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Constatação dos elementos formadores e análise sobre o início do processo na política

CAPÍTULO 2 – DEFINIÇÃO DE ETANOL: SISTEMATIZAÇÃO DOS

2.4 Constatação dos elementos formadores e análise sobre o início do processo na política

A perspectiva da análise centra-se nas iniciativas e ações da Política Externa Brasileira (PEB) para a área de energia, sendo foco central conferido ao etanol. É por meio desse ponto referencial que se sistematizam as iniciativas, bem como se contextualiza e explicita especificamente como o Brasil comporta-se e interage com ator central nessa área, os Estados Unidos da América (EUA), e em fóruns multilaterais importantes nesse setor.

Cabe ressaltar, todavia, que se busca evidenciar as diferenças de tratamento do tema em diversos órgãos do governo brasileiro. Entre eles, como já mencionado anteriormente, ênfase será conferida ao posicionamento do Ministério das Relações Exteriores (MRE); do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

No MRE, a análise concentra-se no recém criado Departamento de Energia (DE) que tem a atribuição legal27 de aglutinar as iniciativas do referido ministério tanto para energia não-renovável, quanto para renovável. Um dos elementos utilizados para se realizar essa análise será feito por meio da confrontação entre os discursos proferidos por autoridades desse ministério e as ações concretas realizadas.

Nesse sentido, ressalta a ênfase atribuída pelo Embaixador Correia do Lago ao afirmar que o departamento de energia do Itamaraty foi criado para permitir, ao mesmo tempo, uma análise setorial e abrangente sobre a questão de energia, tendo em vista a importância crescente do tema, sobretudo na dimensão internacional.

No MDIC, será ressaltado o papel do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), ao passo que no MAPA se destacará a atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

27 Criado em 2006, sendo que em 2007 houve a reiteração jurídica da definição da atribuição legal

50 Não obstante existirem outros órgãos de governo que tratem do tema, busca-se demonstrar se o papel do MRE está, de fato, sendo o que se pretendeu com a criação do Departamento de Energia, o de articulador dos interesses dos diversos atores nacionais, estatais e privados, no setor energético. Busca-se verificar se as ações desse ator tem mesmo o objetivo de compilar e unificar a posição do governo brasileiro em relação à política externa para a área de energia. Vale destacar que o termo política externa brasileira utilizado nesse texto parte dessa premissa.

Uma das particularidades do setor produtivo de biocombustíveis no Brasil, entretanto, é a forte participação do setor privado. Na organização do setor privado brasileiro, no que tange os produtores de etanol, a União da Indústria de Cana de Açúcar (UNICA) é o ator protagonista. Essa organização privada também merece destaque na análise, já que se constata singular consonância entre os interesses desse setor específico e a perspectiva de tratamento do tema dada pela política externa do governo Luís Inácio Lula da Silva. As principais iniciativas dessa organização serão sistematizadas com o intuito de aclarar possíveis convergências ou antagonismos entre posicionamentos de política externa do governo brasileiro no tema em tela e os interesses do setor privado.

A perspectiva da análise, ademais, visa à verificação de utilização de outros temas como elementos de barganha para a política externa do etanol. Também se procura analisar como os interesses do setor sucroalcoleiro se compuseram e se esses se solidificaram em detrimento de outros setores da agricultura nacional.

Como bem lembra Maria Regina Soares de Lima, a sociedade brasileira é multifacetada e, dessa maneira, a política externa deveria refletir esses interesses difusos. Quando determinada política pode vir a privilegiar determinado setor agrícola, no caso específico dessa dissertação o sucroalcoleiro, em detrimento dos demais, não se está necessariamente fazendo política externa de maneira desinteressada ou imparcial.

A sistematização e contextualização das iniciativas de cooperação, no âmbito político e técnico, têm o fito de aprofundar e analisar a hipótese do estabelecimento de uma política de Estado para o tema energia nos últimos anos. Essa sistematização, juntamente com a análise dos instrumentos de cooperação existentes entre o Brasil e os Estados Unidos e dos principais fóruns multilaterais sobre o tema, busca compreender os motivos que incentivam a parceria. A linha argumentativa que se pretende seguir, com esse propósito, é a de que os EUA cooperam com o Brasil nesse tema e estimulam ações que fomentem o desenvolvimento do etanol como fonte alternativa de energia, porquanto há interesse que o etanol se fortaleça como um atributo de poder.

51 O detalhamento da atribuição legal e o de explicitar o papel desempenhado pelos principais atores internos, estatais e privados, que tratam do tema no Brasil. Internamente no Brasil, no entanto, Inmetro e Embrapa exercerem funções bem diferentes no que tange a política para o etanol. O Inmetro defende o aprofundamento de mecanismos de regulamentação técnica, ao passo que a EMBRAPA atua privilegiando a execução de ações que desenvolvam a produção de etanol, deixando em segundo plano o enrijecimento de aspectos e certificações técnicas.

Nota-se, por conseguinte, que não obstante a posição dominante do MRE de aglutinador e elaborador de diretrizes orientadoras sobre o tema, conflitos no estabelecimento de prioridades de políticas entre órgãos do governo brasileiro. Esses conflitos, no entanto, apenas se justificam no curto prazo, já que a atuação dessas duas instituições é fundamental para a consecução do objetivo de formação de um mercado mundial de etanol.

Iniciativas marcantes da atuação da EMBRAPA em países africanos expressam a postura de segmento do governo brasileiro, sendo essa a defendida pelo MRE, qual seja a de fomentar o desenvolvimento de países produtores de etanol sem rígidas regulações acerca de critérios sustentáveis de aproveitamento do solo ou relacionadas às questões trabalhistas.

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