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A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO E A FORMAÇÃO DO VÍNCULO PERANTE AS CONFIGURAÇÃOES DA SOCIEDADE ATUAL

A palavra vínculo deriva etimologicamente do latim –vinculum – que possui significados como laço, ligação, liame, fazendo referência a uma ligação invisível de caráter moral ou afetivo. A teoria psicanalítica trabalha com a temática da constituição psíquica, referindo a formação de vínculo enquanto processo determinado e determinante ao advir de um sujeito, ao passo em que se perfaz a constituição da subjetividade. O indivíduo só se estrutura como sujeito mediante ao seu vínculo e relação humanizante com o Outro, o que possibilita a inscrição na linguagem e nos laços que configuram a inserção na cultura, no social.

Freud, pautado em suas experiências e postulados teóricos acerca do tratamento analítico com adultos, propõe pensar os sintomas de seus pacientes como frutos das fantasias que foram construídas baseadas nas vivências da primeira infância. Desta forma, é necessário remontar aos primórdios da estruturação psíquica na infância para entendermos como se dá o processo de vinculação com o Outro que possibilita surgir o sujeito de linguagem.

Segundo Jerusalinsky, a criança recém-nascida encontra-se em estado de “infans, ou seja, aquele que ainda não fala e, portanto, que é ainda incapaz de contar a sua própria história.” (2002, p. 37). Porém, antes de vir ao mundo, a criança já é inserida no campo simbólico dos pais que já vão tecendo pensamentos, uma imaginação sobre a criança que está por vir, preparando o ambiente e comprando o enxoval conforme o sexo do bebê, sendo esses “aspectos da cultura que já esperam esse bebê desde o nascimento” (BERNARDINO, 2008, p. 31), e que vai receber essa criança já num contexto de linguagem. Ou seja, quando a criança vem ao mundo, vem sendo apenas um pedaço de carne, dotada apenas do aparelho orgânico biológico; porém logo que nasce é recebida num ‘mundo simbólico, que foi de antemão preparado pelos pais, principalmente pela mãe desde a gestação.

Desta maneira, quando a criança nasce já se encontra num mundo já começado, e se depara com uma estrutura de linguagem já organizada, da qual terá que se apropriar aos poucos. É deste encontro entre o que se apresenta como apenas aparelho biológico, com a organização cultural estruturada simbolicamente

que o espera, é que o recém-nascido vai encontrar subsídios para a constituição do seu aparelho psíquico.

Compreende-se que a inserção da criança no mundo simbólico se dá aos poucos, e depende totalmente das figuras parentais neste processo, pois estas serão responsáveis pelas essenciais funções de humanização, as quais a psicanálise aponta como função paterna e materna e que podem ser exercidas por qualquer pessoa, pois não diz especificamente dos pais biológicos, sendo apenas importante que alguém faça essas funções.

A função materna se mostra como a mais essencial nos primeiros meses de vida, pois dela depende os cuidados básicos para com o bebê, cuidados estes que vão assegurar a sobrevivência do infans. Essa sobrevivência não diz respeito apenas do corpo biológico, mas também diz de um afeto que essa relação entre mãe-bebê vai gerar e que se mostra essencial para sua sobrevivência psíquica. Essa relação vai ser permeada por um afeto que envolve a fala da mãe para com o filho, o toque no corpo da criança, o olhar que a mãe transfere a ele, criando assim uma espécie de ambiente aconchegante e seguro para o bebê. Bernardino (2008) explica que:

[...] esse ‘a mais’ que a mãe está dando, além daquilo que permite a sobrevivência física do bebê, é o que vai permitir sua sobrevivência psíquica. Vai começar a se construir um mundo mental nesse bebezinho, porque a mãe vai lhe oferecendo olhar, vai lhe oferecendo palavras, vai lhe oferecendo toques carinhosos, num vai e vem de presenças e ausências, e isso vai construindo no bebê, a partir das inscrições psíquicas dessas experiências, uma vida mental. Esse bebezinho, além de estar vivendo experiências de satisfação de necessidade, também estará vivendo experiências que tem significação, a partir do que o outro materno vai passando para ele como experiências boas ou experiências ruins. Isso vai permitir que o bebê se desenvolva em termos físicos e se estruture em termos mentais. (p. 60)

