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Considere o argumento seguinte.

Quando observamos um relógio, apercebemo-nos de que as suas várias partes estão desen- hadas e articuladas para produzirem um certo fim. Quando temos em conta o seu mecanismo,

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é inevitável a inferência de que ele foi construído por um artífice. Ora, o universo tem grande complexidade e organização. Assim, supõe-se que também teve um criador inteligente.

3.1. Classifique o tipo de argumento apresentado. Justifique a sua resposta. [Cenário de resposta: A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros equivalentes. – Classificação correta: o argumento apresentado é um argumento por analogia / uma analogia.

– Justificação: o argumento fundamenta-se numa comparação entre dois casos particulares, o relógio e o universo, sendo destacadas as suas semelhanças, no que diz respeito à complexidade e organização, para fundamentar a sua semelhança em relação à existência de um criador inteligente.

Nota – A qualificação do argumento como «indutivo» deve ser enquadrada nos níveis 1 ou 2, consoante a justificação da resposta.]

Resposta Extensa

Grupo III

Leia o texto seguinte.

A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão para alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão-somente pelo querer, isto é em si mesma, e, considerada em si mesma, deve ser avaliada em grau muito mais alto do que tudo o que por seu intermédio possa ser alcançado em proveito de qualquer inclinação, ou mesmo, se se quiser, da soma de todas as inclinações. […] A utilidade ou a inutilidade nada podem acrescentar ou tirar a este valor.

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1992, p. 23

Compare, a partir do texto, as posições de Kant e de Stuart Mill relativamente ao problema da avaliação moral das ações.

Na sua resposta, deve referir, para cada autor:

• a importância atribuída à intenção e às consequências da ação; • os princípios éticos em que fundamentam as suas posições.

[Cenário de resposta: A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.

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– Comparação das perspetivas de Kant e de Stuart Mill relativamente ao critério de avaliação das ações morais:

• Para Kant, as ações são más ou boas em si mesmas, independentemente das suas consequências. O que torna má ou boa uma ação é a intenção com que é praticada;

• Para Stuart Mill não há ações boas ou más em si mesmas, e a intenção com que são praticadas é irrelevante. As consequências são o único critério relevante para apreciar o valor moral das ações.

– Comparação de Kant e de Stuart Mill relativamente ao princípio supremo da moralidade: • Para Kant o imperativo categórico é o princípio supremo da moralidade. Este determina que devemos agir somente de acordo com máximas universalizáveis;

• Para Stuart Mill a moralidade deve fundamentar-se no princípio de utilidade que afirma que são boas as ações que tendem a promover de forma estritamente imparcial a felicidade do maior número possível de indivíduos.

Nota – Uma resposta que refira as ideias de um único autor deve ser enquadrada nos níveis 1 ou 2, consoante a qualidade da informação apresentada, no que diz respeito à clareza e à adequação do vocabulário filosófico e à coerência estrutural do texto produzido.]

57 Anexo 2

Situação-Problema

"Vou contar-te um caso dramático. Já ouviste falar das térmitas, essas formigas brancas que, em África, constroem formigueiros impressionantes, com vários metros de altura e duros como pedra. Uma vez que o corpo das térmitas é mole, por não ter couraça que os proteja de outros insetos, o formigueiro serve-lhes de carapaça coletiva contra certas formigas inimigas, mais bem armadas do que elas. Mas por vezes um dos formigueiros é derrubado, por causa duma cheia ou de um elefante (os elefantes, que havemos nós de fazer, gostam de coçar os flancos nas termiteiras). A seguir as térmitas-operário começam a trabalhar para reconstruir a fortaleza afetada, e fazem-no com toda a pressa. Entretanto, já as grandes formigas inimigas se lançam ao assalto. As térmitas soldado saem em defesa da sua tribo e tentam deter as inimigas. Como nem no tamanho nem no armamento podem competir com elas, penduram-se nas assaltantes tentando travar o mais possível o seu avanço, enquanto ferozes mandíbulas invasoras as vão despedaçando. As operárias trabalham com toda a velocidade e esforçam-se por fechar de novo a termiteira derrubada mas fecham-na deixando de fora as pobres e heróicas térmitas-soldado, que sacrificam as suas vidas pela segurança das restantes formigas. Não merecerão estas formigas pelo menos uma medalha? Não será justo dizer que são valentes?

