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3. A Sociedade Martins Sarmento

3.1 Constituição da instituição

A Sociedade Martins Sarmento (SMS) é uma instituição cultural de utilidade pública sem fins lucrativos, fundada em Guimarães, no ano de 1881, em homenagem ao arqueólogo e etnólogo vimaranense Francisco Martins Sarmento. A iniciativa partiu do grupo de amigos de Martins Sarmento que queriam, por um lado, divulgar o trabalho feito pelo arqueólogo e, por outro, dar continuidade aos seus esforços em desenvolver os meios de ensino e em divulgar o património cultural na cidade. Inicialmente, a ideia da criação da instituição não obteve pareceres favoráveis, e mesmo o próprio Martins Sarmento, mostrou-se, de início, relutante em dar nome à Sociedade (Martins, 2000, p. 24). Por esta razão, a ideia foi tratada durante muito tempo com secretismo, sendo as reuniões, realizadas na casa de um dos impulsionadores, Avelino da Silva Guimarães, situada no Toural (Neves, 1998, p. 8).

A instituição acabaria por ser fundada oficialmente a 9 de março de 1882, após a aprovação dos estatutos que ainda hoje regem a Sociedade (Abreu, 1996, p. 9).

Nos anos que se seguiram à sua fundação, a instituição empenhou-se no desenvolvimento do ensino, tanto a nível infantil como sénior, sendo o principal objetivo, do último referido, qualificar os trabalhadores vimaranenses para que assim a indústria se pudesse desenvolver.

Paulatinamente, a instituição foi ganhando crescente importância, devido, não só à sua vertente educacional, mas também, graças à acumulação do numeroso espólio arqueológico, nomeadamente o encontrado por Martins Sarmento nas escavações realizadas na Citânia de Briteiros e no Castro Sabroso.

No entanto, a Sociedade mantinha-se sem casa própria, situação que preocupava cada vez mais os elementos da direção. Segundo Maria Helena Abreu (1996, p. 9), o mérito de consolidação da instituição ficou a dever-se às direções que ocuparam a SMS até aos finais da década de 80 do século XIX. Embora ajudados pela Câmara Municipal, foi nesta altura que conseguiram a cedência das dependências devolutas dos claustros do antigo convento de S. Domingos, localizado perto do Largo do Toural.

Desta forma, o museu arqueológico da instituição pôde ser instalado naquele claustro quatrocentista, em 1885, onde permanece até aos dias de hoje, constituindo um dos mais antigos e importantes museus de Portugal. Atualmente, o museu possui, para além do espólio

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dos dois sítios arqueológicos anteriormente referidos, o espólio de outras escavações nas quais Francisco Martins Sarmento participou, bem como doações feitas à instituição.

A criação do museu foi, deste modo, o primeiro passo para a configuração das novas instalações da Sociedade, bem como do edifício que atualmente a alberga. Após obtenção da licença camarária para ocupação do claustro, prosseguiu-se a construção do restante edifício, nomeadamente da fachada, virada para a Rua Paio Galvão, e mais tarde, do corpo de ligação entre a fachada e o referido claustro.

A primeira fase refere-se à construção da fachada do atual edifício, da autoria do arquiteto José Marques da Silva11, iniciou-se em 1900, e foi inaugurada no dia 9 de março, de 1907. Foi, no entanto, necessário esperar cerca de sessenta anos, para que se construísse um novo corpo de raiz, que substituiu o anterior, e permite ligar a fachada ao claustro (Simões, 1999, p. 555). Este corpo, da autoria de Maria José Marques da Silva e de José Moreira da Silva12, filha e genro do arquiteto portuense, acabaria por ser inaugurado em 1967.

A partir de então começa-se a estruturar a instituição que hoje existe. Aos poucos, e com muito esforço começou a prestar serviços educativos à sociedade vimaranense, indo assim de encontro aos objetivos que o próprio Martins Sarmento havia traçado. No edifício foi também acrescentada a coleção de etnografia, que atualmente se encontra em reserva e secção de arte contemporânea, que contém obras de notáveis artistas portugueses. Criada em 1937, esteve inicialmente instalada no Salão Nobre, até à construção das galerias (localizadas no rés-do-chão do edifício) depois do início da segunda fase de obras.

A biblioteca é outro das vertentes que foi conhecendo desenvolvimentos, devido às constantes doações. Atualmente dispõe de mais de 100.000 exemplares, destacando-se a Sala de Leitura que permite a consulta do espólio bibliográfico. De salientar são ainda o Fundo Local, que congrega praticamente todas as obras que têm sido publicadas em Guimarães, sobre a cidade ou por autores vimaranenses; a hemeroteca cujos periódicos constituem a principal fonte de pesquisa e os fundos especializados sobre várias áreas, como por exemplo história, arqueologia, medicina, direito, entre outros.

11 Arquiteto portuense, nascido a 18 de outubro de 1869, e falecido aos 79 anos, a 6 de junho de 1947. A sua obra é um marco na arquitetura da primeira metade do século XX, versando sobre a arquitetura urbana, religiosa, de edifícios culturais, entre outas. Deixou a sua marca em diversos edifícios vimaranenses, para além do edifício da SMS, designadamente a Igreja da Penha ou o Paço dos Duques (Abreu, 1996, p.16).

12 Vinte anos após a morte do arquiteto Marques da Silva, as obras na Sociedade Martins Sarmento continuaram a processar-se.

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Deste modo compreende-se que SMS é uma importante instituição, que ocupa um espaço histórico no centro urbano vimaranense e que desde os seus inícios desempenhou um importante papel social e cultural, que contribuíram para a dimensão patrimonial da cidade de Guimarães. Também por isso, a Sociedade dispõe atualmente de vários espaços abertos ao público designadamente o Museu Arqueológico e a Biblioteca, cedendo igualmente alguns das suas áreas para conferências e exposições, frequentemente organizadas no Salão Nobre da instituição, permitindo as visitas de terça-feira a domingo, com a exceção dos feriados.