonímia para todo o continente.

Em relação ao gênero, não temos nenhum registro da autora, mas em contato com a obra vemos uma peça de teatro dividida em seis cenas e sua representação passa pela introdução, desenvolvimento e desfecho. Numa interpretação do mundo dramático do texto de Hilda Hilst e de suas implicações estilísicas apontamos na estrutura da obra a presença da mise en abyme . Através deste recurso ocorre a instauração de uma enorme desordem, a partir da qual a protagonista foi posta num caminho em meio ao nosso mundo como consequência de sua ação. Vejo que este recurso linguístico pode ser visto numa perspectiva trágica. De acordo com Williams (2002), a tragédia não é somente sofrimento e morte nem mesmo um acidente. Ela é uma espécie de acontecimento específico com reações que são genuinamente trágicas.

A Empresa é dividida em cenas, com mudança de tempo e espaço. Percebermos as marcas- tempo, espaço- com a “ligação de presença”2, sáida e entrada de personagens e a “ligação de tempo”3; escuro total, luz baça, não há uma justificativa a não ser uma obrigação horária. As ações e seus encadeamentos vão sendo construídas cena a cena para que o leitor/espectador não perca a mudança do espaço - o colégio, que vira Ordem e depois Empresa - e do tempo dentro das repartições desta empresa, que deve ser aproximadamente de cinco dias.

Ryngaert (1996), afirma que ao analisarmos as articulações entre as partes vemos as relações de continuidade e descontinuidade da ação, isto é, com o encadeamento entre as partes, as relações de ruptura ou de unificação entre elas observamos as sequências da ação. Isso significa, para o estudioso, que o leitor/espectador do texto pode encontrar elementos suficientes dentro da tessitura para “imaginar como a história prossegue quando a personagem não está em cena”4.

Quanto ao ambiente da narrativa, temos referências de ser um ambiente diferente

2 RYNGAERT,1996,p.40 3 RYNGAERT,1996,p.40 4 RYNGAERT,1996,p.42

a cada momento: religioso, com seus vitrais; uma empresa; com laboratórios e salas de interrogatórios. A linguagem de América ora é erudita ora lírica, pois fala através de poemas, em outros momentos é reflexiva e também religiosa, já os membros da Ordem começam com uma linguagem permeada por significados religiosos e terminam com discursos reflexivos.

A apreensão da arquitetuta do tempo e do espaço do texto teatral permite saber onde, como e quando a ação acontece. Conforme evidenciado anteriormente a indicação do tempo e do espaço são apresentadas através da “ligação de presença” e da “ligação de tempo”, além dos objetos, tais como: um vitral suspenso, caixas de metal brilhante, cadeira negra de espaldar muito alto e um banco todos são indicados pelas rubricas. Sobre a época temos indicações explícitas presentes na linguagem com as histórias narradas por América.

Na indicação do espaço o lugar é dado pelas personagens e suas funções dentro do colégio. Trata-se de um ambiente religioso isso nos é dito na rubrica, mas percebemos também com os questionamentos sobre fé e pelas vestimentas das personagens. Ao longo da narrativa compreendemos uma mudança aparente do colégio, introduzida pela rubrica, que nos dá a impressão de ser uma empresa com laboratório, as roupas são modificadas e com isso o pensamento dos integrantes se alteram e passam a questionar o mundo religioso. Esses elementos cênicos revelam algumas característica do mundo da obra como o antagonismo existente entre a crença e a razão. E com esse embate entre a fé e a razão constatamos que a verdade não se encontra na posse de nenhuma das duas doutrinas, mas pode ser uma conquista do conhecimento racional, aliado ao saber religioso.

Tomamos o texto como objeto material para iniciarmos nossa reflexão, levando-se em conta o que assinala Ryngaert “[...] toda obra dramática pode ser apreendida, em primeiro lugar, na sua materialidade, no modo como a sua organização de superfície se apresenta sob forma de obra escrita”. (RYNGAERT,1996,p.35)

3.4- A heroína tragicômica América – um mapeamento de sua trajetória no sistema opressor de A Empresa

As ações da heroína são encadeadas pelo jogo da criação, de histórias e perguntas direcionadas aos membros do colégio. A personagem central, tem todas as ações das outras personagens girando ao seu redor. A mulher jovem é descrita como uma “heroína”, de força

intelectual superior àqueles que estão à sua volta ‒ isso é apresentado por meio do seu poder reflexivo e criativo.

