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Há toda uma normatização educacional, definida pelos espaços parlamentares competentes, e executivos assemelhados, influenciados pelos movimentos sociais organizados, que pode ser acionada para favorecer a gestão democrática da escola básica e a existência de conselhos escolares atuantes e participativos.

Entre os princípios que devem nortear a educação escolar, contidos na Carta Magna, o seu artigo 206, item VI estabelece a gestão democrática do ensino público, na forma da lei.

A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é explicita no que se refere à gestão democrática nas escolas. Em seu Art. 3º Item VIII, define que o ensino será ministrado com base nos princípios da gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino. Já em seu Art. 15 estabelece que os sistemas de ensino assegurarão, às unidades escolares públicas da educação básica que as integram, progressivo graus de autonomia pedagógica e administrativa e gestão financeira.

Em seu artigo 14, a LDB abre espaço para a participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares e equivalentes, pois estabelece esse tipo de participação como um dos princípios da gestão democrática.

Os sistemas de ensino definirão normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (LDB, Lei 9394/96, art. I e II).

O artigo 13 da mesma Lei ressalta a participação dos professores na gestão da escola aos lhes incumbir de: participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; elaborar e cumprir o plano de trabalho; zelar pela aprendizagem dos alunos; estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos e colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade.

Com efeito, proclama-se à responsabilidade do poder público criar as condições legais e institucionais para que os sistemas de ensino estejam cada vez mais próximos da comunidade, dos usuários e que esses possam participar, de forma construtiva, do gerenciamento desses sistemas.

No Estado do Ceará, na SEDUC – Secretaria de Educação Básica, busca-se a ampliação do espaço na área pedagógica (aprendizagem, metodologias de ensino, mecanismos de avaliação de aprendizagem etc.), na área administrativa (definição do calendário escolar, de organização das atividades de ensino, definição de prioridades na escola etc.) e na área financeira (decisão de como aplicar os recursos financeiros recebidos da Secretaria de Educação, Ministério da Educação e de outras formas). (SEDUC, 1997:7)

Malgrado essas medidas, os mecanismos utilizados para ampliação de decisão da escola são: Conselho Escolar, escolha e seleção do diretor da escola por critérios democráticos e a transferência automática e sistemática dos recursos às unidades escolares (SEDUC, série: Educação Ceará, 1995/1998).

A Lei 12.452, de 06 de junho de 1995 do Estado do Ceará, em seu artigo 4º item VII, que dispõe sobre a municipalização do ensino do Ceará e dá outras providências, observa que as escolas devem criar e manter conselhos escolares, com atribuições de natureza consultiva, deliberativa, de avaliação e controle das atividades pedagógicas, financeiras e administrativas com representação de professores, alunos, pais, funcionários e comunidade.

Já a Lei nº 12.861, de 18 de novembro de 1998, e o Decreto nº 25.297, de 18 de novembro de 1998, dispõem sobre o a escolha e indicação dos diretores das escolas públicas estaduais de ensino básico.

Para que haja gestão democrática na escola, é fundamental a existência de espaços propícios para que novas relações sociais entre os diversos segmentos escolares possam acontecer. Para Bobbio (2000), “quando se quer saber se houve um desenvolvimento da democracia num dado País, o certo é procurar saber se aumentou não o número dos que tem direito de participar das decisões que lhe dizem respeito, mas os espaços nos quais podem exercer esse direito”. Assim, o Conselho Escolar constitui um desses espaços, juntamente com o grêmio estudantil, associação de pais e comunitários, associação de servidores, congregação dos professores e sociedade civil.

Ocorre que o Conselho Escolar possui uma característica própria que lhe dá dimensão fundamental: ele se constitui numa forma colegiada da gestão democrática. Assim, a gestão deixa de ser o exercício de uma só pessoa e passa a ser uma gestão colegiada, na qual os segmentos escolares e a comunidade local se congregam para, juntos, construírem uma educação de qualidade e socialmente relevante. Com isso, dividem-se o poder e as conseqüentes responsabilidades.

Neste contexto, o papel do Conselho Escolar é o de ser o órgão deliberativo – refere-se à tomada de decisão quanto ao direcionamento das ações pedagógicas, da gestão e administrativo- financeiras; consultivo – refere-se à emissão de pareceres para esclarecer dúvidas sobre situações decorrentes das ações pedagógicas, da gestão, administrativo- financeiras, bem como sobre a proposição de estratégias de soluções e procedimentos para a melhoria da qualidade do trabalho escolar, sempre respeitando a legislação em vigor -; normativa – refere-se a procedimentos de normas para direcionar as ações pedagógicas, de gestão e administrativo-financeiras -; fiscalizadora – consiste no acompanhamento sistemático e ao controle das ações pedagógicas, da gestão e administrativo-financeiras -; Avaliador – trata-se da avaliação de desempenho dos profissionais da educação, bem como das ações pedagógicas, da gestão e administrativo-financeiras -; executivo – refere-se à

execução dos planos, programas, projetos e regimento elaborados coletivamente pela comunidade escolar, como o Plano de Desenvolvimento da Escola – PDE, Projeto Político Pedagógico – PPP, Regimento Escolar –RE. O Conselho Escolar executa as ações, juntamente com o núcleo gestor - mais importante da gestão democrática, não como instrumento de controle externo, como geralmente ocorre, mas como um parceiro de todas as atividades que se desenvolvem no interior da escola.

Sua participação precisa ser ligada, prioritariamente, à essência do trabalho escolar. Assim, acompanhar o desenvolvimento da prática educativa, do processo ensino- aprendizagem, é sua focalização principal, isto é, sua tarefa mais importante.

Com efeito, a função do Conselho Escolar é essencialmente político-pedagógica. É política, na medida em que estabelece as transformações desejáveis na prática educativa escolar. E é pedagógica, pois estabelece os mecanismos necessários para que essa transformação realmente aconteça.

Compreendendo a educação como prática social que visa ao desenvolvimento de cidadãos conscientes, autônomos e emancipados e entendendo o Conselho Escolar como um mecanismo da gestão democrática colegiada, sua função básica e primordial é a de conhecer a realidade e indicar os caminhos que levem à realidade desejada.