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O processo de produção de cerâmica é milenar – existe há mais de dez mil anos - desde quando os povos primitivos perceberam que o barro, quando deixado ao sol, endurecia. Assim nasceu a cerâmica e, com ela, todas as suas utilidades. O homem, ao deixar as cavernas e se dedicar à agricultura, necessitou não apenas de um abrigo, mas também de armazenar alimentos e sementes, fazendo com que fossem produzidas vasilhas à base de argila (ANFACER, [?]).

A palavra cerâmica tem origem no vocábulo grego “Kéramos”, que significa “terra queimada” ou “argila queimada”, e está relacionada à matéria-prima argila, a qual possui várias denominações, dentre elas, “barro”, “mistura final de minerais argilosos, silicatos hidratados, que podem conter cátions de Al, Fe, Mg, K e outros” (ANFACER, [?]). O vocábulo cerâmica possui diferentes significados, compreendendo desde a arte de fabricar objetos de barro cozido, o artefato, até o nome do próprio local onde se fabricam materiais cerâmicos. A cerâmica, assim, compreende “todos os materiais inorgânicos, não metálicos, obtidos geralmente após tratamento térmico em temperaturas elevadas” (ABC, 2002b).

Para Limaverde, Sousa e Brito (1983), cerâmica vermelha reporta-se a produtos que, após a queima, apresentam tom avermelhado. Incluem-se nesse segmento itens como tijolos, telhas, manilhas, elementos vazados, lajotas, lajões. As principais matérias-primas usadas no processo de fabricação desse tipo de cerâmica são as argilas.

No Japão, os utensílios de argila mais antigos datam de cerca de 8.000 anos a.C, de acordo com materiais encontrados por arqueólogos na área habitada pela cultura Jamon. Antes do final do período Neolítico ou da Pedra Polida (de 26.000 a.C. até por volta de 5.000 a.C.), a arte na fabricação de utensílios cerâmicos saiu do Japão e se disseminou pela Europa e Ásia (ANFACER, [?]).

Estabelecido o contato dos Romanos com o Médio Oriente, em torno de 280 a.C, iniciou-se a utilização da argila cozida na construção dos telhados e surgiram as representações dos deuses em argila, com formas modestas. Por volta do século I a.C, os Romanos já apresentavam boa qualidade tecnológica de cozimento da argila. A partir daí, o aperfeiçoamento das técnicas, mediante uso de moldes, pátina, tornos para trabalhar as peças;

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estilo, decoração e qualidade, foram incorporando aos vasos, louças e bandejas, tais aspectos valorizaram a produção, que até então era tida como de pouco interesse (SANTOS, 2003).

Atualmente, a cerâmica não é usada apenas na construção civil, mas, também, é empregada na fabricação de próteses de ossos e dentária e, ainda, de facas com lâminas de porcelana; em obturações e, ainda, nos trilhos do trem-bala, no Japão (ANFACER, [?]).

No Brasil, o mais antigo registro de cerâmica está na Ilha de Marajó, na cultura indígena que prosperou na ilha durante o período pré-colonial de 400 a 1400 d.C (ANFACER, [?]). A cerâmica denominada de marajoara possuía estilo próprio e era bem elaborada. Estudos arqueológicos indicam a ocorrência de uma cerâmica mais simples, também na região amazônica, por volta de 5.000 anos atrás. Os índios da Ilha de Marajó fabricavam, dentre outros, cobras, lagartos, bancos, estatuetas, colheres, adornos auriculares e labiais, vasos em miniatura bem elaborados (ANFACER, [?]). Para os arqueólogos, os artefatos cerâmicos produzidos são importantes pistas que servem para conhecer o estilo de vida, costumes, religião e a cultura indígena.

Não foram os portugueses, nem os escravos, portanto, que trouxeram o conhecimento da cerâmica para o Brasil, uma vez que índios já trabalhavam com barro antes da colonização. O que os portugueses fizeram foi estruturar o processo rudimentar usado pelos índios, instalando as primeiras olarias, concentrando mão de obra, introduzindo técnicas, como o uso do torno e das “rodadeiras”, e passando a produzir tijolos, telhas, louças de barro, aperfeiçoando o trabalho já desenvolvido pelos índios (ANFACER, [?]).

