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A Construção dos Círculos de Cooperação e Circuitos da Produção no processo histórico.

Mapa 04: Rede Logística do Martins

3.2 A Construção dos Círculos de Cooperação e Circuitos da Produção no processo histórico.

A partir da abertura comercial e financeira dos anos 1990, a CTBC se encontra em situação delicada, pois não sendo estatal, não foi privatizada; e por isso mesmo estabelecerá concorrência, não mais com o Estado, mas sim com empresas com outro perfil, que enxergam a população como nichos de mercado, como consumidores, e por isso mesmo visam inserir seus produtos em todas as áreas do país.

As transformações ocorridas em função da abertura do mercado nacional em

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Disponível em: http://www.martins.com.br/site/content/institucional/home/default.asp?secao_id=3 Acesso em: Dezembro de 2006.

alguns setores da economia não geraram, num primeiro momento, conflito direto com a telefônica uberlandense, exatamente porque a estratégia tanto da CTBC quanto do

Martins de servir “onde ninguém vai” a princípio não representou grande interesse aos

novos investidores.

No entanto, o desenvolvimento tecnológico dos anos 1990 se deu de forma acelerada, trazendo, para um país que se abriu à economia internacional, novos produtos, serviços e tecnologias com alcances espaciais maiores. O fato de as novas tecnologias permitirem que os serviços atendessem áreas bem mais vastas do território, comprometeu o que até então era o diferencial da CTBC, na medida em que novas empresas passaram a atuar em áreas de “influência” ou prestação de serviços da CTBC.

No que diz respeito exclusivamente à tecnologia, consideramos esta como uma:

Ciência ou Teoria da Técnica. Abrange o conjunto de conhecimentos aplicados pelo homem para atingir determinados fins. As inovações tecnológicas determinam, quase sempre, uma elevação nos índices de produção e um aumento da produtividade do trabalho. (SANDRONI, 2001 p.594)

Mais complexa é a idéia de tecnologia que envolve as transformações sociais e que tem regido as novas formas de relação e necessidades sociais,

Atualmente o que excita espanto e entusiasmo é o conjunto dos objetos e procedimentos artificiais que nos cercam. Daí a fácil conversão dessa atitude em ideologia. Mas, se por um lado tal se dá, por outro, o preço da manutenção desse entusiasmo está na constante substituição dos objetos, máquinas, engenhos, fatos e conhecimentos que os determinam. O desenvolvimento acelerado das forças produtivas impõe, a título de conseqüência, não apenas o desgaste da admiração motivada por um engenho ou um feito definido, rapidamente tornados caducos, insensibilizantes, por efeito do que se pode chamar a queda na naturalidade, mas o encurtamento do prazo durante o qual uma realização técnica, por mais engenhosa e repleta de saber que seja, permanece capaz de suscitar pasmo e maravilhamento. (PINTO, 2005 p. 38)

Estas necessidades sociais, convertidas no desenvolvimento acelerado das forças produtivas para novos produtos e novos fetiches, estão intimamente ligadas à condição da empresa telefônica local, porque, embora esta tivesse um perfil empreendedor e renovador de tecnologias desde seu início, a partir dos rumores da privatização, soube-se que não haveria mais um único fornecedor de serviços e que a

admiração motivada até então pela simples existência do serviço telefônico se tornaria caduca e insensibilizante com a entrada de novos tipos de serviços.

Mais do que os novos serviços e produtos trazidos pela “globalização” e pelas privatizações, chegam no país novos pensamentos que apontam a tecnologia como a única via para o crescimento das nações.

[...] O que distingue, porém, o otimismo das classes poderosas atuais, é, segundo dissemos, a justificação pela técnica, interpretada como obra sua, da superioridade por elas apregoada. Reconhecem ser a técnica um processo cumulativo. Portanto, também as civilizações passadas tiveram suas conquistas oriundas do aproveitamento dos conhecimentos herdados e das pesquisas relativamente reduzidas que efetuaram. Somente agora, no entanto, as sociedades desenvolvidas chegaram a amontoar um volume crítico, de tal modo diferenciado de tudo quanto se fizera anteriormente, que apenas nós temos o direito de dizer estarmos vivendo em plena “civilização tecnológica”. (PINTO, 2005 p. 42)

Com a invasão de produtos e “filosofias”, cria-se o ambiente ou a atmosfera para a inserção não só do otimismo das coisas novas, mas das incertezas da não adesão aos novos produtos ou idéias.

