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DESENVOLVIMENTO DA

HABITAÇÃO SOCIAL NO

PERÍODO PÓS-BNH

(1987 ATÉ 2010)

Parte 1 - CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA HABITACIONAL ATÉ O FIM DO BNH

Moura destaca que, em Pelotas, os registros e documentação envolvendo o século XIX e primeiras décadas do século XX descrevem, predominantemente, a moradia e as iniciativas tomadas pelos setores dominantes no sentido de transformar as cidades coloniais em núcleos urbanos modernos. No final do século XIX, são construídos os edifícios neoclássicos que caracterizam a cidade até hoje, sendo que esses casarões erguidos em frente às praças davam maior significado aos espaços públicos31. É nessa época que a moradia popular passa a ser incluída entre os problemas da cidade32. Schlee evidencia esse contraste, destacando a necessidade dos setores mais abastados em erigir um modo de vida exclusivo ...

[...] capaz de, por si só, diferenciar aqueles ricos senhores dos demais gaúchos, e até mesmo de parte dos pelotenses, que estavam à margem daquela sociedade. Esse novo „modus vivendi‟ manifestou-se sobretudo na cidade [...] através de um programa de melhoramentos urbanos e de construções públicas e privadas de altíssimo gabarito, que modificaram totalmente a fisionomia de Pelotas33.

Assim, a cidade de Pelotas ficou conhecida por muitos de seus monumentos, tornando-se farta a literatura sobre a arquitetura neoclássica e eclética do município, e menos referenciada, a que menciona as casas onde viviam os trabalhadores. A esse respeito, De Gregório salienta que a história da arquitetura dá atenção preferencialmente aos domicílios paradigmáticos. O autor, ao mesmo tempo, discute, com propriedade, o significado desses edifícios, questionando se são realmente um reflexo de uma história coletiva ou apenas peças de uma história oficial34.

Sendo escasso o registro das soluções habitacionais populares em Pelotas, as pesquisas realizadas por Moura35 são peças importantes para compreender o desenvolvimento da habitação social até meados século XX. Também, constituem-se em uma pertinente referência o trabalho elaborado por Soares36, responsável por um estudo da morfologia urbana e da produção do espaço da cidade de Pelotas até o final do século XX, assim como os estudos desenvolvidos por Gill, que, ao discutir as diferentes representações sobre a tuberculose,

31 SOARES, Paulo Roberto Rodrigues. Del proyecto urbano a la producción del espacio: morfología urbana de la ciudad de Pelotas, Brasil. (1812-2000). Barcelona, 2002. 507 f. Tese (Doutorado) Universidad de Barcelona. 32 MOURA, Rosa Maria Garcia Rolim de. Op. cit., 2006.

33 SCHLEE, Andrey Rosenthal. O ecletismo na arquitetura pelotense até as décadas de 30 e 40. Porto Alegre, 1994. 222 f.. Dissertação (Mestrado em Arquitetura). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Programa de Pós Graduação em Arquitetura. UFRGS/PROPAR. 1994.

34 DE GREGÓRIO, Roberto. La casa criolla popularmente llamada la casa chorizo. Ed. Nobuko. Buenos Aires: 2006. p. 11.

35 Em especial, MOURA, Rosa Maria Garcia Rolim. Modernidade pelotense, a cidade e a arquitetura possível: 1940-1960. Dissertação de Mestrado – Curso de Pós-graduação em História do Brasil, Porto Alegre, 1998. p. 92 e MOURA, Rosa Maria Garcia Rolim de. Op. cit., 2006.

principal causadora de mortes no século XIX, em Pelotas - sobretudo entre a população mais pobre - colocou em evidência a situação de moradia desses trabalhadores37.

É bem lembrado por Agnes Heller que a tarefa do historiador consiste em apreender, dentro da continuidade histórica, as descontinuidades38. A organização de um texto historiográfico necessita de uma periodização, cujo divisor de águas entre os distintos períodos é estabelecido a partir dos momentos em que se observam mudanças decisivas. Heller alerta que uma mesma realidade pode ser caracterizada de formas variadas, dependendo da visão de mundo do autor. Desse modo, é possível entender as diferentes concepções de mundo através da interpretação dos momentos críticos definidos por diversos historiadores, comparando as determinações temporais de demarcação da linha do tempo39.

A historiografia registra a ação do Estado brasileiro, dividida em quatro momentos, numa periodização acolhida por vários historiadores contemporâneos. Portanto, sendo referenciais os estudos de Azevedo e Andrade (1982) 40, FINEP/GAP (1985) 41, Maricato (1987) 42, Bonduki (1998) 43, Chiarelli (2000) 44, Fagnani (2005) 45, Azevedo (2007) 46, Bonates (2008) 47, é possível identificar, na evolução da política habitacional, as seguintes fases:

37 GILL, Lorena Almeida Gill. Um mal de século: tuberculose, tuberculosos e políticas de saúde em Pelotas (RS) 1890-1930. Porto Alegre, 2004. 279 f. Tese (Doutorado em História). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2004.

38HELLER, Agnes. Teoria de la historia. Barcelona: Fontamara, 1993. 39HELLER, Agnes. Op. cit., 1993.

