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CAPÍTULO 4 POSSIBILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO CONFERIR

4.1 Considerações iniciais

Investiga-se que nos últimos séculos ampliou-se uma profunda preocupação no campo internacional, não apenas acerca de mecanismos específicos de monitoramento que protegessem os grupos minoritários, mas também no tocante ao processo de aplicação e efetividade desses dispositivos constantes em tratados internacionais de direitos humanos, como é o caso, por exemplo, principalmente, sobre os direitos das pessoas com deficiência. Assim, observa-se que após a preocupação em sentido amplo do ser humano e a dignidade, a ONU seguiu laborando no sentido de alcançar seu objetivo por qual foi criada, deste modo começou a discussão dos mais diferentes temas atinentes aos seres humanos, dentre eles destaca-se os direitos das pessoas com deficiência, que é o ponto central desse texto dissertativo, salientando que a Convenção80 das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo foi adotada em 2006 e passou a vigorar desde 03 de maio de 2008 perante a comunidade internacional.

Nota-se nesses documentos internacionais a conclamação da ONU no sentido de que os Estados membros aderissem no empenho de promover a obediência aos direitos humanos e enfrentar quaisquer violações a esses direitos, regras ou princípios acerca dessa temática que, sobretudo, destaca o respeito à dignidade de todos os seres humanos estabelecendo-o como centro do universo jurídico. Acerca do procedimento da universalização dos direitos humanos, esclarece Flávia Piovesan (2003, p. 188) acerca da concepção de um sistema internacional, circunspeto por tratados baseia-se no amparo da dignidade da pessoa humana como relevante clarificador do mundo de direitos, veja-se:

80ONUBR. Nações Unidas no Brasil. A ONU e as pessoas com deficiência. Disponível em:

todo ser humano tem uma dignidade que lhe é inerente, sendo incondicionada, não dependendo de qualquer outro critério, senão ser humano. O valor da dignidade humana se projeta, assim, por todo o sistema internacional de proteção. Todos os tratados internacionais, ainda que assumam a roupagem do Positivismo Jurídico, incorporam o valor da dignidade humana (PIOVESAN, 2003, p. 188).

Ressaltando que o acatamento a dignidade deve subsistir indistintamente para todos os seres humanos, verificam-se as lições de Dalmo Dallari (2009, p. 15): “o respeito pela dignidade da pessoa humana deve existir sempre, em todos os lugares e de maneira igual para todos (...)”.

Nota-se que a partir de diversas mobilizações das pessoas com deficiência pelo mundo e a busca de promover a cooperação internacional desses direitos, estreou, também, que o Brasil não ficou de fora desse amparo legal e assim ratificou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, seguindo, impecavelmente, toda a sistemática de votação do § 3º, do art. 5º aduzida pela EC nº 45/2004, dessa forma possibilitou uma proteção, notadamente, constitucional para os direitos das pessoas com deficiência.

A partir do reconhecimento da primeira Convenção internacional de direitos humanos que protege as pessoas com deficiência, mediante se averigua o Decreto 6.949/2009, que traz a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo em seu texto jurídico, ou seja, o reconhecimento de um documento jurídico internacional da ONU dentro da ordem brasileira e com a roupagem de status

constitucional.

Observa-se que os preceitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 da ONU foram sendo de forma gradual incorporados nos tratados internacionais, sendo estes possuidores de força vinculante, como é o assunto primordial dessa temática, cite-se, dentre outros tratados existentes, que esses preceitos da Declaração da ONU permeiam também como alicerce na Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

Nesse contexto, dentre outros artigos da Declaração, pode-se analisar que os artigos I81, II82 e VII83 avigoram o princípio da isonomia, quando reza que todo ser humano nasce livre e tem igualdade em sua dignidade e direitos. Bem como, protege a capacidade de obter

81Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência

e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade;

82Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração,

sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição;

83Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos

têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

os direitos indistintamente de qualquer qualidade humana, “seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”. No artigo VIII84, dessa Declaração depara-se que ela traz a garantia no sentido de todo ser humano possa ter o direito de auferir dos tribunais competentes, o recurso ou remédio que seja efetivo, no tocante, para solucionar os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela Constituição ou lei.

Nesse sentido, verifica-se que, dentre outros direitos que são pertinentes enunciados da Declaração da ONU, essas premissas além de proteger todos os seres humanos indistintamente contra qualquer tipo de ação discriminatória, aduz, também, que caso ocorra qualquer tipo de violação de seus direitos fundamentais, estes devem ser levados à via judicial para serem efetivamente solucionados.

No entanto, como já observado no capítulo anterior, sabe-se que a Declaração não possui força de lei, portanto, ela propiciou a confiança, garantia e a possibilidade dos direitos humanos, porém, não a sua efetividade, isto é, sua íntegra eficácia está amarrada nos diversos instrumentos internacionais de monitoramento, por exemplo, tratados e convenções internacionais específicos, como o da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, portanto, buscou-se firmar acordos internacionais a nível mundial na busca da sua efetividade, no sentido de que os Estados membros alcançassem a finalidade aflorada nessa Declaração (REIS, 2006, pp. 33-34).

Para o Ministro Luís Roberto Barroso (2009, p. 220) efetividade trata-se da “realização do Direito, o desempenho concreto de sua função social. Ela representa a materialização, no mundo dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social”.

Nesse viés, explica que “o intérprete constitucional deve ter o compromisso com a efetividade da Constituição”, desse modo ao se deparar com “interpretações alternativas cabíveis, deverá prestigiar aquela que permita a atuação da vontade constitucional” para evitar, “no limite do possível, soluções que se refugiem no argumento da não- autoaplicabilidade da norma ou de omissão do legislador” (BARROSO, 2009, p. 375).

Analisou-se que alguns fatos históricos sociais, dentre os quais, pode citar o preconceito, discriminação, isolamento, exclusão etc., marcaram intensamente e deixaram sequelas irreparáveis na vida das pessoas com deficiência. A persistente violação dos direitos

84Artigo VIII - Toda pessoa tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os

humanos ou ausência de efetividade desse grupo populacional impulsionou a abertura do procedimento de elaboração da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, tanto no plano internacional, bem como sua adesão a nível nacional, como é o caso da ratificação dessa Convenção no Brasil.

4.2 Relevante atuação dos Poderes Públicos na eficácia da Convenção dos