Desta relação mãe – bebê é perceptível que a figura materna oferece a criança não só a sustentação através de seu próprio corpo, pois também se encontra implicado neste vínculo o desejo da mãe. Isto irá fazer com que toda a ação dirigida à criança esteja permeada por significações, fruto da total presença materna na relação. Bernardino explica que “para que uma mãe possa estar presente, é necessário que ela tenha na sua vida, na sua história, um lugar para este filho”, e que nesta relação “ela possa transmitir os valores da cultura, os valores simbólicos, e não só seus desejos pessoais” (2008, p. 61)

Para Winnicott (1988), a relação mãe – bebê é considerada, no que consta sobre o primeiro ano de vida da criança, uma relação visceral, pois a criança considera a mãe como sendo uma extensão, um prolongamento do seu próprio corpo, pois ainda não houve a divisão do “não-eu” e do “eu” do bebê. Neste contexto, para que a constituição psíquica da criança ocorra de forma saudável, é necessário que tanto o ambiente quanto a mãe sejam suficientemente bons.

A implicação da mãe (Outro) também é trabalhada por Lacan (1966) na teoria do Estádio do Espelho, na qual o autor defende não bastar à maturação orgânica para a constituição do eu, pois a criança encontra-se num estado de fetalização humana, e sim que o processo passa pela confusão da identificação da imagem da própria criança com a imagem mãe, fazendo do corpo infantil um corpo fragmentado, causando angústia à criança. No entanto, esta experiência se faz necessária, visto que é um processo simbólico a partir do qual a criança estruturará seu eu, sua imagem própria totalizante, de corpo unificado a partir do olhar materno.

A metáfora é compreendida salientando-se que a imagem corporal tem um papel crucial na constituição do sujeito, visto que é a partir desta que há a possibilidade da criança instaurar uma relação do eu com a realidade. É a partir da apropriação de uma imagem especular (que não mais uma cópia da mãe) se instaura a possibilidade da criança adentrar no complexo de Édipo através da falta da imagem materna.

Freud em seus postulados teóricos sobre o complexo de Édipo explica que se trata de um momento de internalizações de limites colocados pelos pais à criança. Lacan retoma Freud desenvolvendo o complexo de Édipo comportando três tempos: no primeiro tempo a criança encontra-se identificada com o objeto de desejo materno (Outro), ou seja, seu desejo é ser o objeto do desejo da mãe, ficando assim identificada com o falo. Lacan (1995) explica que “é na medida em que a criança assume inicialmente o desejo da mãe (...) que ela se abre para se inscrever no lugar de metonímia da mãe, isto é, (...) como assujeito” (p. 208). A posição de assujeito da criança nesse momento diz de uma total objetalização da mesma frente ao desejo materno.

No segundo tempo, o pai aparece intervindo nesta relação privando a mãe da criança e assim castrando-a de seu falo. Lacan (1995) afirma que “é na medida em que o objeto do desejo da mãe é tocado pela proibição paterna que o círculo não se fecha completamente em torno da criança e ela não se torna, pura e simplesmente,

objeto de desejo da mãe” (p. 210). Nesse estágio há o primeiro aparecimento da lei, que vai desligar a criança da identificação com o falo e fazê-la se deparar com a falta. O pai surge aqui enquanto a função do Nome-do-Pai, vindo a substituir o significante do desejo da mãe. A criança se depara, através da função paterna, com a questão de ser ou não ser o falo da mãe, e toma o pai como rival, pois o mesmo também a castra de modo a dizer: “não te deitarás com tua mãe”.