No entanto, essa força fará com que seu destino tome caminhos tortuosos, pois, com o desenrolar da peça, ela se esvazia, repensa seu potencial: o que se apresenta perante o leitor/espectador é uma jovem modificada, porém consciente, que não resistiu às pressões externas. Essa imagem superior é mantida e propagada entre os membros do colégio e ressaltada pelas interferências dos superiores e se mantém até o momento em que as máquinas Eta e Dzeta começam a controlar as ações dos representantes da Ordem e passam a serem consideradas de força superior à da jovem.

Na primeira cena, a autora exibe as características das personagens, as informações sobre a trama e o lugar da cena, com isso visualizamos as condições do mundo contido na obra. América está eufórica e apaixonada quando fala com as Postulantes, ela perguta se gostaram da história que acabara de contar – história essa que não é apresentada em cena sabemos apenas que se refere de um “ele”.

A Primeira Postulante, que não quer causar desconforto, não diz propriamente o que pensa. América percebe que existe dúvida por parte das meninas em entender que depois da luta”dele” tudo mudou e todos teriam todas as coisas que desejassem, então tenta reforçar e antecipar a resposta das Postulantes. Uma delas arrisca apaziguar a situação “eu gostei demais da estória América, só que é um pouco complicada”. À medida que debatem seus pontos de vista, os ânimos vão se alterando como apresentado nas rubrica:

América (seca): Se um leão te ataca e você tem uma arma, você não mata o leão?

Primeira Postulante: Ah, mas aí é uma questão de vida ou de morte.

[...]América (como quem fala consigo mesma. Branda): Ele se sentiu leve. Primeira Postulante (um pouco febril): Ele se sentiu assim como se fosse um pássaro...

América (firme): Não

Terceira Postuante (quase infantil): Como se a gente descobrisse de repente que existe um outro lá dentro da gente? (HILST,2008,p.35)

No diálogo acima, embora incorpore procedimentos irônicos, expressa a crise de valores dentro do sistema religioso que sustentava a discórdia. Sendo assim, observamos que a tensão se centraliza na profundidade do pensamento da heroína, construída por sua ideologia,

enquanto as Postulantes em seu percurso servem para demonstrar a realidade que a autora quer retratar.

No final da primeira cena aparece a irmã Superintendente e o diálogo da superiora com América faz surgir a ironia que leva ao riso:

Superintendente: Vamos, as orações.(tenta fazer o sinal da cruz mas interrompe-se ao ver América.Contrariada) por que você não está com a sua classe? (silêncio) Outra vez com as Postulantes? (América tenta sair. Tom severo) Não, não agora fique, fique aí. (pausa.Volta-se para as Postulantes e abranda o tom) Bem. Hoje vamos pedir a Deus uma coisa muito importante. (com alguma ironia) Que ele nos ajude a suportar certas presenças neste nosso colégio. (fechando os olhos. Grave) às vezes essas presenças são enviadas pelo Altíssimo com intenção de acrescentar dificuldades à nossa escalada e com isso tornar mais difícil e mais meritório nosso lugar no céu. (abre os olhos) Em nome do pai, do filho ... (risos contidos das Postulantes, que olham para América. Contrariada) O que é agora? (HILST,2008,p.37)

A ironia nesta passagem se apresenta na fala da superiora intencionando o

rebaixamento de América em detrimento de si própria, não sucita uma estrondosa gargalhada e sim um riso “amarelo” sem graça. Talvez a proposta do trabalho de Hilst não seja exatamente rir de um sofrimento , no caso o de América por estar em uma situação embaraçosa, mas certamente o fato de evidenciar alguns defeitos do colégio representado na figura da superiora que finge ter um caráter construído em cima da moral, da boa convivência e do respeito. A caricatura e o desmascaramento da superiora, de certa forma é usada para criar o cômico por meio de um rebaixamento moral de uma figura elevada.

Essa cena representa também o humor de forma sutil, colocando América em situação do ridículo e de desavisada. O riso é uma reação não previsível, aflora como um comportamento de desvio, inadequação e transgressão permeado pela insensibilidade. Assim o riso na fala da superiora mostra a transgressão da autora, o riso punitivo, o riso do poder, o riso de coibição.

Existe comicidade também na ironia de América ao contrariar as Postulantes com ações e intenções depreciativas, cito como exemplo, quando afirma que a história narrada do herói pode ser das Postulantes. Ela zomba e ironiza também os membros da Ordem através de ações e discursos sarcásticos e espirituosos.

embora representem um sentimento trágico, não são apenas estes os únicos responsáveis por isso, já que não possuem forças suficiente para instaurá-lo. Ainda que exista conflitos entre as Postulantes , América e a Superintendente, não são de grande alcance, são leves; não há um confronto imediato, o silêncio ou a ironia são impostos para evitar um choque entre elas. O objetivo da apresentação de pequenos conflitos é serve para a construção de um conflito maior.

