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3.2 PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE RISCOS

3.2.3 Julgamentos pelo time de especialistas

Nesta sub-etapa, preencheram-se questionários de comparação, por meio de julgamentos par-a-par entre os elementos de cada nível da EAR obtida na sub-etapa anterior. Isto é, associou-se uma relação de preferência a cada par de elementos, refletindo o grau de prioridade de um elemento em relação ao outro.

Os questionários foram elaborados com base na pesquisa de Li et al (2013-a), os quais propõe um modelo mais prático para a realização dos julgamentos necessários ao AHP, conforme a Figura 3.2.

Figura 3.2. Modelo de questionário (adaptada em Li et al, 2013-a).

Segundo os autores, questionários elaborados conforme o exemplo da Figura 3.2 consomem menos tempo para preenchimento e são capazes de coletar os julgamentos subjetivos par-a-par com mais acurácia, dada sua maior conveniência em relação ao preenchimento tradicional das matrizes de comparação.

Os membros do time de especialistas, os quais realizaram as comparações par-a-par necessárias ao FAHP, foram selecionados cuidadosamente. Assim como na escolha dos participantes da reunião de brainstorming, buscaram-se duas principais características: elevado grau de conhecimento e bastante experiência prática. Novamente, estabeleceu-se o limite

mínimo de cinco anos de atuação na construção civil, sendo desejável mais de cinco anos de prática no gerenciamento de riscos.

Uma vez estabelecidas as características necessárias, a busca por especialistas foi realizada por meio de sites de pesquisa e redes sociais, além de indicações e sugestões feitas por especialistas que iam sendo selecionados.

Acredita-se que uma formação heterogênea do time de especialistas é capaz de agregar diferentes pontos de vista para a pesquisa, proporcionando tanto uma visão mais global do tema, como mais credibilidade e acurácia aos resultados. Isto posto, optou-se por compor o time com especialistas tanto do setor público, como do privado. Dentro da Administração Pública, selecionaram-se profissionais de empresas estatais, autarquias federais e órgãos controladores e fiscalizadores. Já na área privada, os profissionais escolhidos atuam em seguradoras, empreiteiras com know-how em execução de obras públicas, empresas especializadas no gerenciamento de riscos de construção e consultores.

Dentre as pesquisas que se utilizaram do FAHP e citaram o número de especialistas, verificou-se faixa de variação de 3-7 membros (ZENG et al, 2007; BU-QAMMAZ et al, 2009; LI e ZOU, 2011; NIETO-MOROTE e RUZ-VILA, 2011; TAYLAN et al, 2014). Buscando-se participação efetiva dentro dessa faixa, selecionaram-se 19 profissionais com as características estipuladas, para os quais foi enviada uma Carta Convite (Apêndice B) por e-mail. Com o objetivo principal de sondar a possibilidade de o selecionado compor o time de especialistas, a carta apresentou, de modo bastante resumido, os objetivos da pesquisa e a missão dos especialistas.

Dentre os 19 profissionais convidados, 11 aceitaram participar da pesquisa, ou seja, cerca de 58% da amostra escolhida concordou em integrar o time de especialistas e contribuir com o desenvolvimento do trabalho. O percentual foi considerado aceitável quando comparado com o padrão de 20-30% de retorno de pesquisas na construção civil (LIU, ZHAO e YAN, 2016).

Em seguida, encaminhou-se, a cada um dos 11 especialistas, um e-mail contendo três documentos em anexo. O primeiro deles (Apêndice C), trouxe uma breve apresentação da pesquisa, elucidando seu contexto e objetivos, bem como as atribuições dos especialistas. Por sua vez, o segundo exibiu os produtos da sub-etapa anterior (Lista Final de Riscos Identificados e EAR da pesquisa), com o intuito de auxiliar os especialistas. Por fim, o terceiro documento (Apêndice D) foi elaborado com auxílio do software Excel, contendo 19 planilhas: a primeira

com instruções específicas de preenchimento dos questionários; a segunda contendo dois exemplos de como respondê-los adequadamente; e 17 restantes com os sets de questionários propriamente ditos, organizados conforme a Tabela 3.2. O corpo do e-mail encaminhado aos especialistas pode ser visualizado no Apêndice E.

