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Consolidação das iniciativas de preservação digital

2.4 GERENCIAMENTO DA PRESERVAÇÃO DIGTAL

2.4.3 Consolidação das iniciativas de preservação digital

Os sistemas de preservação digital se estendem para fora das instituições, usando ferramentas agregadoras, organizando comunidades de usuários de recursos digitais, incentivando o aumento do material disponibilizado nas bibliotecas digitais. Ainda assim, a preservação digital continua sendo um território desconhecido para muitas instituições públicas e privadas. Organismos de pesquisa de vários países têm manifestado suas reservas em relação às implicações econômicas da preservação a longo prazo, assunto que não tem sido tratado diretamente com as agências financiadoras.

Para Thibodeau (2002), entre os mais importantes desenvolvimentos na preservação digital desde 1996, está o alerta que a National Archives e a Library of Congress dos Estados Unidos (LC), têm levantado sobre a possível perda catastrófica da informação atual. Conseqüentemente, as duas agências têm

conseguido obter mandatos e financiamento do Congresso daquele país para abordar o problema da preservação digital.

As instituições tradicionalmente comprometidas com a preservação da herança cultural e da história têm empreendido alguns esforços com financiamento de governos locais. Os arquivos e bibliotecas nacionais têm manifestado o interesse oficial dos estados de documentar aspectos culturais relevantes de determinado período ou evento. Nos Estados Unidos, a Library of Congress têm realizado alguns dos maiores esforços (American Memory) que atraem o financiamento da iniciativa privada, mas o interesse da LC pelo crescente número de objetos nascidos digitais só começou em 2000, com a iniciativa chamada National Digital Information Infrastructure Program (NDIIP) (FRIEDLANDER, 2002).

Partindo da idéia de que exista a necessidade latente de garantir o acesso à informação de longo prazo, algumas ações têm sido propostas aos gerentes das coleções digitais tanto em instituições detentoras de acervos culturais, quanto nas dos acervos científicos. São elas: colaboração e intercâmbio de experiências, adoção estratégia estruturada de preservação digital e criação de uma infra- estrutura de repositórios de preservação digital.

Duas instituições que têm acompanhado o desenvolvimento das práticas da preservação digital são o International Council for Scientific and Technical Information (ICSTI) e o Grupo e Trabalho de Preservação Digital CENDI (U.S. Federal Information Managers Group). Os relatórios produzidos por essas duas instituições têm servido para acompanhar os projetos implementados por instituições das áreas de C&T (HODGE; FRANGAKIS, 2004). Os dados coletados são aqueles relacionados com práticas - divididas por tipo de documento, formato, workflow estabelecido pelo sistema operacional escolhido, atividades padrão - e a disponibilização dos “pacotes de software”. No levantamento de 2004, foram coletados dados de mais de 50 sistemas ou projetos de preservação digital de vários países e instituições. As principais conclusões alcançadas foram:

a) um panorama do estado atual das práticas nas áreas de C&T; b) a identificação dos mais importantes temas abordados;

c) um conjunto de lições aprendidas e futuras ações.

No Quadro 7, podem ser visualizadas as estratégias de preservação adotadas em vários projetos ou sistemas operacionais selecionados na pesquisa do CENDI/ICSTI (HODGE; FRANGAKIS, 2004).

ESTRATÉGIAS

Política de

Arquivamento Migração Padrões Abertos Metadados de Preservação Colaboração Institucional Repositório

AIA X X X X AIP X X X ALEXA X X X DIAS X X X DiVA X X X X Dspace X X X X X X ESD X EROS X X X FEDORATM X X X X X GPO X X X IUCR X X X JSTOR X X X X LSDA X X LOCKSS X X NASA X X X NLM X X X NMM X X OCLC PANDORA X X X X X PUbMed X X X S I S T E M A S VERS X X X X TOTAL 12 17 5 15 10 7

Quadro 7 – Estratégias de preservação adotadas pelos 21 sistemas operacionais Fonte: CENDI/ICSTI – Hodge e Frangakis (2004)

Os 21 projetos selecionados por Hodge e Frangakis gerenciam ampla gama de recursos de informação científica. No Quadro 7, são mostradas as estratégias detectadas nos diferentes projetos de sistemas de preservação digital de informação científica. A maioria dos projetos possuía políticas de arquivamento e normas relacionadas para a criação de metadados. A estratégia de migração foi a mais usada nos sistemas levantados. A estratégia de emulação não foi mencionada como uma das mais importantes para essas organizações. A colaboração foi assinalada como significativa junto à comunidade de desenvolvedores de sistemas de preservação digital.

