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Construção em pedras na antiga mineradora em Jacuí/MG

2.3. A Região Cultural de Passos

Abordando o conceito de ―região cultural‖, Diégues Júnior (1960) pondera sobre a

origem da cultura brasileira e lembra que o Brasil faz parte de uma área cultural maior que o

seu território, chamada de ―área cultural luso-cristã‖, abarcada por Portugal e suas províncias

ultramarinas, e o que distinguiria essa área seriam o elemento lusitano e o cristianismo, esse

servindo como base religiosa.

Diégues Jr. (1960) afirma que, a partir dessa ligação lusitana comum, nossa

formação cultural é consequência da conexão de diversas condições geográficas e humanas, e

que para entender melhor essa cultura é preciso enfocá-la sob o ângulo de regiões culturais.

Esse pesquisador (1960, p.6) afirma que ―a caracterização de regiões culturais constitui um

ponto de partida fundamental para certos estudos, sobretudo para compreensão das

diversidades culturais de hoje – e quase diria: pluralismo cultural‖.

Para esse articulista (1960, p.6-7), o conceito de região cultural pode ser apreendido

como um conjunto ecológico de pessoas, aproximadas pela unidade das relações espaciais da população, da estrutura econômica e das características sociais, dando- lhe, em conjunto, um tipo de cultura que, criando modo de vida próprio, a difere de outras regiões.

Diégues Jr. adverte que diferentes tentativas de se analisar a cultura e a história

brasileira de modo regionalizado foram feitas desde meados do século XIX, citando as

propostas de Martius, Nina Rodrigues, Roquete Pinto, Silvio Romero e outros. Contudo, o

autor assevera que nenhuma dessas classificações pode ser considerada como de região

cultural. Segundo esse estudioso (1960, p.12-13):

De modo geral, verifica-se nessas classificações – como, aliás, em outras que se destinam a estudos lingüísticos ou de alimentação ou de literatura ou de geografia – tomar-se como base apenas um elemento – a língua, a alimentação, a literatura ou a geografia, respectivamente – que, considerado predominante, torna-se o centro da região. Parece-nos um sentido restrito esse em que se ignoram outros aspectos deixando de lado a conjugação de vários elementos que, através da Antropologia, da Sociologia, da Economia, da História, da Geografia, da Etnografia, possam oferecer as características fundamentais a fixar numa região cultural.

A partir do exposto, fica claro que a caracterização de região cultural deve levar em

conta diversos aspectos, como as relações do homem entre si e do homem com o seu meio.

Sendo assim, Diégues Jr. (1960, p.14) afirma que, ―para tratar de forma completa

a noção de ‗região cultural‘, é preciso buscar no processo de ocupação humana os elementos

que oferecem as bases para as caracterizações de cada região.‖

De acordo com esse mesmo autor (1960, p. 19), é ―a existência de certos

elementos que dão unidade e mesmo homogeneização à cultura‖, que delimita uma região

cultural. A partir do que aqui foi relatado, Diégues Júnior (1960) propõe uma divisão do

Brasil em 10 regiões culturais, a saber:

a) o nordeste agrário do litoral, caracterizado, do ponto de vista étnico, pela mestiçagem entre

brancos e negros e, do ponto de vista socioeconômico, pelos engenhos de açúcar.

b) o nordeste mediterrâneo caracterizado pela mestiçagem entre brancos e índios e pela

atividade da criação de gado, com seus currais e a figura do vaqueiro.

c) a Amazônia, caracterizada principalmente pelo elemento indígena e pelo extrativismo

vegetal da borracha (que teve no seringal seu focal point), da madeira, do castanheiro.

d) a mineração no planalto, caracterizada economicamente pela formação dos arraiais de

mineração, e socialmente pela presença de várias correntes como mamelucos, mulatos,

reinóis, judeus, paulistas e nordestinos.

e) o centro-oeste, que no início teve a mineração como atividade principal, e que após seu

declínio deu espaço à pecuária, que hoje tem grande destaque. O elemento humano

predominante foi o português mestiçado com o indígena e que hoje sente um pouco a

influência cultural espanhola das regiões vizinhas.

f) o extremo sul, que teve na pecuária sua principal atividade econômica e que teve sua

formação humana resultante da expansão de correntes paulistas, nordestinas e fluminenses. A

influência cultural da vizinhança deu a essa região aspecto peculiar, e tem a estância como seu

núcleo social mais marcante.

g) as regiões de colonizações estrangeiras, as quais foram formadas inicialmente por alemães

e italianos, e depois por poloneses, russos, árabes, tendo ainda, mais tarde, chegado

holandeses e japoneses. Compreende áreas isoladas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

Paraná.

h) a região do café, que teve expansão a partir do século XIX, irradiando-se do Rio de Janeiro

e alcançando São Paulo, Minas Gerais e, posteriormente, o estado do Paraná. Socialmente,

teve a figura dos escravos e posteriormente dos imigrantes que trabalhavam na exploração do

café. A partir da fazenda de café e dos barões do café, essa região gozou de grande influência

no cenário político e econômico nacional e, mais tarde, passou por intensas transformações,

experimentando um grande desenvolvimento industrial.

i) a região do cacau, no sul da Bahia, que experimentou grande desenvolvimento.

j) a região do sal, localizada no Rio Grande do Norte e também no Rio de Janeiro.

MAPA 07 – Regiões culturais do Brasil Fonte: DIÉGUES JR., 1960, p. 02.

