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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.1 MOTIVAÇÕES PARA O INGRESSO NA PÓS-GRADUAÇÃO

5.1.1 Questões profissionais

Em relação às falas dos participantes, pudemos encontrar alguns argumentos que evidenciaram o porquê de as suas motivações estarem vinculadas a questões profissionais. Percebemos, em seus discursos relativos às suas motivações, uma necessidade de ampliar a atuação no mercado de trabalho, especificamente no ensino superior, um forte apreço pela titulação e uma preocupação em estar mais preparado(a) para o mercado de trabalho.

Nessa subcategoria foi recorrentemente expresso o desejo dos professores de alcançar novas possibilidades de emprego a partir das experiências vivenciadas na atuação profissional. Esse desejo pode ser explicado pelas dificuldades encontradas pelos professores na educação básica como um todo. Essas dificuldades ultrapassam situações estruturais com as quais esses professores têm de lidar diariamente – escassez de materiais, número de alunos em sala de aula, exigências advindas da instituição, entre outros – e incidem na falta de valorização profissional. A fala abaixo transcrita revela a insatisfação com a rede particular de ensino, a qual possui problemas relativos à falta de liberdade e autonomia pedagógica, à visão política da escola, à instabilidade empregatícia, entre outros.

Eu pensei em fazer pós-graduação porque eu vi que trabalhar na educação básica, no ensino médio, principalmente na rede particular, não dá futuro [...] foi por questões extremamente profissionais. Queria fazer o mestrado pra poder abrir o meu mercado de trabalho, pra poder ensinar no ensino superior [...] foi essencialmente isso (E5, Masculino. 31-40, Licenciado em História, Linha de pesquisa – Formação de Professores e Prática Pedagógica).

A forma de driblar, até certo ponto, as diversas carências encontradas na educação básica é explicitada por meio de um encantamento e desejo de atuar no ensino superior. Nele a expectativa é deparar-se com menos problemas estruturais e ter-se um maior conforto no espaço da faculdade/universidade. Em outras palavras, espera-se enfrentar bem menos problemas do que no ambiente escolar, o que nem sempre corresponde à realidade. Os estudantes entrevistados consideram, porém, o ensino superior como um espaço de maior status social, o qual consequentemente gera uma valorização profissional e pessoal do sujeito.

Além disso, existe a esperança de melhores condições salariais advindas da possibilidade de ingresso no ensino de uma faculdade pública, na qual é possível adquirir uma estabilidade profissional e um plano de cargos e carreira. Percebe-se que a questão da ampliação de possibilidades de atuação está muito vinculada também à valorização do sujeito. Este passa a ser visto como um profissional mais completo, preparado e com melhores condições para estar colaborando para a formação de outros profissionais.

A valorização do sujeito não acontece, contudo, apenas ao término do curso, com a aquisição do título ou inserção no ensino superior, mas também com o próprio ingresso em uma pós-graduação. O aluno, por estar cursando o mestrado em uma universidade pública, possui um maior reconhecimento ou prestígio social. As oportunidades e experiências vividas pelo sujeito durante esse período possibilitam novos entendimentos, inclusive da sua identidade profissional docente.

Outro dado encontrado na pesquisa foi o argumento sobre a titulação. Os entrevistados declararam passar por dificuldades por não possuírem um mestrado ou grau superior, necessários em etapas classificatórias em concursos, o que os faz perder, por exemplo, vagas de emprego interessantes por apresentarem essa lacuna no currículo. Podemos verificar isso no recorte de fala abaixo transcrito.

Na verdade, é porque eu já prestei bastante concurso e, todas as vezes que chegava à parte de títulos, a minha nota caía no ranking. Então eu vi uma necessidade muito grande em dar continuidade, tanto é que eu emendei. Depois que eu fiz a minha graduação, eu já fui fazer uma pós. Não foi do meu agrado, porque foi uma pós a distância, uma especialização em educação infantil. E, ao mesmo tempo, em paralelo, eu tava concorrendo aqui, fazendo todo o processo seletivo. Então, como a

gente nunca sabe se vai passar ou não, aí eu tava, né? Mas a minha meta era essa. Ter uma especialização ou mestrado (E9, Feminino. 41-50, Pedagoga, Linha de pesquisa – Educação e Linguagem).

A fala acima transcrita reflete justamente a preocupação em ter um título visando a melhores condições na profissão. A entrevistada relatou que já havia prestado inúmeros concursos, mas que sua nota sempre caía por não possuir o grau de mestre ou outro mais elevado. Ao final, ela reforçou essa necessidade de buscar o título ao dizer que ter uma especialização ou mestrado era a sua meta para conseguir alcançar seu objetivo.

A estabilidade financeira e profissional conquistada por meio de concursos para ser professor/servidor público – dos estados, prefeituras e universidades estaduais ou federais – tem cada vez mais sido procurada por pessoas com titulações acima da graduação. Os profissionais da área, com a titulação advinda de uma pós-graduação, podem ainda buscar estabilidade e reconhecimento, porém sem precisar necessariamente prestar um concurso para atuar no ambiente de sala de aula. A titulação é uma facilitadora no ranqueamento de concursos também muito procurados pelos profissionais de educação para ocuparem vagas que não dizem respeito ao exercício da docência – tais como as de técnico em assuntos educacionais ou pedagogos –, mas permitem o acesso ao ambiente universitário e de outra natureza.

Ainda há aqueles que buscam uma pós-graduação, mas não atuam diretamente, na área em que se especializaram. Mesmo assim, alguns concursos, tais como os federais, consideram os títulos e até mesmo incentivam o profissional a alcançar um maior salário, reconhecimento e credibilidade da instituição da qual passam a fazer parte.

De maneira semelhante, existem aqueles que já atuam como professores em faculdades particulares e sentem a necessidade, inclusive por exigência da instituição, para obtenção de títulos de pós-graduação stricto sensu, como uma forma de valorizar o corpo docente, a avaliação institucional e a qualidade do ensino.