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Considerações sobre o desenvolvimento sustentável

3. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

3.3. Considerações sobre o desenvolvimento sustentável

Uma vez inseridos em contextos distintos, é natural que Brasil e Portugal apresentem abordagens um pouco diversas no que diz respeito à questão do desenvolvimento sustentável. No entanto, iniciativas a fim de promover a sustentabilidade dos centros urbanos já podem ser identificadas nos dois países.

Portugal, no contexto da União Européia, apresenta não só inúmeras iniciativas locais, como dispõe de uma série de instrumentos políticos e institucionais de cooperação com as demais nações européias em prol do desenvolvimento sustentável. Algumas das principais estratégias formuladas em nível nacional e continental, bem como o papel desempenhado pelas principais instituições envolvidas neste processo, são resumidos a seguir.

Dentre as iniciativas em nível continental empreendidas na Europa, vale destacar a Campanha das Cidades e Vilas Européias Sustentáveis, originada no final de conferência sobre o tema realizada em maio de 1994, na Dinamarca, onde ocorreu a assinatura da “Carta das Cidades e Vilas Européias para a Sustentabilidade” (Carta de Aalborg). Esta campanha, da qual Portugal é participante, tem por objetivo principal encorajar e apoiar cidades e vilas nas suas ações com vista à sustentabilidade através da construção da Agenda 21 Local. A fim de contribuir para este processo, o International

Council for Local Environment Initiatives (ICLEI) disponibiliza o Guia Europeu de

Planejamento para a Agenda 21 Local, que esboça passo a passo o processo de desenvolvimento de um Plano de Ação Ambiental, que pode ser utilizado por cada país membro da UE para criar sua própria Agenda 21 Local (ICLEI, 2000).

No que diz respeito às atividades desenvolvidas pela União Européia no campo da sustentabilidade cabe destacar a estratégia formulada em dezembro de 1999 tendo em

vista um desenvolvimento sustentável em nível econômico, social e ecológico. Na fase inicial deste trabalho foram identificados seis temas principais que deveriam ser considerados de forma prioritária no contexto da União Européia, resumidos a seguir:

! Alterações climáticas e energia limpa; ! Saúde pública;

! Gestão dos recursos naturais; ! Pobreza e exclusão social; ! Envelhecimento da população;

! Mobilidade, utilização do solo e desenvolvimento territorial (UNIÃO EUROPÉIA, 2001).

A Comissão Européia é responsável ainda pelo Quinto Programa de Ação Ambiental: Rumo à Sustentabilidade (1992-2000). Elaborado paralelamente à Agenda 21, tem o objetivo de integrar políticas, leis e projetos em um programa global orientado para o desenvolvimento sustentável. Segundo avaliação da própria Comissão Européia, 70 % dos compromissos assumidos no nível da União Européia foram cumpridos, no entanto, ainda é bastante difícil avaliar os progressos realizados em cada um dos países membros.

No nível do continente europeu deve ser destacada também a Estratégia de Lisboa, formulada em 2001, a qual estabelece um compromisso para a renovação econômica, social e ambiental no nível da União Européia. Esta estratégia baseia-se em um conjunto de medidas que visam promover um maior dinamismo econômico e aumento da oferta de empregos, além de políticas sociais e ambientais capazes de garantir o desenvolvimento sustentável e a inclusão social.

No que diz respeito às iniciativas de caráter local desenvolvidas em Portugal, a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS) constitui um dos principais instrumentos disponíveis no país. Elaborada no âmbito da Agenda 21, tem como base quatro Domínios Estratégicos:

! O território como um bem a ser preservado; ! Melhoria da qualidade do ambiente;

! Produção e consumo sustentáveis das atividades econômicas;

! Construção de uma sociedade solidária e do conhecimento (INSTITUTO DO AMBIENTE, 2002a).

A ENDS segue ainda uma estrutura baseada em um conjunto de Painéis Setoriais que incluem os seguintes temas:

! Pescas; ! Agricultura,

! Desenvolvimento Rural e Florestas; ! Transportes;

! Economia;

! Ambiente e Ordenamento do Território;

! Aspectos Sociais e Questões Financeiras e Fiscais.

