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3) A determinação desses objetivos deve brotar da reflexão conjunta dos órgãos pastorais da CNBB.

2.4. A construção da Campanha da Fraternidade

Por fim, é necessária uma exposição sobre o processo segundo o qual a Campanha da Fraternidade acontece, ou seja, os diferentes caminhos de escolha do tema e do lema da Campanha, o processo de elaboração do Texto-base e dos demais subsídios, a escolha das músicas e do cartaz, o treinamento das equipes de trabalho nos Regionais, nas dioceses e nas paróquias, a realização da Campanha em si, durante o tempo da quaresma, a coleta da Campanha e, por fim, o processo de avaliação da Campanha.

O tempo entre a escolha do tema de uma Campanha da Fraternidade e a Quarta feira de cinzas que marca o seu início geralmente é em torno de vinte meses. Sua realização é relativamente rápida, limitando-se ao tempo compreendido entre a Quarta feira de cinzas e o domingo de Ramos. O processo de avaliação da Campanha tem início duas semanas após a páscoa e se estende até

o mês de junho, quando acontece a avaliação nacional e encerram-se os trabalhos referentes a essa Campanha e tem início o trabalho de outra Campanha, que irá acontecer na quaresma, dois anos depois. Assim, a Secretaria Executiva da Campanha da Fraternidade está sempre trabalhando duas Campanhas ao mesmo tempo.

2.4.1. Os diferentes processos de escolha do tema e do lema de cada Campanha

A Campanha da Fraternidade é uma ação global do Secretariado Nacional. Como o Conselho Episcopal de Pastoral – CONSEP é responsável pela promoção, execução e coordenação da Pastoral Orgânica em âmbito nacional257, é ele quem define o tema e o lema de cada Campanha da Fraternidade. A escolha do tema de uma Campanha da Fraternidade segue basicamente dois processos. O primeiro é participativo e o segundo é definido pela Presidência da CNBB e pelo CONSEP.

No processo participativo, as Paróquias propõem temas no seu relatório de avaliação como, por exemplo, no Questionário de Avaliação da Campanha da Fraternidade de 2008258, que é enviado para a Diocese por ocasião da avaliação diocesana da Campanha. Ao preencher o Questionário de Avaliação para a Diocese, são reunidas as sugestões enviadas pelas paróquias acrescidas de outras, que são enviadas para o Regional. O Regional coleta as sugestões das Dioceses e as propõe na reunião nacional de avaliação da Campanha da Fraternidade, que acontece na reunião do CONSEP do mês de junho. A este processo somam-se o grande número de abaixo-assinados das mais diferentes origens com propostas de temas para a Campanha que irá acontecer dois anos depois. É de praxe que o tema com maior representatividade seja o escolhido pelo CONSEP.

Em outros casos, o tema é escolhido pelo próprio CONSEP ou pela presidência da CNBB como, por exemplo, a Campanha de 2002: “Fraternidade e povos indígenas”. Nesses casos, a CNBB apresenta argumentos que motivaram tal decisão. Na Campanha da Fraternidade de 2002, o que motivou a CNBB a escolher o tema foram os acontecimentos em Porto Seguro e Coroa Vermelha por

257

Cf. CNBB. Estatuto Canônico da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Paulinas, art. 224.

258 Cf. CNBB. Texto-base da Campanha da Fraternidade de 2008, p. 150.

ocasião da celebração dos 500 anos do descobrimento do Brasil. Os povos indígenas realizaram uma grande marcha nacional e promoveram, em Coroa Vermelha – BA, uma Assembléia Nacional, que foi engrossada com a participação de diversas entidades representativas das populações excluídas do país. Diversos organismos da sociedade organizada também estiveram presentes. A Igreja fez-se presente através do CIMI, com o seu então presidente, Dom Franco Masserdotti, bispo de Balsas, no interior do Maranhão. Terminada a Assembléia, os indígenas resolveram fazer uma caminhada pacífica de Coroa Vermelha até Porto Seguro, mas foram violentamente reprimidos pela Polícia Militar e pelas Forças Armadas. Cenas da repressão foram divulgadas no mundo todo, sendo que ficou famosa a cena em que o cacique pataxó Matalauê ajoelha-se diante da tropa repressiva. Por ocasião da celebração eucarística presidida pelo Legado Pontifício, Cardeal Ângelo Sodano, em Porto Seguro, que marcava os 500 anos da primeira missa no Brasil, os indígenas, liderados por Matalauê, entraram na celebração e pediram a palavra, que foi concedida pelo presidente da CNBB, Dom Jayme Chemello. Após o pronunciamento de Matalauê, denunciando os 500 anos de massacre dos povos indígenas e, em muitos casos, a cumplicidade da Igreja do Padroado no Antigo Sistema Colonial, Dom Jayme Chemello pediu perdão aos índios em nome da Igreja do Brasil e prometeu atos de reparação, que se concretizaram no Projeto Missionário da Coroa Vermelha, mantido pela CNBB, no Projeto Amazônia e na Campanha da Fraternidade de 2002: “Fraternidade e povos indígenas”.

2.4.2. A construção do Texto-base e a elaboração dos subsídios

Após a escolha do tema e do lema da Campanha da Fraternidade, acontece na primeira semana de setembro, na sede da CNBB em Brasília, um seminário, dirigido pelo Secretário Executivo da Campanha da Fraternidade, do qual participam o Secretário-Geral da CNBB, especialistas no tema, assessores da CNBB e agentes das pastorais mais ligadas ao tema da Campanha. Este seminário tem a duração de dois dias e o seu objetivo é propor os objetivos da Campanha e a estrutura do Texto-base.