A mãe, com suas ausências, causa na criança a constatação que ela não a preenche, mostrando-se assim um desejo que não é por ela, está para além da criança. São essas ausências que vão permitir a entrada da criança no campo simbólico. É desta simbolização das ausências e presenças da mãe que Freud fala em Além do Princípio do Prazer (1980) ao descrever o jogo fort-da, da qual seu neto brincava;

[...] o que ele fazia era segurar o carretel pelo cordão e com muita perícia arremessá-lo por sobre a borda de sua caminha encortinada, de maneira que aquele desaparecia por entre as cortinas, ao mesmo tempo em que o menino proferia seu expressivo 'ó-o-o-ó'. Puxava então o carretel para fora da cama novamente, por meio do cordão, e saudava o seu reaparecimento com um alegre 'da' ('aqui'). Essa então, era a brincadeira completa: desaparecimento e retorno. (p.26)

No terceiro tempo do complexo de Édipo, há a instauração da metáfora paterna, a partir da qual o pai se torna potente e possível doador do falo como aquilo que falta. Lacan (1995), sobre a instância paterna, explica que: “Já não é nos vaivéns da mãe que ele está presente, e, portanto, ainda semivelado, mas aparece em seu próprio discurso. De certo modo, a mensagem do pai torna-se a mensagem da mãe, na medida que agora ele permite e autoriza” (p. 212). A criança então sai da dialética do segundo tempo de ser ou não ser o falo, e passa a de ser ao ter o falo, identificando-se com a instância paterna e aceitando a lei ou castração que instaura a falta e situa o sujeito como desejante. O declínio do complexo de Édipo diz da ordenação do falo, enquanto simbólico, na construção de uma identidade sexual da criança, o que independe da anatomia.

Supondo assim, a partir da castração sofrida pela criança no final do complexo de Édipo, se instaura a lei e uma falta, a partir das quais ela poderá se articular no social como sujeito, detentor de uma subjetividade singular, não mais espelhado nas figuras parentais.

Podemos abordar, ainda, a constituição do sujeito do ponto de vista de um movimento dialético entre a alienação e a separação. Para isso, partamos do pressuposto de que a criança é um sujeito à espera e que há de haver uma operação de causação do sujeito; o sujeito deverá ser provocado, invocado no bebê. Lacan (1964) considera dois tempos desta causação: o tempo da alienação e o tempo da separação. Vejamos: o tempo da alienação pode ser entendido como o tempo em que a mãe "empresta" ao seu bebê uma imagem própria, um desejo, um significante, um lugar discursivo, portanto. É o momento em que a criança é falada, é desejada, em que ela é aquilo que desejam que ela seja, e a isto ela responde. O momento seguinte, o da separação, é o do deslocamento das marcas maternas e da possibilidade de impressão de outras marcas, a paterna, por exemplo. A possibilidade de surgimento de um sujeito - diferente da mãe e diferente do pai, apesar das profundas marcas de ambos - aparece exatamente no intervalo entre a alienação e a separação. Lacan considera que o primeiro momento da alienação é o tempo de estabelecimento do primeiro significante e o tempo da separação é o momento do surgimento do segundo significante, que possibilitaria ao sujeito formar sua cadeia significante e, portanto, ocupar, ele próprio, um lugar discursivo. É o momento em que poderia dizer: "O que posso ser daquilo que fizeram de mim?" (JARDIM, 2000, p. 57-58)

A criança desde o seu nascer já está referida às figuras parentais, é pensada, planejada e desejada por estas. No decorrer do desenvolvimento, há a pulsionalização do corpo e a aquisição da linguagem, que só são possíveis nessa relação da criança com a função materna e paterna. E é nessa relação e seu desenrolar complexo, que a criança vai sendo inserida num mundo de significantes, de valores, que estão referidos à cultura, ao social.

É ao final da trama edipiana que a criança, constituída como sujeito faltante marcada pela perda do objeto primordial e, então, referida à lei do desejo, estando referenciada a um hiato daquilo que se mostra o desejo e aos significantes parentais, poderá por si mesmo fazer seu próprio percurso, suas escolhas, e recriar novos significantes. Sobre isso, Lacan explica que:

É desde a relação imaginária primitiva, aquela por onde a criança é doravante introduzida a este mais-além de sua mãe, que o sujeito vê, toca, experimenta o fato de que o ser humano é um ser privado e um ser abandonado. A própria estrutura que nos impõe a distinção entre experiência imaginária e a experiência simbólica que a normatiza, mas unicamente por intermédio da Lei, implica que muitas coisas se conservem dela (...) (LACAN, 1999, p. 218-219)