A comunidade como um todo é encorajada a participar da construção da ENDS, analisando os documentos elaborados no âmbito de cada um dos Painéis Setoriais, disponíveis através da Internet, e enviando comentários e sugestões diretamente ao Instituto do Ambiente, responsável pela coordenação geral do projeto.

Já no Brasil, os esforços no sentido de promover o desenvolvimento sustentável concentram-se na construção da Agenda 21 Brasileira, coordenados pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional - CPDS. A Agenda 21 Brasileira, compromisso assumido pelo Brasil durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92), consiste em um plano estratégico de desenvolvimento sustentável para o país, que envolve não só o setor público como também a sociedade civil (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2003).

No processo de construção da Agenda 21 Brasileira foram identificados seis temas centrais, de modo a integrar toda a diversidade e complexidade do país e suas regiões dentro do conceito da sustentabilidade ampliada, incluindo:

! Agricultura Sustentável; ! Cidades Sustentáveis;

! Infra-estrutura e Integração Regional; ! Gestão dos Recursos Naturais;

! Redução das Desigualdades Sociais;

! Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável.

Para cada tema foi realizado um trabalho de consulta aos diferentes segmentos da sociedade, procurando, por meio de workshops e seminários abertos ao público, envolver todos os setores que se relacionam com os temas em questão. Os resultados do trabalho de consultoria realizado durante o ano de 1999 foram sistematizados e consolidados em seis publicações, conforme os seis eixos temáticos identificados, sendo um deles referente às Cidades Sustentáveis. Neste documento foram identificadas estratégias para auxiliar na formulação e implementação de políticas urbanas fundadas nos princípios do desenvolvimento sustentável definidos pela Agenda 21. A dimensão ambiental, por sua vez, mereceu destaque dentro das políticas a serem adotadas em todos os níveis de governo.

Ainda que distribuídas de modo desigual pelo país, merecem destaque também algumas iniciativas de desenvolvimento de Agendas 21 Locais para municípios brasileiros, tais como as de:

! Porto Alegre, Pelotas e Santa Cruz do Sul, Florianópolis, Blumenau, Joinville, Curitiba e Londrina, na Região Sul; ! São Paulo, Piracicaba, Santos, Sete Lagoas, Juiz de Fora,

Angra dos Reis, Barra Mansa, Vitória e Vila Velha, na Região Sudeste;

! Campo Grande, Corumbá, Goiânia e Cuiabá, na Região Centro-Oeste;

! Santarém, Pimenta Bueno e Boa Vista dos Ramos, na Região Norte;

! São Luiz, Teresina, Sobral, Petrolina, Olinda, Arapiraca e Vitória da Conquista, na Região Nordeste.

A Figura 7 ilustra a distribuição das iniciativas de desenvolvimento de Agendas 21 Locais para as diferentes regiões brasileiras, registradas pela Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável - SDS e pelo Ministério do Meio Ambiente - MMA até o mês de junho de 2003.

Propostas de Agendas 21 Locais por Região 32% 13% 9% 7% 39% Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste Norte

Figura 7: Propostas de Agendas 21 Locais para as regiões brasileiras

Fonte: Adaptado de MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (2003).

Para o Brasil também deve ser considerado o papel desempenhado pelo recém criado Ministério das Cidades, que, por meio da Secretaria Nacional de Programas Urbanos, busca estimular o desenvolvimento de processos participativos e democráticos que contribuam para a melhor organização do espaço urbano. O ministério é responsável ainda pelo Sistema Nacional de Indicadores Urbanos (SNIU), o qual disponibiliza, via

Internet, dados sobre 5507 municípios brasileiros (MINISTÉRIO DAS CIDADES,

2003).

Conclui-se que, independente da definição ou conceituação teórica adotada tanto para sustentabilidade como para sustentabilidade urbana, devem ser criadas estratégias para sua implementação em diferentes níveis. Estas estratégias envolvem a definição cuidadosa dos elementos que a influenciam, além da identificação e análise de indicadores, que deverão refletir o estágio atual de desenvolvimento de uma determinada comunidade ou área geográfica.

Deste modo, após apresentados os principais conceitos relacionados à sustentabilidade urbana e algumas iniciativas empreendidas no sentido de promovê-la no Brasil e em Portugal, no próximo capítulo são discutidas questões relativas aos indicadores e sua aplicação para monitoração das condições de sustentabilidade nos dois países.