Utilizando o método Ver-Julgar-Agir, o seminário, na primeira manhã, faz um levantamento de todos os assuntos que devem ser tratados no Ver e organiza a

sua estrutura. Na parte da tarde, o mesmo é feito em relação ao Julgar. Na manhã do segundo dia, é realizado um diálogo entre o Ver e o Julgar para estabelecer um diagnóstico pastoral, a partir do qual é definido o objetivo geral da Campanha e o seu desdobramento em objetivos específicos. Na parte da tarde, a partir dos objetivos específicos, o grupo reflete sobre o Agir, apresentando e esquematizando propostas.

Esta estrutura inicial é apresentada e discutida na reunião do CONSEP do final de setembro, sendo analisada, criticada e, algumas vezes, sofrendo modificações. Em seguida, acontece o mesmo processo na reunião do Conselho Permanente da CNBB, que se realiza no mês de outubro.

Com a aprovação da estrutura do Texto-base, o Secretário Executivo da Campanha da Fraternidade elabora a sua primeira versão, que é enviada para a Presidência da CNBB, membros do CONSEP e assessores, que com as pastorais e agentes por eles escolhidos, fazem a crítica ao texto e apresentam emendas ao mesmo. O resultado deste trabalho é a redação de uma nova versão, que passará pelo mesmo processo, até a quinta versão, que é apresentada na reunião do CONSEP de junho do ano seguinte, para aprovação. Esta reunião define a sexta versão, que passa pela correção técnica, pela correção da Comissão Episcopal de Doutrina e pela correção editorial, sendo que a oitava versão é a publicada. O esquema é apresentado ao episcopado brasileiro durante a Assembléia Geral Ordinária, que acontece sempre após a festa da Páscoa.

A partir das versões iniciais, as assessorias da CNBB elaboram os demais subsídios e lançam os concursos nacionais de cartazes e música. Todos os subsídios são aprovados na reunião do CONSEP do mês de junho e passam pelas correções da Comissão Episcopal de Doutrina e editorial, sendo que todos os subsídios são publicados no mês de agosto. Alguns Regionais da CNBB e algumas dioceses têm o costume de publicar subsídios próprios, a partir da publicação do Texto-base.

2.4.3. A preparação da Campanha nos Regionais e Dioceses

Após a publicação do Texto-base e dos subsídios, a Secretaria Executiva da Campanha da Fraternidade elabora os materiais didáticos e a metodologia a ser utilizada na formação das Equipes Permanentes de Campanhas dos Regionais e

das Dioceses. A partir daí, seguindo uma agenda previamente estabelecida que tem seu início na segunda semana de setembro e termina no último domingo antes do carnaval, acontecem os encontros de capacitação de acordo com a realidade dos Regionais, seguindo o método Ver-Julgar-Agir. A partir desses encontros, as dioceses fazem o trabalho de planejamento da Campanha, que envolve a capacitação dos multiplicadores, a realização de atividades comuns, a distribuição dos subsídios e a veiculação da Campanha nos meios de comunicação social.

Os materiais didáticos elaborados pela CNBB são disponibilizados no site e utilizados para a capacitação dos multiplicadores da Campanha nas Dioceses e Paróquias e enriquecidos com publicações diversas e dois DVDs, elaborados pela editora Mundo Jovem e pela Verbo Filmes, que também elabora os spots publicitários da Campanha para rádio e televisão.

2.4.4. A realização da Campanha

A Campanha da Fraternidade tem o seu início na Quarta feira de cinzas e o seu término oficial acontece no domingo de ramos, com a Coleta da Fraternidade. Durante esse tempo, acontecem celebrações litúrgicas e paralitúrgicas, manifestações públicas, atos políticos e programas nos meios de comunicação social. São envolvidas as paróquias, as escolas, os meios de comunicação social, são realizadas parcerias as mais diversas.

As políticas públicas também são privilegiadas e muitas iniciativas são assumidas nessa área, desde a organização da sociedade em torno da proposta da Campanha até a criação de organismos políticos ou propostas de Projetos de Lei. Também é preparada e motivada a Coleta da Solidariedade através da prestação de contas da coleta anterior, feira pela Caritas Brasileira, e distribuição de materiais para a coleta, assim como a veiculação dos seus objetivos, de acordo com o tema da Campanha da Fraternidade.

2.4.5. A avaliação da Campanha

A avaliação da Campanha da Fraternidade acontece, num primeiro momento, nas paróquias, depois nas dioceses e, em seguida, nos Regionais, seguindo um calendário pré-estabelecido. O instrumento de avaliação fazia parte do Texto-base, mas a partir de 2008, passou a ser disponibilizado no site na

CNBB e deve ser preenchido por todas as dioceses do Brasil. O instrumento de avaliação, a partir da Campanha da Fraternidade de 2009, passou a ser elaborado por uma equipe independente, formada por profissionais da Universidade Católica de Brasília.

Após o preenchimento do site por parte das dioceses, o resultado dos trabalhos é distribuído para os Regionais e analisado pela equipe de profissionais da Universidade de Brasília, que apresenta os dados acompanhados de suas análises e de propostas para a realização das próximas Campanhas na reunião nacional de avaliação da Campanha da Fraternidade, que acontece no CONSEP do mês de julho, encerrando um trabalho de dois anos. Este material é disponibilizado no site da CNBB e publicado no Comunicado Mensal do mês de junho.

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