Mudo agora de cenário, mas não de assunto. Na Ilíada, Homero conta a história de Heitor, o melhor guerreiro de Tróia, que espera a pé firme, fora das muralhas da sua cidade, Aquiles, o enfurecido campeão, embora sabendo que Aquiles é mais forte e que ele provavelmente vai matá-lo. Fá-lo para cumprir o seu dever, que consiste em defender a família e os concidadãos do terrível assaltante. Ninguém tem dúvidas: Heitor é um herói, um homem valente como deve ser. Mas será Heitor heróico e valente da mesma maneira que as térmitas-soldado, cuja gesta milhões de vezes repetida nenhum Homero se deu ao trabalho de contar? Não faz Heitor, afinal de contas, a mesma coisa que qualquer uma das térmitas anónimas? Porque nos parece o seu valor mais autêntico e mais difícil do que o dos insetos? Qual é a diferença entre um e outro caso?”

58 Anexo 3

Situação-Problema

"Vou contar-te um caso dramático. Já ouviste falar das térmitas, essas formigas brancas que, em África, constroem formigueiros impressionantes, com vários metros de altura e duros como pedra. Uma vez que o corpo das térmitas é mole, por não ter couraça que os proteja de outros insetos, o formigueiro serve-lhes de carapaça coletiva contra certas formigas inimigas, mais bem armadas do que elas. Mas por vezes um dos formigueiros é derrubado, por causa duma cheia ou de um elefante (os elefantes, que havemos nós de fazer, gostam de coçar os flancos nas termiteiras). A seguir as térmitas-operário começam a trabalhar para reconstruir a fortaleza afetada, e fazem-no com toda a pressa. Entretanto, já as grandes formigas inimigas se lançam ao assalto. As térmitas soldado saem em defesa da sua tribo e tentam deter as inimigas. Como nem no tamanho nem no armamento podem competir com elas, penduram-se nas assaltantes tentando travar o mais possível o seu avanço, enquanto ferozes mandíbulas invasoras as vão despedaçando. As operárias trabalham com toda a velocidade e esforçam-se por fechar de novo a termiteira derrubada mas fecham-na deixando de fora as pobres e heróicas térmitas-soldado, que sacrificam as suas vidas pela segurança das restantes formigas. Não merecerão estas formigas pelo menos uma medalha? Não será justo dizer que são valentes?

Mudo agora de cenário, mas não de assunto. Na Ilíada, Homero conta a história de Heitor, o melhor guerreiro de Tróia, que espera a pé firme, fora das muralhas da sua cidade, Aquiles, o enfurecido campeão, embora sabendo que Aquiles é mais forte e que ele provavelmente vai matá-lo. Fá-lo para cumprir o seu dever, que consiste em defender a família e os concidadãos do terrível assaltante. Ninguém tem dúvidas: Heitor é um herói, um homem valente como deve ser. Mas será Heitor heróico e valente da mesma maneira que as térmitas-soldado, cuja gesta milhões de vezes repetida nenhum Homero se deu ao trabalho de contar? Não faz Heitor, afinal de contas, a mesma coisa que qualquer uma das térmitas anónimas? Porque nos parece o seu valor mais autêntico e mais difícil do que o dos insetos? Qual é a diferença entre um e outro caso?”

Fernando Savater, Ética para um jovem, Lisboa, Presença, pp. 21-22

Conse- quências de derrubar o formi- gueiro As térmitas- -soldado sacrificam- -se: mas nem por isso são conside- radas valentes O que nos distingue das formigas? Qual a razão de Heitor ser para sempre imortalizado, e as formi- gas condena- das ao esqu- ecimento?

59 Anexo 4

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