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Devido principalmente ao esgotamento de um modelo de forte ajuste fiscal, com privatizações e, por conseqüência, menor participação do Estado na economia, Hugo Chávez assume com um discurso de mudança, principalmente no campo econômico, mas em um primeiro momento não foi totalmente concretizado, haja vista, as orientações básicas macroeconômicas de tom ortodoxo, afetando ainda mais a economia venezuelana com queda do PIB anual.

A única diretriz consistente e coerente com o discurso de mudança durante os primeiros anos de governo foi suspender de forma imediata a abertura petroleira e recuperar o controle do Poder Executivo sobre a política petroleira e sobre as orientações básicas da empresa, que nos anos anteriores havia adquirido crescentes níveis de autonomia.

Paralelamente, assume-se iniciativas com países exportadores de petróleo, tanto da OPEP como de outros exportadores não-membros da Organização conseguindo por essa via influir de forma imediata e eficaz tanto no fortalecimento da OPEP como na política de restrição da oferta e na recuperação dos preços do petróleo.

Com a consolidação da reforma petroleira em 2001, devido a reforma constitucional, as leis habilitantes e lei específica de hidrocarbonetos, no mesmo ano inicia-se vários paros cívicos contra estas decisões liderado principalmente por grande parte de empresários venezuelanos e com apoio de alguns militares, quando teve seu clímax em abril de 2002 com a derrubada do Presidente Chávez por 48 horas.

Após a retomada do governo e sua reestruturação, a partir de 2003 começa a consolidar políticas sociais denominada de misiones, atingindo aproximadamente 70% da população total e ao mesmo tempo cria-se o FONDEN (Fundo de Desenvolvimento Nacional), com a finalidade de desenvolver empresas e empreendimentos que não estejam atrelados ao ramo petrolífero, ou seja, desenvolvendo o processo de substituição de importações, com recursos provindos do petróleo.

Portanto, entende-se que logo após a retomada do poder pós-golpe de Estado, é que Hugo Chávez vem consolidar a distribuição da renda petroleira

ao povo venezuelano. Algo muito similar, neste ponto, ao que foi desenvolvido a partir de 1976, pelo então Presidente Carlos A. Pérez, com forte política social, nacionalizações de empresas e aumento do gasto público provenientes do recurso petroleiro.

Evidentemente que as mudanças sociais e econômicas realizadas, são extremamente importantes para o desenvolvimento da economia venezuelana que desde seu início soube valorizar o seu principal recurso, o petróleo, realizando mudanças legais e institucionais dentro e fora do país, elevando seu preço e, por conseqüência, o aumento dos recursos do Estado para o desenvolvimento de políticas sociais e de fomento econômico. Essas mudanças realizadas, principalmente no ramo petrolífero, demarcam o papel do mercado e do Estado, controlando sua exploração e produção, visando regular o preço internacional da commodity.

Com o controle de capitais, distribuição do excedente dos recursos petrolíferos não somente em programas sociais, mas em indústrias de base, infra-estrutura etc. Pode-se observar principalmente a partir de 2004 um grande avanço do PIB não petroleiro em relação ao PIB petroleiro, portanto, com esses instrumentos e, também, com esses excedentes investidos em fundos de desenvolvimento, pode agora a Venezuela em época de crise financeira internacional, não iniciar o seu grande salto para o caos, mas sim para o desenvolvimento com soberania nacional.

Mesmo com a necessidade em intensificar seus investimentos e aprimoramentos em pesquisa científica e tecnológica, é importante ressaltar que os investimentos vem sendo realizados em maior ou menor medida nos últimos 8 anos, diga-se de passagem, como se pôde observar alguma similaridade, observa-se também; alguma diferença entre Chávez, Pérez e Betancourt, pois o primeiro realizou investimentos públicos em diversas áreas da economia, visando dinamizá-la e procurando a realização total do processo de substituição de importações, via PDVSA, fundos de investimentos e fundo de estabilização macroeconômica.

Neste sentido, pode-se entender que as mudanças promovidas por Hugo Chávez nesses pouco mais de 10 anos de governo foram essenciais à economia venezuelana, restabelecendo o papel do Estado na economia, como regulador e produtor de bens e serviços.

Com a erupção da crise financeira internacional em setembro de 2008, coloca-se um novo desafio que até então não havia enfrentado, a Venezuela poderá sair desse processo mais dependente ou menos dependente do petróleo?

A resposta a essa pergunta tem um viés muito mais político que econômico, uma vez que, as ferramentas econômicas estão a disposição, como por exemplo, US$ 16 bilhões já executados e em execução com processo de substituição de importações, US$ 43 bilhões em reservas internacionais, superávits primários do orçamento público desde 2004, manutenção da taxa de câmbio fixa e controle de capitais. Além do que, no período em que está frente ao Estado venezuelano, nacionalizou siderúrgicas, as telecomunicações, energia elétrica, criou um banco de desenvolvimento nacional e por fim, o Banco de Venezuela que estava sendo controlado pelo grupo espanhol Santander, também foi nacionalizado.

As ferramentas políticas em certa medida também estão disponíveis, haja vista, a aprovação pela reeleição indeterminada para os cargos do poder executivo e legislativo e ainda, a oposição venezuelana não possuí uma agenda de desenvolvimento econômico e social que possa combater a de Chávez.

Algo concreto nesse processo é que o Estado vai ter que ser ainda mais atuante do que já está sendo, por isso, a decisão política do que se fazer com as reservas e os recursos do orçamento público são fundamentais. Para manter o processo de desenvolvimento atual é desnecessário a realização de ajustes fiscais que se manteve desde 2004, ampliação da base agrícola, aumentando sua produção de bens essenciais ao consumo venezuelano e aprofundar o processo de industrialização de substituição de importações.

Como destaca Furtado, “na periferia deve-se ao Estado dois tipos de iniciativas: a criação de indústrias de base, sem as quais não existe um sistema industrial, e a criação de instituições financeiras especializadas, condição sine

qua non para a existência de uma indústria de equipamentos.” (FURTADO,

2000; p.114).

Apesar da crise financeira internacional, as condições de crescimento e desenvolvimento estão dadas novamente para a Venezuela, como em 1943 e 1973, uma vez que nesses anos o mundo enfrentou o boom dos preços do

petróleo e os países produtores de petróleo como a Venezuela, encheram-se de divisas, mas particularmente no caso venezuelano, não aproveitou-se devidamente as mesmas para ampliar programas sociais e econômicos, ou seja, desenvolveu-se o poder do Estado somente para regulação e produção de petróleo e interferiu muito pouco efetiva e eficazmente na política econômica do país, essas iniciativas Chávez já desenvolveu e deverá continuar desenvolvendo, mesmo com a redução dos preços do petróleo e a crise financeira internacional, pois a Venezuela possui uma grande quantidade de reservas internacionais e de 2004 até 2008 praticou superávits primários fiscais; portanto, ainda há uma oportunidade concreta de a Venezuela tornar-se um país soberano e não mais dependente do paradoxo do petróleo.