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Considerações sobre condições de trabalho, saúde do trabalhador e promoção da

3 MÉTODO

5.5 Considerações sobre condições de trabalho, saúde do trabalhador e promoção da

Este estudo abordou os aspectos psicossociais do trabalho – demandas psicológicas e controle sobre o trabalho e suas repercussões na saúde de trabalhadores. Nesse sentido, faz-se necessário realizar algumas considerações/reflexões sobre as condições do trabalho e a saúde do trabalhador.

O trabalho na vida dos indivíduos é rico em significados, tanto no sentido individual como social, é um meio de prover subsistência, criar sentidos existenciais e contribuir na estruturação da identidade e da subjetividade (TOLFO e PICCININI, 2007). O trabalho ainda pode ser fonte de prazer, reconhecimento, status, representar inserção social, porém também pode levar ao desequilíbrio, desajustes e ao adoecimento (DEJOURS, 1997).

Nesse sentido, tem-se discutido muito, nas últimas décadas, sobre as formas como a organização, as condições e o processo de trabalho interferem na saúde dos trabalhadores, seja fortalecendo a saúde, seja desencadeando ou determinando processos patológicos (MAGNAGO, 2008). De acordo com Dejours (2007), as condições de trabalho acabam afetando mais o corpo dos trabalhadores, pois elas podem ocasionar o

desgaste, o envelhecimento e doenças somáticas. Já a organização do trabalho atua em nível do funcionamento psíquico.

O trabalho é parte integrante da vida do ser humano. Essa relação se dá com a produção de significações psíquicas e de construção de relações sociais, onde há uma mediação entre o psíquico e o social. O trabalho então pode ser ou não nocivo, mas ele se torna perigoso, dependendo da forma como é organizado e realizado pelo homem.

O Sistema de Informações em Saúde do Trabalhador do Rio Grande do Sul (SIST/RS), em 2009, obteve 24.533 agravos notificados, sendo que 93,3% foram de acidentes de trabalho (AT) e 6,7% por doenças ocupacionais. Dentre as doenças ocupacionais, os transtornos mentais são a segunda causa de adoecimento notificado (9,3%), superada somente pelas Lesões por Esforço Repetitivo/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) (55,1%) (CENTRO ESTADUAL EM VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, 2010).

Os distúrbios relacionados à saúde mental vêm crescendo em um ritmo muito acelerado, entre todas as categorias de trabalhadores. Estima-se que até 2020 os afastamentos permanentes do trabalho por transtornos mentais sejam superiores aos por doença cardiovascular ou osteomuscular (CORGONZINHO, 2000).

Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde, na América Latina, apenas 1% a 4% das doenças do trabalho são notificadas. O fato de não se notificar as doenças relacionadas ao trabalho dificulta o acesso às informações sobre a real situação de saúde dos trabalhadores, prejudicando o planejamento e implementação das ações de saúde do trabalhador (BRASIL, 2004).

A partir da Lei 8.080, de 1990, e com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), a saúde do trabalhador foi incluída como parte integrante dos serviços de vigilância (sanitária e epidemiológica). Essa lei descreve a saúde do trabalhador como um conjunto de atividades, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, destinados à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores. Também visa à recuperação e à reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho (BRASIL, 1990).

A Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador (PNSST), em vigor desde 2004, foi desenvolvida a fim de contemplar as exigências do Sistema Único de Saúde de reduzir acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, mediante ações de promoção, reabilitação e vigilância na área da saúde. A política ainda visa garantir que o trabalho seja realizado em “condições que contribuam para a melhoria da qualidade de

vida, a realização pessoal e social dos trabalhadores e sem prejuízo para sua saúde, integridade física e mental” (BRASIL, 2004, p. 4).

Na modernidade, vários órgãos e países têm se preocupado com a importância de práticas éticas que envolvam os trabalhadores. A Declaração de Seul, em 2008, sobre segurança e saúde no trabalho, afirma que um ambiente de trabalho seguro e saudável é um direito humano fundamental (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2010).

Houve avanços na legislação, desde a implantação do SUS, porém as práticas em relação à saúde do trabalhador ainda demonstram muitas lacunas e dificuldades na efetivação da política de saúde do trabalhador. Isso ocorre, principalmente, devido à fragmentação das ações relacionadas à saúde do trabalhador (CAVALCANTE et al., 2008). Nesse contexto, é fundamental que o governo, gestores e os empregadores possam investir em ações que promovam a saúde, ou ainda que contribuam para a efetivação da política de saúde do trabalhador.

O ambiente laboral pode ser considerado um espaço privilegiado para que os trabalhadores e gestores planejem e coloquem em prática ações com vistas à promoção e proteção da saúde. Essa iniciativa proporciona a responsabilização compartilhada entre os coordenadores, chefias e trabalhadores (MAGNAGO, 2008).

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) considera o ambiente laboral como um ambiente de prioridade para a promoção da saúde no século XXI. Um contexto laboral saudável é fundamental não somente para os trabalhadores, mas também para favorecer a motivação, produtividade, o espírito de satisfação no trabalho e a qualidade de vida global (CASAS e KLIJN, 2006).

Portanto, a forma como está organizado o trabalho tem relação direta com o bem-estar, ou o risco de adoecimento dos trabalhadores. Nesse sentido, quando a organização do trabalho é saudável, oferecendo uma certa liberdade para o trabalhador, com relações mais abertas, democráticas, é possível o processo de reconhecimento, prazer e transformação do sofrimento (MENDES, 2008).

A promoção da saúde deve estar articulada aos serviços de segurança e saúde do trabalhador, a fim de proporcionar não somente o tratamento de doenças advindas do trabalho, mas ações que possam promover o bem-estar biopsicossocial dos trabalhadores.