• Nenhum resultado encontrado

2.1 GERENCIAMENTO DE RISCOS DE OBRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL –

2.1.3 Considerações a respeito do gerenciamento de riscos na construção civil

O gerenciamento de riscos na construção civil é fundamental para todas as fases do projeto e agentes envolvidos (FIRMENICH, 2017). Portanto, sua modelagem é um processo que se encontra em contínuo desenvolvimento, sendo que a maioria dos estudos se volta para ferramentas de análise de riscos (ALBOGAMY e DAWOOD, 2015).

Não obstante, Firmenich (2017) aponta que os métodos propostos para tais análises não são, necessariamente, intuitivos e simples de serem aplicados no mercado. Dentre as principais dificuldades encontradas na implementação dos métodos de análise de riscos, Pina (2017), destaca sete:

• Imprecisão nos resultados; • Longa duração de análise; • Complexidade do método;

• Dificuldade na obtenção de dados; • Aplicabilidade restrita;

• Inexperiência dos executores;

• Necessidade de testes para validação.

Consequentemente, a maior parte dos atores de projetos de construção não utilizam os métodos e ferramentas desenvolvidos em estudos voltados ao gerenciamento de riscos; quando usam, é de modo relutante (FIRMENICH, 2017). Ademais, segundo a autora, há quatro principais barreiras na implementação de processos de gerenciamento de riscos na ICC.

A primeira relaciona-se ao fato de que as partes interessadas muitas vezes são negligentes em estabelecer reservas de contingência realistas, capazes proteger os critérios de sucesso de obras. Por exemplo, o custo real de um projeto pode ser ignorado por ser mais fácil promover um empreendimento mais barato, o que resulta em orçamentos subestimados e futuros aditivos contratuais (FLYVBJERG et al, 2002).

A segunda refere-se à limitação de recursos de empreiteiras para a realização de um gerenciamento de riscos eficaz, salvo quando o cliente se predispõe a pagar por isso. A terceira

diz respeito à carência de profissionais, na construção civil, com conhecimentos necessários ao gerenciamento de riscos de obras, o que dificulta a instalação de processos e planos eficazes. Por fim, a quarta traz que, mesmo que o gerenciamento de riscos seja executado corretamente, ainda há ameaças à tomada de decisão, tais como:

• Oportunismo: interesses ocultos de partes interessadas, em dissonância com os objetivos da obra;

• Racionalidade limitada: as partes interessadas podem não ser capazes de identificar e estimar todos os riscos, mesmo que elas sejam qualificadas para tanto;

• Subjetividade: os métodos de análise de riscos de projetos de construção recaem, primordialmente, na subjetividade de especialistas, o que torna a análise dependente de fatores como experiência, valores e percepção pessoais.

Pina (2017) realizou um mapeamento sistemático da literatura com o intuito de avaliar métodos de análise de riscos utilizados na construção civil. Após o mapeamento de quase 300 pesquisas nacionais e internacionais, publicadas nos últimos 10 anos, a autora apresentou que prevalecem estudos voltados a avaliar o impacto dos riscos nos critérios de sucesso “custo” (DIKMEN et al, 2007; TAYLAN et al, 2014; BOATENG et al, 2015; ELBARKOUKY et al, 2016; LIU et al, 2016) e “tempo” (TAYLAN et al, 2014; BOATENG et al, 2015; LIU et al, 2016; PAWAN e LORTERAPONG, 2016).

Em relação ao tipo de contrato, ela observou que a maior parte dos artigos não se preocupa em diferenciar a modalidade de contratação, sendo as mais frequentes: parceria público-privada (LI e ZOU, 2011; LIU et al, 2016), lump sum com EPC9 (DIKMEN et al, 2007)

e concessão (YANG e WEI, 2011).

A autora também classificou os artigos conforme a tipologia da construção. Para tanto, dividiu as obras em: de energia, de infraestrutura, industriais, portuárias, prediais e rodoviárias. Verificou-se que as obras rodoviárias, prediais e de energia prevalecem em relação às demais tipologias. No entanto, considerando que obras de energia, portuárias e rodoviárias podem ser consideradas como de infraestrutura, esta tipologia sobressai-se em relação às demais. Dentre os estudos que abordaram obras de infraestrutura, destacam-se os trabalhos de Dikmen et al (2007); Zayed et al (2008); Li e Zou (2011); Liu, Zhao e Yan (2016); e Liu et al (2016).

No que tange às fases do ciclo de vida da obra, Pina (2017) identificou que existem mais estudos voltados ao pós-obra, seguido da fase de execução. Aqui, cabe ressaltar que o gerenciamento de riscos e suas devidas análises devem começar, concomitantemente, com a inicialização do projeto. A Figura 2.3, adaptada de Zou et al (2017), ilustra como a intensidade necessária de gerenciar os riscos evolui com o tempo.

__________________

Nota: a intensidade de gerenciamento de riscos não diminui, necessariamente, como indica o gráfico com o passar do tempo. O intuito da figura é apenas demonstrar que deve ser atribuída maior importância ao gerenciamento de riscos em fases iniciais do projeto. Além do mais, ela pretende ilustrar que a intensidade necessária de gerenciar os riscos diminui conforme o projeto avança.

Figura 2.3. Evolução do gerenciamento de riscos no tempo (adaptada de Zou et al, 2017).

Por meio da Figura 2.3, nota-se que os processos de gerenciamento de riscos devem ocorrer com maior intensidade no início da obra, durante etapas como planejamento e elaboração de projetos. Ao longo do tempo, a intensidade diminui, gradativamente, até o fim do ciclo de vida da obra, onde não há mais riscos a serem gerenciados.

Nos últimos anos, o processo BIM (building information modeling) vem sendo utilizado para diminuir o gap verificado por Firmenich (2017), que se refere à baixa quantidade de pesquisas sobre métodos holísticos de gerenciamento de riscos na ICC, capazes de tratar, adequadamente, as incertezas e ameaças aos objetivos das obras.

O processo BIM fornece um suporte avançado para gerenciar riscos de projetos de construção, permitindo um gerenciamento sistemático ao possibilitar maior integração entre projetos, orçamento e cronograma (ZOU et al, 2017). A Tabela 2.2 apresenta exemplos de benefícios do uso do BIM ao gerenciamento de riscos.

Tabela 2.2. Exemplos do uso do BIM no gerenciamento de riscos (adaptada de ZOU et al, 2017).

Aplicação Benefícios

Visualização 3D Permite a identificação antecipada de riscos

Detecção de interferências Automatiza a detecção de interferências e conflitos entre projetos

Cronograma 4D Facilita a identificação antecipada de falhas no planejamento

Orçamento e fluxo de caixa 5D Auxilia o planejamento e controle do cronograma físico- financeiro

Acompanhamento do progresso da obra Possibilita aprimorar os níveis de gerenciamento da qualidade, segurança, tempo e custo

Interoperabilidade entre softwares Reduz a perda de dados, facilita a troca de informações e melhora a comunicação

Conforme observa-se pela Tabela 2.2, a utilização do processo BIM é capaz de proporcionar benefícios em vários critérios de sucesso de obras, tais como “custo”, “tempo”, “qualidade” e “segurança”. Além do mais, seu uso pode contribuir para um gerenciamento de riscos sistemático e mais automatizado, sendo, portanto, uma área de crescente interesse de pesquisadores (ZOU et al, 2017). Para os autores, o sucesso da aplicação dessa ferramenta recai tanto sobre o entendimento extensivo dos fundamentos, processo e técnicas de gerenciamento de riscos, quanto na superação de limitações técnicas dos softwares BIM e em testes práticos.