O declínio do Édipo demarca um novo lugar para a criança, lugar esse que vai estar referenciado ao social, mas que nem por isso não carregue em seu âmago as marcas e significantes parentais, pois foi através destes sujeitos constituídos na

cultura que se possibilitou nela a entrada da criança. Jerusalinsky exemplifica isso dizendo que:

Porque o humano tem a característica de não necessariamente estar destinado ao útil. Sucede que a cultura começa, precisamente, quando, na primeira vasilha modelada em argila ou na pedra, se traça um desenho. Um desenho que certamente não influi em nada na capacidade de a vasilha conter água, mas põe ali a marca de um autor. (JERUSALINSKY, 1999, p. 61)

É a passagem pelo complexo de Édipo que permite que o sujeito possa ter acesso à cultura através da sua entrada na linguagem a partir de sua relação com o Outro. O que a trama edipiana vem a instaurar no sujeito é uma Lei. A Lei e sua complexidade são explicadas por Freud no texto Totem e Tabu a partir do mito da horda primeva, na qual o pai priva seus filhos de possíveis relacionamentos incestuosos (tabu). Os filhos descontentes reúnem-se numa ordem fraterna e matam o pai (totem), mas arrependendo-se do feito internalizam (simbolicamente) “pedaços” desse pai para que prevaleça o mínimo de ordem na sociedade.

É desta lei que Freud fala em totem e tabu que se refere à lei da trama edípica, pois ela é uma lei fundante no sentido que é estruturante, dando ao sujeito acesso à linguagem e consequentemente à cultura.

O fim do complexo de Édipo é correlativo da instauração da lei como recalcada no inconsciente, mas permanente. É nessa medida que existe algo que responde no simbólico. A lei não é simplesmente, com efeito, aquilo sobre o que nos perguntamos por que, afinal, a comunidade dos homens nela é introduzida e implicada. Ela também está baseada no real, sob a forma desse núcleo deixado atrás de si pelo complexo de Édipo, que a análise mostrou, de uma vez por todas, ser a forma real sob a qual se inscreve aquilo que os filósofos até então nos haviam mostrado com maior ou menor ambiguidade, como a densidade, o núcleo permanente da consciência moral (...) (LACAN, 1999 p. 216)

De todos os atravessamentos da constituição psíquica que o indivíduo passa para então se fazer sujeito, subjetivo e singular, adentrar na linguagem e fazer laço social, há sempre a dependência e a referência a outro para isso ser possível. Molina (2008) explica que o laço social vai se der a partir do laço parental;

O que é laço social? Trata-se de uma “atadura humana” que vai sendo montada pela via do significante investido efetivamente e que se constitui por traços identificatórios, ordenados por um código moral, ético e estético. Laço, atadura, que situa, ordena e refere o sujeito, abrindo-lhe, portanto um leque de possibilidades ou de limitações psíquicas (sintomas) que

funcionarão como ponto de partida, como referenciais subjetivados – parâmetros dos quais o bebê, a criança e o adolescente se valerão para ir montando a sua singularidade, o seu território subjetivo. (2008, pag. 139- 140)

Se tratando da formação de um sujeito, não há como dissociá-lo do meio social, pois necessita deste laço com o outro semelhante para articular-se em sua singularidade e subjetividade. É disso que Freud fala em Psicologia das Massas e

Análise do Eu (1856 – 1939), no qual indica não poder se falar de uma Psicologia

Individual sem falar de uma Psicologia Social, pois para ele ao se falar sobre um indivíduo sozinho, fora de grupo, há nesse indivíduo sempre a presença do outro, colocando em questão a indissociabilidade do homem do meio social.

