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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.2 EXPECTATIVAS DOS ESTUDANTES QUANTO À PÓS-GRADUAÇÃO

5.2.6 Considerações sobre as expectativas dos estudantes quanto à

Uma das reclamações feitas pelos participantes da pesquisa refere-se à ausência do orientador. Nesse período de aprofundamento acadêmico é natural o aluno ter a necessidade de um contato mais próximo com seu orientador para que as etapas a serem desenvolvidas durante o curso de sua pesquisa sejam realizadas de maneira mais sistemática e organizada.

Esses momentos de trocas, tanto das aulas quanto das orientações, são essenciais à formação do professor-pesquisador. O professor iniciante necessita desse retorno para ir tornando-se mais experiente e poder traçar aos poucos a sua individualidade. Segundo Dubar (1997), muitas angústias perduram nos primeiros anos do trabalho do profissional de educação e isso também é verdadeiro no caso da pesquisa acadêmica. Por isso, o reconhecimento e acompanhamento nas relações estabelecidas no ambiente de trabalho e na orientação são importantes para o crescimento do profissional.

Nem sempre essa colaboração, tanto em sala de aula como nos momentos de orientação, são positivas, já que a falta de cooperação entre os profissionais e a ausência de atividades em conjunto podem acontecer. O professor deve estar ciente da possibilidade de estar aprendendo durante toda a sua vida, e essa aprendizagem não se dá apenas em cursos de aperfeiçoamento profissional, palestras ou formações continuadas, mas também a partir das trocas estabelecidas e vivenciadas no ambiente de trabalho com outros professores como

também com os professores que estão presentes na sua formação. Esse tipo de troca propicia crescimento e aprendizagens significativas.

Esse tipo de situação também acontece nos espaços de pós-graduação, nos quais os alunos devem se esforçar para garantir seu amadurecimento e autonomia intelectual na academia. O orientador é fundamental para iniciar esse processo de apropriação dos saberes necessários ao norteamento dos caminhos da pesquisa no campo educacional.

Uma expectativa bastante presente nas falas dos pós-graduandos foi a de que encontraria no curso de formação stricto sensu práticas de ensino inovadoras, novas formas de estabelecer a mediação em sala de aula, modelos de educação menos tradicionais ou estáticos como também disciplinas mais relacionadas com o seu objeto de estudo.

Essa expectativa é endossada por Veiga (2012, p. 14), para quem

outra característica da docência está ligada à inovação quando rompe com a forma conservadora de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar; reconfigura saberes, procurando superar as dicotomias entre conhecimento científico e senso comum, ciência e cultura, educação e trabalho, teoria e prática, etc.; explora novas alternativas teórico-metodológicas em busca de outras possibilidades de escolha; procura a renovação da sensibilidade ao alicerçar-se na dimensão estética, no novo, no criativo, na inventividade; ganha significado quando é exercida com ética.

No item 5.2.2, registramos que os alunos destacaram a sua surpresa ao se depararem com uma realidade diferente da esperada em relação à pós-graduação. Eles compararam inicialmente a dificuldade do curso com a da seleção que enfrentaram, mas, após terem se inserido nesse meio, eles avaliaram o curso como semelhante à graduação. Isso representa uma frustração, pois a expectativa deles era que a pós-graduação lhes apresentasse práticas inovadoras e diferentes daquelas às quais já estavam acostumados. Essa realidade vai um de encontro à afirmação acima de Veiga (2012) sobre a quebra de paradigmas e inovações as quais o professor deve almejar e buscar.

Destacamos, contudo, que essa insatisfação dos alunos quanto à falta de inovação é positiva, pois sinaliza que eles estão conscientes da necessidade da busca por inovações e reformulações sobre a sua prática. A própria consciência dessa lacuna só acontece devido a esse esclarecimento por parte dos alunos sobre as novas demandas sociais e a necessidade das práticas educativas as acompanharem.

Veiga (2012) também destaca os elementos essenciais à profissão do professor e as particularidades que complementam essa prática, tais como pesquisa, avaliação, ética e

criatividade. Sem dúvida, trata-se de uma profissão que está sempre em processo de mudança, o que justifica a pesquisa sobre a prática devido a essa demanda constante por novos caminhos e possibilidades de atuação.

Um caminho para a ampliação da prática pedagógica e das possibilidades de atuação na área diz respeito ao aprofundamento teórico que gera um olhar mais crítico e reflexivo sobre a forma como esse profissional vai enxergar a si próprio e o seu contexto de trabalho. Nesse sentido, não só o aprofundamento teórico como também os estudos relacionados à linha de pesquisa propiciam o desenvolvimento profissional, possibilitando a sua formação para além da racionalidade técnica, de acordo com a qual o indivíduo deve apenas executar decisões de outras pessoas.

A partir das leituras, aprofundamento teórico e discussões que acontecem em um curso de pós-graduação stricto sensu, os alunos podem confrontar ações realizadas no cotidiano de suas atividades profissionais. Dessa forma, entende-se que

[...] as transformações das práticas docentes só se efetivam à medida que o professor amplia sua consciência sobre a sua própria prática, da sala de aula e a da escola como um todo, o que pressupõe os conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade. (PIMENTA e ANASTASIOU, 2014, p.14).

A identidade coletiva, social e política construída por meio de uma formação específica possibilita o compartilhamento de informações, saberes, conhecimentos, valores, metodologias com os seus colegas de trabalho. Sonneville e d’Ávila (2012), ao falarem sobre a competência profissional, refletem sobre o processo de formação desses profissionais que “[...] devem ser capazes de produzir conhecimento sobre seu trabalho e de tomar decisões em favor de uma prática profissional ajustada às suas necessidades e às necessidades dos educandos e ao espaço de trabalho [...]” (p.28)

Podemos, então, perceber que as expectativas dos alunos em alguns momentos foram atendidas, enquanto outras não corresponderam ao que realmente esperavam. Algumas exigências dos alunos quanto à oferta de disciplinas que dialogassem com o seu projeto e à inovação no momento das aulas são pertinentes, mas os participantes desta pesquisa não conseguiram ainda apontar soluções ou alternativas em suas falas para o que já é proposto pelo programa.

5.3 CONTRIBUIÇÃO DA FORMAÇÃO STRICTO SENSU PARA A CONSTRUÇÃO