40AZEVEDO, Sérgio de; ANDRADE, Luís A. da Gama. Habitação e poder. Da fundação da casa popular ao Banco Nacional de Habitação. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

41FINEP-GAP. Habitação Popular: Inventário da ação governamental, vol. 1. Rio de Janeiro: FINEP, 1983. 42MARICATO, Ermínia. Política habitacional no regime militar. Petrópolis: Vozes, 1987. 96p.

43BONDUKI, Nabil Georges. Origens da habitação popular no Brasil: Arquitetura moderna, Lei do inquilinato e difusão da casa própria. 2. ed. São Paulo: Estação Liberdade / Fapesp, 1998. 342p.

44CHIARELLI, Lígia Maria Ávila. A promoção de conjuntos residenciais em Pelotas: estudo de caso para o financiamento adotado pelas empresas construtoras, após a extinção do BNH. 2000. 172 f. Dissertação

(Mestrado em Serviço Social) Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Universidade Católica de Pelotas. Pelotas: 2000.

45FAGNANI, Eduardo: Política Social no Brasil (1964-2002) – Entre a cidadania e a caridade. 2005. 570 f. Tese (Doutorado) Instituto de Economia. Unicamp. Campinas: 2005. Disponível em:

http://www.neppos.unb.br/publicacoes/Politica%20Social%20no%20Brasil%20(1964-2002).pdf. Acesso em 12 de agosto de 2013.

46AZEVEDO, Sérgio de. Desafios da Habitação Popular no Brasil: políticas recentes e tendências. In: CARDOSO, Adauto Lúcio (org.). Habitação social nas metrópoles brasileiras: uma avaliação das políticas habitacionais em Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo no final do século XX. Porto Alegre: ANTAC, 2007. p.13-41.

47BONATES, Mariana Fialho. O Programa de Arrendamento Residencial - PAR: acesso diferenciado à moradia e à cidade. In: Risco: Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo. São Carlos, n. 7, 2008. Disponível em http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-45062008000100010

A partir dessa sistematização, considerando a localização da cidade (no extremo sul do Brasil e longe dos demais centros), o desenvolvimento urbano típico da região dos pampas e a produção dos conjuntos implantados no município, é possível estabelecer uma sistematização especifica para Pelotas, relacionada a essa distribuição temporal mais abrangente.

Para isso partiu-se dos dados coletados sobre os conjuntos habitacionais produzidos, em Pelotas, de 1956 a 2010, que estão relacionados na Tabela A e Tabela B do Apêndice 148. Para a realidade de Pelotas, as delimitações temporais, utilizadas para a demarcação da linha do tempo, foram as seguintes:

 O primeiro conjunto habitacional em Pelotas é licenciado em 1956, por ação do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Servidores do Estado (IPASE);

 O primeiro empreendimento formado por blocos de apartamentos com financiamento através do Banco Nacional de Habitação (BNH) é aprovado em 1966;

 O primeiro conjunto licenciado após a extinção do BNH é habilitado em 1988 e  O último conjunto credenciado pelo programa Minha Casa, Minha Vida, Fase 1 é

habilitado em 2010.

Tendo como base a sistematização a respeito da política habitacional em âmbito nacional e a relação de conjuntos dispostos por ordem de ano de licenciamento, foi possível definir

48 Apêndice 1: Tabela A - Relação dos conjuntos habitacionais licenciados em Pelotas até o fim do BNH (1956- 1986) e Tabela B - Relação dos conjuntos habitacionais licenciados em Pelotas após o fim do BNH (1987-2010).

a) 1822-1929 - Período que vai da Independência do Brasil até a República Velha, ou fase do autoritarismo

sanitário;

b) 1930-1963 - fase que inicia com a Revolução de 30 e vai até o Regime Militar; que corresponde à

implantação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) e à efetivação da Fundação da Casa Popular;

c) 1964 -1986 - Período que corresponde ao Regime Militar ou Período BNH; e

também quatro fases: Autoritarismo Sanitário; Período PRÉ-BNH; Período BNH; e Período PÓS-BNH.

Nesse contexto, a Tabela 1.1 registra uma nova síntese, incluindo uma pequena variação em relação à sistematização elaborada com base na literatura, uma vez que as ações do Estado em relação às políticas públicas habitacionais vão aparecer tardiamente no município.

Tabela 1.1 – Adaptação da Política habitacional brasileira para Pelotas Periodização da política habitacional

brasileira conforme a literatura Periodização adequada à realidade de Pelotas conforme a visão da autora

Número de conjuntos produzidos 1º Período 1822-1929; Autoritarismo Sanitário (108 anos) 1º Período 1822-1955. Autoritarismo Sanitário (134 anos) 0 2º Período: 1930-1963. Período dos IAPs

(34 anos) 2º Período: 1956-1965. Período PRÉ-BNH (10 anos) 3 3º Período: 1964-1986. Período BNH (23 anos) 3º Período: 1966-1986. Período BNH (21 anos) 49 46 4º Período: 1987-2010. Período Pós-BNH (24 anos) 4º Período: 1987-2010. Período Pós-BNH (24 anos) 43 Total 92

Fonte: Relação dos conjuntos habitacionais licenciados em Pelotas até o fim do BNH (1956-1986) e Relação dos conjuntos habitacionais licenciados em Pelotas após o fim do BNH (1987-2010).

Por essa compilação da Tabela, depreende-se que, até o ano de 1955, não há licenciamento de nenhum conjunto habitacional. No total, em cerca de 50 anos, foram licenciados 92 conjuntos formados por condomínio de apartamentos.

Capítulo 1

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