Superintendente (fechando os olhos, voz baixa): Cale-se, cale-se.

América (decidida): Mas por quê? A estória é até nojenta. E se ela é nojenta porque eu não posso falar? O próprio Monsenhor disse que gostaria de ouvir tudo o que eu pensava.

Superintendente (categórica): Não modifique as palavras do Monsenhor. Eu estava lá, lembro-me muito bem do que ele disse. E foi isto: “América, um dia vamos conversar sobe o teu aproveitamento no colégio. Eu gostaria de ouvi-la”. Não foi assim? Agora ajoelhe-se. (luz diminuindo. Pausa) em nome do Pai, do filho, do Espírito...

(Escuro Total.) (HILST,2008,p.39)

Mesmo não sendo levada ao limite, a tensão gerada no diálogo anterior auxilia a construção de outro conflito, que será central a partir da terceira cena. Na quarta cena, América começa a se esvaziar com as pressões, assume uma nova postura e quem passa a dominar a ação são os representates da Cúpula. Desde as primeiras cenas, quando nos é apresentado as personagens: América, as Postulantes, a Superintendente e o Monsenhor, o conflito central é arquitetado depois que a heroína se esvazia, sem qualquer resistência, seu estado reflexivo é posto de lado. Desde então, América sofre tensões causadas a partir da repressão do sistema autoritário.

Monsenhor tem por objetivo colocar as máquinas Eta e Dzeta na realidade, ou seja, que elas façam parte da Ordem e que controlem as ações dos membros do colégio que não são da Cúpula para que nenhum cooperador do instituto fique “em íntima dissonância com a própria tarefa”5. Para alcançar o seu objetivo ele não medirá esforços, provocará tensão com todos aqueles que tentam se opor aos seus desmandos e se colocará contra até mesmo da Superintendente.

Sabe-se posteriormente que o Monsenhor tentou assimilar América do modo que havia imaginado, incitou a Superintendente para vigiar a jovem, provocou conflitos e incentivou a superiora a se aproximar da heroína para melhor controla-lá. Acima de tudo, os

membros da Cúpula desenvolveram uma rede de conflitos e manipulações para que o houvesse o aniquilamento da heroína, através da tensão gerada pelo conflito entre América e as outras personagens que, pouco a pouco, vão acontecendo as desordens, compondo um sentimento de tragicidade na trama.

As ações de América na primeira cena são movidas pela razão e pelo seu alto poder reflexivo, assim tentar modificar o colégio. Transita pela esfera da realidade – um sistema opressor - na convivência com as Postulantes e a Superintendente. As falas da heroína são permeadas por discursos argumentativos, próprias da relação de convencimentos que ela estabelece com as Postulantes e com a superiora. No mundo imaginário da heroína vemos uma obsessão pelo convencimento e tentativas para uma possível mudança. Essas indicações ocorrem na construção de sua argumentação.

No desenvolvimento da narrativa, de modo cada vez mais intenso, América é absorvida pela sua imaginação e pensamento. No discurso com o Monsenhor, na segunda cena, a garota está prestes a se envolver num processo autodestrutivo, pois o superior fará uma releitura dos símbolos - Eta e Dzeta- criados por ela:

Pausa longa. Monsenhor caminha. Percebe-se que ele está pronfundamente interessado. Olha algumas vezes para América, faz gestos lentos, alisa o rosto, o queixo. Está pensando seriamente na estória e numa provável aplicação de Eta e Dzeta. América acompanha o Monsenhor com os olhos e tenta demonstrar indiferença diante de suas reações.” (HILST,2008,p.48)

Ainda na segunda cena, sentindo-se pressionada, proclama o seu jeito de ser ao ser ameaçada pelo Mosenhor.

América (sorrindo): Sonhar é bom. O que é que tem sonhar?

Monsenhor (muito sombrio): Se todas começarem a sonhar com você, você corre um risco. E eu não poderei...Olhe, eu posso algumas vezes te auxiliar, mas não numa questão de vida ou... Acautele-se.

América (muito surpreendida): De vida ou... Mas eu sou eu, América. É uma maneira de ser.

Monsenhor (seco): O que você quer dizer com isso (pausa).(HILST,2008,p.42)

As réplicas trazem a possibilidade do sentido trágico ao expor os limites

conflituosos das relações humanas dentro do colégio; ao revelar a instabilidade da vivência humana mediante as fragilidades de crenças e do sentido ético; ao trazer à tona os poderes dominadores da Cúpula, frente à ínfima presença da heroína.

