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CONSIDERAÇÕES SOBRE O PAPEL ANTIOXIDANTE E A CAPACIDADE PROTETORA CONTRA AS CONVULSÕES

O desenvolvimento de alterações neurológicas, em geral, é acompanhado pela liberação de glutamato e está relacionado a inúmeros eventos fisiopatológicos, que são mediados pela sobrecarga de cálcio nas células neuronais (DOBLE, 1999; MELDRUM, 2000). Esses eventos também envolvem ativação de lipases e proteases (com conseqüente dano da membrana celular); ativação de óxido nítrico sintases indutíveis (que, juntamente com EROs, destroem lipídios);

danos das proteínas de membrana e do DNA e aumento da liberação de ácido aracdônico, que inicia a formação de EROs (MARINI et al., 2004).

O status epilepticus é considerado uma condição emergencial, onde as convulsões duram por um longo período e, se não controladas, levam à injúria neuronal (CHERLYEE; THOMOS, 1995). Os radicais livres e EROs parecem exercer papel fundamental na gênese dessa neurotoxicidade.

A diminuição na produção de nitrito e estabilização da atividade da catalase em hipocampo e corpo estriado e, ainda, a significativa redução da peroxidação lipídica e o aumento nos níveis de glutationa no hipocampo, evidenciados no presente trabalho, revelaram que LEV, CNZP e MEL exercem efeitos anti-oxidantes cerebrais, que podem explicar, pelo menos em parte, as ações protetoras e anticonvulsivantes dessas drogas no modelo em estudo.

Nossos resultados permitiram, ainda, estabelecer uma correlação entre a diminuição do estresse oxidativo e conseqüente proteção contra danos nas áreas cerebrais estudadas, envolvidas na instalação e propagação das convulsões, à medida que o pré-tratamento com LEV, CNZP ou MEL aumentou significativamente a latência para a instalação das convulsões, o percentual de desenvolvimento de estado epiléptico e de morte dos animais submetidos a P400. Todavia, mais estudos são necessários para esclarecer os mecanismos precisos através dos quais essas drogas exercem seus efeitos protetores contra o estresse oxidativo neuronal e danos desencadeados pelas convulsões e pelo estado epiléptico.

VI CONCLUSÕES

A análise dos resultados apresentados neste trabalho nos permitiu concluir que:

O pré-tratamento com LEV ou CNZP exerce efeitos protetores contra as convulsões, morte e status epilepticus induzidos por P400. A administração prévia de MEL influencia, principalmente, na elevação das latências de convulsão e na proteção contra a morte. Os efeitos colinérgicos periféricos, induzidos por P400, permanecem inalterados na presença de LEV, CNZP ou MEL;

Este trabalho sugere um efeito modulador, exercido por LEV, CNZP e MEL sobre o funcionamento do sistema colinérgico muscarínico, em nível central, como mecanismo alternativo para a proteção contra as convulsões e epilepsia no modelo de P400, visto que:

LEV, CNZP e MEL reduziram a intensidade de tremores induzidos por oxotremorina, sugerindo uma modulação do sistema colinérgico por estas drogas; O pré- tratamento com LEV foi capaz de reverter a redução na atividade da enzima AChE em hipocampo, induzida por P400, enquanto CNZP e MEL desencadearam aumentos na atividade da AChE quando administrados isoladamente, além de reverterem a redução na atividade da enzima, induzida por P400, no hipocampo. O binding de receptores muscarínicos no hipocampo foi alterado na administração intraperitoneal de LEV e CNZP antes de P400, onde ambos reverteram a

downregulation dos receptores muscarínicos hipocampais induzida por P400.

LEV, administrado isoladamente, foi capaz, ainda, de induzir downregulation dos receptores M2-símile no hipocampo.

Nos ensaios de binding (in vitro) foi observada downregulation de receptores muscarínicos em homogenatos de hipocampo pré-incubados com LEV, CNZP ou MEL, e isto confirma uma modulação muscarínica sugerida nos estudos “in vivo”.

Na fase aguda das convulsões e status epilepticus induzidos por P400 em camundongos não ocorre alteração na densidade dos receptores dopaminérgicos hipocampais. Todavia, a downregulation dos receptores D2 hipocampais, observada nos animais tratados com

LEV, CNZP ou pré-tratados com MEL antes de P400, pode ser relevante, já que a sinalização mediada pelos receptores D2 interfere nos efeitos neurotóxicos induzidos pelo

aumento na neurotransmissão colinérgica.

A ação protetora de LEV, CNZP e MEL contra as convulsões, status epilepticus e morte, induzidos por P400, parece estar relacionada às propriedades antioxidantes diretas ou indiretas dessas drogas, através da capacidade de modificar a resposta ao estresse oxidativo neuronal, facilitando mecanismos endógenos de defesa antioxidante, visto que:

As ações anticonvulsivantes de LEV, CNZP e MEL foram potencializadas pela associação com o agente antioxidante (vitamina E);

P400 induziu elevação nos níveis de MDA (indicativo de peroxidação lipídica) em hipocampo e corpo estriado. A administração prévia de LEV ou MEL, antes de P400, reverteu o aumento nos níveis de MDA no hipocampo, enquanto o pré-tratamento com CNZP induziu queda nos níveis de MDA em hipocampo e corpo estriado;

O pré-tratamento com LEV reduziu a elevação na formação de nitrito-nitrato em hipocampo e corpo estriado, induzida por P400, enquanto a administração de CNZP ou MEL reduziu a formação desses produtos do estresse oxidativo no hipocampo. A atividade da enzima antioxidante catalase, exacerbada na administração de P400 foi

normalizada no pré-tratamento com LEV ou CNZP em hipocampo e corpo estriado e com MEL no hipocampo;

Os níveis fisiológicos da enzima antioxidante GHS em hipocampo e corpo estriado, depletados sob a administração de P400, foram normalizados pela pré-administração de LEV (GSH hipocampal) ou CNZP (GSH hipocampal e estriatal), enquanto MEL,

administrada isoladamente, ou antes de P400, elevou os níveis de GSH em ambas as áreas cerebrais;

O aumento na formação de MDA, nitrito-nitrato e da atividade da catalase nos homogenatos cerebrais submetidos ao choque térmico (in vitro), parâmetros indicativos de estresse oxidativo, foram alterados de forma significativa pela incubação prévia com LEV, CNZP ou MEL, onde estas drogas foram capazes de reduzir os níveis de MDA, de nitrito-nitrato e, ainda, estabilizar da atividade da catalase, potencializando, assim, a atividade enzimática antioxidante endógena e a capacidade de inativação de radicais livres.

Ainda no modelo de estresse oxidativo por choque térmico, a incubação com LEV, CNZP e MEL produziu elevações de GSH em relação aos homogenatos não incubados com estas drogas. Dessa forma, ainda que LEV e CNZP não possuam capacidade de remover diretamente os radicais livres e espécies oxidativas, poderiam fazê-lo através da indução da atividade de antioxidantes endógenos cerebrais, como GSH.