[...] embora não determine a tecnologia, a sociedade pode sufocar seu desenvolvimento principalmente por intermédio do Estado. Ou então, também principalmente pela intervenção estatal, a sociedade pode entrar num processo acelerado de modernização tecnológica capaz de mudar o destino das economias, do poder militar e do bem estar social em poucos anos. Sem dúvida, a habilidade ou inabilidade de as sociedades dominarem a tecnologia e, em especial aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período histórico, traça seu destino a ponto de podermos dizer que, embora não determine a evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou sua falta) incorpora a capacidade de transformação das sociedades, bem como os usos que as sociedades, sempre em um processo conflituoso, decidem dar ao seu potencial tecnológico. (CASTELLS, 1999, p. 26)

No Brasil, o ambiente começou a ser criado já no início da década de 1990, com os discursos de Collor de Mello a respeito da inabilidade do Estado em ascender o Brasil à uma condição moderna. Estes discursos e atuações políticas de Collor, e posteriormente de Fernando Henrique Cardoso, foram criando uma atmosfera favorável à diminuição do poder estatal, considerando-o incapaz, engessado e arcaico, um bloqueio ao crescimento do mercado.

CTBC entrava na década de 1990 atendendo mais de 250 localidades, operando 260.000

terminais e dando continuidade a seus investimentos. Nesta década se materializam os projetos de implantação da rede de fibra óptica que inicialmente liga Uberaba a seu Distrito Industrial. Em 1993 Uberlândia tem seu serviço de telefonia celular ativado antes mesmo de Belo Horizonte, São Paulo e outras capitais. Mais adiante é ativado o serviço em Franca, primeira cidade do Estado de São Paulo a disponibilizar este serviço.

Em função da demanda crescente, o serviço de telefonia móvel celular é desmembrado da CTBC em 1993, e forma uma empresa independente dentro do grupo Algar, a CTBC Celular. Em 1996, essa empresa implanta o serviço de telefonia móvel digital, para facilitar as comunicações em ambientes fechados, elevadores, subsolos, porque é mais seguro e econômico quanto ao desgaste de bateria. Até 1996 são também implantadas as redes de fibra óptica de maneira a servir pequenas cidades e empresas locais como a Rezende Alimentos (indústria alimentícia local que na década de 1990 é adquirida pela Sadia).

No início de 1998 o governo de Fernando Henrique Cardoso coloca em prática o projeto das privatizações brasileiras. No caso das telecomunicações este projeto contou com a venda e divisão da Telebrás em quatro áreas de outorga que foram arrematadas por empresas privadas, em sua maioria de capital estrangeiro. Estas quatro áreas foram desmembradas em doze empresas, sendo três de telefonia fixa, oito de

Propa- gandas do pionei- rismo da CTBC nos cartões tele- fônicos da empresa. 14

telefonia celular e uma de comunicação à longa distância.

A Embratel, empresa responsável pelas chamadas de longa distância, teve também parte de seu capital vendido e assimilado por uma empresa norte-americana e, mais adiante, foi novamente vendida para a Telmex uma empresa Mexicana. Além disso, foi criada a ANATEL, a agência reguladora das atividades do setor com papel relativamente independente do governo.

Delimitadas as quatro áreas de outorga, o Brasil fica dividido em áreas que abarcariam pelo menos duas empresas por região em cada tipo de serviço, por exemplo: no que diz respeito à telefonia fixa, ao invés de atuar apenas a telefônica do estado à qual pertence a área, duas empresas concorreriam na prestação dos serviços de telefonia fixa, de maneira a estimular novos serviços e preços diferenciados.

Este modelo baseado no estímulo à concorrência, inicialmente não foi tão impactante à CTBC, em função do seu nicho de mercado não ser as grandes capitais estaduais que interessaram os capitais estrangeiros inicialmente. No entanto, algumas atitudes da empresa, como a criação da ACS, ilustram a necessidade de continuar inovando e com investimentos ainda maiores após as privatizações, para se manter competitiva.

Estas ações culminaram em transformações ao município, envolvendo este em novas rotas de comercialização e em novas formas de comercialização que trouxeram a este local novos e diversos fluxos.