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Considerações sobre os achados de correlação entre as Escalas do ITRA

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

DANOS PSICOLÓGICOS (EADRT)

5.6 Considerações sobre os achados de correlação entre as Escalas do ITRA

Ao se avaliar as correlações entre os fatores que compõem as escalas do ITRA observou-se que os trabalhadores com melhor avaliação da organização do trabalho também avaliaram positivamente as relações socioprofissionais, o esgotamento profissional, condições de trabalho, o custo cognitivo e os danos sociais relacionados ao trabalho.

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Dessa forma, os fatores que avaliam o risco de adoecimento em função do contexto de trabalho se correlacionaram positivamente, indicando que boas condições laborais, somadas a uma organização do trabalho flexível repercutem positivamente nas relações que se estabelecem entre os trabalhadores e, consequentemente, em sua condição de saúde.

Segundo Mendes (2007) é a partir da análise de situações saudáveis, caracterizadas pelas mediações bem-sucedidas diante das contradições da organização do trabalho, causadoras de sofrimento, que se compreendem as patologias, uma vez que falhas dessas mediações impedem a mobilização subjetiva e levam a patologização das defesas.

Neste estudo também se evidenciou que uma melhor organização do trabalho implica em menor dispêndio cognitivo e esgotamento emocional dos trabalhadores. Corroborando com estes achados Mauro et al., (2010) explicitam que o ritmo de trabalho acelerado da enfermagem, na maioria das vezes se deve ao acúmulo de funções, em virtude da inadequação de recursos humanos e materiais, que exige do trabalhador um empenho adicional de energia para desenvolver suas atividades, causando uma sobrecarga que contribui para o desgaste psíquico e físico do trabalhador de enfermagem que atua no ambiente hospitalar.

As condições de trabalho adequadas se correlacionaram a melhores relações socioprofissionais, a um menor custo físico, esgotamento profissional, danos físicos e sociais aos trabalhadores de enfermagem do serviço de hemodiálise. Assim, é possível afirmar que condições de trabalho inadequadas representam um maior dispêndio físico para a realização das tarefas, o que implica em esgotamento e adoecimento físico do trabalhador.

Nessa direção, o estudo de Magnago, Lisboa e Griep (2008) evidenciaram um crescimento no adoecimento muscoesquelético dos trabalhadores de enfermagem, que tem como fator de risco a inadequação das condições de trabalho.

As lesões por esforços repetidos possuem uma relação direta com a organização do trabalho em uma dinâmica que oscila entre o sofrimento psíquico e somático. Nessa relação, a condição de saúde do trabalhador é enfraquecida por uma combinação de efeitos específicos causadas pela repetição de tarefas, restrição de tempo e exigência de produtividade. As pressões não atingem primeiro o corpo, nas articulações ou tendões, os primeiros sintomas ocorrem a nível de funcionamento mental (DEJOURS, 2000; MENDES e ROSSI, 2009).

Manneti e Marziale (2007) apontam como fatores internos associados à ocorrência de depressão no trabalho da enfermagem as relações sociais, a organização e as condições de trabalho nas instituições hospitalares. Nessa compreensão, ratifica-se que as condições de trabalho quando adequadas são, de certa forma, estruturantes psíquicos para que o trabalhador

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possa exercer suas atividades, sendo uma forma de valorização do trabalhador (REGO et al., 2007).

Os conflitos nas relações socioprofissionais se correlacionaram positivamente como sofrimento no trabalho pelo esgotamento profissional, dispêndio físico e cognitivo dos trabalhadores de enfermagem pesquisados.

No que se refere à correlação entre as relações socioprofissionais e o desgaste profissional, autores afirmam que a sobrecarga de trabalho e o pouco tempo para o descanso comprometem a saúde mental do trabalhador de enfermagem e podem causar problemas pessoais, dificuldade nas relações interpessoais, comprometendo o desempenho das atividades profissionais (ELIAS e NAVARRO, 2006; MAURO et al., 2010).

No que se refere às exigências relacionadas ao trabalho, os trabalhadores com avaliação mais crítica em relação ao custo físico apresentaram avaliação mais negativa quanto aos danos físicos relacionados ao trabalho. A correlação direta entre estes dois fatores, além de esperada, retrata uma situação preocupante, uma vez que no serviço estudado o custo físico representa risco grave de adoecimento.

A este respeito Campos (2008) menciona que a enfermagem exerce atividades essencialmente manuais como o preparo e a administração de medicamentos, a realização de curativos e procedimentos, o exame físico, a higiene e alimentação, dentre outras, fazendo com que o trabalho ocupe uma posição menos importante aos olhos dos pacientes, familiares e dos próprios profissionais quando comparados ao trabalho dos médicos.