Tabela 3.2. Organização, nomenclatura e tipo de julgamento das planilhas com questionários. Planilha (set) Julgamento

"Categorias" Importância entre categorias "C1-Social.P"

Probabilidade de ocorrência dos riscos "C2-Projeto.P" "C3-Construção.P" "C4-Financiamento.P" "C5-Econômico.P" "C6-Político.P" "C7-Ambiental.P" "C8-Gestão.P" "C1-Social.I"

Impacto dos riscos nos objetivos do projeto "C2-Projeto.I" "C3-Construção.I" "C4-Financiamento.I" "C5-Econômico.I" "C6-Político.I" "C7-Ambiental.I" "C8-Gestão.I"

Os julgamentos basearam-se apenas em variáveis linguísticas, deixando os membros do time em uma zona mais confortável para julgar, visto que projetos de construção podem apresentar elevada incerteza, informação limitada, ou até mesmo ausente. Tais fatores podem tornar a avaliação de riscos, baseada em números determinísticos, uma tarefa difícil e imprecisa, mesmo que participem os melhores especialistas da área (ZENG et al, 2007; KAHRAMAN, 2008; ABDELGAWAD e FAYEK, 2010; NIETO-MOROTE e RUZ-VILA, 2011; KHAZAENI et al, 2012).

O Quadro 3.1 apresenta as variáveis linguísticas elaboradas para que os especialistas pudessem realizar as comparações par-a-par em uma linguagem natural.

Quadro 3.1. Variáveis linguísticas.

Termo da quina Símbolo Representação

Nome da variável 𝑣 Importância Probabilidade Impacto Termo linguístico 𝐿 Igual Moderado Forte Muito Forte Extremo Universo de discurso 𝑈 [1, 9]

Regra sintética 𝑔 Não houve

Regra semântica 𝑚 O Elemento x possui 𝐿 𝑣 em relação ao Elemento y

Pelo Quadro 3.1, verifica-se que se estabeleceram três variáveis linguísticas 𝑣 (“importância”, “probabilidade” e “impacto”) dentro do contexto de avaliação de riscos de obras públicas. A primeira delas refere-se às categorias de EAR, ao passo que as duas últimas dizem respeito aos riscos. As comparações par-a-par foram expressas com base em cinco termos linguísticos 𝑇 (“igual”, “moderado”, “forte”, “muito forte” e “extremo”), sendo que não houve necessidade de criarem-se regras sintáticas adicionais para caracterizar esses termos. Cada termo linguístico foi associado a um número fuzzy por uma regra semântica 𝑚 do tipo: “a Categoria z possui importância extrema em relação à Categoria y”. Os números fuzzy, detalhados na próxima sub-etapa, foram definidos no universo de discurso [1, 9] do conjunto universo 𝑋.

Como observa-se pela Tabela 3.2 e pelo Quadro 3.1, comparou-se a importância relativa das categorias de risco entre si. Ao passo que os riscos foram comparados par-a-par, dentro de uma determinada categoria, em termos de sua probabilidade de ocorrência e impacto nos objetivos, caso ocorram. Assim, cada especialista precisou responder 17 sets de questionários de julgamentos par-a-par entre elementos: um relativo à importância entre categorias; oito referentes à probabilidade de ocorrência dos riscos; e oito relacionados ao impacto dos riscos nos objetivos do projeto.

O número total de comparações par-a-par por questionário (𝑆𝑛) pode ser calculado por meio da soma dos 𝑛 termos de uma progressão aritmética de razão 𝑟 = −1, 𝑎1 = (𝑛 − 1) e,

consequentemente, 𝑎𝑛 = 0, onde cada termo 𝑎1, 𝑎2, … , 𝑎𝑛 representa a quantidade de julgamentos não-recíprocos por elemento (categoria ou risco) de um determinado questionário. O conceito de julgamento recíproco é explicado no Item 3.2.4.

Logo, a quantidade de julgamentos par-a-par necessários por questionário pode ser calculada pela Equação 3.1:

𝑆𝑛 =(𝑎1+ 𝑎2 𝑛). 𝑛 =(𝑛 − 1 + 0). 𝑛2

∴ 𝑆𝑛 =𝑛 2− 𝑛

2

(Equação 3.1)

Durante os julgamentos par-a-par entre os elementos da EAR pelos especialistas, eventuais dúvidas que surgiram a respeito do método foram sanadas por e-mail, telefone ou mensagem de texto, ficando à critério do especialista o meio de comunicação.

Após o término do preenchimento, os questionários respondidos foram, por fim, remetidos ao e-mail do pesquisador, servindo de entrada para a próxima sub-etapa.