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6. Indicadores de Qualidade

7.2. Considerações sobre treinamento e capacitação

Os treinamentos são programas e cursos destinados a contribuir para a capacitação e aperfeiçoamento profissional dos operadores de veículos coletivos urbanos (motoristas e cobradores) na condução segura de passageiros e atualização em legislação de trânsito. Seus conteúdos, divididos em diferentes cursos com variados módulos temáticos, são geralmente ministrados por membros do próprio RH da empresa, juntamente com instrutores operacionais, técnicos do Serviço Especial de Segurança em Medicina no Trabalho, e profissionais do setor médico. Servem tanto à reciclagem de conhecimentos já apreendidos, quanto à inserção de novos conhecimentos, possibilitando ao mesmo tempo formação teórica e prática. Dentre os diversos cursos, encontramos treinamentos básicos nas áreas de mecânica e motores, eletricidade veicular (motor de partida e alternador), caixa de mudança, pneus e borracharia, bilhetagem, sistemas de suspensão, iluminação e freios.

Figuras 77 e 78: Modelos de treinamento para motoristas de ônibus urbano. (candidonobrega; transportabrasil; intelog; brasilcaminhoneiro, 2014)

Segundo a Resolução nº 168 da CONTRAN (2004, p. 11), a respeito dos cursos especializados para condutores de veículos, aponta que estes serão ministrados tanto pelo órgão ou entidade executivo de trânsito dos Estados e do Distrito Federal quanto por instituições vinculadas ao Sistema Nacional de Formação de Mão-de-Obra, ambos responsáveis por sua organização administrativo-pedagógica. Destinam-se a aperfeiçoar, instruir, qualificar e atualizar dentre outros condutores, aqueles habilitados à condução de veículos de transporte coletivo de passageiros. Para atingir suas finalidades, os cursos devem se comprometer a fornecer aos operadores as seguintes competências:

- Permanecer atento ao que acontece dentro do veículo e fora dele; - Agir de forma adequada e correta no caso de eventualidades, sabendo tomar iniciativas quando necessário; - Relacionar-se harmoniosamente com usuários por ele transportados, pedestres e outros condutores; - Proporcionar segurança aos usuários e a si próprio; - Conhecer e aplicar preceitos de segurança e comportamentos preventivos, em conformidade com o tipo de transporte e/ou veículo; - Conhecer, observar e aplicar disposições contidas no CTB, na legislação de trânsito e legislação específica sobre o transporte especializado para o qual está se habilitando; - Transportar produtos perigosos com segurança de maneira a preservar a integridade física do condutor, da carga, do veículo e do meio ambiente. - Conhecer e aplicar os preceitos de segurança adquiridos durante os cursos ou atualização fazendo uso de comportamentos preventivos e procedimentos em casos de emergência, desenvolvidos para cada tipo de transporte, e para cada uma das classes de produtos perigosos (CONTRAN, 2004, p. 23).

Além disto, estes cursos devem ser constituídos de cinquenta horas-aula (com apenas 20% podendo compor-se de ensino à distância), ministradas por pessoas previamente habilitadas nos devidos cursos credenciados de instrutores de trânsito, e direcionadas a um numero máximo de 25 alunos por turma. Por fim, serão aprovados nos cursos aqueles operadores que obtiverem o mínimo de 70% de acerto nas questões da prova de cada módulo, devendo estes realizar a atualização dos respectivos cursos, a pós terminar sua validade, em no máximo cinco anos. Dentre os módulos previstos incluem-se Legislação de trânsito; Direção Defensiva; Noções de Primeiros Socorros, Respeito ao Meio Ambiente e Convívio Social no Transito; Relacionamento Interpessoal (CONTRAN, 2004, pp. 23-24).

Os estudos de Maria do Socorro C. de Araújo (2008, p. 88), afirmam que muitas empresas oferecem treinamentos que consistem em palestras sobre assuntos relevantes à profissão, mas sem suprir outras demandas de extrema importância para percepção dos operadores enquanto categoria, como campanhas que incentivem os usuários a tratá-los mais respeito. Detecta-se também a insuficiência de palestras que combatam certas inseguranças dos operadores, como sobre o comportamento que devem portar diante de situações como agressão verbal ou física, e outras sobre problemas típicos que se abatem sobre os operadores, devido o exercício de sua função, como tabagismo, alcoolismo e obesidade. Isto se resolveria com incentivo em mais cursos com temáticas de Controle do Estresse, Papel Social do Motorista e do Cobrador, Atendimento ao cliente e acessibilidade.

De fato, esse déficit foi constatado por Thiago R. Ferreira (2012, p. 10) em relação a treinamentos de segurança de trabalho, pois em sua pesquisa 78% de seus entrevistados confirmaram que receberam treinamento nos principais temas: Direção Defensiva, Primeiros Socorros, Prevenção e Combate a Incêndios, Prevenção de Acidentes e Condução econômica, a maioria acompanhada de cartilhas sobre como agir no transito. Isto nos remete a outro problema, porque mesmo estes treinamentos “prioritários” acabam se revelando de forma prescritiva não contribuindo eficazmente na atividade real que os operadores enfrentam em suas respectivas jornadas.

Prova disso é a pesquisa de Maria do Carmo R. Silva (2010) sobre inúmeras faltas e irregularidades praticadas pelos operadores, e cuja parte da causa poderia se colocar nos métodos de treinamento das empresas, em que falta informações sobre a prestação do serviço, normas regulamentares e práticas da empresa referentes ao treinamento dos profissionais. De fato, a autora em questão distinguiu, através do método de treinamento usado pelas empresas, três grupos diferentes de empresas, de acordo com a quantidade e qualidade de informações fornecidas a seus funcionários e pela capacidade operacional de cada grupo:

Em primeiro lugar, as empresas de grande porte, delegatárias de varias linhas, apresentam um treinamento mais próximo com o padrão dos países desenvolvidos, sendo mais rigorosos e oferecendo infra-estrutura maior, seja em escolas especializadas ou na sede da empresa, com cursos personificados a cada cargo, inclusive para reciclagem. Em seguida, as empresas de médio porte propiciam treinamento geralmente nas próprias dependências da empresa, e de forma mais simplificada, começando por uma prova de avaliação psicológica referente às funções de motorista e cobrador, passando pelo teste de direção, avaliando as habilidades no cargo, e por fim treinamento de direção e aprimoramento no itinerário da linha. Por fim, as empresas de pequeno porte fornecem pouco ou nenhum treinamento, ocorrendo, inclusive, algumas em que o motorista consiste no próprio delegatário da linha (SILVA, 2010, p. 11).

Enfim, para que as empresas de transporte coletivo urbano possam se comprometer no oferecimento de um serviço de qualidade há que se manter constante foco no preparo do pessoal de operação, não apenas em lidar com o manuseio correto dos devidos equipamentos de seu posto de trabalho, mas em tratar os passageiros com cortesia e urbanidade. Entretanto, estes profissionais não devem ser treinados apenas a estar cientes de suas obrigações como operadores do sistema de transporte coletivo e responsabilidades diante do direito do cidadão ao transporte. Importante também é que as capacitações e treinamentos consigam incutir neles, maior importância no trabalho que fazem e estimular respeito aos cargos que ocupam, possibilitando inclusive informações e programas de motivação e qualidade que influenciem o exercício saudável de suas funções. Para isto, as empresas precisam mostrar maior comprometimento com os órgãos gestores e fiscalizadores,

aprimorando conhecimentos sobre normas regulamentares, entre outras, capacitando-se a uma real oferta de serviço de qualidade à comunidade (SILVA, 2010, p. 12).