Entretanto, é inerente ao ser humano o mal-estar proveniente da relação com o outro. Freud aponta em O Mal-estar na Civilização (1930 – 1936) que só é possível a constituição e convivência do ser humano na cultura através da repressão dos instintos sexuais e do impulso agressivo. A repressão sexual se dá partindo do pressuposto de que o homem não pode gozar inteiramente de sua sexualidade, limitando seu objeto de gozo e consequentemente a sua felicidade, fazendo com que o uso da energia sexual seja deslocada para outras atividades, como trabalho, família etc. A repressão dos impulsos agressivos, que são de natureza humana, vem a limitar o homem de expressar sua agressividade para com seus iguais, pautado no mandamento “amarás o teu próximo como a ti mesmo”, como tentativa de ligar os homens através de vínculos amorosos, estes que são inibidos pela repressão da sexualidade. A repressão da agressividade não tem tanto êxito no sentido de que a própria sociedade se impõe a punir agressivamente aqueles que não seguem as ordens sociais. Na obra, Freud também aponta três motivos causadores do mal- estar humano:: a decadência do corpo humano, o não possuir controle sobre a natureza, e por fim o vínculo com outros seres humanos e suas regulações sociais. A partir dessa discussão, nota-se que, ao mesmo tempo em que o vínculo com o outro é essencial para se fazer humano, também este é fonte de desprazer e mal- estar. Visualiza-se essa figuração a partir de um trecho da literatura intitulada A Desumanização;

O inferno não são os outros, pequena Halla. Eles são o paraíso, porque um homem sozinho é apenas um animal. A humanidade começa nos que te rodeiam, e não exatamente em ti. Ser-se pessoa implica tua mãe, as nossas pessoas, um desconhecido ou a sua expectativa. Sem ninguém no presente

nem no futuro, o indivíduo pensa tão sem razão quanto pensam os peixes. Dura pelo engenho que tiver e perece como um atributo indiferenciado do planeta. Perece como uma coisa qualquer. (MÃE, 2014, p. 15)

A partir da discussão transcorrida até o presente ponto, se faz pertinente pensar sobre a necessidade do semelhante e da experiência de mal-estar produzida na formação de vínculo, condições estas que são inerentes ao ser humano. Assim, como é possível articular a condição dos vínculos na contemporaneidade, levando em conta que a cultura é algo que tem grande influência nos modos de pensar e agir humanos? De que maneira a característica da lógica capitalista que impera em nosso tempo organiza e/ou atravessa a formação dos vínculos humanos na atualidade?

Inicia-se pela retomada de alguns pontos importantes no que diz a respeito do alvorecer da modernidade e sobre a implantação do capitalismo como sistema econômico e social. Como já explicitado no primeiro capítulo deste trabalho, o capitalismo foi e continua sendo provedor de consideráveis mudanças na sociedade. A implantação deste sistema não se deu do dia para noite e, sim, precisou de várias décadas para ir se instituindo e se solidificando na sociedade. Durante sua implantação, ocorreram eventos diversos e impactantes na sociedade. Pode-se citar a mudança do ideal teocêntrico para o antropocêntrico, em que o homem é reconhecido como um ser inteligente e racional, capaz de responsabilizar-se sobre seu destino. Essa reviravolta tira o homem da alienação a um Deus que lhe provia todas as certezas, e o coloca a defrontar-se consigo mesmo. Com isso, há a perda do holismo, e o homem passa a andar para o individualismo, marca registrada do homem contemporâneo.

Com a troca do ideal teocêntrico para o antropocêntrico, há também a expansão da ciência, essa que vem a substituir a fé pela experiência empírica e, mais tardar, o que Giddens (1991) vai chamar de ‘sistemas peritos’, pois tudo passa a ser explicado cientificamente por uma competência técnica, sendo então instaurada está a fé moderna. A ciência também contribuiu para a troca da manufatura à maquinofatura, ampliando a modernização maquinária e a produção. A mecanização do trabalho traz consigo certo apagamento do sujeito no operário, o qual já não sabe e não tem controle sobre o que produz. Destituído de suas certezas e seu saber, como fora outrora, o homem acaba sendo levado pelos ideais modernos, que invertem a lógica do ‘Ser para Ter’ que passa ‘Ter para ser’, passa

dos meios de produção para os meios de consumo em massa, o que constitui a lógica consumista dos dias de hoje.

Como se percebe, o capitalismo trouxe mudanças socialmente significativas que vem a impactar a vida do homem moderno e contemporâneo. Lacan (1992) no

Seminário 17 elabora uma teoria sobre os discursos para explicar os laços sociais

entre os indivíduos. Tomando a premissa de que todo sujeito é um ser de linguagem, e que é através desta última que se adentra na cultura, nota-se os laços sociais como estruturados pela linguagem e articulados por uma cadeia de significantes,

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