Mesmo envolta em um sentido trágico, a heroína aparenta se divertir enganando a autoridade do colégio ao transmitir suas ideias revolucionárias com a ajuda da retórica conforme explicitado pela rubrica onde nos é dito que a jovem vai inventar uma história nos moldes tradicionais para que o Monsenhor dê maior atenção ao seu relato. Ao notar o interesse do Monsenhor “segue o relato tentando aparentar certa indiferença”6.

A jovem pensa rapidamente como se explicar para justificar seu comportamento.

América, ainda com certa precaução, vai inventar uma estória porque sabe que a única maneira de dizer o que pensar é inventar uma estória nos moldes tradicionais, inventando pais mais ou menos normais e um irmão mais velho para que o Monsenhor dê maior importância ao seu relato.(HILST,2008,p.43)

Ao contar a história de Eta e Dzeta vemos nesta ação o estado de felicidade e ingenuidade ao acreditar que sua narrativa iria impor todo seu pensamento e com isso todos da Ordem iriam entender os seus desejos e motivações.

América parecer estar tentando criar uma força oposta à do Monsenhor porque ao inventar a história objetiva impor o sentimento de liberdade. Com isso, temos um conflito entre a jovem e o Monsenhor. A partir da construção de Eta e Dzeta vemos uma tensão formada e o núcleo é América, ocorrerá uma sequência na narrativa que chegará brutalmente ao desfecho trágico da heroína. O sentimento trágico da peça gira em torno de América, sem interrupções ou transferências.

Percebemos também no teatro hilstiano que alguns conflitos provocam não o sentimento de piedade, mas o riso. E o riso, muitas vezes, está ligado ao sentido tragicômico talvez não tenha sido está a intenção da autora, mas mesmo com o contexto trágico da trama temos uma forma de riso. Observamos, por exemplo , na segunda cena onde estão: o Monsenhor e América que aparentam estar em tensão:

América: (seca): Sim, Monsenhor.

Monsenhor (com firmeza): Bem. (pausa) A informação que tive da irmã Superintendente foi a de que você tem muita influência entre suas colegas de classe e também entre as Postulantes. Isso é bom. Uma vocação de liderança. No entanto, é preciso saber aproveitá-la, conduzir sim, se isso lhe foi dado, mas em direção a um caminho claro. Você compreende?

América: Sim monsenhor.

Monsenhor (frio): E tem sido assim a sua conduta?

América (objetiva): Monsenhor, eu digo as coisas que penso. Só isso. Se elas são más não sei. Muitas vezes eu nem sei quem sou. Mas penso que não há mal nenhum em perguntar o que não se entende. Eu gosto de fazer perguntas, mas a irmã Superintendente quase nuca me responde e sempre se aborrece comigo. Assim é que começam as coisas. Com as perguntas.

Monsenhor (interessado): E que espécie de perguntas você faz? América (seca): Perguntas.

Monsenhor: Sei, sei. Mas diz uma delas.

América (sorrindo): Uma que ela se aborreceu foi sobre a Nossa Senhora. Monsenhor: O que sobre Nossa Senhora?

América (com levíssima ironia): Eu perguntei como é possível existir a frase: “Nossa Senhora foi Virgem antes do parto, no parto e depois do parto”. (HILST,2008,p.40)

O diálogo poderia ter uma continuidade conflituosa e que ajudaria a determinar o texto com sentido trágico. Porém, a cena se encaminha para o riso, tal recurso extrapola os limites de tensão séria e provoca no leitor/espectador a sensação de ser um diálogo permeado por ironia.

Ainda que seja possível apontar esse recurso, o que causaria algum tipo de

fragilidade, há de se considerar que a prática do rompimento de uma cena séria por algo mais irônico e risível é constante no texto hilstiano. Essa estratégia se repetirá em diferentes momentos, não apenas com a inserção de um sentido trágicômico, mas também do cômico. A estrutura da tessitura – trágico e cômico - de A Empresa revela também uma espécie de antagonismo presente no texto, desde a relação entre as personagens até sua estrutura textual.

Com relação a presença concomitante do trágico e do cômico, A Empresa tem sua representatividade, mas ainda há de se considerar a presença do trágico pela criação da história de Eta e Dzeta através da mise en abyme, que possibilitou uma caracterização maior dos personagens tipos, sempre estranhos à heroína e pertencentes ao núcleo da Cúpula , ou seja, aqueles que representavam o sistema opressor e praticavam o despotismo, além disso a história serviu como um meio para impor a repressão.

O momento mais relevante dessa contraposição está na sexta cena:

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