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5. MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL

5.2. Considerações sobre mobilidade sustentável

Em Portugal, os trabalhos desenvolvidos no sentido de implementar o conceito de mobilidade sustentável no país são coordenados, de um modo geral, pelo Instituto do Ambiente, responsável pela Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS), a qual inclui em sua estrutura o Painel Setorial sobre Transportes. No entanto, como país membro da União Européia, Portugal insere-se ainda em inúmeros outros projetos que dizem respeito à promoção do conceito no nível do continente.

No que diz respeito às iniciativas desenvolvidas pela União Européia cabe destacar o “Programa de Ação para a Mobilidade Sustentável: 2000-2004”, que tem por objetivo aplicar uma política comum de transportes segura, eficaz e competitiva, que leve em consideração interesses sociais e ambientais nos países membros da União Européia. Dentre as estratégias previstas para o alcance destes objetivos, incluem-se:

! Melhoria do acesso aos mercados;

! Introdução de sistemas de transportes integrados dando prosseguimento as redes integradas transeuropéias e implementação de sistemas de transportes inteligentes; ! Aplicação de tarifas eqüitativas e eficazes que reduzam as

distorções entre os modos de transportes e entre os Estados- membros;

! Valorização dos aspectos sociais (UNIÃO EUROPÉIA, 2002).

Outra iniciativa que merece destaque é a “Semana Européia da Mobilidade”, campanha iniciada em 2002 que contempla uma série de eventos e debates relacionados à mobilidade urbana. Nesta ocasião, autoridades, organizações não-governamentais e comunidade dos 21 países participantes podem apresentar as estratégias que vêm sendo desenvolvidas em seus territórios no sentido de construir uma base sólida para a

implementação do conceito de mobilidade sustentável. Esta campanha inclui ainda o “Dia Europeu Sem Carros” que tem por objetivo encorajar a adoção de modos de transportes sustentáveis e promover a conscientização da comunidade sobre os impactos ambientais oriundos dos transportes.

A Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável, através do Painel Setorial sobre Transportes, permitiu definir, por sua vez, um conjunto de objetivos, metas e ações para o setor de transportes em Portugal, no contexto dos Domínios Estratégicos estabelecidos pela ENDS, citados no Capítulo 3 deste documento. Neste trabalho foi realizada ainda uma revisão dos indicadores de transportes incluídos no Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (SIDS) proposto pelo Instituto do Ambiente, além da proposição de novos indicadores a fim de complementar este sistema. Dentre os indicadores analisados pelo Painel Setorial sobre Transportes em nível nacional, incluem-se:

! Ecoeficiência do setor de transportes; ! Idade média dos veículos;

! Passageiros transportados por modo de transporte; ! Estrutura da rede viária;

! Acidentes rodoviários;

! Carga transportada por unidade do PIB;

! Passageiros transportados por unidade do PIB (INSTITUTO DO AMBIENTE, 2002b).

Já no Brasil, o conceito de mobilidade urbana sustentável ainda é pouco explorado, e somente recentemente alguns esforços têm sido notados no sentido de melhor definí-lo. Dentre eles, cabe destacar a iniciativa do recém criado Ministério das Cidades, através da Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, a qual tem se empenhado em formular uma definição para o tema, de modo a nortear os trabalhos a serem desenvolvidos. Esta definição procurou, de um modo geral, incluir os princípios de sustentabilidade econômica e ambiental, além da questão da inclusão social, que constituem a base do conceito de desenvolvimento sustentável propriamente dito. Conforme o documento divulgado pela secretaria, mobilidade urbana sustentável pode ser assim definida:

“Mobilidade Urbana Sustentável é o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que visam proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos de transporte coletivo e não motorizados de maneira efetiva, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável” (ANTP, 2003b).

A Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana é, portanto, a principal responsável por conduzir os trabalhos no sentido de implementar o conceito de mobilidade sustentável no país. Esta secretaria encontra-se subdividida em três departamentos com suas respectivas gerências, apresentados a seguir:

! Departamento de Regulação e Gestão, subdividido nas gerências de Regulação, Desenvolvimento da Gestão e Integração Metropolitana;

! Departamento de Cidadania e Inclusão Social, subdividido nas gerências de Inclusão Social e de Estatísticas e Pesquisas; ! Departamento de Mobilidade Urbana, subdividido nas

gerências de Integração das Políticas de Mobilidade, Financiamento e Infra-estrutura e Desenvolvimento Tecnológico.

No que se refere ao desenvolvimento de medidas voltadas a monitorar as condições de mobilidade no país, ainda são poucas as iniciativas empreendidas no Brasil. Neste sentido, um trabalho que visa desenvolver um sistema de informações técnicas sobre transporte público e trânsito vem sendo desenvolvido pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Este sistema busca integrar dados gerados por órgãos destes dois segmentos em cidades com população superior a 60 mil habitantes, abrangendo um número aproximado de 300 municípios brasileiros.

Na primeira etapa do processo de construção desta ferramenta, foram definidos os blocos de informação que irão compor o sistema e as interações que os mesmos iriam estabelecer, além dos recursos técnicos necessários para a implementação do projeto. Já

os principais critérios para a escolha dos indicadores basearam-se na pertinência dos mesmos para as questões relacionadas ao transporte público e trânsito, além da sua viabilidade de operacionalização. Mesmo consciente da relevância de determinados indicadores, a comissão responsável pelo projeto reconhece a dificuldade em desenvolvê-los, uma vez que muitas das informações necessárias para a construção dos mesmos não estão disponíveis para o universo de cidades abrangidas pelo sistema (ANTP, 2003c).

A carência de dados e informações é, portanto, um dos principais problemas associados à construção de indicadores de mobilidade. Neste sentido, outras questões pertinentes relacionadas ao desenvolvimento destes indicadores são tratadas na próxima seção.