Nesta investigação, as exigências cognitivas apresentaram correlação direta com as afetivas no trabalho da enfermagem no serviço de hemodiálise. Esta correlação pode ser explicada ao se considerar que o cuidado envolve a pessoa em sua totalidade com suas habilidades técnico-científicas e seus sentimentos, a motivação, o desejo de aliar o humano ao técnico. Assim, inexiste a possibilidade de se realizar atividades técnicas de alta precisão, se as emoções não estiverem lado a lado, acompanhando cada procedimento, cada instante da realização do cuidado (CUNHA e ZAGONEL, 2008).

Nessa direção, Mauro et al., (2011) expressam que geralmente o contrato de trabalho define as condições laborais, incluindo a carga horária, a jornada, as atividades a serem desenvolvidas e a remuneração, dentre outros aspectos. No entanto, é preciso considerar outros aspectos que não constam no contrato de trabalho como as tensões, cobranças, o clima organizacional e que o trabalhador vai conhecendo no dia a dia. Tais aspectos se traduzem em exigências no trabalho, as quais se correlacionam com outros aspectos dos contextos laborais, como evidenciam os resultados deste estudo.

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Como mencionado anteriormente, é possível perceber empiricamente, que no cotidiano de trabalho da enfermagem no serviço de hemodiálise as exigências decorrentes do contexto laboral se consubstanciam. Em muitos momentos o trabalhador precisa lançar mão de suas habilidades cognitivas a fim de resolver problemas, lidar com imprevistos, intermediar conflitos com os pacientes e sensibilizá-lo quanto à necessidade de adesão ao tratamento. Em outros, o trabalhador utiliza suas habilidades afetivas a fim de que o cuidado não se torne um ato meramente técnico.

A soma de diversas exigências, especialmente de cunho emocional, no trabalho da enfermagem no serviço de hemodiálise justifica a correlação direta entre as exigências afetivas e os danos psicossociais relacionados ao trabalho.

Conforme Cordenuzzi (2011), o estabelecimento de relações interpessoais entre os trabalhadores e os pacientes em hemodiálise permeia a atuação profissional neste contexto laboral, de modo que o paciente divide questões pessoais, significações e sentimentos com a equipe de enfermagem que passa a agregar a sensação de ser a única ou a última alternativa para o paciente se expressar. Esta descrição evidencia a elevada sobrecarga emocional no trabalho da enfermagem no serviço de hemodiálise e remete a correlação entre as exigências afetivas e os danos relacionados ao trabalho neste contexto de atuação da enfermagem.

A vivência de prazer no trabalho por meio da realização profissional se correlacionou de forma direta com o prazer diante da liberdade de expressão, ou seja, as vivências de prazer no trabalho se correlacionam com outros sentimentos de bem-estar, o que pode conferir satisfação adicional ao trabalhador e proteção à saúde.

Conforme os preceitos de Dejours, o prazer pela realização profissional se correlacionou de forma inversa com o sofrimento no trabalho manifestado pelo esgotamento profissional e pela falta de reconhecimento. Da mesma forma, houve correlação inversa entre o prazer e os danos sociais no trabalho.

Assim, ratifica-se a concepção de que o prazer e o sofrimento compõem um constructo único, dialético (DEJOURS, 2000; FERREIRA e MENDES, 2003; SILVA, 2007). Conforme Silva (2007) essas vivências são determinadas pelo contexto de produção de bens e serviços, com qual o trabalhador interage, buscando o prazer e evitando o sofrimento.

Os resultados do estudo convergem com o referencial da psicodinâmica do trabalho, na medida em que a ausência de prazer no trabalho ou a não (re)significação do sofrimento tendem a potencializar o sofrimento pelo esgotamento profissional e falta de reconhecimento que, se prolongados, podem causar danos ao trabalhador.

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Essa questão também pode ser percebida ao se analisar que além se correlacionarem entre si, os fatores de sofrimento no trabalho apresentaram correlação com os danos relacionados ao trabalho.

Da mesma forma, os danos sociais se correlacionaram diretamente com os danos com os danos físicos e psicológicos, ou seja, os trabalhadores com avaliação mais crítica em relação aos danos sociais também avaliaram de forma mais negativa os danos físicos e psicológicos relacionados ao trabalho.

Essa correlação pode ser explicada ao se considerar que o trabalho é uma atividade que envolve o homem em todas suas dimensões, exercendo importante papel na construção da subjetividade humana, e como tal, um elemento constitutivo da saúde mental e coletiva (ANCHIETA et al., 2011).

Baggio e Formaggio (2008) inferem que o estresse vivenciado no cotidiano de trabalho da enfermagem parece ter origem em um ciclo vicioso de trabalho, desgaste, trabalho, desgaste. Dessa forma, o ambiente laboral contribui significativamente para o descuidado de si dos trabalhadores de enfermagem, em função da grande demanda de atividades, exigências e tarefas a cumprir, o que remete ao esgotamento emocional e aos danos relacionados ao trabalho em trabalhadores de enfermagem.

5.7 Considerações sobre riscos de adoecimento e afastamento do trabalho por motivo de