A instalação de grandes fábricas de cerâmica se deu na Europa no século XV, quando a cerâmica se expandiu por aquele Continente, mas somente no século XVIII a porcelana, desenvolvida na China, passa a ser mais valorizada na Europa, destacando-se os produtos da França, Alemanha e Itália (NASCIMENTO, 2007).

Em 1769, na Inglaterra, se deu a transformação da produção cerâmica artesanal para a industrial, pela difusão do uso de máquinas a vapor, empregadas na trituração da matéria- prima e movimentação dos tornos, o que proporcionou melhoria na qualidade da cerâmica artística e aumentou a produção de porcelanas (NASCIMENTO, 2007).

Como informa Nascimento (2007), há registros do uso de cerâmica vermelha, do tipo telhas, em São Paulo no ano de 1575, feitas manualmente por escravos.

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No Brasil, a história da cerâmica atravessa períodos distintos de desenvolvimento: “o artesanal, o de expansão da industrialização e o de modernização e incorporação ao processo industrial dos conceitos de qualidade e produtividade” (PLANO, 2007). O artesanal compreende as cerâmicas indígenas, as manufaturas do período colonial e vai até o começo do século XX. Nessa fase, o trabalho era manual, com uso de poucos equipamentos rudimentares movidos por força de animal ou hidráulica, com o emprego, geralmente, de técnicas européias. A produção de telhas, tijolos, materiais funerários, dentre outros, era direcionada, basicamente, para suprir as necessidades das propriedades rurais, comunidades indígenas e lugarejos (PLANO, 2007).

O período de industrialização no Brasil (início do século XX) contribuiu para a expansão e incorporação de equipamentos industriais ao setor cerâmico. O desenvolvimento desse setor estava relacionado ao crescimento populacional urbano, decorrente das mudanças socioeconômicas por que passava o País; a substituição de madeira por tijolos e telhas na construção civil, em razão dos problemas sanitários e a escassez de madeira. O aumento na demanda por artefatos cerâmicos fez com que as olarias se reorganizassem, adotassem outras técnicas e importassem equipamentos (PLANO, 2007).

O período de maior industrialização do setor cerâmico teve início por volta de 1915, em São Paulo, destacando-se a produção de porcelanas e louças (NASCIMENTO, 2007). Diversas fábricas de telhas, tijolos e tubos foram implantadas com o uso de equipamentos oriundos da Europa. Até a 2ª Guerra Mundial o setor esteve voltado para a fabricação de produtos de cerâmica vermelha para a construção civil. Após a 2ª Guerra, aumentou consideravelmente a quantidade de empreendimentos desse ramo no País, com a instalação de fábricas de variados portes e de produção diversificada, que passaram a produzir, além dos artefatos há pouco mencionados, materiais de revestimento, tais como azulejos e pisos, cerâmica sanitária, isoladores elétricos de cerâmica e materiais abrasivos (NASCIMENTO, 2007; PLANO, 2007).

O terceiro período inicia-se na década de 1990. Surge da necessidade de se investir em programas de qualidade e produtividade para atender às exigências do consumidor e à legislação vigente, bem como expandir a inclusão dos produtos cerâmicos no mercado internacional. Acrescente-se que o Brasil já exporta tijolos para a Inglaterra desde 1920 (PLANO, 2007).

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Como consequência do crescimento desordenado do setor cerâmico após a 2ª Guerra Mundial, pode-se constatar dois tipos de estabelecimentos produtores de cerâmica: as “olarias” e as “cerâmicas”, que diferem quanto ao processo produtivo, qualidade das peças, grau de mecanização, organização administrativa, dentre outros (PLANO, 2007). Conforme Limaverde, Sousa e Brito (1983), as olarias reúnem os empreendimentos em que a produção é basicamente artesanal, as instalações improvisadas e os produtos bastante rústicos. Já as cerâmicas empregam algum tipo de tecnologia no processo produtivo, proporcionando elevação da produção, melhor qualidade dos produtos em relação às olarias e organização técnica e administrativa.

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