• Nenhum resultado encontrado

trabalhadores de cozinhas industriais, de linhas de produção, entre outros (GRECO et al., 2011).

Alguns estudos evidenciaram associação positiva entre alta exigência no trabalho e DPM (AMARAL, 2006; ARAÚJO et al., 2003; KIRCHHOF et al., 2009); maiores chances para dor nos ombros, na coluna torácica e nos tornozelos (MAGNAGO, 2008); maior comprometimento nos domínios da qualidade de vida (FERNANDES e ROCHA, 2009); cansaço mental e nervosismo mais elevados (REIS, 2005); e chances mais elevadas dos trabalhadores apresentarem burnout (TIRONI, 2009).

Greco et al. (2011) evidenciaram a importância do MDC na investigação do ambiente psicossocial do trabalho e dos efeitos do estresse ocupacional sobre a saúde, abordando suas diversas repercussões, e sua contribuição ao campo da saúde do trabalhador.

2.4 Os Distúrbios Psíquicos Menores

A organização do trabalho se constitui em uma instância social significativa no processo saúde/distúrbios psíquicos. A organização do trabalho pode produzir efeitos sobre a saúde do trabalhador, que perpassam o aparelho psíquico, ondesão impostos um funcionamento, uma modelagem com relação às demandas, como exigências do modo de produção (FERNANDES et al., 2006).

Fernandes et al. (2006) relata que os distúrbios psíquicos relacionados com o trabalho, apesar de possuírem alta prevalência na população trabalhadora, muitas vezes passam desapercebidos em avaliações clínicas. Essas dificuldades na avaliação não decorrem somente das características dos distúrbios psíquicos, que frequentemente têm seus sintomas mascarados por manifestações físicas, mas também da complexidade de associá-los ao trabalho desenvolvido pelo indivíduo.

A Organização Mundial de Saúde estima que os distúrbios psíquicos menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores, e os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10%. No Brasil, segundo estatísticas do INSS, que se referem somente aos trabalhadores com registro formal, os transtornos mentais estão na terceira posição entre

as causas de benefício previdenciário como auxílio-doença, afastamento do trabalho (mais de 15 dias) e aposentadorias por invalidez (BRASIL, 2001).

Na realidade brasileira, alguns estudos evidenciaram prevalências elevadas de DPM. Araújo et al. (2003) encontraram uma prevalência de 33,3% em trabalhadoras de enfermagem. Ao estudar a população urbana de Pelotas, no Rio Grande do Sul, com idades entre 20 a 69 anos, Costa et al. (2002) observaram prevalência de DPM de 21% em homens e 34,2% em mulheres. Nascimento Sobrinho et al. (2006), em estudo realizado com médicos de Vitória da Conquista, na Bahia, encontraram prevalência de DPM em 26%.

Os transtornos mentais comuns, neste estudo denominado como DPM, são definidos por Goldberg e Huxley (1992) como sintomas de fadiga, esquecimento, irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração, e queixas de ordem somática. Essas manifestações demonstram que houve uma ruptura do funcionamento “normal” do indivíduo, porém não configuram uma patologia na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), ou nos Manuais de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM) .

Esses distúrbios se constituem como um problema de saúde pública e representam alto custo econômico e social, no sentido de que aumentam a demanda para serviços de saúde e são causa importante de afastamentos do trabalho (COUTINHO; ALMEIDA-FILHO e MARI, 1999).

Braga, Carvalho e Binder (2010) relatam que vários estudos demonstram numerosos fatores associados à prevalência de DPM. Dentre eles, as características do próprio indivíduo, aspectos sociais e familiares e aspectos do trabalho. Com relação ao trabalho, os autores ainda citam a baixa renda, exclusão do mercado de trabalho, o desemprego e em especial as demandas psicológicas no trabalho e o baixo controle sobre o trabalho.

No Brasil, alguns fatores têm contribuído para elevar as prevalências dos DPM, como: o processo de industrialização e urbanização, desigualdades sociais, vida estressante e violência (LOPES; FAERSTEIN e CHOR, 2003). Costa e Lurdemir (2005) apontam como fatores potenciais de risco para DPM o baixo apoio social associado a condições de vida e trabalho inadequadas.

A preocupação com os impactos dos problemas de saúde mental na população dos países periféricos levou a OMS a desenvolver o Self-Reporting Questinnaire (SRQ), para avaliar distúrbios psíquicos menores (MARI e WILLIANS, 1986). A versão original do SRQ contém 24 itens distribuídos em 20 questões que avaliam os

transtornos não psicóticos e quatro que avaliam os transtornos psicóticos, como alucinações, delírio e confusão mental (IACOPONI e MARI, 1998). O SRQ tornou-se um instrumento de ampla utilização para suspeição de DPM. Na versão adaptada para o português, foram excluídas as quatro questões referentes aos transtornos psicóticos, sendo a partir daí denominado de SRQ-20 (MARI e WILLIANS, 1986).

Em estudo bibliográfico realizado por Tavares et al. (2011), no primeiro semestre de 2010, abordando a temática DPM e a utilização do SRQ-20 no Brasil, foram encontrados 41 estudos (dissertações e artigos). Nesses estudos, as prevalências globais de DPM variaram de 17% a 77,3%. A menor prevalência foi encontrada em uma amostra representativa da população com 14 anos ou mais de idade, residente na zona urbana de Campinas/SP. Já a maior prevalência foi em mulheres, de 15 a 49 anos, vítimas de violência, atendidas em um hospital de emergência na cidade de Salvador/BA. A população em geral (não relacionando à atividade laboral) foi a mais estudada (48,6% dos estudos), com destaque para pessoas com mais de 14 anos, mulheres, adultos com 40 anos ou mais e adolescentes de 15 a 18 anos. Também foram pesquisados os trabalhadores da área da saúde (trabalhadores de enfermagem, médicos, agentes comunitários de saúde) com 16,4% dos estudos, trabalhadores de outras áreas (professores de pré-escola e ensino fundamental, de educação física e de ensino superior, agentes penitenciários e motoristas) com 19,3%, e estudantes (medicina, educação física, enfermagem, odontologia e ensino médio) com 12,1% dos estudos (TAVARES et al., 2011).