A União Européia criou o projeto Erpanet, estabelecido em novembro de 2001, tendo como finalidade unir as diversas iniciativas na área de preservação digital. O projeto europeu publicou o Erpanet Digital Preservation Charter, uma declaração dos países europeus que serve como fundo para a cooperação entre as diversas iniciativas, envolvendo cada um dos participantes do ciclo de vida dos

objetos digitais. O Erpanet apontou os motivos da importância de participar de projetos cooperativos de preservação digital:

1) alcançar melhor administração dos riscos;

2) participar de um marco comum de trabalho para benchmarking do acesso digital e das melhores práticas de preservação;

3) construir parcerias;

4) chamar a atenção os principais atores envolvidos com objetos digitais;

5) evitar redundância;

6) maximizar os esforços de preservação.

Nos países do Primeiro Mundo, estão sendo criadas redes de comunicação entre especialistas de uma ou mais nações, com o objetivo de discutir temas específicos da preservação de objetos digitais de longo prazo com características locais, como o idioma. Blake (2004) narra que na Alemanha foi criada uma rede bilíngüe para intercâmbio de experiências fora e dentro daquele país. A experiência tem favorecido a discussão sobre estratégias e políticas de arquivamento digital.

O tema da colaboração tem sido discutido também no contexto da interoperabilidade. É nessa estrutura que estão apoiados todos os aspectos dos repositórios digitais de acesso livre. Estrategicamente, essa abertura e cooperação geram uma multiplicação de benefícios para todos os participantes, incluindo novas habilidades e experiências, modelos de negócios sustentáveis, estratégias de preservação mais estruturadas etc. O uso de padrões abertos e de protocolos para a interoperabilidade dos arquivos permite a incorporação de colaboradores internacionais, formalizando redes de informação que minimizam a redundância dos recursos e custos na sua manutenção.

As idéias básicas do modelo OAIS podem ser detectadas na maioria dos projetos de pesquisa de preservação digital (LeFURGY, 2002). São casos como o da Library of Congress, baseado na digitalização usando a padronização dos formatos e o uso de metadados de preservação; outro exemplo já mencionado é o VERS da Australia National Library, que usa metodologias detalhadas para a criação de documentos digitais no gerenciamento arquivístico; cita-se também o CURL Exemplars for Digital Archives (CEDAR) na Inglaterra, que desenvolve metodologias baseadas no modelo de representação das propriedades dos objetos digitais; e o

projeto do Electronic Record Archives (ERA) dos Estados Unidos, que está utilizando o modelo OAIS nas suas propostas de gerenciamento de materiais digitais persistentes, definindo as estruturas e metadados necessários para seu acesso e recuperação.

As iniciativas nacionais de preservação digital têm surgido a partir de grandes instituições depositárias e de centros de pesquisa que vêm optando pela proposta dos Arquivos Abertos e o Acesso Livre. Algumas delas já foram destacadas por Muir e por Studwell e Ghetu, em 2003. Também uma lista mais abrangente encontra-se no Apêndice D. Entre as mais citadas na literatura estão as seguintes:

1. DIAS, projeto para software de arquivamento;

2. Digital Archive, o arquivo de documentos governamentais da National Archives;

3. HD-ROM e HD- Rosetta produto de preservação;

4. Internet Archive, projeto para software de arquivamento; 5. InterPares, projeto internacional;

6. JISC e SHERPA, plano e projeto de instituições da Inglaterra; 7. LOCKSS, projeto da Stanford University;

8. NDIIPP, plano de preservação digital da Library of Congress;

9. PADI e PANDORA, plano e arquivo web da National Library of Australia;

10. Preservation Metadata Extraction Tool, componente do programa de preservação digital da National Library of New Zealand;

11. UVC estratégia de cópia centralizada.

Os projetos mencionados têm como origem os grupos de pesquisa que, mesmo separadamente, possuem o mesmo objetivo. Alguns têm como centro de suas atividades a produção acadêmica e a construção de consórcios. Com o crescimento de repositórios institucionais, espera-se que essas instituições adotem mais os sistemas distribuídos e surjam mais iniciativas colaborativas.

Alguns esforços estão apontando nessa direção, como é o caso do projeto SHERPA (Securing a Hybrid Environment for Research Preservation and Access) na Inglaterra, que estuda implementação prática das recomendações para uma infra- estrutura técnica de preservação desagregada. As funções de preservação desagregada, segundo Beagrie (2002), são serviços de preservação institucionais

que podem dar suporte e beneficiar o planejamento de mecanismo de armazenamento à distância. As razões para o surgimento dessa proposta estão na natureza dos repositórios institucionais que, segundo James et al. (2003), apresentam as seguintes características:

a) a maioria não tem como inerente os processos de preservação digital; b) não contam com pessoal suficiente com conhecimentos sobre

preservação digital e, c) replicam serviços e custos.

Os trabalhos nas iniciativas e projetos de preservação digital continuam reproduzindo-se de forma rápida, com desenvolvimentos significativos de sistemas, pacotes de softwares, legislações de depósito, parcerias e propostas de novos padrões. Mesmo com isso, ainda existem algumas áreas a serem abordadas. Na seção a seguir, trataremos dos fatores que levam à sustentabilidade dos sistemas de preservação digital emergentes.