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Considerações sistemáticas das ideias dos principais proponentes filosóficos da

1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA HERMENÊUTICA: ORIGENS E INCURSÕES

1.7 Considerações sistemáticas das ideias dos principais proponentes filosóficos da

A hermenêutica sugere um novo olhar com alcance não só do discurso textual, mas de um todo no que se refere ao processo comunicativo estabelecido entre locutor / interlocutor e com o mundo.

Com a aquisição da capacidade da linguagem acontece a possibilidade de fazermos uso da leitura, da escrita, da fala, e entender os sentidos que são produzidos entre os interlocutores, por meio das relações humanas, cercados por informações que chegam em redes. Essas informações ao serem interpretadas resultam em explicação e posicionamentos diante da realidade (SILVEIRA, 2005). Para o contemporâneo Lawrence k. Schmidt, professor de filosofia no Hendrix College, Conway, Arkansas, UK, as interpretações se tornaram frequentemente mais necessárias com o desenvolvimento da linguagem desde que o homem primitivo começou a fazer uso desta para sua interação com indivíduos e com o meio. Compreensão é algo necessário a todos, para se compreender é preciso interpretar. Nas palavras de Schmidt (2012, p. 49):

Em nossa discussão de hermenêutica, encontramos ―o círculo hermenêutico", uma expressão que significa que as partes só podem ser compreendidas a partir da compreensão do todo, mas que o todo só pode ser compreendido a partir da compreensão das partes.

Entre o todo e as partes é notório que, o ser humano faz um esforço constante em busca da compreensão. Diante do caos, da desordem, a humanidade procura estabelecer semelhanças, diferenças, contiguidades, sucessão no tempo, causalidades. Com o objetivo de estabelecer a ordem, para poder situar-se no mundo e ser capaz de agir sobre ele. O problema está no fato de que um receptor quando simplesmente sucumbe ideias e opiniões prontas, corre o risco de não ter controle para estabelecer o que para ele seria a ordem, sua autonomia, e independência diante do caos do cotidiano, da vida em sociedade.

Pedimos somente um pouco de ordem para nos proteger do caos. Nada é mais doloroso, mais angustiante do que um pensamento que escapa a si mesmos, ideias que fogem, que desaparecem apenas esboçadas, já corroídas pelo esquecimento ou precipitadas em outras, que também não dominamos. (....)

Perdemos sem cessar nossas ideias. É por isso que queremos tanto agarrar-nos a opiniões prontas (DELEUZE; GUATTARI, 1992. p. 259).

Atentemo-nos para a perda das próprias ideias como um fato a se superar com o intuito de se manter a unidade do pensamento e trilhar solidamente o caminho da interpretação, o que suscita a seguinte indagação: quais os passos necessários, quais procedimentos usar para, para alcançar o desvelar de fatos, exercer a compreensão, construir a explicação?

Pensando-se na linguagem expressa por meio dos textos escritos há uma complexidade maior. É quando o discurso se torna escrito que surge a necessidade de se lhe antepor uma teoria das operações das possibilidades de compreensão. A polissemia das palavras, regras ortográficas, gramáticas, contexto histórico, o próprio autor e também o intérprete estão em uma cadeia interligados. Esses são apenas princípios essenciais a serem questionados para que a comunicação tenha um resultado eficaz, na univocidade de um sentido (ORLANDI, 2006). Há um estudo que tem por objetivo o alcance da compreensão interpretativa, conhecido como leitura hermenêutica, o qual possui uma relação privilegiada com as questões linguísticas. Questões estas correspondentes ao mais elementar trabalho da interpretação e para esse fim no encontro textual a hermenêutica se efetiva como uma teoria do texto.

Nos aspectos filosóficos é o ramo que estuda a teoria da interpretação, que pode referir-se tanto à arte da interpretação, ou a teoria e treino de interpretação. Uma ferramenta poderosa na arte de se encontrar e encontrar o outro diante das manifestações da vida, e mais especificamente da manifestação textual (SCHMIDT, 2012).

