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Objetivos pedagógicos para act: autonomia, comunicação, domíinio,

Na sessão anterior, vimos alguns questionamentos levantados por Fourez, a respeito das dificuldades enfrentadas para uma efetiva alfabetização científica e técnica, mas o desafio favorece a diversos aspectos que podem se constituir em orientações para a promoção de uma ACT. São eles:

O bom uso dos especialistas, levando em consideração a importância dos saberes inerentes a cada profissão, como mecânico, médico, economista, mas ao mesmo tempo ter um grau de independência nas decisões, evitando o que o autor chama “abusos de saberes”. Esse abuso estaria diretamente ligado aos riscos das traduções, ou seja, a passagem entre os termos técnicos e a linguagem cotidiana. Esses processos de tradução são essenciais à prática científica e à utilização da ciência (como da tecnologia). Sem eles, o discurso científico seria inútil, já que inaplicável no cotidiano (FOUREZ, 1995).

O bom uso das “caixas pretas”, que seria uma representação do que na verdade aceitamos, sem examinarmos todos os mecanismos do seu funcionamento, as variáveis envolvidas. Nas investigações sempre teremos uma caixa preta, se levarmos em consideração que existem pontos que apesar de fazer parte da pesquisa não é relevante para o objeto de estudo. O autor coloca como exemplo que um químico não necessita abrir uma caixa preta que constitui o conceito de carga elétrica e nem um físico precisa abrir uma caixa preta sobre a noção de organismo vivo. Mas, precisa-se saber quando e como é interessante ou não abrir a caixa preta.

O contexto que está inserido o objeto de pesquisa teria que ser avaliado para que fosse evitada uma teorização inútil. Apesar de existir a corrente de pensamento científico que vê no modelo simples à imperfeição, existe também aquela que defende o uso de modelo simples como estratégia de compreender melhor uma situação e atuar

sobre ela. Para o autor essa simplificação, significa uma redução do modelo, essencial a todo pensamento científico e esse tem sido o caminho escolhido pelas matrizes curriculares que simplifica e reduz a complexidade do mundo, ele cita como exemplo a simplificação que se fez ao considerar a terra como uma esfera. Ao mesmo tempo, ele coloca que essa não é uma maneira absoluta de analisar os fatos, mas deve balisar o questionamento de quando e como se deve ensinar aos jovens o uso de modelos simples.

O uso e a criação de modelos interdisciplinares são considerados por Fourez um ponto fundamental para a alfabetização científica e técnica dos estudantes. Fourez coloca que ao longo da história da educação, os cursos possuíram um cunho disciplinar e usando o argumento que não existem problemas concretos que podem ser abordados por uma única disciplina, ele defende que para se estudar uma determinada questão, é preciso uma multiplicidade de enfoques, traduzindo dessa forma o conceito de interdisciplinaridade. Ele distingue duas perspectivas de interdisciplinaridade. A primeira espera que uma abordagem interdisciplinar construa uma nova representação do problema, que será bem mais adequada e dessa forma ela produz apenas um novo enfoque, uma nova disciplina. A segunda perspectiva, não se destina a criar um novo discurso, mas seria uma “prática”, buscando confrontar as perspectivas de especialistas de diversas formações. O objetivo não será criar uma nova disciplina científica, nem um discurso universal, mas resolver um problema concreto (FOUREZ, 1995). Fourez coloca que a diferença entre as duas perspectivas é que a primeira ao pretender relacionar diferentes disciplinas em um processo supostamente neutro, mascara todas as questões “políticas” próprias à interdisciplinaridade, já a segunda perspectiva, a interdisciplinaridade se reflete em uma prática essencialmente política, onde a negociação entre diferentes pontos de vista é o balizador da representação considerada adequada.

O bom uso da negociação, para Fourez tem se constituído em uma arte que cientistas e tecnólogos têm desenvolvido num mundo científico e técnico. A negociação colocada por Fourez, não se refere a grupos humanos defendendo interesses sem a intervenção do objeto em questão, e sim, os objetos que serão os responsáveis pela negociação. Logo, a prática científica e técnica são produtos de negociações. Um indivíduo alfabetizado cientificamente e tecnicamente será alguém que, em lugar de receber passivamente as normas das coisas, irá negociar com elas.

utilização dos conhecimentos na tomada de decisões. Os processos científicos e tecnológicos são bases para os debates éticos e políticos do ponto de vista de subsidiá-los, apontando caminhos e possibilidades.

O bom uso dos debates técnicos, éticos e políticos, para Fourez, estar alfabetizado científico e tecnicamente implica ter a capacidade de avaliar a diferença entre os debates, para que a tomada de decisões e negociações não sejam reduzidas a discussões meramente técnicas.

O bom uso das metáforas, comparações e traduções, é um desafio a ser enfrentado pelos docentes, frente à velocidade de informações do mundo atual. Para muitos, o uso da metáfora e da comparação traz o risco de quebra de seriedade e cientificidade de muitas questões, mas Fourez resgata que muitos dos discursos científicos foram em sua origem metáforas. As comparações podem se constituir em ferramentas para uma melhor compreensão por parte dos estudantes de muitos conceitos científicos. Mas Fourez salienta que é necessário mostrar aos estudantes a riqueza e eficácia de contextos adequados, estando atento à tradução de cada contexto a ser comparada, ou cada metáfora a ser traduzida.

Para Fourez, a ACT, é polarizada devido às perspectivas socioeconômicas, democráticas, humanistas, mas independente de qualquer uma delas existe finalidades que convergem a qualquer uma das perspectivas:

A autonomia do individuo que representa um componente individual, onde o conhecimento da ciência e das técnicas contribui na tomada de decisões de forma racional, reduzindo a dependência em relação aos especialistas.

A comunicação, como elemento essencial do dialogo e do debate ético, onde a teoria possui um papel importante na conscientização do individuo de suas possibilidades pessoais e sociais.

A negociação, que permite ao individuo certo domínio e responsabilidade frente a situações concretas, onde o mesmo seria capaz de tratar os problemas numa visão sociopolítica, favorece a um modelo de sociedade pragmático-politica.