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Considerações sobre o programa da disciplina de física no cefet BA

A disciplina de Física, pertencente à base comum de todos os cursos na modalidade integrado ao nível médio, possui seu programa baseado em três campos:

1. Representação e Comunicação; 2. Investigação e compreensão; 3. Contextualização sócio-cultural.

Esses campos estão diretamente relacionados com as competências e habilidades recomendadas nas diretrizes curriculares e algumas delas refletem a preocupação com uma formação humanista, contextualizada com outras áreas, além do desenvolvimento da

autonomia e responsabilidade social no estudante. Selecionei algumas que corroboram com os aspectos aqui levantados:

• Articular o conhecimento físico com conhecimentos de outras áreas do saber científico”;

• Reconhecer a Física enquanto construção humana, aspectos de sua história e relações com o contexto cultural, social, político e econômico.

• Reconhecer o papel da Física no sistema produtivo, compreendendo a evolução dos meios tecnológicos e sua relação dinâmica com a evolução do conhecimento científico. • Dimensionar a capacidade crescente do

homem propiciada pela tecnologia.

• Estabelecer relações entre o conhecimento físico e outras formas de expressão da cultura humana.

• Ser capaz de emitir juízos de valor em relação a situações sociais que envolvam aspectos físicos e/ou tecnológicos relevantes. (PCN+ Ensino Médio, 2002, p.63-68). Atualmente sua carga horária é de três aulas semanais ao longo das três primeiras séries. Seu programa reúne os seguintes conteúdos por série:

• Primeira série: Mecânica (Cinemática, estática, Leis de Newton energia, colisões)

• Segunda série: Gravitação, Mecânica dos fluídos, termodinâmica, ótica, Hidrodinamica;

• Terceira série: Eletrostática, Eletrodinâmica, Eletromagnetismo e tópicos de Física Moderna.

Após a leitura de algumas das competências e habilidades sugeridas no próprio programa aqui expostas e os conteúdos propostos para as três séries, pode-se perceber certo “abismo”, entre ambas. É como se soubéssemos de tudo que é necessário para uma boa formação humanista, social, cultural, mas as amarras que temos no cumprimento de um vasto conteúdo, nos deixa “engessados”,dificultando todos os movimentos que poderia facilitar a promoção de uma formação na perspectiva humanista, ética e sócio-cultural.

programas. Acredito que um ponto que favorece essa dificuldade de reforma é o fato de historicamente a disciplina possuir uma “fama” de atender não só aos cursos técnicos como também aos programas dos vestibulares, favorecendo os estudantes que pretendem ingressar nas Universidades.

Um fator que tem dado sustentação ao ensino essencialmente disciplinar (e que tem sido usado de forma muito intensa pelos professores como justificativa da importância da sua disciplina) é o objetivo de preparar o aluno para o vestibular (BETTANIN, 2003, p.5).

Outro ponto que acredito dificultar essa reformulação é a formação conteudista de nós professores, na verdade, reproduzimos o que nos foi posto na graduação. Para Eleanni Bettani,

[...] a capacitação deve começar a acontecer na formação inicial (graduação); esta é uma etapa que deve ser considerada em qualquer processo de reforma educacional, porque é a partir dela que novos conhecimentos e novas metodologias entrarão na escola (BETTANI, 2003, p 6). Outro fator que julgo importante registrar é a falta de colaboração do livro didático em promover ou levantar reformulações que contribuam nesse processo. Apesar de alguns autores inserir textos que reportem a tópicos de Física Moderna, História da Ciência e temas atuais, percebemos que isso se dá de uma forma “tímida”, e a aplicação de fórmulas ainda é o que prevalece.

Diante das resistências e dificuldades de reformulações de um sistema disciplinar e conteudista é que buscamos estratégias que possam contribuir com a formação desejada no ensino de disciplinas científicas, ligando os conteúdos aos temas importantes da atualidade, debatendo os desafios de enfrentarmos o lado positivo e negativo das tecnologias dentre outros aspectos.

4.2 Algumas Considerações dos professores de física do CEFET-BA que ministram aulas nos cursos técnicos

Para se ter noção do nível de envolvimento dos professores de Física dos cursos técnicos do CEFET BA com os documentos norteadores dos cursos, como entendem o conceito de contextualização

e identificar quais seriam suas dificuldades e necessidades para trabalharem com temas que envolvem o enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade, Alfabetização Científica e Tecnológica, foram realizados encontros onde questões referentes a esses pontos foram colocadas. Alguns desses encontros foram gravados, em outros, os professores responderam por escrito. O objetivo destes questionamentos era colher informações que pudessem auxiliar na definição do enfoque de AC.

Todos os professores ouvidos possuem a formação em Física e trabalham no CEFET BA. A seguir, apresento os aspectos levantados, que consideramos mais relevantes:

 A maioria já ouviu falar nos PCNs, mas unanimemente não participaram de nenhuma discussão envolvendo as orientações contidas no mesmo para a disciplina Física. Quanto as DCTs quase a totalidade não tinha conhecimento do seu teor.

 Em relação ao conceito de contextualização, a tendência foi relacionar os fenômenos físicos à realidade do estudante.

 Ao se questionar sobre a possível contribuição da disciplina Física na Alfabetização Científica dos estudantes, a grande maioria alegou incapacidade de opinar sobre o tema por falta de conhecimento.

 No item que tratava da avaliação do programa da disciplina de Física, a questão mais discutida foi a precariedade da carga horária, dificultando o cumprimento do programa. Outros pontos surgiram como o baixo nível dos estudantes ao ingressarem nos cursos técnicos e o forte cunho conteudista dos programas da disciplina.

Pôde-se perceber que os professores de Física possuem predisposição para inclusão de discussões que promovam um avanço na perspectiva de temas como CTS, AC, sendo que alguns fizeram menção a própria cobrança dos estudantes por temas que estão na mídia e que não são discutidos nas aulas de ciências.

Foi significativa e consensual a preocupação em contextualizar os conteúdos desenvolvidos em sala de aula, valorizando as experiências dos estudantes. Essa preocupação me faz acreditar que é possível envolver mais professores na perspectiva de construir estratégias que favoreçam a efetivação da AC.