A hermenêutica é relevante para direcionar no caminho do conhecimento com base na integração do convívio social por indivíduos pensantes e capacitados. Todo Leitor está engajado num processo de interpretação independentemente do gênero textual que se lê. Sendo uma ciência que busca e visa o estudo interpretativo, a hermenêutica procura responder se existe um sentido, como alcançá-lo, qual a relevância do sentido de um texto para o contexto atual (FONTANA, 2010).

A hermenêutica, foi inicialmente concebida como uma ciência da exegese. Ambas, hermenêutica e exegese são primeiramente práticas da teologia referente a interpretação da Bíblia. Entende-se por Exegese a denominação do estudo pela interpretação gramatical e sistemática das Escrituras Sagradas. Para sua prática a pessoa precisa estar capacitada e familiarizada com os textos originais nos idiomas grego e no hebraico. Nesse sentido, o termo exegese, etimologicamente, se originou a partir do grego exégésis, que significa interpretação, tradução ou levar para fora (expor) os fatos. Com vistas em seu significado

etimológico, seu campo de atuação abrange mais que as Escrituras Sagradas, sendo também utilizada para a interpretação e explicação crítica de obras artísticas, jurídicas e literárias. O exegeta, debruça sobre o texto, em busca de sua verdadeira essência, seu real significado. Um estudioso qualificado, proficiente em várias disciplinas que lhe dão a capacidade de fazer análises, crítica, histórica, cultural, gramatical, sintática e tantas outras necessárias na investigação de um texto (RICOEUR, 1977 apud MORAES, 2005).

Considerando a Bíblia em sua tradição hebraica, um livro de doutrina religiosa, condicionado à crença de quem a interpreta como sendo a Revelação Divina, atualmente um dos livros mais lidos pela humanidade, composta por 66 livros e cartas, divididos em capítulos e versículos, está já traduzida em diferentes idiomas, com diversas interpretações. Importante ressaltar que na escrita bíblica aprecia se diferentes estilos para transmitir os propósitos Divinos, e apesar deste fato, seus escritos são harmoniosos, embora alguns digam que ela se contradiz em algumas partes.

Ainda segundo Ricoeur (2006), fragmentos, manuscritos e traduções antigas foram comparados e estudados minuciosamente por eruditos bíblicos, com o objetivo de trazer para uma linguagem moderna, que se enquadra em outra compreensão linguística, para então se traduzir em mais idiomas, sua mensagem de maneira a ser possível a compreensão, ultrapassando o distanciamento do contexto histórico e cultural do texto. Sendo o texto bíblico, a palavra de Deus, registrado por homens e entendendo que o homem é um ser histórico - com particularidades no falar, no agir e no transmitir - torna-se necessário a investigação da origem histórica nos escritos elaborados por aqueles que compilaram a Bíblia. De acordo com Schmidt (2012), na teoria hermenêutica de Dilthey, a criança dentro de uma culturação, no sentido de uma acepção psicológica, aprende, pela sua vivência, várias conexões específicas entre o significado interno e as manifestações externas, o que lhe permite a compreensão dos estados psíquicos das pessoas com as quais convive, propiciando uma interação expressiva de seus próprios sentimentos, desejos e manifestações. O autor ainda afirma que para cada classe de manifestações há uma forma elementar de compreensão. A compreensão começa primeiro nas situações práticas ou pragmáticas das interações comuns. A interação pratica pressupõe que através de expressões empíricas exteriores o ser humano pode conhecer aspectos da vida interna de outras pessoas, o que o outro expressou.

Essa conexão entre o significado interno e a expressão externa se inicia na infância, em que:

A criança só aprende a compreender os gestos e expressões faciais, os movimentos e as exclamações, as palavras e as sentenças, porque ela constantemente as encontra com as mesmas, e na mesma relação com aquilo que elas significam e expressam. Esta é a base da aculturação, onde ―a criança cresce dentro da ordem e do etos da família que ela compartilha com os outros membros. Esta conexão entre expressão e significado interno é a base essencial de toda compreensão. (SCHMIDT, 2012, p. 65).

Por sua vez, Wilhelm Dilthey esclarece que as formas mais elementares de compreensão são a base para as formas mais complexas de compreensão, permitindo ao ser humano modificar imaginariamente experiências vividas, re-experimentando o significado de outra pessoa.

2. O IDEÁRIO HERMENÊUTICO: POSSIBILIDADES PARA COMPREENDER A