Embora reconhecendo a existência de dez

―regiões culturais‖ no território

brasileiro, Diégues Júnior (1960, p.23) já chamava a atenção para ―as intensas transformações

que essas regiões vêm passando em face do desenvolvimento dos transportes e das

comunicações.‖ Tal fato, segundo ele, ―altera valores e características dessas áreas, levando-

as a mudanças significativas.‖ Diz, também, que cada região assinalada por ele não apresenta

unicamente um tipo de cultura, mas o oposto, há uma variedade, como anota:

Podemos encontrar em cada região cultural diversidades que não lhe quebram a hegemonia, traduzida esta pela maior importância dos estilos de vida criados em torno de uma atividade. Como as regiões culturais diversas não quebram a unidade da cultura brasileira. (Diégues Jr. 1960, p.23)

Considerando o conceito de Diégues Junior (1960) sobre ‗região cultural‘ acima discutido,

podemos afirmar que a cidade de Passos se insere na região do café, já que a base predominante

da economia do município é a cafeeira. Mas não podemos deixar de considerar que a pecuária e a

plantação de outros tipos de cultura também têm imensa relevância para o município. A pecuária

tem ganhado, contemporaneamente, espaço e se mostrado muito forte na região.

Passos é o município mais populoso do Sudoeste Mineiro e o quarto em todo Sul

de Minas. Está situado a 345 km da capital Belo Horizonte, tem como municípios limítrofes,

ao norte, Delfinópolis; ao sul, Jacuí e Bom Jesus da Penha; a leste, São João Batista do Glória

e Alpinópolis; a oeste, Cássia e Itaú de Minas.

O município é rico em recursos hídricos, estando situado na bacia do médio rio

Grande, que é composta pelo rio São João, Ribeirão Conquistinha e Ribeirão Bocaina. Hoje, a

cidade também é conhecida por sua indústria moveleira e de confecção de roupas.

2.3.1. Passos, uma breve história

Em meados do século XVIII, os ―sertões do Jacuhy‖ já aqui apresentados, região

geo-histórica da origem da comunidade de Passos, pertenciam à Província de São Paulo.

A descoberta de ouro em Jacuí e as faiscagens (garimpos de pequena escala nos

leitos e margens dos mananciais) em suas redondezas motivaram intervenção armada do

Governador das Minas, Luís Diogo Lobo da Silva, em 1764, e a ocupação dos referidos

sertões. A junta, presidida pelo Vice-rei, no Rio de Janeiro, confirmou, em 1765, a divisão

anterior, decisão não respeitada pelo governo mineiro, seguindo-se uma acirrada ―questão de

divisa‖, que se arrastaria pelo resto do século.

Como meio de assegurar a posse, tanto o governo de Minas quanto o de São Paulo

incentivaram a fixação de ―casais‖ da região. Os paulistas vieram da região de Mogi; os de

Minas, de São João Del-Rei e Lavras do Funil. Muitos outros vieram diretamente das ilhas

portuguesas.

Antonio de Freitas e Silva, médico na freguesia do Facão (SP), foi um dos

primeiros a obter terras junto ao Ribeirão do São Francisco e do Bonsucesso, doando-as ao

filho José de Freitas e Silva, que acabara de obter a ordenação sacerdotal.

Por volta de 1780, tendo morrido o pai, o jovem padre se fixou em Jacuí e

implantou a Fazenda Bonsucesso ao pé do Morro de São Francisco, onde instalou a mãe

viúva, Dona Faustina Maria das Neves, e outros familiares. Dona Faustina, daí para frente,

dirigiu os destinos da fazenda, de cuja colônia, junto às faisqueiras do Bonsucesso, se

originou a cidade de Passos.

Os mineiros ocuparam as terras ao longo do Ribeirão Bocaina, dividindo com D.

Faustina, Manoel Cardoso Osório e Eduardo Barros nas cabeceiras; os irmãos Domingos de

Souza Vieira e João de Souza Vaz, Bocaina abaixo até a foz no rio Grande. Meio paulista,

meio mineira, a povoação inicial seguia mais ou menos a direção do

―caminho do

Desemboque‖.

À primeira e diminuta capelinha de Santo Antônio (edificada pelos paulistas)

seguiu-se outra, na atual praça da Matriz, maior e em condição de ser curada, com a invocação

do Senhor dos Passos (edificada pelos mineiros), cujo patrimônio foi doado por Domingos de

Souza Vieira e Joaquim Lopes da Silva, este como herdeiro de D. Faustina das Neves.

Prevaleceu a segunda, sendo modificado o traçado urbano anterior por arruadores de Jacuí.

A capela do Senhor dos Passos, iniciada em 1829, por iniciativa de Domingos

Barbosa Passos, foi inaugurada em 1835, e o cura designado foi Francisco de Paula Trindade.

Em 1840, por sua providência, o Bispado de São Paulo criou a paróquia independente, com a

mesma invocação. Em 1848, os entrantes de Lavras reivindicam a criação da vila. Atendidos,

a instalação da Vila Formosa do Senhor dos Passos se dá em 07 de setembro de 1850. Oito

anos depois, foi elevada à condição de cidade, no dia 14 de maio de 1858. Assim, nascia o

município de Passos.

Nas páginas seguintes, abordaremos a questão agropecuária e a pecuária de

invernada, que são fatores primordiais para entendermos a formação da cultura local.

FOTO 06 – Igreja do Senhor Bom Jesus dos Passos – Passos/MG

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